Avatar: A Lenda de Yan escrita por Leonardo Pimentel


Capítulo 11
Dentro do Gelo




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O que consigo ver através da imagem me alegra, enche-me por inteiro, me torna letal. O gelo reflete minha imagem perfeita. Sorrio e o reflexo me copia. Toco minha pele e a textura me alegra mais ainda: firme, nova, limpa, uniforme, morena. Minha risada ecoa pela câmera, enquanto ouço meus músicos pararem os instrumentos. Pobres tolos, talvez queiram se deliciar com o som melodioso da minha risada. Mas mesmo assim, eu os culpo. Eu quero que a música continue a soar.

Viro-me rapidamente na direção dos músicos, e ergo um dedo ameaçador. Minha respiração se altera e permito que minha cólera se esvaia naquela fala:

─ Quem permitiu que parassem a música? ─ minha voz soa firme e em bom tom. Ela ecoa pelo salão. ─ VOLTEM A TOCAR até que seus dedos sangrem.

─ S-Sim, Lord... Jaya! Será um prazer! ─ o líder da banda quase caí do banco. Ele ajeita seu instrumento, um chifre de tomázio, e continua a música.

Sorrio, emitindo um ronrono baixo de regozijo. Dou as costas para a minha banda e sento-me em meu trono gelado.

Dali posso ver todo o salão do trono: seis enormes pilastras de gelo e concreto, seguram o teto alto, iluminado por luzes azuis. Do gelo ainda desprende uma fumaça letal e fria, que desliza rente ao chão, e fica acumulada aos pés de meus músicos e guardas. Sinto-me feliz em estar envolto às peles de animais, que eles não podem usar, enquanto tocam para mim. Sei que meu olhar é letal, pois quando dirijo ele aos outros, eles encolhem em seus lugares, temendo que eu os mate. E esse temor alimenta meu ego e meu ego alimentado, faz com que eu fique em paz.

Movo minha mão lentamente, como se apagasse algo: o ar cristaliza numa fina camada de gelo, que paira perante minha face. Eu não conseguia acreditar: custava muito, não parecia real. De certo modo, eu havia criado aquela condição, logo eu poderia acreditar. Eu poderia agora ir para o campo de batalha, sem temer nada e nem ninguém. E pensar na batalha, me trazia a mente a existência do Avatar. Passaram-se três longos anos, os quais eu me recolhi para desenvolver essa técnica, mas o que será que ele conseguiu conquistar nesse meio tempo? Será que havia dominado todos os elementos? Que seja! Ele poderia vir. Eu daria conta de matá-lo.

Ergo-me do trono e olho ao redor. A música ecoa pela sala, do modo como eu gosto. Quando me levanto, passo a mão pela superfície de gelo que eu invoquei e assim ela volta a estilhaçar, até virar névoa. Do portal de entrada, consigo avistar um de meus generais. Sen Su. Ele para por um instante, como se estivesse medindo o meu humor. Ele sempre vem se precavendo de notícias ruins. O rosto dele é cheio de cicatrizes, em decorrência do meu humor explosivo. Ele me olha. Eu faço um gesto, convidando-o para entrar. Aceno para a banda e a música cessa de repente, afogando a sala num silêncio sepulcral. Meu general curva o corpo para frente e demora alguns instantes, nos quais, sei que ele fita meus pés, em um sinal de respeito.

─ Novidades, meu general Miho? ─ minha voz é áspera.

─ Lord Jaya, temo que não possamos mais esperar. ─ a voz de meu general é baixa, comedida. Ele fala serenamente.

Suas roupas são pesadas. Ele traja um enorme casaco azul, que vai até as pernas. Ele carrega uma insígnia dourada, que mostra sua patente. General. Fito-o. Ele continua.

─ Nossos exércitos já estão prontos para o Grande Ataque. O coração do Reino da Terra já pode cair sob nosso domínio.

─ General, quer dizer que nossas armas já estão prontas? Detemos o número requisitado para o ataque em massa? ─ pergunto, sorrindo lentamente. ─ Saiam daqui! ─ berro para os músicos.

Eles me reverenciam e saem às pressas.

─ Sim, meu senhor. Nossa força é total agora. Poderemos invadir qualquer nação a qualquer instante, que nossa vitória seria eminente. A única coisa que necessitamos saber, meu senhor, é: aonde invadiremos agora?

─ Essa é fácil, general Miho...

A sala na qual estou não é muito grande. Existe uma câmera de filmagem a poucos metros de distância, uma luz vermelha brilha sobre ela, de modo incessante. Há diversos técnicos na sala, junto comigo. Eles sempre realizam suas tarefas em silêncio, encolhidos em seus lugares. Um deles, segura uma enorme haste, com um microfone acoplado nela. Há luzes, uma equipe de maquiadores, a câmera e um grupo seleto de generais e ministros. Eles me olham com ansiedade, enquanto fico em silêncio na frente da câmera. O homem que está atrás dela, ergue a cabeça e diz:

─ Testar som...

O homem do microfone ajeita um fone de ouvido e acena um ok com os dedos.

─ Testar luz...

Quando a luz incide sobre minha face, ele sorri gentilmente.

─ Testando câmera. ─ o homem olha através da câmera e sorri. ─ Silêncio no set!... Quando quiser, Lord Jaya.

Fico em silêncio, enquanto todos me olham com expectativa. É a primeira vez que falarei com o público, desde a vez que invadi o pulgueiro de Omashu. Sorrio brevemente, na minha melhor expressão de loucura e consigo ver meu rosto refletido nas lentes da câmera. Deixo minha mente captar diversos pensamentos e tudo o que ela é capaz de mostrar, é o sorriso gentil de meu velho pai. Engulo em seco e o desprezo se alastra em meu ser.

─ Caros vizinhos do Reino da Terra, aqui quem fala é o autoproclamado Imperador do Reino Livre de Jaya. ─ olho para a câmera, sério. ─ Creio que é do conhecimento de todos, que seus líderes, roubaram a dignidade do meu povo, causaram a nossa quase extinção. Nossa Tribo trabalhou duro, durante muitos anos para se tornar uma potência no mundo econômico e custou muito para nós, nos desdobramos para que atingíssemos a nossa soberania. Pode soar como um demonstrativo de poder político desnecessário, mas não é. Meus conterrâneos, iremos agir. Iremos honrar o nome de nossos líderes como nunca.

Pauso e respiro.

─ A tirania de vocês, líderes, vai acabar. Iremos acabar com o seu monopólio egoísta, iremos encerrar seus governos ridículos e impor para o mundo a soberania da dobra de água. Iremos extinguir toda a existência das dobras do fogo, da terra e do ar. Iremos acabar com a fragilidade desse sistema ridículo. Iremos marcar a existência de vocês. Vocês se arrependerão.

A luz vermelha se apagou. Todos bateram palmas altas, enquanto eu me erguia de modo triunfante e fitava-os. Era o começo do fim.


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Notas finais do capítulo

Lord Jaya



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