50/50/51 escrita por Lari B Haven


Capítulo 8
Dia 39: Debaixo da água.


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouco essa semana, por que fiquei sem tempo. Foi minha ultima semana de aula e em meio a despedidas desse ano que me marcou para sempre, quase esqueci do capitulo que fiz e não postei. Playlist logo, logo....



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Os remédios estão ajudando. Perceba que desde alguns dias atrás eu parei de descrever meus pesadelos. Essas pilulas novas me deixam com menos sono, mas com toda a certeza eu já não vou poder mais participar de competições de natação. É difícil desistir de seus sonhos, mas eu sempre soube que acabaria assim.

Minha nova psicologa, Martha é diferente das demais. Ela não fica me obrigando a desenhar casas, ou ficar dizendo como eu me sinto sobre isso. Ela me deixa ouvir Linkin Park e jogar nas suas sessões. Ela é toda naturalista e diz que vai fazer meu mapa astral. Eu juro que ri quando ouvi isso, mas até gostei. Eu gosto da ideia de que nossa personalidade e algumas coisas já nascem conosco, e que como sabemos sobre elas, isso nos dá a ilusão de controle.

Júlia se sente feliz ao me ver lá. Martha recomendou que ela e o meu pai marcassem uma hora para se verem separados. Ele precisa. A Júlia não...

Eu não estou vendo mais aquela garota nos meus sonhos, pelo menos com menos intensidade, ainda tenho os flashs, só que não me assusta tanto, já que são sonhos curtos. Tipo o que aconteceu noite passada:

“Eu estava no meu quarto, não sei bem o por que, mas eu tocava meu violão. Era uma melodia que eu desconhecia, soava suave. Mas toda essa passagem era meio irreal já que eu não sabia tocar violão, assim como não sei por que tenho um violino no meu quarto.

A garota de cabelos negros estava lá, deitada na minha cama, me lembrava muito a Cassandra deitada na dela.

—UHU! -ela levanta os braços no ar- Mais um ano de treino e vai poder tirar media com as garotas da escola… Vai toca Raul!

—Sabe que eu não conheço nenhuma musica dele…

—Toca Faroeste Caboclo então! -ela se levantou- E cante!

—Tá louca filha! -eu protestei largando o violão- Quer me matar?

—Sabe tocar o quê então? Seu inútil! -ela vem por trás de mim e me abraça.

—Sei tocar… -eu paro e penso- Hum… Aquela musica que eu fiz para você…

—E como você vai tirar média com as garotas da escola com essa música?

—Você é a única que eu quero impressionar… -eu respirei fundo pegando o violão de novo- Até por quê do jeito que você é louca e possessiva, ia me matar se me visse com outra garota!

—E é bom que saiba disso! -ela ri e beija minha bochecha. Estamos em frente ao espelho, então eu posso me ver perfeitamente com ela grudada no meu pescoço, ela só me larga para pegar um óculos verde igual ao do John Lennon- Olha! -eu mal podia ver seu rosto inteiro- Como eu fiquei?

Eu apenas sorri e comecei a tocar a melodia simples e desleixada que compus.”

E eu acordei com lágrimas nos olhos. Era diferente dos outros sonhos, nesse eu estava feliz.

Os dias se passaram devagar, mesmo assim foi bom estar com ela o máximo que eu podia. Ela era um tanto fascinante, charmosa misteriosa e com um gosto musical meio ambíguo. E o melhor, ela era de escorpião… Descobri esses dias para trás.

Conversávamos muito na escola e isso me dava motivo para ficar longe do Cássio e do Paulo ao mesmo tempo.

Ainda estudávamos na casa dela, mas as vezes pegávamos a biblioteca vazia e ficávamos por lá, por que nós começamos a matar aulas… Hoje eu fugi da aula de física por ela. Eu sabia que ela ia estar por lá, e não ia se importar muito de faltar as aulas, por que o ano estava no fim e as provas quase ali. Isso significa que logo todos estariam pensando na formatura. Nem parece que o ano já esta acabando, parece até já estamos no final de outubro...

Eu não podia evitar de olha-la lendo Hamlet daquele jeito relaxado: de pernas cruzadas, em cima de uma cadeira, totalmente completa. Apenas contemplando a beleza de ler um clássico. Eu poderia olhar pra sempre pra ela desse jeito, afinal é o meu jeito preferido de vê-la. Ela como um ser humano qualquer, uma garota qualquer, mas ainda assim a minha garota especial. a beleza simples de se ver alguém lendo um clássico... ela era um clássico cliché.

—Como anda a Dinamarca? - perguntei olhando-a por detrás do meu “O Alienista”.

—Tem sempre algo de podre no Reino da Dinamarca… O fantasma do rei acabou de aparecer…

—Acho o Hamlet um tanto dramático… Ele fica alucinando demais sobre a morte do pai… - eu continuo a fingir que estou prestando atenção no meu livro.

