O silêncio imperava no quarto enquanto os dois se observavam em silêncio. Pedro tornara a sentar na cama de Karina, enquanto a lutadora beliscava o café da manhã que Dandara trouxera para eles.

Os sintomas da gravidez haviam aparecido há quase três semanas, mas ela só tinha criado coragem de confirmar alguns dias antes. Com a inconstância da situação de Pedro, a ideia de um filho passou a amedrontá-la.

Foi depois de uma visita a irmã e ao sobrinho recém-nascido que tomou coragem. O pequeno Alan tinha quase seis meses e era o xodó da família toda. Alguns minutinhos com o pequeno e seu riso contagiante, e Karina estava pronta para tirar a história a prova.

E não conseguia descrever a alegria que sentiu ao ver os dois risquinhos. Não era do tipo de pessoa que sempre sonhou em ser mãe, apesar de amar crianças. No entanto, ao descobrir que teria um filho com Pedro, foi tomada por uma alegria e sentimento de amor e proteção que desconhecia. Não sabia como era ter uma mãe, mas já sabia como se sentir uma.

Havia pensado em muitas maneiras de contar a novidade a Pedro. Apesar de não ser planejado e de ambos serem tão novos (ela acabara de completar 19 e ele mal tinha chegado aos 20 ainda), a alegria pela chegada daquela criança já era imensa, e ela esperava que ele sentisse o mesmo.

De todas as formas que pensara, a melhor definitivamente não era jogar a notícia na cara dele no meio de uma briga e com tanto ódio no coração. Não queria que o filho pensasse que era um estorvo ou que os pais não se amavam. Ela amava Pedro, amava muito. Mas não estava conseguindo gostar dele atualmente.

"Você tem certeza?" Ele perguntou quando conseguiu recuperar a voz.

"Eu fiz dois testes de farmácia e um de sangue. Se quiser eu faço outro aqui na sua frente, só para confirmar." Rebateu irritada, com a voz carregada de ironia.

"É claro que eu acredito, esquentadinha. Eu só não entendo como isso aconteceu."

"Vai querer que eu te lembre como se faz um filho?" Ela quase riu da careta dele.

"Claro que não. Droga, eu devia ter tomado mais cuidado."

"Então você não gostou da notícia?" Ela tentou, mas foi impossível disfarçar a tristeza na voz.

"Você gostou?" Ele parecia surpreso.

"É claro que eu gostei, seu animal. É o nosso filho que eu to esperando." Ela levantou gritando.

"E você vai me dizer que estava esperando por isso?"

"Claro que não, seu imbecil. Mas... Mas..." Ela começou a andar de um lado pro outro, agarrando os cabelos nervosamente.

"Mas o que, Karina?" Ele se aproximou da namorada, que se virou para ele.

"Mas eu te amo, seu retardado. E tudo que eu imaginei para o nosso futuro, foi uma família nossa. E isso está acontecendo, aqui dentro." Ela tocou a barriga lisa. "Não do jeito ou quando eu esperava, mas está. E eu já amo tanto o nosso filho, que dói. E a ideia de que você não o ame como eu amo, que você não o queira... Me deixa maLuka e com vontade de te dar uma maldita voadora."

"Karina, eu..."

"Vai embora." Ela marchou até a porta, a abrindo. Pedro ia tentar protestar, mas ela impediu. "Eu to pedindo, ainda. Eu to enjoada, sem comer direito há horas, e preciso melhorar pelo bem do meu filho. Então por favor, me deixa aqui em paz para cuidar dele."

~P&K~

"Sua roupa tá fedendo. Melhor jogar fora, porque se a mamãe e o papai pegarem isso, te expulsam de casa." Avisou Tomtom, saindo do banheiro com as roupas do irmão.

"Se eu continuar jogando minhas roupas fora, daqui a pouco vou andar pelado." O guitarrista jogou as peças na mochila.

"Para de fumar maconha e beber tanto que você não joga mais roupas fora."

"E o que você sabe sobre isso?"

"Sei que a Karina tá sofrendo com essas atitudes suas, principalmente agora que tá grávida." Ele encarou a irmã mais nova, surpreso. "Eu fui com ela fazer o exame. E ela me mandou uma mensagem dizendo que você era um imbecil irresponsável, então deduzi. O que você aprontou?"

"Nada, só fiquei surpreso. A gente estava discutindo, ela jogou a notícia, me deixou em choque e ficou brava que eu não saí dando pulos de alegria."

