Seja Um Anjo escrita por LunaLótus


Capítulo 15
Melhor


Notas iniciais do capítulo

"Arregalo os olhos, não sei se de choque, surpresa ou medo. Medo não por mim, mas pelo o que pode ter acontecido a ele."



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Agora, pergunte-me se eu não sou um bom anjo. Sim, eu sou, já respondo. Afinal, eu não bati em Gabriel. Ao contrário, eu o deixo entrar na minha casa, deixo-o sentar no meu sofá. Mas nada além disso. Nada de água, suco ou café. Porque, afinal, eu ainda estou com vontade de estrangulá-lo.

— Está quase acabando, se quer mesmo saber – respondo ao seu questionamento sobre o mundo. – Aliás, como você soube?

— Como eu soube o quê?

— Quem iria ganhar na loteria – digo, irônica. – Como você soube que eu descobri que sou sua Descendente, Gabriel?

— Ah, isso – fala, como se não fosse nada demais.

— Isso. Isso. Não me provoque, Gabriel, estou com muita vontade de bater em você.

— Provocar você? Eu a avisei para não mexer nessa história.

— Mas você não me avisou que eu estou envolvida nesta história!

— Eu não podia.

— Ah, pelo amor do Pai! Eu duvido que só você saiba disso!

Ele se levanta e passa por mim, indo até a cozinha. Conto mentalmente até cinco para não começar a gritar. Eu o digo.

— Tem razão, não era só eu que imaginava saber. Miquel também sabia, eu acho.

— Miquel? O Ancestral de Neto?

— Esse aí mesmo.

— E por que você nunca me falou nada?

— Está aí uma coisa que achei que você não era: ingênua. Pense um pouco, Samantha. Você gostaria de virar um objeto de estudo?

— Objeto de estudo? Por que alguém me estudaria?

Gabriel abre minha geladeira – sem minha autorização, que ousadia! – e retira uma garrafa de água. Pega um copo sobre a bancada da pia e despeja cuidadosamente o líquido no copo. E, sim, eu demoro falando isso, porque cada ato dele foi cinco vezes mais demorado!

— Achava que eu tivesse ensinado mais a você – comenta. Como não respondo, continua: – Nós não sabíamos nada sobre os Descendentes, Sam. Aliás, nós não sabemos nada.

— Você sabe de mim.

— Sei mesmo? – Ele me encara.

— Não seja hipócrita, Gabriel! Você me enganou todos esses anos… que eu nem sei quantos foram. Eu pensava que você era meu irmão!

— E eu sou seu irmão, todos nós…

— Não me venha com essa ladainha! Isso não cola para cima de mim!

— Tudo bem. – Ergue as mãos em sinal de rendição, abandonando o copo sobre a mesa. – Não está mais aqui quem falou.

— E você está fugindo de todas as minhas perguntas – acrescento.

Ele respira fundo, parecendo derrotado, e se senta.

— Ok, o que você quer saber?

 

Sigo para a universidade no dia seguinte, mesmo sem querer ir. Minha mente ainda está girando com tudo o que Gabriel me revelou. Eu preferia mil vezes estar numa banheira, com o som bem alto, de forma que não conseguisse nem ouvir meus pensamentos. Só tem um problema nisso tudo: não tenho banheira.

Meus pés já estão tão acostumados a seguir para aula de cálculo avançado, que não me surpreendo ao já me ver sentada na carteira. Os estudantes entram na sala conversando, rindo, fazendo barulho, mas nada me impede de relembrar a noite anterior.

— Primeiro, como você soube que eu descobri…? – pergunto.

— O Rael me mandou um recado, disse sobre o que havia lido.

— Ele também disse que pretendia ir embora?

— Embora? Ele foi embora? Não, eu não sabia disso.

Traidorzinho.

— Tudo bem, segundo, você já sabia que sou uma Descendente?

Ele hesita, mas eu o encaro, exigindo respostas.

— S-sim. Eu já sabia.

— Como?

Gabriel vira o rosto, encarando algum ponto que eu jamais poderia ver. Provavelmente, um ponto do seu passado.

— Eu observava, de longe, meus descendentes. Os Escolhidos, depois de um tempo, perderam essa curiosidade, esqueceram desse passado deles. A experiência não deu certo, acabou, fim. Mas para mim, não. Você não entende o que aquilo significava? Era nossa herança! Era o que nos separava dos humanos, sendo rompido ali, bem na nossa frente! Nós nos reproduzimos, deixamos um legado, um milagre que só era concedido aos terrenos.

— Então, era tudo uma questão de reprodução? – questiono, meio enojada.

