I'm forever yours escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 30
Capítulo 29




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Os olhinhos azuis corriam da mãe para o, agora sabia, pai. Os pezinhos batiam contra a barra de metal, sem ritmo ou coordenação. Sua garganta estava apertada pela vontade de chorar. Ana Clara nunca estivera tão triste em sua vida, mesmo sabendo que deveria estar feliz.

“Clarinha...” Pedro deu um passo para frente, mas a menina pulou do assento e começou a se afastar dos pais, os olhinhos se enchendo de água rapidamente. “Filha...”

“Não, eu não sou sua filha.” Ela soluçou baixinho. “Você não é meu papai, não é!”

“Clarinha, ele é seu pai.” Confirmou Karina, se levantando.

“Não, ele não é. Ele é o guitarrista da Believe e amigo do tio João, não meu papai. Se fosse meu papai, ele não... Ele não...” Ela começou a soluçar mais alto e a mãe correu até ela, a segurando no colo, enquanto ela se debatia. “Vocês mentiram para mim. Me solta.”

“Ana Clara, você tem o direito de estar chateada, mas pare com esse chilique, agora.” Repreendeu a loira mais velha, encarando a filha com uma expressão séria. “Nós estamos no meio do hospital. Você pode falar tudo o que quiser para seu pai e eu, mas fora daqui.”

“Eu não quero falar com vocês. Eu quero a vovó e o vovô.” Ela parou para pensar. “Mas eles também mentiram para mim. E o tio João, e a tia Fabi, a tia Bianca... Vocês todos mentiram para mim, me enganaram. Eu odeio vocês.”

“Você me odeia? Mesmo?” Havia tristeza na voz de Karina, enquanto seus olhos enchiam de água. Clarinha fungou, abraçando a mãe pelo pescoço.

“Não, não, não. Eu não te odeio, mamãe, desculpa, desculpa, desculpa.” Ela soluçava sem parar, agarrada com a mãe. “Eu só quero sair daqui, mamãe. Vamos para casa, por favor? Nossa casa de verdade, lá em São Paulo.”

“Filha, nossa casa de São Paulo não existe mais.” A lutadora explicou calmamente, ninando a criança com carinho. “Agora nós moramos aqui no Rio, perto das suas avós, dos seus avôs, dos seus tios e do seu pai.”

“Ele não é meu pai. Eu não quero que ele seja meu pai. Ele fez uma coisa feia, e eu não quero ele como meu pai.” Karina encarou Pedro penalizada, especialmente diante da tristeza nos olhos dele. “Eu não quero ficar aqui com ele.”

“Clarinha...” Pedro interrompeu a ex-namorada.

“Leva ela para casa, Karina. Ela precisa pensar, assimilar tudo.” Pediu ele. “Quando ela quiser, ela fala comigo.”

“Eu nunca vou querer falar com você.” Resmungou a menina. Karina assentiu para Pedro, apanhando a bolsa que havia deixado no sofá quando chegara e saindo para a rua, onde logo pegou um táxi rumo à sua casa.

Pedro ficou ali por alguns minutos, chorando em silêncio, antes de fazer o mesmo e ir para seu carro.

~P&K~

Ninguém imaginou que a reação de Ana Clara seria tão triste e revoltosa, pelo menos não àquele ponto.

Ela chegara em casa e correra para o quarto, batendo a porta e enchendo de brinquedos na frente. Karina havia tentado que ela abrisse, sem resultado. Gael, Dandara, João, Fabi, Bianca, Duca, Delma, Marcelo e Tomtom se seguiram, mas ninguém obteve êxito em suas tentativas.

Todos estavam surpresos, levando em conta que a criança, apesar de geniosa, nunca havia sido de grandes chiliques. João chegou a brincar, dizendo que era o DNA esquentadinha que começava a ferver na afilhada.

