ERA UMA VEZ, na Floresta Encantada... Só que não. Todas as coisas nesse lugar são muito certinhas. Em cada canto dessa maldita floresta há um “happy ending” acontecendo. Esse lugar só perde para Neverland. Porém , uma coisa eu não posso negar, as mulheres daqui são muito bonitas, os caras são uma comédia, todos querendo dar uma de heróis, mas não passam de um bando de gays.

Infelizmente vou ter que passar um tempo aqui. Alguma coisa deve ter rachado o casco do navio, então vou ter que esperar a magia restaurar os danos.

Resolvi dar uma volta pela praia, estava praticamente vazia. Exceto por alguém bem mais a frente, pelas roupas obviamente era uma moça. Fiquei um tempo a observando de longe, até que ela se levantou e começou a andar pela margem da praia.

Ela passou do meu lado
"Oi amor" eu lhe falei

"Você está tão sozinha"
Ela então sorriu pra mim

Ela sorriu, mas sua expressão era de tristeza.

— Eu não deveria falar com um pirata. — ela disse

— Por que não? — perguntei

— Piratas não são confiáveis.

— Depende da situação. —falei

— E em que tipo de situação eu deveria acreditar em um pirata? — ela perguntou arqueando uma sobrancelha

— Se um pirata te disser que você é uma moça muito linda e encantadora, e se ele não estiver bêbado, você pode acreditar que é verdade.

— Mas ele não disse.

— Pois então, você é uma moça muito linda e encantadora. — falei e ela sorriu fraco

Foi assim que a conheci
Naquele dia junto ao mar
As ondas vinham beijar a praia
O sol brilhava de tanta emoção

— Só não entendo uma coisa. Por que uma moça tão linda está com uma cara triste?

— Eu não estou. — ela desviou o olhar

— Está sim. Qual o problema?

— Eu discuti com os meus pais. Eles querem que eu seja alguém que eu nunca vou conseguir ser.

— E o que eles querem que você seja?

— Uma princesa. — ela disse fazendo careta

— Princesa? Você por um acaso é filha do tal Príncipe Encantado e da Branca de Neve? — perguntei debochando

— Sim. — ela respondeu e fiquei surpreso — E isso me irrita às vezes.

— Nesse caso — fiz uma reverencia — É uma honra estar falando com uma princesa. — ela sorriu novamente e revirou os olhos.

Passamos mais um tempo conversando e descobri que seu nome era Emma Swan. Princesa Emma. Muito interessante. Não só o nome, mas também ela. Diferente das outras mulheres que já conheci, ela não era cheia de frescuras.

Um rosto lindo como o verão
E um beijo aconteceu
Nos encontramos à noite
Passeamos por aí

Andamos pela margem da praia durante, sei lá quanto tempo. Só tivemos uma noção de quanto tinha se passado quando o sol começou a se pôr.

— Meus pais vão me matar! — ela disse

— Por quê? —perguntou tentando não rir de seu desespero

— Eu não devia voltar para casa depois que anoitecesse. De acordo com eles “uma princesa não deve ficar sozinha por aí à noite”.

— Tecnicamente você não está sozinha. E você não é uma princesa comum.

— É, mas mesmo assim. Eu preciso ir. — ela disse

— Posso ao menos te acompanhar?

— Sim.

Depois de mais alguns minutos de caminha, chegamos a entrada do seu castelo.

— Pronto, princesa. Sã e salva. — falei

— Obrigada. — ela disse — Ah, antes de eu ir. — ela se aproximou de mim e me beijou, é claro que correspondi de imediato, mas não posso negar que aquilo me surpreendeu bastante — Eu nunca tinha beijado um pirata.

Ela sorriu e entrou no castelo. Voltei para o meu navio e vi que a magia já tinha feito seu trabalho. Pensei em ir embora no mesmo instante, porém, algo passou pela cabeça. Swan. Sim, ela havia mexido comigo. Dei meia volta e voltei para o palácio. Já era tarde, havia poucos guardas nas entradas, então não tive dificuldade nenhuma em entrar. Passei pelo jardim, até achar a janela de seu quarto.

