Avatar: A Lenda de Yan escrita por Leonardo Pimentel


Capítulo 10
Pesando os Dilemas


Notas iniciais do capítulo

É com uma felicidades estupidamente gigante, que volto a postar os capítulos. No fim das contas, meu HD está intacto, eu pude conectá-lo no computador de uma amiga e recuperar minha fanfic com glórias e felicidade. HAHA Agora estarei trabalhando nela pelo laboratório do meu curso, então, terão seus capítulos aqui toda segunda-feira. Obrigado a você, paciente, que esperou pelo retorno do meu Yan. Curta! ♥



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A estátua do Avatar Aang estava envolta de luzes etéreas e ao redor mais ao longe, as montanhas se abriam na direção do mar. A luz da lua lançava sombras bonitas sobre o manto ondulante do monumento. A ilha estava toda iluminada, refletida nas águas calmas do lago. A visão era estonteante. Fito as águas e as reverencio com o máximo respeito. Respiro calmamente. Sinto-me tolo por não saber a dobra de água nesse instante. Era a que eu mais necessitava para isso. Sinto-me aflito.

Ergo uma mão e a movo no ar com suavidade, permitindo que os dedos dancem por aqui e por ali. Inicio o movimento de empurrar e puxar. Dessa vez, sinto como se meus braços estivessem conectados com a água. Olho para baixo e vejo a superfície se movendo, obedecendo aos meus movimentos. A água não dificulta, jamais impede. Ela é um elemento versátil e cooperativo. Diferente da terra.

Sorrio, conforme sinto o poder se esvaindo de meus braços. A excitação explode dentro de mim, mas permaneço em silêncio. Eu sou um dobrador de água. Eu posso dobrar a água. Preciso contar isso para Kyle. Não! Eu estava partindo da cidade, iria me refugiar. Kyle jamais irá saber que eu sou capaz de fazer o movimento de empurrar e puxar. Azsa nunca irá ver minha graduação na dobra de fogo, pois eu nunca faria o teste. Suspiro com esses pensamentos, conforme a água me obedece. Com a mão direita pairando sobre a superfície lisa do lago, faço um movimento, como se erguesse a água. Ela se desprende do lago, tremula, mas me obedece.

─ Muito bem.

A água cai de volta no lago e eu consigo vê-la atrás de mim, como se estivesse espiando por cima do meu ombro. Ela é ligeiramente maior do que eu. O cabelo caí em cascatas castanhas sobre o busto farto. As roupas cerimoniais da Tribo da Água do Sul estão ornamentando o corpo esguio dela, com pelos de urso polar, alguns detalhes bonitos com peles de animais. O pescoço dela exibe um enorme colar de casamento, entalhado em pedra azul, cheio de detalhes mínimos, que para serem captados, precisariam de uma olhada mais minuciosa. Olho para os olhos azuis dela, tão intensos como os de Kyle, seu filho. O sorriso é gentil, porém, encorajador.

─ Lembre-se: a água vai obedecer você, não precisa de esforço. Mas ela fluirá com mais precisão, se você pensar como água, Yan. ─ a voz de Korra era musical.

As luzes que estavam ao redor dela, pareciam físicas e oscilavam conforme os movimentos e a fala dela.

─ Korra... O que você está fazendo aqui? ─ pergunto, olhando para todos os lugares.

─ Impedindo que você tome uma decisão precipitada, Yan. Eu não... Nós.

Quando Korra terminou de falar, a parca luz azulada que a envolvia, espalhou-se revelando não só a presença dela, como a dos outros Avatares. Todos com vestes cerimoniais, tão etéreos quanto à estátua atrás de mim. Estavam entre as árvores, formando um grande grupo organizado num triângulo. Eram tantos, que se perdiam da vista. Atrás de Korra estava Aang, seus olhos cinzas e bondosos me olhando. Roku, com sua barba branca, me fitava, sorrindo, os olhos faiscando um sentimento que eu não soube descrever. E antes dele, estava ela, o cabelo castanho escuro curto, o rosto carregado de pinturas, os olhos realçados pela maquiagem. Ela não sorria, tampouco parecia me encorajar. Eu caminhei entre Aang e Roku e olhei-a nos olhos. Eu sentia o ar reverberando dentro do meu peito. Avatar Kyoshi.