Mas a verdade era que aquilo devastava Karina por dentro. Uma mãe consegue sentir a dor de sua filha, e ela sentia isso em cada célula de seu corpo. Ana Clara estava triste, revoltada e magoada, e não havia nada que pudesse fazer para aplacar aquilo, porque infelizmente era uma consequência da escolha que havia feito.

E precisava arcar com esse preço.

Mesmo no alto da madrugada, ainda permaneceu sentada à sala de estar, com a TV ligada em um programa qualquer, praticamente sem som. Não conseguiria dormir tão facilmente naquela noite, ainda mais pelo fato de que a filha não havia jantado.

Também estava preocupada porque havia se esquecido de mandar o remédio para lactose quando ela foi à sorveteria, e ela poderia passar mal durante a noite, já que conhecia bem a filha e sua gulodice quando estava fora de suas vistas.

Já era perto das 4h quando Clarinha saiu do quarto, o rostinho inchado de tanto que havia chorado nas últimas horas. Encontrou a mãe em igual estado, os dois olhos azuis manchados de vermelho pelo choro copioso.

“Eu to com fome.” Disse em voz baixa, apertando a barriga.

“A vovó Delma deixou a janta pronta, a mamãe estava só te esperando.” A lutadora levantou do sofá, caminhando até a filha. A pequena assentiu, dando a mãozinha para a mãe e caminhando rumo à cozinha.

Enquanto a loira preenchia os pratos e requentava a comida, Clarinha não proferiu uma palavra sequer. Suas perninhas inquietas batiam contra o banco no qual estava sentada, talvez encontrando a melhor maneira de dizer o que queria.

“Arroz, creme de milho, batatinha assada e frango.” Anunciou a mãe, colocando o prato em frente à filha. "A vovó pediu para o Lincoln fazer tudo o que você gosta.”

“Depois eu agradeço ela.” Karina assentiu, sentando em frente ao seu prato de comida. “Mamãe?”

“Fala, princesa.”

“O que o Pedro fez para você deixar ele de castigo tanto tempo?” Questionou a pequena, remexendo a comida de leve.

A lutadora terminou de mastigar o punhado de comida em sua boca, deixando os talheres na mesa e virando seu banco, para ficar de frente com a filha. Puxou o banco dela, vendo-a largar seus talheres.

“Filha, eu vou te contar a história minha e do seu pai, porque eu acho que você já tem idade para entender.” A menina assentiu. “Eu e seu pai nos conhecemos quando tínhamos 16 e 17 anos. Nós começamos a namorar algum tempo depois e nós nos amávamos muito, Clarinha, muito mesmo.”

“E por que vocês deixaram de se amar? Foi por que eu nasci?” Os olhinhos azuis se encheram de lágrimas com a dedução infantil, que Karina se apressou em negar.

“Não, meu amor, pode ter certeza que não. Quando a mamãe ficou grávida de você, a gente passou a se amar ainda mais, se é que isso era possível. Nós dois te amamos desde o momento em que você passou a existir, não duvide disso.” Garantiu a mais velha, secando os olhinhos lacrimejados.

“Então o que aconteceu? Por que você deixou o Pedro de castigo, deixou ele longe de gente?” Karina suspirou, segurando as mãozinhas da filha.

“Eu e seu pai nos amávamos muito, Ana Clara, e te amávamos também. Mas seu pai fez algumas escolhas erradas, coisa que só gente grande entende. E, infelizmente, essas escolhas erradas dele podiam machucar a gente.” Os olhinhos se arregalaram.

“Ele quis machucar a gente?”

“Não, não... Machucar no sentido de magoar, entende? Que nem agora, que você está machucada, porque está magoada comigo e com o seu pai.” A criança assentiu. “As escolhas do seu pai podiam machucar nós duas, seus avós...

“Mas ele nunca quis me ver?” Perguntou Clarinha, confusa. “Quando eu to de castigo, eu sempre peço para você me tirar dele.”

