Capítulo 02

Heriberto fica com essa indagação na cabeça, querendo muito saber onde Victoria estava, e o que havia acontecido com ela. Um pouco ao lado de Cuba ainda vivia Victoria, que quase nunca saía do México, já que o foco da sua empresa de moda era seu país. Ela teve uma infância tranquila, mas uma juventude completamente diferente. Seu passado era negro, cheia de dificuldades e sofrimento, por isso acabou por tornar-se uma mulher fria, calculista que não se importava em passar por cima de ninguém para conseguir o que queria e não tinha piedade de ninguém, uma vez que jamais tiveram com ela também. Contou muito com a ajuda de Antonieta, sua fiel escudeira, que passou quase a vida toda ao lado de Victoria, esteve ao seu lado em muitos momentos tristes, de angústia, e ela mais do que ninguém conhece as verdadeiras dores que o passado de Vicky trouxe. Embora não soubesse muito como ajudar, Antonieta sempre achava um jeito de deixar Victoria alegre, e de certa forma conseguia. Em uma tarde antes de um desfile Antonieta bate a porta de Victoria, que rapidamente esconde algo na gaveta e enxuga as lágrimas enquanto aperta o botão para que a porta de sua sala fosse aberta. Assim que a porta se abre Antonieta entra e repara de imediato que Victoria não está bem, mas não se atreveu a perguntar nada, apenas sorriu amigavelmente como sempre e disse:
Antonieta: Victoria, está quase tudo pronto, falta pouco para que o desfile comece, falta apenas que tu revises os acessórios das modelos.
Victoria vê e ouve a voz de Antonieta e se acalma, logo pega de volta o que havia posto na gaveta, uma linda bonequinha de pano, suspira profundamente e diz:
Victoria: Sim Antonieta, em alguns minutos eu vou e reviso rapidinho.
Antonieta vê o que Victoria faz e a escuta, suspira triste pois sabia o motivo, vai até ela e a abraça forte, alisa o cabelo de Victoria e diz:
Antonieta: Oh meu Deus, de novo chorando pela nossa pequena Maria Victoria?
Victoria escuta e já com os olhos molhados apenas faz que sim com a cabeça. Antonieta então a abraça mais e bem forte, com todo o carinho que sentia pela amiga, enquanto afaga o cabelo dela e diz:
Antonieta: Calma Victoria, tudo vai ficar bem! Não perca a fé. Sei que já se passaram muitos anos, mas você ainda vai encontrar sua filha, eu tenho certeza! *-*
Victoria a escuta e agarra forte, fala chorando desesperadamente:

Victoria: Não Antonieta, eu nunca mais vou achar a minha Maria, minha pequena Maria. Já andei por toda aquela rua onde a perdi naquele maldito acidente e ninguém sabe dela! Você melhor do que ninguém sabe a quantidade de detetives que contratei para buscá-la, mas ninguém a encontrou, ninguém Antonieta, ninguém!
Ela escuta e suspira, fala com muita calma e paciência, ainda abraçada com a amiga:
Antonieta: Calma Victoria, não desanime! Antes do que você pensa vai achá-la! Sei que seu coração de mãe vai te levar até ela, e vocês serão felizes juntas *-*
Victoria escuta atentamente, e fala já enxugando as lágrimas:
Victoria: Não Antonieta, durante todos esses anos eu guardei ilusões com o momento que a encontraria, a teria de novo em meus braços mas isso nunca aconteceu, nem vai acontecer. Só que essa dor Antonieta, não passa!
Antonieta ouve e suspira, já fica de frente para ela e diz um pouco séria:
Antonieta: Victoria, sei que hoje mais do que nunca é uma data que te fere pois seria o aniversário dela. Mas não é culpa sua, foi um acidente. Sei que é horrível, que você a queria do seu lado em todos os momentos mas infelizmente não aconteceu. Eu queria entender, porque depois de tantos anos te ouvindo falar sobre isso NUNCA te ouvi tão pessimista, e agora está! Victoria, não foi atoa que você fundou este império, foi para ter dinheiro suficiente para poder buscá-la então não pode se render! Cadê aquela Victoria forte e decidida que eu conheço?
Victoria escuta tudo bem atenta e olha para Antonieta, dá um suspiro de leve e responde:
Antonieta: Essa Victoria apenas está se rendendo, e cansando de lutar em uma guerra, que não consegue ganhar uma batalha sequer. De nada me serve esse império todo, já que não me trouxe minha filha.
Antonieta escuta e suspira ao ver a amiga triste desse jeito, a abraça forte e dá vários beijos na testa dela, logo a encara novamente e diz:
Antonieta: A Victoria que eu conheço já cansou mas nunca desistiu. Sei que não vai desistir agora, e nem antes que ela e sua filha estejam juntas. Então por favor Victoria, se não por mim, nem pelas modelos, nem pelo público mas, pela Maria, pela sua pequena Maria, vá revisar as modelos, e faça desse desfile o melhor que você já fez, sim?! *-*
Victoria escuta tudo e suspira bem contrariada, mas faz sinal positivo com a cabeça enquanto levanta da cadeira. Antonieta vê e dá um sorriso de leve, então se junta a Victoria e as duas vão até o camarim revisar as modelos.
Nisso do lado de fora dos bastidores haviam três freiras e uma menina linda, de altura média, cabelos negros e longos, olhar angelical e expressão doce, de encantar qualquer pessoa. A menina tremia mais que vara verde, e não parava de tagarelar um segundo sequer:
Maria: Ai madre, eu não acredito, não acredito que estou aqui, essa é a oportunidade da minha vida!!!! Eu finalmente vou conhecer a senhora Sandoval, nossa tão querida benfeitora. Ai que nervoso meu Jesus *-* Como ela será? Como eu estou? Será que ela vai gostar de mim? Eu...
Maria ia falar algo mais mas é interrompida por uma das madres, que já estava visivelmente cansada de tanto blá blá blá, mas mesmo assim a repreende de forma doce e carinhosa:
Madre: Maria minha filha, controle seus nervos por favor, e deixem que as coisas aconteçam no momento! Nervosa e ansiosa assim você só vai deixar as coisas piores. Nada de agir assim na frente da senhora Sandoval, por favor.
Maria escuta e sorri de forma angelical, quase infantil e responde:
Maria: Está bem Madre, me perdoe! Eu vou tentar, mas não sei se vou conseguir evitar meu nervosismo diante dela.
A madre escuta e suspira, olha rapidamente para o céu como se pedisse algo (Que era equilíbrio e paciência para Maria.) Nisso Victoria e Antonieta que acabaram de revisar as modelos e estavam saindo do camarim acabam passando por Maria e as freiras no trajeto de volta até a sala. Maria a vê e fica toda entusiasmada,emocionada, empolgada, sentia que seu coração ia sair pela boca. Nisso chama discretamente por Victoria, que ao ouvir seu nome rapidamente vira-se de costas para ver quem havia chamado. Ao notar que Victoria a viu Maria sorri e vai toda feliz até ela, fala bem emocionada, e mais rápido do que antes:
Maria: Dona Victoria, que alegria poder finalmente te ver. Meu sonho é ser modelo, e eu sempre acompanho seus desfiles, te admiro muito, muito mesmo *-* Não só por isso, mas também a admiro pelo grande ser humano que és, já que graças a senhora, muitas vezes o orfanato onde cresci teve condições de dar a todos o que precisamos. É realmente uma emoção estar perto da senhora, minhas mãos chegam a tremer, olha! -Maria então sorri timidamente e mostra suas mãos trêmulas mas sem deixar de falar- Mas isso não vai impedir que te diga o quanto te amo e admiro *-* Posso pedir um favor dona Victoria? A senhora deixaria que eu a abraçasse?
Maria então sorri e antes mesmo de ter uma resposta já abraça Victoria bem forte, com todo o amor e carinho que tinha. Victoria ouve tudo atentamente, mesmo parecendo distante e não se importar com as palavras daquela jovem, ia falar algo quando sente o abraço de Maria e fica impactada, pois nunca havia sentido outro abraço igual, e nenhuma sensação que se compare ao que acabara de sentir. Maria fica abraçada um bom tempo a Victoria, que afagava carinhosamente os cabelos longos da menina, logo a Madre as separa com carinho e diz em tom sério, mas doce:
Madre: Maria Desamparada, por favor, já chega de importunar a senhora Sandoval!
Maria ia responder alguma coisa, quando Victoria questiona:
Victoria: Maria Desamparada?
Maria sorri feliz com a pergunta e prontamente responde:
Maria: Sim senhora, Maria Desamparada. Chamaram-me assim pois me encontraram bem pequena, desamparada, o único que sabia dizer era meu nome. *-*
Victoria sorri com a explicação mas devido ao tumulto do desfile não liga A com B. Nisso Antonieta que detestava ser inoportuna, devido ao atraso se obrigava a chamar a atenção de Victoria:
Antonieta: Vicky, por favor, temos que ir, o desfile já vai começar!
Victoria escuta, suspira então dá um abraço nas madres e outro bem apertado em Maria, sorrio mesmo com expressão triste e cansada enquanto diz:
Victoria: Perdoem-me, mas tenho que ir. Nos falaremos melhor em outra oportunidade sim? Foi um prazer conhecê-las, até mais!
Maria ia dizer algo, mas Victoria acaba saindo com Antonieta antes que pudesse dizer qualquer coisa, ela então suspira e senta com as freiras para assistir o desfile. Logo o evento começa e todos adoram, aplaudem e prestigiam muito, foi um verdadeiro sucesso. No final, Victoria acaba o discurso e já exausta ia para seu escritório, quando é parada por um agente publicitário:

Renato: Dona Victoria?!

Victoria escuta, o vê e logo indaga:
Victoria: Sim, em que posso lhe ser útil?
Ele a escuta, já tira um cartão da carteira e entrega a ela enquanto diz:
Renato: Prazer dona Victoria, meu nome é Renato, sou da Fashion House de Cuba. Estamos tentando trazer um desfile seu para lá, seria possível?
Victoria escuta o moço e pega o cartão, mas ao ouvir a o restante muda totalmente de expressão, fala um pouco alterada, com um imenso ódio e rancor nas palavras, de maneira quase irreconhecível:
Victoria: De Cuba? Perdoe-me, mas vou recusar. JAMAIS colocaria meus pés naquele país.