Quando Amanhecer escrita por Clara Luar


Capítulo 4
Mediunidade


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos leitores! Mais um capítulo, espero que curtam.
Vou aproveitar e deixar um beijo para os novos leitores! E um especial a Paty (obrigada pelo comentário >w



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Quando acorda ele não está ao seu lado. Não há ninguém no quarto. As cortinas estão fechadas e impede a luz da tarde iluminar o quarto. Janelas e portas trancadas.

Ergue-se da cama, grande e macia digna das quatro estrelas. Despe a blusa social vermelha de Krad, largando-a no chão, e vai tomar um banho frio para revigorar a energia. Namorar um vampiro é bom, mas cansativo. Ele parece não se cansar nunca. Após muitos beijos a última coisa que ela vê é sempre seu sorriso desejando "boa noite" e Fay adormece.

Demora-se no banho, não tem pressa e pouco se importa com desperdício de água. Paciência, outras pessoas economizarão no lugar dela, os pobres por exemplo.

Enrolada na toalha do hotel remexe o armário do banheiro muito bem abastecido com sais de banho, loções, colônias, hidratantes e pequenos frascos de perfumes. Impressionante como só conseguiram quatro estrelas. Passa o hidratante de morango com chantilly no corpo, algumas gotas de óleo de queratina nas pontas dos cabelos e aceita uma borrifada de perfume de rosas. Abre as portas do guarda-roupa que ocupava toda a parede, do chão ao teto, e dentro encontra pendurados em cabides três dos seus vestidos feitos sob medida. Escolhe o vestido verde menta com poucas camadas de musselina. Enfeita o cabelo com um laço. Para cobrir os dois buraquinhos de presa que possui próximo à raiz do pescoço amarra uma tira de renda branca. Põe-se em frente ao longo espelho, vê a saia rodar com suavidade quando rodopia e sorri para si. Perfeito.

Batem à porta. Ao abrir depara-se com a empregada trazendo-lhe uma cesta farta de café da manhã.

– Pediram para entregar a exatamente às três horas da tarde - explica ela, entrando e pondo a mesa.

– Quem?

Sem responder, a funcionária faz uma reverência e desaparece no corredor.

Fay volta-se para a mesa posta e observa-a intrigada. Entre brioches, croissants, torta de maçã e bolo de nozes, geleias de várias frutas e porcelana bem servida de chá de Ceilão, encontra um cartão dobrado. Abre e lê: Não saia do hotel.

– Ah, Krad, você é tão romântico! - debocha com um suspiro.

Serve-se uma xícara de chá, beberica-o. Ainda segurando a xícara próxima aos lábios, fecha os olhos e se concentra. Percorre a mente dos hóspedes. O hotel estava lotado, em plena temporada, não era possível ninguém ter visto ou reparado em Krad e sua beleza vampírica. Retorna à própria mente com apenas uma nova lembrança: Veronika o viu esgueirando-se para fora de LA' RÚBIA. Para alguma coisa ao menos ela serviu. Mas estar fora do hotel significa estar fora do alcance. Não poderia rastreá-lo facilmente. Fay odiava quando o companheiro sumia sem dar notícias, ainda mais nessa cidade com cheiro de morte e mistério.

Pega o saleiro, despeja o sal sobre a o forro da mesa desenhando um pequeno círculo. Com a ponta da faca mais afiada corta a ponta do dedo. Deixa cair oito gotas de sengue no centro do círculo. Balbucia uma maldição para invocar aquele que não mais existe no mundo sensível. Se seus poderes psíquicos não o encontram, a mediunidade ajudaria.

– Olá. Sabia que tinha um motivo para esse hotel não ser cinco estrelas.

Fay cumprimentou o sujeito mal vestido que surgiu como uma neblina no canto do quarto. Uma materialização inconstante, ora o via, ora não. Um fantasma de um velho bêbado sujo de sangue. A língua dos mortos é um chiado muito baixo, um sussurro pouco decifrável. O homem a fita atônito ao saber que alguém o estava enxergando, que falava com ele.