— Não. Não… Era uma questão de amor. Eu aprendi a amar aqueles que gerei, e aqueles que meus filhos geraram, e os filhos que esses geraram… Sabe o quanto isso é valioso? Nós, anjos, não amávamos os humanos como deveríamos. Sim, nós os protegíamos, afinal, era nosso dever, é nosso dever. Tínhamos compaixão, um instinto protetor… Mas amor? Aquele que faz você se preocupar se aquela pessoa está bem, se algo a incomoda, entristece, ou até se passou no vestibular que queria e fica feliz por isso…

Ele faz uma pausa e sorri para mim. Então me lembro do dia em que recebi a minha aprovação no vestibular, o quanto fiquei feliz, de como me senti vitoriosa… E Gabriel ficou feliz por mim, sorriu, fez piadas. Ele parecia orgulhoso.

Eu sorrio de volta para ele, mesmo que a contragosto.

— Obrigada – sussurro.

— Foi esta preocupação, este amor, que me fez não dizer nada a ninguém. Quando você nasceu, eu vi em você o que você é. Uma Descendente. E percebi uma fórmula que ninguém antes tinha estudado: uma Descendente-anjo só nasce da união entre dois Descendentes-humanos. E eu não falei nada porque sabia o que iria acontecer. Você não seria livre.

— Por que não?

— Porque você é única, Samantha. Não existe outro anjo como você. E jamais deixariam que você se reconhecesse como tal.

 

Não deixariam que eu me reconhecesse como tal. Não deixariam. Mas quem não deixaria? Quem não iria me deixar livre? Os anjos? Por que fariam isso?

Neto entra na sala e eu sinto sua forte aura angelical. Instantaneamente, mesmo aqueles que estavam tristes ou cabisbaixos, todos ficam mais animados. O professor sorri e começa a brincar, fazer palhaçadas, enquanto prepara seu material.

Porém esta é a primeira vez que vejo Netinho com outros olhos. Desta vez, não o vejo como alguém que deve ser salvo, alguém puro, com alma e criança e coração gigantesco a quem a vida iria cometer uma injustiça. Não. Pela primeira vez, eu vejo Netinho como alguém que precisa ser protegido.

Saio da sala distraída, pensando no que fazer para proteger Neto. Porque existe uma diferença entre proteger e salvar. Agora, não quero simplesmente que ele viva, não quero apenas evitar a morte dele. Eu quero que ele seja livre, que ninguém que possa fazer alguma maldade se apodere dele.

O meu trunfo? É que ninguém sabe que somos iguais.

 

Meu caminho é interrompido por uma montanha. Para minha surpresa, não me irrito, apenas fico entediada. Olho para cima e vejo, porém, que a montanha não é uma montanha. É um armário. O Armário. Ou melhor, aquele demônio que se fantasia de Armário.

— Será que você pode me dar licença? – pergunto.

— Está mais educadinha, anjo? – Sorri desdenhosamente. Contenho minha vontade em dar um chute nos países baixos dele. Porque, sim, ele pode até ser um demônio, mas neste corpo, ele sente dor como um humano.

— Não, apenas mais consciente do que posso fazer – ameaço. Claro, ele não sabe que eu sou uma Descendente e nem do que eu posso fazer. Se bem que, dessa segunda parte, eu também não sei nada.

— É mesmo? – Ele agarra meu braço e o segura firmemente. Então fala mais baixo: – Eu também. Você vem com a gente agora, anjinho. E sem gritar. Ou eu vou mandar arrancarem membro por membro do seu namoradinho.

Rael. Tudo bem, ele não é meu namorado, mas penso nele.

Arregalo os olhos, não sei se de choque, surpresa ou medo. Medo não por mim, mas pelo o que pode ter acontecido a ele. Minha expressão me entrega, e eu não tenho nem tempo de negar. Então, engulo em seco e deixo meus pés acompanharem o monstro.

Agora já sei de quem devo proteger Neto.

— Eu disse a você que eu o teria – diz o demônio, e adivinho que ele se refere ao professor. – Mas mudei de ideia. Você é um prêmio muito melhor.


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Notas finais do capítulo

Ooi, meus anjinhos, gostaram do capítulo maior? O que acharam? Tenho alguns avisos, então vamos lá! Primeiro: eu sei que falei que ia postar segunda ou quinta, mas ontem foi muito corrido para mim, então só pude postar hoje! Segundo: mil beijos a E H Lewis, Nath, The Doctor, Caçadora de Estrelas e Marcybel pelos comentários, apesar do capítulo curtinho de antes ♥ E aos fantasminhas, amo vocês todos também! E por fim, o terceiro aviso é: SUA está acabando...! :(
Mas não me matem, ok? Até o próximo! Beijoos



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