A visita de Bianca, Tomtom e Alan estava fazendo mais bem à Karina do que ela poderia ter imaginado. A lutadora não tinha nenhum amigo em São Paulo, não tinha permissão para frequentar a academia ou ficar fora da cama. Então, seus dias estavam sendo passados na companhia de Bete e da manezinha, com quem ela costumava conversar da hora que acordava até a que ia dormir.

Torcia muito para que sua relação com a filha fosse do jeito que sempre havia sonhado ser a sua com a mãe. Uma relação de carinho, cumplicidade, amizade, amor, confiança... Karina estava disposta a passar horas sentada no chão, brincando de trocar roupinhas de boneca, algo que não suportava quando criança, apenas para poder ver sua manezinha sorrir.

Mas o faria só se ela pedisse, não facilitaria nenhum pouco para a irmã.

"Nem vem, Bianca. O quarto da minha filha não vai ser uma homenagem à Penélope Charmosa de tanto cor de rosa." Reclamou Karina, enquanto passeavam pela loja de produtos para bebê. "Olha aqui... É de menina, e é laranja."

"Ah, K, mas pense em quão fofo vai ficar tudo rosa." Os olhos da atriz brilharam, fazendo a irmã bufar e revirar os olhos.

"Quem é a mãe dela, hein? Eu, exato."

"Nossa, grossa." Bianca resmungou, fazendo bico.

"Insuportável." Karina devolveu, observando as peças. "O que você acha, Tomtom?"

"Eu acharia muito fofo o quarto dela todo rosa, mas isso não faz nada o seu estilo." Concordou a mais nova, observando as peças com atenção.

"O problema é que isso é tudo tão frufru." Reclamou a grávida, contrariada. "Tudo cheio de renda, de babado... Já querem transformar a criança em uma boneca logo após nascer."

"E se a gente procurar na internet?" Propôs Tomtom, pegando o celular. "É só jogarmos no Google e vai aparecer um monte de ideias de quarto. Escolhemos um que a K goste, e compramos as coisas."

"Tá aí... Gostei da ideia." Elogiou Karina, fazendo a irmã bufar contrariada.

"Desisto de vocês." A atriz saiu andando com o filho, na certa indo escolher algumas coisinhas para ele.

Enquanto isso, Karina e Tomtom reviravam a internet, logo achando um modelo que agradou ambas, a futura mamãe principalmente. Era tudo branco e amarelo, apenas com uma cadeira de amamentação de uma cor rosa suave. A cortina era um estofado estampado de bichinhos, que também ia na parede, e atrás do berço estavam penduradas as letras A, B e C.

Mostraram a imagem para a vendedora, que as ajudou a encontrar peças bem semelhantes às usadas no modelo original. Bianca logo retornou, aprovando a ideia escolhida pela irmã, mesmo que a contragosto.

Havia ainda uma série de coisas a serem compradas, como roupas, itens para o bebê, almofada de amamentação. Karina tinha que admitir que, apesar de animada, tudo aquilo a deixava com um certo pânico e um leve tom de irritação. Não eram coisas que combinavam muito com sua natureza briguenta e desleixada.

"K, você já escolheu o nome dela?" Perguntou Tomtom, enquanto analisavam roupinhas.

"Já sim, pequena. Mas é segredo." Avisou, sorrindo travessa.

"Ah... É que eu pensei que, ao invés de ABC, poderíamos colocar as iniciais dela na parede." Explicou a menina, vendo-a assumir um ar pensativo. "Não precisa nem me contar o nome dela, pode falar só as iniciais."

"Não, você pode saber o nome. Mas, ó... Não é para contar para ninguém, hein?"

"E alguma vez eu traí a sua confiança?" Karina sorriu com afeto, sussurrando no ouvido da garota. "Que lindo, K. Eu amei."

"Nesse caso só precisa guardar o B. Afinal, as iniciais são A e C."

Tomtom assentiu, saindo correndo com a letra que havia sido descartada. Karina sorriu, acariciando a barriga e sussurrando o nome escolhido para a filha, que se agitou.

~P&K~

Quando chegaram no apartamento, estavam apinhadas de sacolas. Karina levava Alan, o menor dos pesos, enquanto Tomtom e Bianca se revezavam nas sacolas diversas, isso sem contar os móveis que seriam entregues durante a semana.

"Meu Deus, trouxeram a loja toda." Surpreendeu-se Bete.

"Culpa dos dois avôs, que entregaram o dinheiro na mão das tias babonas." Riu a loira, passando o sobrinho para a mais velha. "Se fosse eu a administrar, não tínhamos comprado metade disso."

"Por esse motivo que nós ficamos em posse do dinheiro." Riu Bianca, depositando as sacolas na sala.

"Karina, tem visita para você." Avisou Bete, e só então perceberam a expressão preocupada dela. "Tá lá no seu quarto."

De repente a garota gelou. Abraçou a barriga protetoramente, temendo quem pudesse ser. Que pudesse ser ele.

Se dirigiu depressa para o cômodo, engolindo em seco. Parou em frente a maçaneta, colocando a mão e a virando, empurrando a porta.

