Quando Amanhecer escrita por Clara Luar
Notas iniciais do capítulo
Faz tempo. Tenham uma boa leitura. Qualquer erro gramatical avisem :)
Era pouco mais do meio dia quando o vampiro decidiu que mudariam de cidade, outra vez. O sol estava a pino e o calor naquela região o fazia suar mais que o "normal". Os vampiros não suam, nem costumam andar de dia. O suor queima. São fagulhas que acendem na pele e deixam rastros negros. Fay insistiu para pararem em algum lugar, esperar o sol se pôr e só depois partir. No entanto, ele tinha pressa. Com o desastre do último assalto os federais estavam no seu encalço. Infelizmente, atrás dos dois. Tendo a cabeça à prêmio agora em quatro estados, os policiais locais também estavam se esforçando para capturá-los. E o incidente na loja de conveniências não ajudou em nada.
Rodou a Ferrari azul por longas duas horas até parar no estacionamento de um hotel quatro estrelas na cidade de Bluzz Hattaway, a segunda mais populosa do país e que concentra diversas comunidades de hotéis, restaurantes e... Igrejas. Era uma pacata cidade evangélica de manhã e uma imitação de Las Vegas à noite.
A telepata desce pousando cuidadosamente as sandálias góticas no asfalto. Ajeita os longos cabelos escuros sobre os ombros, gesto este que faz chacoalhar de leve a barra ondulada do vestido azul claro. Ajusta a pequena cartola pousando-a pouco a cima da sua orelha direita. Ao fazer isso repara pela primeira vez na placa do hotel: LA' RÚBIA, e ostentava as quatro estrelas sob o letreiro.
– Está faltando uma. - contesta virando-se para o companheiro, que chega ao seu lado após entregar a chave ao manobrista.
– Chegamos em plena temporada. Esse é o melhor que vamos conseguir. - o vampiro ergue a gola para cobrir os pontos negros que vinham crescendo no pescoço, por causa do suor. Os olhos sob as lentes vermelhas do RayBan fitam o local, atento a qualquer sinal de perigo.
Cidade populosa era mais fácil para infiltrar-se. Se salas de jogatinas e festas milionárias conseguiam passar despercebidas, eles conseguiriam.
Sobem os degraus que levam à entrada, Krad na frente e ela alguns passos atrás. Fay não andava rápido e o demasiado instinto protetor dele exigia essa distância, que ela não gostava nem um pouco. Queria entrar segurando sua mão fria e deixar claro a todos que não era a "irmãzinha" dele.
Adorável...
Ergue o olhar. Tal pensamento fora enviado pelo porteiro, o homem de bigode grisalho de terno negro, que abre a porta para eles. Vasculha um pouco suas memórias e descobre que ele compara-a à filha... Merida, que morrera de pneumonia meses atrás. Vasculhá-lo traz também um pouco da dor da perda e Fay, que, para compensar a invasão da mente dele, oferece seu melhor sorriso. Virgílio, o porteiro, sorri de volta comovido.
A mente da recepcionista, entretanto, não é nada agradável. Brigas entre os pais, fugiu de casa aos dezessete, mora no apartamento da amiga, que não a quer mais lá, seu namorado usa drogas. Se surpreende ao descobrir que apesar do turno longo de manhã e a noite, Veronika gosta do emprego, mas porque pode esnobar para às amigas e conhecer homens ricos.
A moça tinha os cabelos tingidos de laranja cor de abóbora, e sacudia-os sempre que possível, espalhando o perfume caro (que ganhou de um velho gordo hóspede do hotel, que a corteja sempre que visita a cidade). E quando não usava as mão para isso, cruzava-as sob os peitos, erguendo-os dentro do uniforme justo às curvas de seu corpo. Veronika estava tentando seduzir Krad.
– Quero o melhor quarto disponível - diz ele, tirando os óculos e lançando-lhe seu olhar frio e indiferente, que entretanto, derrete os corações desavisados.
– Só um? - indaga, referindo-se a Fay com certa superioridade, como se o vampiro fosse presa fácil para a mulher com cabelo de abóbora. - Não seria melhor ter um pouco mais de privacidade?
