Você diz não saber

o que houve de errado

E o meu erro foi crer que estar ao seu lado bastaria.

“Isso está ficando fora de controle, Luke”. Era a primeira vez que se comunicavam após um longo período de silêncio total. Estavam sentados lado a lado no escuro, cada um segurando as mãos do outro com tanta força que era como se as suas vidas dependessem daquela sensação. O silêncio entre eles se prolongara por tanto tempo que as palavras que Percy custou tanto para achar foram formuladas e esquecidas, perdidas no meio de tantas coisas que ele queria falar sem saber como.

As primeiras semanas foram um sonho, e só com isso uma mente sagaz deduziria que algo terrível iria acontecer. Entretanto, nenhum dos dois era filho de Athena, e assim os dias em fuga se passaram sem problema algum. Eram apenas dois jovens apaixonados; amaldiçoados pelo destino, sim, mas pelo menos estavam juntos.

Percy deveria ter notado quando tudo começou a dar errado.

Começou com pequenas coisas, pequenos detalhes que Percy decidiu ignorar, que se tornaram cada vez mais frequentes com o passar dos dias. Luke parecia preso em uma espécie de névoa. Às vezes, Percy o encontrava parado no meio de uma loja, o olhar perdido e sem encarar algo específico, e só voltava ao normal quando Percy o chamava. Ele sacudia os ombros, dizia que estava apenas pensando em algo, mas os seus olhos demonstravam o quão assustado ele estava.

E então, um dia, ele tentou atacá-lo.

Percy acordou com uma forte pressão na garganta. Luke estava sentado em cima dele, com as suas fortes mãos pressionando sua garganta e os olhos cor de ouro brilhando intensamente. O garoto loiro era maior que ele e utiliza isso a seu favor: seu peso o prensava contra o chão, deixando-lhe sem chances de escapar. O seu instinto de sobrevivência lhe dizia para tentar alcançar a espada, mas como poderia se libertar sem machucar o outro?

Tudo isso ocorreu em questão de segundos, mas Percy nunca esqueceria do momento em que percebeu que estava perdendo Luke.

“Não há nada de errado comigo”, Luke silvou, os olhos agora constantemente presos na névoa, mas ainda assim conscientes. A sua mão se desprendeu da de Percy e se pôs a fazer leves carícias no braço do outro, como se se desculpasse pelo seu tom de voz. “Vai dar tudo certo. Você vai ver; eu não vou cometer o mesmo erro. Os deuses não vão mais me controlar”.

Percy não conseguia sentir firmeza em suas palavras, mas as aceitou. Era o único consolo que teria por um tempo, afinal.

… Por menos tempo do que pensava, na verdade.

Certo dia, Percy acordou mais cedo do que o normal. Seus braços doíam depois de tanto tempo deitado naquela cama dura, mas não foi isso que lhe incomodou. Havia algo de errado.

Ele sentiu o ar lhe faltar quando percebeu o que era.

“Luke?”, chamou, a voz tão fina que soou anormal até para si mesmo.

Luke havia ido embora.

Eu dizia o seu nome

Não me abandone jamais.