Eu.

Eu?

Eu…

Uma Descendente.

Mas como isto pode ser possível? Claro, eu sei a história e, apesar de ser um anjo, sei de onde os bebês vêm. Ainda assim, não explica o fato de eu ser uma… Argh! Não vou me acostumar a isso.

Baixo os olhos para as letras distintas, escritas recentemente por uma caneta azul. Sinto muito. Sinto muito. Sério mesmo? Sinto muito? Aquele imbecil descobre algo que ele sabe que vai deixar a minha vida de cabeça para baixo e vai embora? Simples assim?

Ah, Rael, você que não apareça na minha frente! Ou melhor, quero que apareça mesmo. Para que eu acabe com sua vida!

Jogo o livro no chão, deitando-me na cama. Encaro o teto, mas não o vejo de fato. O que isso significa? Lembro-me vagamente de uma fala que ouvi ainda na minha formação (porque, sim, anjos também precisam se formar em Casa!): os Descendentes são uma raça mais forte de anjos, e seus poderes são completamente desconhecidos. É o que jamais entendi. Se os humanos são considerados mais fracos, por que os seus frutos com anjos são mais fortes?

A imagem da árvore genealógica parece ter sido grava a fogo em minha mente. Sou uma integrante da quarta geração do anjo Gabriel.

O anjo Gabriel.

O único de que tenho conhecimento é o meu irmão. Que, pelo visto, não o é. E isso explicaria os olhares estranhos que nos lançavam quando dávamos esta informação. Ou o porquê de Gabriel sempre sorrir e dizer “todos nós somos irmãos, certo?”, quando isto acontecia.

Porém, ele sempre teve um cuidado maior comigo, uma preocupação fraterna quase paternal. Nunca estranhei, porque afinal éramos irmãos e Gabriel sempre foi absurdamente protetor. Mas, pensando agora, talvez haja um outro motivo. Eu preciso falar com ele.

É quando a campainha toca.

— O mundo já acabou por aqui?