– Não quero saber por que você está preso. - a garota prossegue, enquanto seu sangue é absorvido devagar pelo círculo de sal. A conexão entre a vida e a morte estava tênue, não teria muito tempo. - Darei permissão para que saia da sua pedra e vá encontrar sua... - visualiza a memória do morto. É mórbida e provoca um enjoo terrível. - ...mulher e seu filho. Antes preciso que você encontre quem procuro. De acordo?

Ele balança a cabeça uma vez.

– Ótimo.

Firma o acordo com o estalar dos dedos. O homem torna-se mais nítido e luminoso. Suas roupas restauram e toda a carne que fora devorada pelos germes e o tempo são reconstituídos.

Obrigado.

Ele some, restando apenas a cauda da sua morte, que é presa ao dedo de Fay como um anel.

O sangue foi totalmente sugado pelo círculo, sem se quer manchar o forro. E o sal desfaz-se em cinzas.

Respira fundo para que o enjoo passe mais rápido, mas o quarto parece abafado demais.

Como Krad não deixou a chave-cartão, a menina pisca duas vezes para a porta destrancar-se. Travas de segurança contra humanos nunca impediriam uma mutante de ir e vir. Nem um vampiro...

Perambula pelos corredores do hotel sem saber exatamente aonde ir. Isso era normal; Fay poderia andar sem rumo em qualquer lugar, sempre chegaria ao lugar que deveria estar.

E esse caminho a traz para a área da piscina. Pequenas árvores, cinco filas de espreguiçadeiras, três piscinas, mesas de sinuca e bares espalhados. Mulheres de milionários tomavam sol, exibindo seus corpos esculpidos com cirurgia, seus maridos fumavam charutos e batiam a bola branca com os tacos personalizados. Garçons circulam com bandejas e coquetéis. Eram poucas as crianças que corriam ao redor da piscina.

Fay estava quebrando a regra de passar “despercebida” estando em meio à multidão. Já que chegou ali, alguma coisa teria de acontecer. Mas o que?

Caminha distraidamente na borda da piscina em forma de R. E então recebe o retorno do moribundo. Ele perdeu de vista o vampiro próximo ao beco de Sant’Anna. Deveria haver muitos mortos naquela região para se quer um fantasma refabricado conseguir ultrapassar...

– Vampiro esperto... –murmura frustrada. Não nota o anel no dedo desaparecer.

Também não percebe o encontrão que recebe por trás. Vê-se caindo em direção à piscina. De imediato não consegue focalizar e o máximo que consegue é demorar a sua queda. Prende o fôlego.

É salva pelo braço que a puxa. Quando volta a respirar está nos braços de um rapaz. O peito dele colava no dela, respirando ofegante.

– Foi mal... – desculpa-se.

Seu hálito tinha cheiro de wodka e hortelã. Os braços firmes ao redor da cintura não iriam soltar a garota tão cedo. Os cabelos molhados brilhavam com o sol. Os olhos de um verde selvagem mostraram-se dispostos a arrastar Fay para a profundidade da selva indomável da atração física e talvez... De um amor à primeira vista. E a médium não teria escolha se não acolher esse novo sentimento.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!
Fiz um capítulo que pudesse mostrar alguns dos poderes de Fay; Se não ficou claro quanto ao poder médium do capítulo:
Ela é capaz de invocar alguém que tenha morrido se estiver no lugar da morte.
A "pedra" a que ela se refere é o pecado que prende a alma do homem na terra.
A "refabricação" de alma é quando ela, como mediadora, perdoa o pecado da alma e permite que ele vá para o outro plano( se para o céu ou inferno não dá para saber)
Quando se faz um pacto com o fantasma, ganha-se um anel feito com a "cauda do fantasma".

Se gostaram ou não, ou qualquer erro gramatical, informem no comentário :D
Até o próximo capítulo :)



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