Acordei às seis e quinze da manhã, e já estava atrasada. O dia anterior havia sido cansativo, após sair da casa da Pâmela, a Mari, o João Pedro, a Malu e eu fomos tomar açaí. Eu havia me esquecido de como eu gostava tanto. Levantei as pressas e tomei um banho. Coloquei uma blusa azul, um jeans e uma sapatilha. Optei em deixar o cabelo preso em um rabo de cavalo, e desci para tomar café, e agora sim a minha dieta começava. Comi apenas umas barras de cereal e um suco natural. O pai da Lucy buzinou enquanto eu ainda estava comendo, então larguei tudo e peguei minha bolsa. Fomos com pouco assunto durante o percurso para a escola. Quando chegamos ao pátio a Pâmela se aproximou enquanto a Lucy ia ao banheiro.

– Mayane, você viu o Alex? Eu preciso saber sobre o trabalho.

– Não e nem pretendo ver. – Respondi.

Ela riu.

– Por favor, me chama só de May, acho que sou mais acostumada.

– Tudo bem. Mas é que eu achei que você não gostasse que eu te chamasse assim.

– E Porque não?

– Por minha causa, você e o Lucas terminaram.

– Eu não vejo motivos para ter raiva, se vocês se amam eu não posso impedir. Eu pensava ao contrario, eu achava que você não iria aceitar eu continuar sendo amiga do Lucas.

– Eu não quero que você seja amiga só do Lucas, mas minha também.

Fiquei surpresa com a resposta dela. Quem iria querer ser amiga da ex do seu namorado?

– Bom, então amigas? – Falei.

– Vai ser meio difícil ser sua amiga, sabendo que você beijou o meu namorado, mas eu concordo, somos amigas.

Eu sorri.

– Pâmela, agora que acho que somos amigas, apesar disso ser meio estranho, por ter namorado o mesmo menino, eu queria que você soubesse que eu e o Lucas não tivemos nenhuma seção de beijos, como você esta pensando.

– Como assim?

Respirei fundo. E o sinal tocou.

– Quem sabe outra hora eu te conto.

Ela sorriu e concordou. A Lucy nos viu juntas e subiu sozinha para a sala. Acho que para não incomodar.

**

As aulas foram normais, eu e a Pâmela ficamos juntas o tempo todo, e então pouco tempo, parecíamos que éramos amigas de séculos. Nós ainda não estávamos em toda aquela intimidade de amigas. Mas estávamos como se nos já conhecêssemos uma a outra há muito tempo. E eu comecei a enxergar por que o Lucas gosta tanto dela, ela tem muitas características marcantes, sem contar que é muito linda. Percebi que a Lucy estava meio afastada de nós, mas achei melhor ficar quieta. Ela deve estar com um pouco de vergonha de se aproximar, apesar de eu achar isso meio estranho vindo da parte dela, até por que a Lucy que eu conheço, não tem problemas com isso. Comecei a lembrar do dia em que eu e a Lucy havia nos conhecido. Eu havia acabado de chegar com a Mari, o João Pedro e a Malu de viajem, e resolvi dar umas voltas, eu passei de frente à casa da Lucy e um papel caindo da janela caiu sobre mim. Então uma menina de cabelos loiros bem compridos, com a pele bem branquinha, e rosto parecendo de porcelana, estendeu um largo sorriso no rosto e começou a tagarelar.

– Se eu perdesse esse papel eu seria uma menina morta amanhã na escola, à professora pediu para que eu fizesse esse enorme trabalho, por que eu estava precisando de nota e fico fazendo coisas indevidas na sala. Aquela professora é um bruaca, sempre invoca comigo, enquanto isso tem uma loira tingida na sala que precisa de mais nota que eu e fica se esfregando nos meninos da sala...

Ela falava ofegante, e sem ao menos respirar, ela falava muito rápido que às vezes eu não entendia, e quando eu percebi ela já estava falando tudo sobre a vida dela.

– E ele tem o cabelo castanho, e eu sou louca por ele. Você esta prestando atenção?

– Que?

– Deixa pra lá. – Ela falou meio desapontada. – Eu nunca te vi por aqui, é novata?

– Sim. – respondi.