"Surpresa!" Fabi e João cantarolaram juntos, os dois abrindo os braços.

"Ai meu Deus." Karina sorriu de orelha a orelha, correndo e abraçando os dois ao mesmo tempo. "Vocês que pediram para a Bete me assustar?"

"Foi ideia do João. Eu falei que era chato, mas você conhece..." Se defendeu Fabi, olhando feio para o rapaz.

"Ah, gata, você gostou da ideia, admite." O rapaz sorriu travesso, enquanto Karina sorria sapeca.

"Gata? Não vai me dizer que..." Os dois se abraçaram. "Ah não, pode parar. Quando isso aconteceu? Como?"

"Bom, já fazia tempo que a gente andava se paquerando, sabe, quando a gente saia com você e o Pedro." Contou a moça, corada.

"Aí quando você foi embora, nós dois ficamos meio perdidos. Eu sem melhor amigo, ela sem melhor amiga..." João deu de ombros. "Foi questão de dias e a gente já tava indo no cinema."

"Olha só, manezinha. De certa forma fomos cupidos dos seus padrinhos..." Riu a lutadora, observando os amigos. "Vocês dois formam um casal muito fofo, tenho que admitir."

"Vou precisar mudar seu apelido de esquentadinha para melosinha?"

"Vou precisar acabar com sua descendência aqui e agora?" O nerd ergueu as mãos em rendição, enquanto as duas riam. "Vem, vamos para a sala. A Bianca deve estar mostrando para a Bete tudo o que compramos para a bebê."

"Ai, eu também quero ver." Fabi saiu correndo, deixando os dois aos risos. João olhou a meia-irmã, sorrindo.

"Que foi?"

"Nada, é só realmente bom te ver, viu esquentadinha?" Ele a abraçou pelos ombros, enquanto ela abraçava sua cintura, os dois começando a caminhar. "Você faz muita falta. Vocês dois fazem."

"A Tomtom disse que você ligou para ele outro dia." O rapaz assentiu.

"Falamos muito pouco, na verdade. Ele não sabe como lidar com essa situação, eu tampouco. É bem estranho, na verdade, porque o Pedro sempre foi o único que eu soube que me entendia e sabia como me ajudar em tudo, entende? Ele é meu melhor amigo desde que eu possa me lembrar."

"Sinto muito por colocar vocês nessa situação." Eles pararam na porta que levava do corredor à sala, cada um escorado em um batente.

"Não se dê tanto crédito, K, quem caçou isso foi o Pedro. Uma hora ou outra isso ia acabar acontecendo." Os irmãos observavam a animação das mulheres na sala, revirando as sacolas de compras. "A tia Delma falou com o Wallace outro dia. Ele disse que o Pedro está limpo desde o começo da turnê."

"Pelo menos isso." Suspirou Karina, secando os olhos discretamente.

"Você vai mesmo manter essa história em segredo? Digo, esconder do Pedro que você não perdeu o bebê?" Ela sabia que não havia julgamento na pergunta do amigo, apenas preocupação e carinho genuíno, daquele que só um irmão de verdade poderia ter.

"Eu fui bem clara com ele, João. Eu avisei que ou ele tomava jeito, ou a manezinha ir ser produção independente." Karina encarou a barriga protuberante, suspirando. "Minha filha é a coisa mais importante do mundo para mim, e a ideia de ter ela em risco pela inconstância dele..."

"Mas você sente a falta dele, não adianta negar."

"É claro que eu sinto, a cada segundo. Não se passa um segundo do meu dia sem que eu pense nele; até porque, é metade dele que está aqui dentro." Ela indicou a barriga. "Ela nunca vai me permitir esquecer do Pedro, por mais que eu queira ou tente."

"Bom, você sabe a minha opinião sobre isso." Ele sorriu, segurando sua mão. "E que eu vou te apoiar no que você achar ser melhor para a minha afilhada."

"Valeu." Ela apertou a mão dele de volta, suspirando. "Até que ela nasça, minha resolução é essa. Quando eu e ela estivermos fora de perigo, volto a pensar no assunto."

"O médico alertou alguma coisa?" Ele perguntou preocupado, e a loira deu de ombros.

"O que nós já sabemos. Que mesmo com os cuidados, na hora que ela resolver nascer o quadro pode mudar, minha pressão pode subir muito... É tudo bastante inconstante." Karina tentou soar tranquila. "E para evitarmos isso, ou pelo menos tentarmos, eu preciso de muita calma."

"Droga, não vou poder ficar te infernizando?" Karina negou, enquanto ria. "Tudo bem, me contento em ver a Fabi toda alegre por estar junto com você."

"Pode admitir que você também vai ficar feliz com a minha companhia." A grávida começou a cutucá-lo, arrancando risos.

"Claro que eu vou, esquentadinha. Você é minha melhor amiga, minha irmã." Ela sorriu emocionada diante daquela declaração desajeitada. "Vem, a Fabi comprou um presente para a manezinha e já deve estar sem se aguentar de ansiedade para entregar."

"É frufru?"

"Bastante." A mulher gemeu de desgosto, fazendo João rir.