Eu me curvei e fiquei olhando os enormes pés dela, o corpo tomado por uma sensação intensa demais. Eu toquei as vestes dela e a sensação do toque me deixou sem

estruturas. Olhei para trás. Korra, Aang e Roku exibiam enormes sorrisos, enquanto espremiam os rostos um contra os outros, para tentar me verem. Olhei para os Avatares do lado. Eles sorriam. Engoli o choro e dei um abraço em Kyoshi. Meus braços viraram fortes anéis ao redor do corpo dela e a sensação de poder sentir o cheiro dela me tomou. Ouvi uma risada musical, e quando olhei para cima ─ Kyoshi é alta ─ vi a própria rindo, enquanto fazia movimentos negativos com a cabeça.

Ela me afastou gentilmente, e acariciou minha face com a luva de couro. Controlei minha respiração, enquanto tudo ao meu redor girava. Os Avatares estavam formando um circulo, e eu fiquei no meio.

─ Como eu nunca consegui ver vocês antes? ─ pergunto. A voz sai estranha, embargada. Estou emocionado.

─ O véu do não saber cobria sua visão. Sempre estivemos com você. ─ Quem respondeu foi Yangchen. A seta brilhava suavemente no alto da cabeça. Ela parecia serena e completamente em paz. Os mantos dos Nômades do Ar estavam em torno dos ombros dela. ─ Mas você conseguiu afastar esse véu. E era a deixa que precisávamos para aparecer.

Sorrio.

─ Hoje a noite, você experimentou a alegria, não foi? Essa era a última emoção necessária, pois nós Avatares, necessitamos experimentar todas as emoções, para entender como a vida humana é preciosa. ─ Roku falava com suavidade, sua voz rouca era gostosa.

─ Assim, você fará de tudo para protegê-la. Por isso estamos aqui. Se você partir, vai perder essa conexão, Yan. Quem vive de fora da ação, não reconhece nada depois. Se você se isolar no topo de uma montanha, não saberia reconhecer as ações e reações de seus iguais. ─ Aang olhava para a própria estátua no lago, que está imóvel e iluminada. Apoiava-se num tronco. ─ Por isso Raava escolhe os humanos, para continuar o Ciclo Avatar.

Houve silêncio, no qual eu aproveitei para absorver a informação.

─ Yan, nós dois somos, naturalmente, dobradores de terra. ─ a voz de Kyoshi era musical, soava gostosa aos meus ouvidos. ─ É da nossa natureza sermos teimosos e cabeças-duras. Mas nós devemos ceder espaço para as outras naturezas. Somos Avatares. Precisamos ser flexíveis, precisamos ser maleáveis, precisamos ser inteligentes, precisamos ser fluídos, precisamos ser tudo o que pudermos ser. Somos milhares de existências. Não podemos adquirir apenas uma personalidade. Entenda. O mundo precisa de você.

─ Não dê as costas ao mundo. Não dê as costas para quem ama você. ─ Kuruk falou pela primeira vez, a voz um eterno lamento. ─ Você tem a conexão conosco, por uma razão. Para aprender com nossos erros e acertos. Uma vez eu dei às costas ao mundo, julgando que ele poderia sozinho resolver suas pendências e problemas. E o castigo foi implacável. Não ceda à pressão.

Andei na direção do lago. A superfície estava imóvel, como a superfície de um diamante brilhante. Ele refletia as luzes da cidade e eu conseguia enxergar o reflexo da estátua de Aang. Os pensamentos e ensinamentos daquele momento estavam se contorcendo na mente, como duas cobras gêmeas, tentando achar um modo de se encaixar em paz. Sorri, olhando para minhas próprias mãos. Quando virei meu olhar para os Avatares, eles haviam se organizado num corredor extenso. Quando tentei olhar o motivo pelo qual eles haviam feito aquilo, eu vi um homem caminhando na minha direção.

Ele era um Avatar, disso eu não tinha duvidas. Olhei para Korra, à minha direita, e ela sorria abertamente, encorajando-me a olhar para o Avatar que caminhava na minha direção. Olho para ele: as vestes parecem terem sido cortadas toscamente com uma faca. Elas esvoaçam ao redor dele. Os cabelos não são longos, mas são desgrenhados, o que lhe rende um visual interessante. Há um cavanhaque no queixo pontudo. Os olhos são brilhantes, destros, dignos de um Avatar esperto. Ele carrega algo nas mãos, mas não consigo distinguir. A luz que emana é intensa. Meu coração dispara, enquanto os ventos ao redor de nós aumenta, fazendo minha trança rodar ao meu redor. Eu acho que sei quem é aquele Avatar, assim como sei quem ele carrega. Prendo minha respiração.

─ Eu lhe dou o poder do Estado Avatar, Yan de Omashu.