– Luciany. – Ela falou, voltando com o mesmo sorriso de antes.

– Mayane. – Falei.

E foi assim que ela continuou falando e me perseguindo até conseguir ser minha melhor amiga. O sinal tocou e um dedo estralando em minha frente fez eu voltar ao normal.

– Vamos May? – A Lucy falou.

Levantei e vi que a Pâmela já havia saído. Fui para o carro com a Lucy, e seguimos para casa.

– Vamos fazer alguma coisa hoje? – Ela perguntou enquanto estávamos próximas de casa.

– Eu marquei de assistir um filme com a Pâmela.

– Serio mesmo que você vai ficar amiguinha da namorada do seu ex?

– Qual o problema? – perguntei.

Ela só ergueu uma sobrancelha e ligou o fone de ouvido no celular. Ela colocou uma musica tão alta, que eu conseguia ouvir. Ela estava muito estranha e eu queria saber o porquê. O pai dela parou o carro em frente de casa, e eu perguntei se ela não queria almoçar lá. Ela nem respondeu, com a musica alta. Fiquei quieta e sai do carro. Abri a porta de casa, e vi o cheiro da comida da Mari invadindo todo o ambiente. Senti meu estomago roncar, mas continuei firme. Eu estava de dieta. Subi para o meu quarto e troquei de roupa, me joguei na minha cama, e a Malu abriu a porta do meu quarto falando que o almoço já estava pronto. Dependendo do que fosse eu não iria comer, eu poderia comer apenas uma salada ou fruta, nada, além disso. Desci e vi um Strogonoff de frango sobe a mesa. Por que a Mari fazia isso comigo justo quando eu estou de dieta? Todos começaram a se servir e eu fui na fruteira e peguei uma maça.

– Não vai comer Mayzinha? – O João Pedro perguntou.

– Estou de dieta.

Por um instante todos começaram a rir e a fazer piadinhas.

– Vai sumir.- A Mari falou.

– Até o Palito de dente vai ser mais gordo. – A Malu falou e todos riram.

Eu fiquei seria se entender o motivo da palhaçada, mas logo todos ficaram sérios.

– Você está brincando não é May? – A Mari perguntou.

– Claro que não! Vocês estão querendo me iludir, dizendo que eu estou magra? – perguntei seria.

– Mas você esta magra. – O João Pedro falou.

– Vocês não entendem! – Falei revirando os olhos e subi as escadas em direção para o meu quarto. Mas antes de subir ainda ouvi a Malu dizendo.

– Depois, eu que preciso de psicólogo.

Comecei a comer a maça, mas logo larguei ela.

– Eu acho que até isso não vai adiantar. – Falei para mim mesma.

**

Quando já era de tarde, a Pâmela me mandou uma mensagem perguntando se eu ainda iria assistir ao filme, respondi que sim e comecei a me arrumar. Resolvi sair logo de casa, para não demorar a chegar a casa dela. Eu estava começando a fazer amizade com ela e não queria perder isso. Quando cheguei ela me levou até a sala e começamos a escolher o filme. Optamos em assistir o filme Garota Mimada.

– Eu preparei coisas para gente comer durante o filme. – Ela falou enquanto ia até a cozinha.

Ela voltou com um enorme pote de pipoca, brigadeiro de panela e refrigerante. Revirei os olhos. Porque a comida me persegue no momento eu que eu menos preciso dela?

– Não tem algo mais natural?

– Como assim?

– É que eu estou de dieta.

Ela fez uma expressão seria e franziu as sobrancelhas.

– May, que ideia é essa?

– Qual o problema, muitas meninas fazem dietas, e eu acho que eu sou uma delas.

– May, você não pode ficar fazendo dieta por que outras meninas também fazem.

– Mas eu estou realmente precisando.

– Quem te falou isso?

– O próprio abusado riu da minha cara, falando que eu estava, e também eu já havia percebido.

– May, você não pode ficar indo pela cabeça dos outros, e me perdoe, mas eu acho que você é meio ingênua, aquilo foi só uma brincadeira.

– Tudo bem Pâmela, mas acho melhor a gente começar o filme. – Eu falei para ela não me convencer que eu estava magra, por que nem ela e nem ninguém iria me convencer disso.