“Ou me desobedece e fica mais tempo de castigo.” Completou Karina, e a filha assentiu. “O Pedro não sabia onde nós duas estávamos, filha. Ninguém contou para ele, então ele não podia ir atrás da gente. E a vovó, o vovô, seus tios... Todo mundo tomou cuidado para ele não saber quando nós estávamos aqui no Rio.”

“E por que agora você resolveu tirar ele do castigo?”

“Porque agora, Clarinha, seu pai cresceu. Quando eu fiquei grávida, nós dois erámos bem novinhos. E isso foi um dos motivos que levou ele a fazer as escolhas ruins. Mas agora nós dois já somos adultos, responsáveis, e que te amam muito. E ele, assim como eu, só quer o melhor para você, filha. Eu sei que é difícil para você entender e aceitar, mas seu pai te ama muito mesmo, e ele quer muito poder recuperar esse tempo todo que ele ficou longe de você.”

“Mas eu vou ter que ficar longe de você?” A mais velha estranhou a pergunta.

“Claro que não. Que ideia é essa?”

“Ah, é que como eu passei sete anos só com você, achei que eu ia ter que ficar sete anos só com o Pedro.” Karina teve que rir daquele raciocínio tão infantil, e puxou a filha para o seu colo, a abraçando.

“Ninguém vai me afastar de você, ouviu, filha? Mas agora, você vai passar um pouco de tempo com o seu pai também. Sabe que nem a Larissa, da sua escola antiga? Que ficava alguns na casa da mãe, alguns na casa do pai? Eu e seu pai vamos conversar e ver o que é melhor para você, mas você vai ficar com nós dois.” Prometeu, beijando os cabelinhos castanhos.

“E por que então vocês não ficam juntos?” Ela questionou, encarando a mãe. “Você me disse que vocês se amavam muito, e que eu só fiz esse amor crescer. Você podem voltar a namorar e ele vem morar com a gente.” Um sorriso carinhoso brotou nos lábios de Karina.

“Quisera eu que fosse tudo tão fácil, meu amor.”

“Mas é.”

“No mundo das crianças, onde tudo é uma grande brincadeira. No mundo dos adultos, as coisas são mais difíceis.” Sentenciou, devolvendo à filha ao banco. “Agora termina a sua comida, e nós vamos dormir. Já tá muito tarde e você está morrendo de sono, que eu bem sei.”

“Mamãe? Será que o Pedro está acordado?” A loira olhou a filha, curiosa. “É que eu queria que você ligasse para ele e dissesse que... Que ele pode vir aqui amanhã, se ele quiser. Eu converso com ele.”

“Pode deixar, vou fazer isso agora mesmo.” Ela beijou a cabecinha dela, deixando Clarinha com seu jantar enquanto ia buscar o celular no sofá. Discou o número do guitarrista, sendo atendida no primeiro toque.

Como ela está?”

“Ela acabou de sair do quarto, está jantando.” A loira observava a filha devorar o jantar, sorrindo de lado.

“Você conversou com ela?”

“Conversei. Eu contei a nossa história para ela, de maneira bem resumida, e falei que você fez algumas escolhas ruins quando eu engravidei dela.” Ela ouviu o suspiro de Pedro do outro lado da linha. “Ela ainda está bem confusa com a situação, mas disse que você pode vir ver ela amanhã. Ela disse que vai conversar com você.”

“Graças a Deus.” Ele agradeceu em um suspiro. “Eu não consegui pregar o olho até agora.”

“Então somos três. Eu vou tentar fazer ela dormir. Me liga amanhã, quando for vir, está bem?”

“Cuida bem da nossa filha, por favor.” Ele pediu com a voz falha, cansado.

“Do mesmo jeito que tenho cuidado há sete anos. Boa noite, moleque.”

“Boa noite, esquentadinha.” E desligou, deixando Karina com um sorriso bobo e saudoso no rosto.


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Notas finais do capítulo

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