Morto.

Ele estava morto

Não precisei de muito para sair do meu quarto e chegar até no de August. Entrei esbaforida. Os ministros, alguns criados e Lauren estavam lá.

Todos se viraram para me ver

Vi meu tio. Parecia estar dormindo.

Corri até lá e constatei que ele estava gelado e não respirava

– Não - berrei, ajoelhada de lado no chão, agarrada aos pesados cobertores da cama - Você não pode estar morto, não pode. - eu chorava, tomada pelo desespero de saber que logo assumiria o trono e de que eu não tinha mais ninguém para me auxiliar - Perdi todo mundo, você que ficou comigo por todo esse tempo! Você prometeu que me ajudaria, que estaria lá comigo, quando chegasse a hora... por favor!

– Elsa, saía daqui. Não é bom você ficar aqui - Edgar, o ministro falou, já levantando-me do chão

Não queria sair, tampouco ter uma crise. Mas o medo e desespero já estavam tomando conta e me sentia inteira fria.

Sempre fui, mas agora estava mais

– Alguém por favor pode acompanhá-la para tomar uma água com açúcar? - o ministro perguntou

– E-eu a a-acompanho - me surpreendi ao ver Lauren dizendo isso

– Vossa majestade, não irá dar a notícia à sua filha? - perguntou Edgar

– Por favor, eu peço que vocês contem à ela. Eu nunca conseguiria... - ela pegou meu braço e começou a me puxar para fora. mas não queria sair

Não queria ir com ela

Ela me arrastou até a escadaria e, ao invés de me levar até a cozinha, me conduziu até o salão principal de bailes, onde eu e Anna costumávamos brincar

– Entra - ela ordenou.

Entrei e fui andando até o meio do salão, de costas para ela. Ouvi ela fechando a porta.

Como iria assumir aquele trono sem nenhum preparo? Já não queria assumi-lo em circunstâncias normais, agora então, menos ainda.

Ouvi algo atrás de mim. Som de lâmina. Como se estivessem desembainhando alguma faca ou espada

Me virei lentamente para encarar Lauren e ela não estava chorando

Para falar a verdade, seu rosto não parecia conter nenhum traço de sofrimento pela perda

Vi ela apontando uma longa espada de prata, bem afiada, em minha direção e o medo já tomou conta de mim. O gelo começou a invadir o salão

– Então, finalmente estamos sós. - ela começou e um sorriso assustador cresceu em seus lábios

Meu coração deu um salto de medo e tentei manter a voz calma

– Lauren, o que está acontecendo? - perguntei

Ela lançou a cabeça para trás e gargalhou. Uma gargalhada tão fria, que me fez sentir um arrepio desconfortável pela minha espinha

– Está acontecendo justiça garota. - ela falou, o mesmo sorriso invadindo sua cara - Já me livrei do velho. Foi mais fácil do que eu esperava. Mas imaginava que você não iria comer nada que eu lhe desse, não é mesmo? Está de parabéns - ela bateu palmas, debochada

De repente, juntei as peças do quebra-cabeça.

– Foi você! - a raiva já estava tomando conta de mim, e o gelo se espalhou mais rápido no salão - Usou veneno para matar seu próprio marido e ainda queria me envenenar.

– Você é tão inteligente que chega a enjoar - ela comentou - Sim, fui eu! Eu preparava os alimentos dele, colocando altas doses de um veneno incolor, sem gosto ou cheiro, mas altamente mortífero. Colocava nos seus também, mas em doses pequenas. Seria muita coincidência o rei e a herdeira de Arendelle morrerem na mesma noite não?

– Por que você fez isso? - indaguei

– Ora, aquele imprestável não me servia para nada. Apenas para chegar a ser da realeza. A única coisa boa que ele já fez foi ter me dado Melissa, mais ainda me sinto repugnante por ter dormido com ele naquela noite. - ela fez uma careta de desagrado - Agora que já tenho metade do que eu quero preciso me livrar da outra metade, concorda? - ela veio em minha direção com a espada, pronta para atacar

– Por que você é assim? Por que me odeia tanto, sendo que nunca lhe fiz nada? - perguntei, tentando ganhar tempo

Era só uma questão de tempo, até os ministros perceberem nossa demora e viessem nos procurar. Eles iam encontrar uma maluca empunhando uma espada e um salão de bailes completamente congelado

Mas Lauren parecia ter parado, lembrando-se de algo. Via a loucura refletida em seus grandes olhos e que, com o passar dos minutos, desejava estar apenas em um horrível pesadelo

– Você nasceu. E é a cara dela. - ela disse em uma voz fria - Sabia que era para ser eu a rainha do trono de Arendelle? Melissa era para ser a herdeira se sua mãe não tivesse aparecido

Ela se afastou, depois me olhou com tanta loucura, que estremeci de medo

– Preparada para ouvir uma história?