Naquela noite, após meus pais partirem, decidi que não jantaria em meu quarto, como as outras vezes. Por isso, depois de tomar um banho e me arrumar, desci para a silenciosa sala de jantar.

Louise, que agora era oficialmente era a minha dama de companhia, já estava subindo com a minha tradicional bandeja de refeições e ficou assustada ao me ver ali.

– Elsa? - perguntou, como se não estivesse acreditando

Eu sorri um pouquinho

– Sim Louise! Decidi não ficar em meu quarto para jantar hoje. Poderia ir até a sala de jantar? - perguntei esperançosa

Louise abriu um largo sorriso

– Mas é claro! Venha, vou preparar tudo para você

Ela arrumou tudo e, em questão de segundos, já estava jantando naquela imensa sala, sozinha. Havia convidado Louise para se juntar a mim, mas ela respondeu que já havia jantado e que tinha que terminar algumas coisas.

Suspirei ao terminar o jantar e fui em direção à biblioteca, não estava com sono. Fiquei lendo diversos livros, até o sono me atingir. Enquanto subia as enormes escadarias até meu quarto, o único pensamento que me ocorreu era que meus pais ficassem bem

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UMA SEMANA DEPOIS

A minha rotina no palácio era bem repetitiva, mas muito diferente do que levava.

Eu acordava cedo, como manda a boa etiqueta de damas segundo Louise, e descia para tomar café da manhã no salão de refeições. Depois, passava a tarde inteira na biblioteca, lendo meus livros favoritos e algumas curiosidades de reinos vizinhos.

Depois tomava banho, indo novamente até a sala de refeições, jantava e conversava um pouco com Louise, antes de voltar para a biblioteca, onde eu ficava até o sono chegar. Então eu me arrastava pelas enormes escadas até meu quarto, onde eu chegava e simplesmente dormia.

Não tive sonhos desagradáveis, o que me deixou bem satisfeita

No dia seguinte, meus pais chegariam e passaríamos muitas horas conversando sobre a viagem. Poderia até me sentar na mesa com eles, já que os mesmo cansaram-se de me convidar a ficar mais tempo com eles, ficando entristecidos.

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"Quando abri os olhos, porém, não estava em meu quarto. Tampouco no palácio. Estava no meio do mar, para ser mais precisa, no navio em que meus pais partiram. A tempestade estava impiedosa e grandes raios caíam nas águas, que estavam muito violentas. Eu estava ensopada e via o grande desespero na proa daquele navio gigante. Homens corriam e gritavam para lá e para cá, até que vi uma cabeleira ruiva-morango que eu reconheci. Papai

Saí da onde estava e fui andando até onde ele estava, com grande dificuldade. Ele tentava ajudar um marinheiro a pegar um bote salva-vidas, o único naquela imensa embarcação.

Ouvi um grito agudo bem conhecido, mamãe

Ela vinha desesperada com um homem, que carregava um grande baú. Ela correu até papai e vi medo em seus olhos. Finalmente, eles conseguiram pegar o bote, mas o mesmo caiu no chão, partindo-se

Era isso, era o fim

Papai correu até mamãe, abraçando-a enquanto ela chorava. Me aproximei da cena, mas eles não me viam. Fui até o baú, onde estava gravado em uma placa dourada: Presentes para Elsa

Então, senti um puxão e fui mandada para longe do barco, eu gritava, pedia para quem estivesse me segurando, me soltasse.

Eu tinha que ajudar meus pais

Não podia cometer o erro duas vezes

Enquanto eu gritava, percebi uma coisa. Não estava em solo. Estava flutuando, em uma visão perfeita do barco. Então uma voz fria, de gelar a espinha, sussurrou em meu pescoço

– Observe Elsa, observe

Segui seu conselho e o que vi me fez gritar

As ondas encolhiam o navio de meus pais. Escutava os gritos de mamãe daqui.

O dono da voz riu e logo voltou a falara enquanto eu gritava

– É realmente uma pena, não acha?

E no segundo seguinte, eu estava sendo solta, caindo no mar, e não conseguindo retornar para respirar"

Acordei gritando e me debatendo, puxando o ar que no pesadelo faltava. Estava molhada de suor, e havia realmente uma tempestade caindo violentamente lá fora.

– Foi só um pesadelo, só um sonho ruim Elsa - murmurei para mim mesma

Decidi levantar e, quando meus pés tocaram o chão, ele congelou. Estava assustada. Eu conhecia aquela voz, fria. Me perseguia a vida toda.

Enquanto tentava me acalmar, andando pelo quarto, uma batida na porta me fez pular.

Ignorei o gelo e fui até lá abrindo.

Vi dois ministros e dois guardas carregando algo, parados diante a minha porta. Eles me olhavam com pena.

– Princesa Elsa, sinto-lhe em acordar a esta hora. Mas as notícias que trazemos não são uma das melhores - começou um ministro

Fiquei estática e então tive reação para responder

– Uma notícia ruim? - perguntei em um fiapo de voz

– Majestade, o navio em que seus pais estavam - senti um aperto no coração - Eles tinha chegado a rota de Arendelle. Mas a tempestade os pegou de surpresa. E, bem...eles... - a voz do segundo ministro morreu

– Eles o quê? - perguntei já alterando minha voz

O primeiro ministro olhou e suspirou antes de falar

– O navio afundou querida. Não houve sobreviventes. O rei e a rainha de Arendelle estão mortos

Meu mundo caiu. Mortos? Como? Eles eram tudo o que me restavam. E agora estavam perdidos

Meu choque foi tamanho, que eu não conseguia falar. Mirei nos olhos do ministro, procurando alguma brincadeira, mas não encontrei

– Um navio aproximou-se da tragédia logo depois e encontrou isto alteza. - disse o ministro, apontando para algo grande com os guardas - Eles logo trouxeram para cá

Ambos os guardas colocaram o baú dentro do meu quarto, enquanto eu ainda tentava absorver a notícia

– Sinto muito majestade - disse o segundo ministro, saindo acompanhado dos outros três homens

Entrei no meu quarto, fechando a porta e escorregando pela mesma até cair sentada no chão. Neve caía, mesmo estando chovendo lá fora.

Me arrastei até o objeto que os guardas deixaram e o desembrulhei do pano preto

Havia realmente um baú em minha frente com os dizeres: Presentes para Elsa

Abri o baú e encontrei diversos livros, luvas e o mais belo vestido que já vi em minha vida. Havia também uma carta, que não conseguia ler

Gritei de dor e tristeza e comecei a chorar alto

A crise recomeçará, muito mais forte do que de oito anos atrás

Perdi minha irmã

Perdi minha liberdade

E agora, perdi meus pais

Lembrei do pesadelo. Não era só um sonho afinal

Enrosquei-me em um canto, enquanto via o gelo e a neve se apoderarem de meus aposentos