As luzes estavam acessas, é claro que ela estava acordada. O vidro estava entreaberto então decidi testar se os clichês dessa terra de contos de fadas funcionava. Peguei uma pedrinha do chão e joguei em sua janela. Poucos segundos depois, ela apareceu na varanda.

— Você? — ela sorriu — O que está fazendo aqui?

— Vim te chamar para dar uma volta de navio.

— Agora?

— Sim.

— Espera aí. — ela voltou para o quarto e logo apareceu na varanda novamente com uma corda. Se pendurou nela e desceu até o jardim.

— Parece que a senhorita já andou fugindo outras vezes.

— Se você morasse aqui me entenderia.

—Eu entendo. Viver num conto de fadas a vida inteira deve ser tedioso. É melhor a gente ir, não quero ter problemas com o rei hoje.

Apressamos o passo e chegamos no navio.

— É incrível! — ela disse correndo para dentro como uma criança.

Sorri e a acompanhei.

Nos afastamos pouco do cais, o navio já estava em condições de navegar, mas decidi não abusar.

— Você vive sozinho aqui? — ela perguntou

— Sim. As vezes eu monto uma tripulação, mas não dura muito.

— E não é solitário?

— Solitário? As vezes. Mas acho que viver sem precisar seguir regras ou ter um destino certo já vale a pena.

— Deve ser legal. — ela disse olhando o horizonte — É tão lindo! As luzes do reino, as estrelas.

— Não esqueça da lua. A iluminação do navio está vindo dela.

E a lua estava realmente muito bonita. Eu nunca tinha visto uma lua cheia assim antes.

E num lugar escondido
Outro beijo lhe pedi
Lua de prata no céu
O brilho das estrelas no chão

— Obrigada por me trazer aqui. Está sendo uma noite maravilhosa.

— Acho que tem um outro jeito de você me agradecer.

— Também acho. — ela disse se aproximando, passei os braços pela sua cintura e a trouxe para mais perto. Suas mãos ficaram apoiadas no meu ombro. Sorri. Ela ficava tão linda nessa luz. Eu poderia passar horas olhando para seu rosto que eu não me cansaria.

— O que foi? — ela deu uma risada fraca

— Você é linda. — respondi e então selei nossos lábios.

Tenho certeza que não sonhava
A noite linda continuava
E a voz tão doce que me falava
"O mundo pertence a nós"

Nos encontramos na noite seguinte, e na outra e na outra. Nos vimos durante vários dias. Conseguimos até ajuda de uma das empregadas do castelo que dava cobertura para nossas fugas. Um dia, cheguei no castelo no mesmo horário de sempre, no lugar onde sempre nos encontrávamos e fiquei esperando minha princesa. Só tive noção do quanto esperei quando fui acordado pela senhora que trabalha no palácio.

— Ela não virá. — ela disse

— Por que não?

— O Rei David descobriu sobre as fugas dela e mandou um tempo para outro reino.

— Outro reino? Que reino?

— Não sei. Ele fez sigilo absoluto com isso. Nenhum funcionário do palácio sabe.

— E você sabe quando ela volta?

—Não faço idéia. Mas acho que vai demorar. Sinto muito, meu rapaz. — ela disse e voltou para o palácio.

Depois desse dia, pesquisei por vários reinos próximos. Fui em cada um deles, mas não tive sinal nenhum dela. Certamente ele havia usado mágica para escondê-la.

E não há um dia que se passe que eu não penso nela.

E hoje a noite não tem luar
E eu estou sem ela
Já não sei onde procurar
Não sei onde ela está

Hoje a noite não tem luar
E eu estou sem ela
Já não sei onde procurar

Onde está meu amor?