O Avatar Wan me estende a luz, oferecendo-a. Toco. A sensação de poder se alastra pelo meu corpo, como o fogo queima o ar. Sinto-me preenchido pela luz, preenchido por diversas sensações deliciosas e que eu jamais poderia descrever. Quando dou conta, todos os olhos, tatuagens e aparições de Avatares, começam a brilhar. A intensidade da luz faz como que ela emane do lago e preencha tudo ao redor, fazendo as sombras recuarem com rapidez. A luz retorna para dentro de mim e estamos imersos na parca luz da lua. Wan me olha com um sorriso nos lábios.

─ Minha sabedoria essa noite para você, Avatar Yan, é: nossos nomes são demais! ─ ele ergue a mão no ar. Eu a fito. Bato a palma de minha mão contra a dele e rimos. ─ Não permita que o mundo abandone os espíritos. As tradições foram criadas por um propósito. Não abandone a essência. O mundo está caminhando para o lado certo, mas está deixando a bagagem do passado para trás. Equilibre isso.

Reverencio Avatar Wan, com profundo respeito. Sinto meu peito aquecido, o coração pulsando com velocidade e força. A respiração precisa ser controlada. Wan sorri. Ele toca meu rosto e se afasta.

Um show de luzes explode na minha face, na qual todos os Avatares, um a um vão desaparecendo da minha visão. Kyoshi sorri, antes de ser tomada pelo redemoinho luminoso que a leva. A voz dela ecoa em minha mente, dizendo “Nunca estivemos separados. Somos um só. Busque sempre que precisar.”. Olho ao meu redor, e vejo Aang acenando com o sorriso gigantesco nos lábios. Eu podia jurar que ele estava fazendo alguma graça, antes de ir. Roku some nas chamas. E quando procuro por Korra, eu a vejo. Ela não está partindo. Ela caminha na minha direção.

─ Ainda tenho algum tempo com você, Yan. Ainda tenho uma sabedoria e um presente para você. ─ Korra sorri.

Caminhamos na direção do lago. Estamos na beirada, o manto dela ondulando junto dos cabelos. Está começando a esfriar. O inverno está vindo.

─ Nunca veja a água como um obstáculo. Ela pode ser facilmente vencida, pois ela é versátil. Você precisa ser atento. A água não difere bem e mau. Ela apenas faz o que é mandada. Jaya é poderoso o suficiente e você precisa correr, pois ele só ficou quieto até agora, porque está tramando algo que vai além do que eu mesmo sou capaz de compreender. O mundo criou um monstro e deu a responsabilidade dele para você. Jaya foi contra algumas leis. Leis severas. Vou impulsionar seus treinamentos, mas você precisa se aplicar. ─ Korra gesticulou a mão, formando um círculo na frente dela. A água do lago se desprendeu e formou uma espécie de capa nas mãos dela. ─ Kyle saberá o que fazer com você. Lembre-se: você precisa encontrar um mestre em dobra de ar! Medite sempre que puder. O mundo entrará em colapso. Vire-se de frente para mim.

Obedeci. Korra tocou meu peito com ambas as mãos e a água que ela dobrou penetrou minha pele e sumiu. Ela liberou o ar dos pulmões gesticulou ambas as mãos num movimento circular complexo e uma luz azulada vazou de mim.

─ Você não precisa ser letal como uma avalanche, que tem como única natureza deslizar e destruir. Você pode nos acessar sempre, assim como entrar no Estado Avatar sempre. Quando os espíritos vierem até você, não deixe de ouvi-los. Eles são o caminho

da luz. Yan... Preste atenção: seus amigos são sua força. Você se surpreenderá quando notar o quão poderoso fica, quando eles te suportam. Essa é minha sabedoria para você, garoto.

Não posso descrever as sensações que me tomam, os sentimentos que se espalham por mim ou até mesmo os pensamentos que se debatem em minha mente. Korra parece notar isso.

─ Você vai saber ordenar tudo. Fique perto dos amigos, Avatar Yan.

Eu estava pronto para agradecer Korra, agradecer a todos os outros Avatares e seus presentes, mas eu estava solitário, no mesmo lugar de antes, como se eles não houvessem aparecido. Suspirei e ouvi a voz de Korra em minha mente.

“Lembre-se: o Estado Avatar é nossa maior arma. É quando estamos mais poderosos, mas também quando estamos no ápice de nossa vulnerabilidade. Seja cauteloso.”

Junto meu punho direito contra a palma de minha mão esquerda e reverencio a água novamente, em silêncio. Lembro-me de meu pai e de minha mãe. Será que eles podem me assistir e assistir tudo isso? Pai... Mãe... Uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto. Ela toca a superfície do lago. Será?


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Notas finais do capítulo

Kyoshi ♥ Wan ♥