"Mas você está feliz?" A irmã vincou a testa.

"To. Não. Sei lá." Ele suspirou. "Tomtom, a única coisa que eu tenho pensado nos últimos anos é conseguir manter meu namoro e a banda, e isso já é trabalhoso o bastante. Agora uma criança? Claro que eu quero uma família com a Karina. Mas não sei se agora é o melhor momento."

"Eu espero do fundo do coração que você não esteja sequer insinuando pedir que a Karina interrompa a gravidez." A menina estava prestes a avançar no irmão. "Pedro, larga a mão de ser irresponsável, pelo menos uma vez na vida. Você só não dá conta do namoro e da banda pelo mesmo motivo que tem que jogar suas roupas fora. Você está viciado em álcool e maconha, e usa a banda como desculpa."

"Por que todo mundo insiste que eu to viciado?" Gritou ele, se levantando.

"A mamãe achou alguns cigarros na sua bolsa, e encobriu do pai. O pai achou alguns, um tempo depois, e encobriu da mãe. A Ka me contou que você anda chegando chapado direto, e que ela também já achou cigarros." A menina explicou com a voz embargada. "Suas roupas estão sempre cheirando a maconha, você está cada vez mais magro, e não adianta dizer que é por causa dos shows. Você está com um problema, Pe. Seu filho vai acabar nascendo sem pai, e eu vou ficar sem irmão."

"Tomtom..." O rapaz estendeu os braços, acolhendo a caçula em um abraço carinhoso.

"Por favor, Pe, por favor. Eu não quero perder o meu irmão mais velho."

"Você não vai, baixinha. Eu prometo." Ele sussurrou, beijando o topo da cabeça da garota. "Ninguém vai perder ninguém, eu prometo."

~P&K~

Karina estava sentada na sala de espera do consultório médico, ansiosa. Usava um camisetão branco, calça jeans e um rabo de cavalo pequeno, já que o cabelo não era tão comprido.

Apesar da animação para entrar logo, não conseguia ignorar o vazio que sentia pela ausência de Pedro. Quando marcou a consulta, o fez tendo a certeza que contaria ao namorado antes. E foi o que aconteceu, mas o resultado não foi o esperado.

Ou pelo menos era o que ela pensava.

"Karina?" Ouviu a voz afobada e se levantou, se deparando com Pedro entrando correndo. "A consulta já foi?"

"Não, eu to esperando. O que você está fazendo aqui?" Perguntou ela, tentando não se animar.

"A Tomtom me disse que você vinha ao médico hoje, e eu vim acompanhar você."

"Pedro, você não tem a obrigação de nada."

"Eu sei. Sendo você, eu sei disso muito bem. Mas eu quero." Ele a puxou para as cadeiras, sentando de frente para ela. "Ka, eu te amo muito, e o que eu mais quero é uma família com você."

"E a banda?"

"Você entendeu o que eu quis dizer." Ele revirou os olhos. "Eu não vou mais ficar nas festas de madrugada, nem vou beber ou fumar maconha, ou qualquer outra coisa. Nós temos talento e conseguimos chegar até aqui por ele, e é por ele que vamos crescer mais."

"E ele?" Ela colocou a mão na barriga lisa. Pedro sorriu, colocando a mão junto à dela.

"É o nosso filho, esquentadinha. Eu vou fazer de tudo para ele tenha a melhor vida possível, e eu vou amar ele, tanto quanto eu amo a maluca da mãe dele." Ele prometeu, vendo-a se emocionar. "Agora me dá um beijo, vai, minha gravidinha."

"Manezão." Riu a loirinha, antes de beijá-lo com carinho.

"Karina Duarte?" Ouviram o nome dela sendo chamado e se separaram, os dois encarando a enfermeira. "Você e seu namorado podem me acompanhar."

"Que tipo de consulta é essa, só para eu saber?" Perguntou Pedro. "Não é aquela em que o médico te toca onde não deve, é?"

"De acordo com a Bianca, o primeiro ultrassom é feito assim." O rapaz fez careta. "Não reclama vai... Nós vamos conhecer nosso filho."

"To gostando cada vez mais desse som." Garantiu ele, levantando com ela. "Vem, esquentadinha."

"Vamos, manezão. Vamos conhecer a manezinha."

"Ué, pode ser um esquentadinho."

"Não, tenho certeza que é manezinha. E mãe nunca erra."