—É mesmo, o Hamlet é meio chorão… -ela sorri com a minha observação.

Ouvimos passos no corredor. Eu sorri para ela de um jeito safado, que eu mesmo me assusto com a minha expressão.

—Pronta para correr milaide? -eu me levanto e estendo a mão quase fazendo uma reverencia.

—Como eu sou uma moça correta, como eu costumo ser há tempos senhor Diniz, o correto seria eu declinar de sua proposta! -ela faz uma cara séria, mas ela estava entrando no jogo- Mas tens a sorte de eu não ser senhor Diniz… -ela dá um tapa na minha mão e sai sozinha até o esconderijo no ponto cego da câmera, que era a minha pequena relação de amor e ódio.

Nos esperamos a bibliotecária sair e tentamos não ser pegos pela inspetora. Ficou ali parado engolindo riso já que não posso rir se eu fizer isso sere pego. Ela apenas observa. Eu olho para os seus olhos exageradamente grandes, eles brilham, ela gostava dessas travessuras. Óbvio que eu tinha a desvirtuado. Meu lado travesso era movido por essas pequenas coisas.

—Vamos matar aula Cassandra... -eu olhei por detrás dos livros e depois para ela.

—Ok! Para onde vamos? -ela me olha com aqueles olhos perigosos.

—Eu não sei… Você decide! -eu me abaixei até ela- Podemos viver um dia como em “Curtindo a vida adoidado.” Vamos matar aula aonde? -ela me analisou por um momento. Sua expressão parecia de desafio, mas depois ficou dura como se sentisse raiva.

—Não! -ela disse categórica- E pare de me olhar com esse olhar de cachorrinho que caiu da mudança! -ela baixa o olhar- Minha missão é te consertar, até que você passe nas provas finais!

—Consertar? Eu sou o quê? -fico um pouco surpreso- Seu…

—Eu disse concentrar! Não consertar! -ela disfarça, mas esta muito vermelha para isso.

Assim que o salão se acalmou nós saímos do esconderijo e ela suspirou juntando as coisas e indo embora. Era realmente difícil entender aquela cabeça cheia de cabelos negros e caótico penteado.

As coisas continuaram estranhas durante muito tempo. Na sala ela já não olhava para mim, continuava a ler e ser aquela aluna exemplar e anti-social. Mas mesmo assim manteve sua promessa de estudarmos mais tarde. Ela como sempre perdeu a hora e chegou atrasada no vôlei. Eu não me atrasei para a natação, mas eu a vi correndo desesperada no corredor enquanto eu fazia o aquecimento. Ela estava tão afobada que tropeçou. Por um momento eu achei que ela tinha me visto de sunga…

Quando eu fui para a casa dela hoje, tudo continuava no lugar. Mas eu juro que quando cheguei tive outra recaída. Eu estava no jardim, ainda enrolando para entrar quando um gato branco ficou me encarando. Não sei por que, mas uma melodia de violão começa a me tontear. Ele tem um olho verde e outro azul e ficou me acompanhando com os olhos. Sei que ao vê-lo andar por mim me fez me sentir estranho. Ele estava no mesmo ponto que a roseira negra na estufa costumava ficar. Eu cai de quatro na mesma hora e vomitei perto das petúnias. Eu perdi o foco e foi como estar mergulhando na picina, afogando na verdade. Eu só tive essa sensação de afogamento uma vez quando comecei a fazer natação por recomendação médica. Eu perdi os sentidos por dois segundos e comecei a afogar no segundo seguinte.

E tive uma leve impressão de ver Janice sair da casa pelo jardim com um saco de lixo. Ela me olhou e correu de volta para a casa. Eu revirei um pouco de terra fresca e enterrei a gosma amarelada antes que vissem. Eu entrei na casa dela onde o violão continuava a tocar. Era ela e a voz dela ecoando pelas portas. Eu fui rápido a pia da cozinha e lavei as minhas mãos. Lembro de ir a sala vê-la. Mas tive um flash e tudo ficou branco.

—Daniel! -ela me cutucou- Daniel acorda! Historia não é tão chata assim!

—Hã… O que? -eu acordo no quarto dela sentado na mesa de estudo com o livro de historia no rosto- Eu desmaiei?

—Pelo visto sim! -ela se levantou rápido- É por isso que suas notas estão despencando em historia! Não fica acordado nem cinco minutos!

—Eu dormi? -perguntei confuso.

—Não está na cara? -era respondeu sarcástica.

Tinha sido uma alucinação minha, se continuar, talvez eu tenha que trocar a medicação.

Parando para pensar foi um dia sem grandes surpresas. Mas gostei mesmo assim.

Meu pacote de expansão chegou. Mas talvez eu não jogue hoje… Ela pesadelos… Sei disso por que noite passada ela não pintou, mas acordou no meio da noite chorando na janela. Eu queria saber aplacar a sua tristeza.


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Notas finais do capítulo

Comentem, estou com saudades dos seus comentários.



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