Fay lê os planos da recepcionista de visitá-lo ao quarto e oferecer-lhe "tratamento especial". Agarra-se a manga do terno preto de risca que Krad veste. Deseja derreter o miolo dela quando percebe o sorriso de deboche pintar na face da mulher.
Alheio às faíscas entre elas, Krad bate o dedo impaciente sobre o balcão de marfim. O cheiro no lugar é insuportável e precisa logo de um banho para esfriar as feridas.
– Um. Quarto.
– Sim, senhor.
Veronika sai decepcionada. Demora uns minutos para trazer a chave-cartão do quarto.
– Aqui está. Sorte a de vocês, é o último. - entrega.
O rapaz escorrega um maço de dinheiro sobre o balcão, deixando pago qualquer despesa pelos próximos três dias. Tinham o costume de desaparecerem antes disso, fugindo da polícia ou por arrumar brigas com alguns ricaços. Fay criticou o ato de aceitar os serviços do hotel mas não pagá-los, eram mais inimigos que faziam. Por isso pagam adiantado. Para não fazer inimigos desnecessários.
Fay pisa firme o piso rubro. Os ponteiros da exposição de relógios perto da escadaria são girados desesperadamente. O senhor sentado ali perto levanta-se sem compreender. A mutante tentava ao máximo controlar a fúria. Não seria bom destruir o hotel em que ficariam.
Estão quase deixando o saguão quando Veronika debruça-se no balcão e chama-os. Os dois viram ao mesmo tempo.
– Tem certeza que não quer largar a garotinha no quartinho das empregadas e se divertir comigo? - sugere.
O lustre falso despenca no chão. Os estilhaços do vidro voam para todos os lados. Os ponteiros desprendem e correm em direção ao pescoço da recepcionista. Fay está furiosa.
– Tenho. - a resposta do vampiro é gélida, carregada de desprezo, e corta a fúria da menina num instante.
Os ponteiros caem no chão, junto ao lustre quebrado. Veronika observa o estrago com os olhos esbugalhados. Empregadas correm com vassouras e pás, o porteiro pergunta se alguém está ferido, o gerente surge e pede desculpas pelo acidente.
Em meio ao transtorno, Krad pára ao lado da companheira, as íris violetas que vê são poças de raiva coberta de nuvens de aflição.
– Não sei quantas mentes deste saguão você leu, mas não deixe os sentimentos dos outros interferir nos seus tão facilmente.
Ele se quer notara o porquê? Que a vadia estava dando em cima descaradamente? Que ela a humilhou? Que teve medo de perdê-lo? De não conseguir vê-lo mais? De ter de enterrá-lo?
Ah, o porteiro.
Os pensamentos dela misturaram com o do porteiro. Não conseguiu manter as barreiras psíquicas quando fora perturbada com as insinuações de Veronika. Fay respira fundo e concentra em reconstruir as barreiras. Ok. Restava apenas a irritação com a mulher de cabelos cor de abóbora. E esse sentimento era mesmo dela.
– Sim... - murmura.
Ele observa-a um pouco mais. Ergue seu rosto com as duas mãos. Agora, as íris questionam a finalidade do gesto. Chega o rosto pálido mais perto, na raiz do pescoço, concentra-se em sentir apenas o cheiro doce dela. Deliciosa.
– Não pense que me interessaria por uma alma desprezível como a dela. - sussurra ao pé do ouvido.
A menina arrepia. A voz dele é melódica e carregada de malícia. A malícia do vampiro é uma droga viciante como o doce das trevas e incita o desejo pelo lado negro da história.
Ele beija o brinco em forma de rosa antes de afastar-se.
– Vamos para o quarto.
Ela apressasse em acompanhá-lo nos degraus da escadaria, o vestido balançando angelicalmente. Toma-lhe a mão fria para não ficar para trás. O seu lugar era ao lado dele, como sempre e para sempre.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
O desenrolar ocorrerá nessa cidade (fictícia). Espero que tenham gostado do capítulo, que não mostrou muita coisa, mas se tiverem um mínimo de curiosidade acompanhem a história, prometo não decepcionar :) Obrigada.