Até a Lua escrita por A Garota Dos Livros


Capítulo 22
Espero que sim




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Caleb tinha parado o carro embaixo de uma árvore no meio da estrada e tinha pegado uma maleta de primeiros socorros não sei onde.

– Isso vai doer.

Assento. Eu já estava toda suada e suja de sangue e a dor na minha coxa estava me torturando.

Quer dizer, naquele momento percebi que não estava doendo tanto assim. Caleb começou remexer a carne afim de tirar a bala e gritei tão alto que meus ouvidos doeram.

Ele me olhou preocupado, mas depois voltou tirar a bala. Minhas mãos estavam agarrando com força às bordas do banco, e quando a bala saiu foi um alívio.

– Vou fechar agora, ok?

Assenti de novo e esperei a dor da agulha entrando, incrivelmente, não senti tanto. Acho que não se comparava a dor da bala sendo tirada.

– Pronto - ele disse - ta tudo bem agora.

Fechei os olhos e afundei no banco.

– Como você está? - senti a mão dele tirando o cabelo grudado do meu rosto e colocando atrás da orelha.

– Bem.

Ele ainda estava olhando, preocupado para mim, mas então se levantou.

– Para onde agora?

– Pra casa.

– Sua casa?

– É, o...

– Não me diga. Se você acha que tem que ir pra lá, nós vamos. Só vamos parar antes, pra limpar todo esse sangue e você descansar um pouco.

– Será que é uma boa ideia? Lá atrás o Jensen...

– Vou tomar mais cuidado dessa vez.

Não demorou mais do que uma hora pra que Caleb parasse na frente de um motel na estrada, dessa vez ele não era decadente. Ele tinha uma fachada bonita, a pintura estava nova e era bem grande. Parecia deslocado, no meio do nada, um hotel tão bonito.

– Parece estranho - digo.

– Tudo bem. Conheço o dono.

– Conhece?

Ele não estava olhando pra mim.

– Era namorado da minha irmã.

Ele me segurou pela cintura, me ajudando andar. Em vez de entramos pela frente, demos a volta e odiei o fato do motel ser tão grande.

Haviam várias funcionários no fundo, e nenhum deles fez menção de que não deveríamos estar ali, eles apenas olhavam para Caleb e era como se fosse a chave.

– Disseram que você estava aqui - um homem alto e de olhos azuis saiu pela porta.

– Oi, Guevin.

– Caleb.

Era como se nem se conhecessem, mas meio de repente a carranca saiu do rosto dos dois e eles sorriram.

– Precisam de um lugar pra ficar.

– Precisamos.

– Prazer, Guevin. - disse me estendendo a mão.

Eu a pego - Ana.

Guevin segue na frente, até um elevador. Não presto atenção em volta, minha perna está doendo demais pelo esforço de andar. Ele nos deixou em um dos quartos, que é de longe o melhor onde já ficamos.

– Tudo bem? - Caleb pergunta me colocando em uma das camas.

– Tudo.

– Estamos seguros aqui.

– Eu sei.

– Preciso falar com Guevin.

– Ok.

– Vai ficar bem sozinha?

– Vou, pode ir.

Ele assentiu.

– Caleb?

– Sim.

– Ele não fez perguntas.

– Eu sei.

Seu rosto se tornou triste daquele jeito que ficava toda vez que sua irmã virava assunto. Ele se virou e saiu do quarto.

Eu estava suja, mas estava mais cansada do que suja, então só me acomodei e dormi.

...

Acordei sozinha e com a perna doendo. Minhas coisas estavam no pé da cama e a cama ao lado estava com as de Caleb, só que ele não estava no quarto que aliás estava escuro.

Levantei e arrastei minha mochila para o banheiro.

Dexei que a água escorresse até minha perna, relaxando o músculos e limpando o sangue seco. Ultimamente isso estava acontecendo muito, o fato de que limpar o sangue seco grudado em mim. Não era o tipo de coisa que eu pensaria alguns meses atrás, mas agora, está mais para rotina.

Desliguei o chuveiro e demorei um tempão arrumando meu cabelo e colocando minha calça tentando não deixar raspar nos pontos. Só sei que quando sai de la, finalmente eu me sentia limpa de novo, em todos os sentidos. Ou quase. Brad não estava ali. Meus pais estavam ali. E embora eu estivesse limpa estava incompleta.

Sai do banheiro ainda me arrastando porque a perna doía. Não lembro de ter ouvido a porta abrir mas Caleb estava sentado na sua cama segurando a cabeça. Ele me olhou quando sai do banheiro e levantou de uma vez. Seus olhos estavam vermelhos como se tivesse chorado.

Talvez aquilo tivesse me assustado antes, mas não assustou agora. Caleb segurou meu rosto com as mãos e seus lábios tocaram com os meus. Senti algumas lágrimas molharem meu rosto, mas não eram minhas. Ele se afastou.

– Me desculpe.

Estranhamente seus olhos estavam fechados e os ombros caídos, não era como se fosse a mesma pessoa. Deixei a mochila cair no chão e segurei seu rosto, exatamente como ele tinha feito e o beijei.

Não houve protesto, nem nada. Só seus lábios se movendo junto com os meus, e seus braços em volta de mim.

– Não precisa pedir desculpas - disse ainda com as mãos em seus rosto.

Os olhos dele ainda estavam fechados.

– Eu sei que era o Brad que voc...

– Éramos amigos.

– Não eram.

– Por que agora?

Me afastei alguns passos pra olhá-lo.

– Eu não quero perder a chance de fazer isso, como eu perdi várias vezes antes. - seu rosto estava frágil, mas ainda era o Caleb que eu conhecia - Me perdoa por mentir pra você, por deixar Brad morrer e te arrastar pra todo lado porque não sabia como te manter em segurança. Foi o melhor que eu pude fazer...

Me aproximei de novo e penteei seu cabelo com os dedos devagar.

– Eu estou aqui, certo?

– Certo.

– Ótimo, é tudo o que precisa.

Ele assentiu.

– O que aconteceu?

– Guevin me lembrou umas coisas que eu tinha esquecido.

Assenti. Seus olhos me encaram de um jeito que eu nunca tinha visto, era o Cícero, mas também era o Caleb.

– Ficar com você me faz lembrar da minha irmã. Ela lutaria por você.

– Você é como ela.

– Espero que sim.


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