In my arms. escrita por Shadow Shirami Mitsuko


Capítulo 3
Em meus braços. - Fim.


Notas iniciais do capítulo

Eu não demorei tanto dessa vez.~
Escrevi esse capítulo ouvindo I'll all coming back to me now - Celine Dion, caso quisessem, podem ler ouvindo essa música.
Anyway, sem mais delongas, boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/541836/chapter/3

Era uma manhã de sábado, o clima parecia pesado, uma atmosfera carregada e maçante enquanto das nuvens ocultavam o calor do sol com suas cores escuras, Shadow olhou para fora da janela de seu quarto, enquanto ainda estava deitado na cama, com a mínima vontade de se levantar.

Uma expressão carregava o vazio que havia em seu peito, como se não fosse um mobian orgânico, mas sim uma máquina com peças de metais, sem sentimentos, sem esperanças, sem motivações, sem nada que o mantivesse de pé, nem ao menos uma razão extremamente forte que o fizesse se reerguer.

Mentira, havia sim uma. Uma única razão que o fazia abrir os olhos todas as manhãs e olhar para o seu lado, na esperança vã de que ainda estivesse ali, do seu lado.

Mesmo que em todas essas manhãs encontrasse o espaço vago, frio e solitário.

Sua testa se franziu, desde quanto ele precisava da G.U.N ou de qualquer um daquele grupo de equipe de buscas desfeito para conseguir algo que queria?

Assim que havia completado exatos 16 dias, o comandante desistiu de encontrar o herói com vida, todos ali estavam desolados, queriam continuar ainda, principalmente Tails, ele ainda tinha esperanças de que conseguisse encontrar seu irmão sã e salvo, Knuckles parecia mais conformado com a notícia, não era tão íntimo quanto Tails, desde que haviam se conhecido de forma não tão tradicional assim, porém o equidna não era insensível e se retirou em luto para se isolar em torno da Master Emerald, desde então, ninguém o encontrou. Nem mesmo Rouge teve coragem de o visitar, temendo que ele interpretasse sua tentativa de conforto como uma oportunidade de surrupiar sua preciosa joia para ela.

Amy foi o caso mais crítico, ela gritou com o comandante, bateu em soldados com seu Piko Piko Hammer, ameaçou a vida do comandante que apenas olhava para ela com pena, teve que ser detida por Shadow se ela ainda quisesse respirar, sabia que a segurança da G.U.N não seria tolerante com comportamentos assim, mesmo que a garota fosse o mais próximo que se poderia chamar de heroína, ela não teria poupada se continuasse agindo como uma selvagem. Mesmo que fosse totalmente compreensível que estivesse sofrendo e cega pela dor.

Shadow via com tristeza enquanto até mesmo Rouge parecia sentida, Tails saiu daquela sala com o semblante baixo, os olhos azuis cheios de dor. Ele nunca tinha presenciado uma cena tão dramática como aquela. Ele também sofria, sofria tanto que parecia que haviam cravado uma faca em seu peito, variadas vezes, não era uma dor que poderia ser curada, muito menos amenizada.

Todas às vezes que olhava para seu lado na cama, imaginava a figura do ouriço dormindo tranquilamente, sua respiração lenta, suave enquanto ele murmurava algo sem sentido em seu sono, geralmente sobre como estavam bons os chilli dogs ou sobre ninguém o superar em uma corrida, revirava sempre os olhos e lhe cobria decentemente, desde que se mexia demais e seus cobertores sempre acabavam deixando seu corpo delgado exposto.

Fez uma careta quando uma onda de dor corroeu seu peito, suas mãos se fechavam com força segurando os cobertores que envolviam seu corpo, seus olhos se fecharam com força, seu corpo tremia, sua expressão se franziu ainda mais.

Sonic estava realmente morto? Não havia mais esperanças? Um mínimo sinal que pudesse lhe mostrar a direção certa? Estava tudo perdido? Era esse mesmo o fim?

Sua mão foi com força para seu peito, apertando o local com tanta dor que ele não se surpreenderia que tivesse se machucado com o ato, seus dentes se apertaram enquanto tentava suprimir o grito que estava preso em sua garganta.

Ergueu o corpo com força, ofegando com tanta intensidade que parecia estar tendo um ataque de pânico, olhou para o quarto diversas vezes, seus olhos vermelhos procurando por todos os cantos, até que desistiu. Desistiu de lutar contra a dor, desistiu de sustentar a postura fria que sempre teve, até mesmo por orgulho.

Tombou a cabeça para trás, seus lábios se abrindo e então gritou.

Gritou com toda a intensidade que conseguiu, sua dor, sua frustração, sua saudade, sua vontade de quebrar algo, seu ódio por si mesmo por não o ter encontrado, seu desespero quando viu que o comandante tinha dado Sonic como morto, o modo como por fora parecia perfeitamente frio e controlado, enquanto internamente seu peito se quebrava e seu coração se partia em milhares de pedaços irreconhecíveis.

Como queria naquele momento ter Sonic em seus braços, como desejava com todas as suas forças que o ouriço estivesse ali, do seu lado, com seus braços pêssegos rodeando seus ombros e o puxando para mais perto, como desejava estar com suas mãos pressionando seus quadris, os apertando com força e se assegurando de que ele estivesse ali, consigo, seguro e protegido em seus braços.

Quando enfim deu por si, as lágrimas estavam escorrendo sem cessar por sua face, quentes e trazendo consigo toda a dor reprimida daquelas semanas torturantes. Como a esperança esmorecia a cada minuto que não tinha sinal nenhum dele, como se tivesse desaparecido do mapa, nenhum sinal, rastro, pistas ou quaisquer mínimos sinais que poderiam os levar à uma conclusão, é como se ele tivesse simplesmente evaporado.

 Há quanto tempo ele não se permitia chorar? Quanto tempo ele não conseguia exprimir em gestos o que lhe feria e cortava por dentro?

Primeiro havia perdido uma amiga, seu pai de consideração, a família incomum que era a única que tinha. Algo que não conseguiu superar, nem que se passasse séculos. Depois de tantos anos decidiu se fechar, se afastar, não sofrer mais, não queria amizades, não queria aliados, não queria nada que pudesse lhe causar dor se perder, mas, quem lhe disse que a vida lhe seria gentil?

Depois de finalmente ter conseguido se abrir, ter dado a si mesmo a chance de confiar e até mesmo ter alguém por perto, lhe vem mais essa facada.

Seus olhos se fecharam com força enquanto os soluços que tanto queria que desaparecessem irrompiam por sua garganta, seu peito ardia em dor, era como se tudo que ele reprimiu por todos os anos, sua insegurança, seus medos, seus traumas, todo seu sentimento de impotência guardado por mais de cinquentas anos por não ter sido capaz de salvar Maria, sua auto aversão por indiretamente ter sido culpado pela invasão da A.R.K mesmo que ele não fizesse ideia do que estava acontecendo até que fosse tarde demais para remediar.

Era em momentos assim que podia contar com Sonic, mesmo que o ouriço azul não tivesse noção do conforto e segurança que passava para Shadow. Não fazia ideia, mas a cada vez que segurava sua mão, lhe abraçava de surpresa, lhe beijava ou apenas deitava sua cabeça em seu peito, espantava um a um todos os seus fantasmas e seu demônio pessoal. A memória de Maria ainda persistia, porém era suportável e não carregava todo um significado de dor e fracasso.

Era como se aquele ouriço tivesse o poder único de acalmar tudo o que lhe atormentava, como um calmante, toda vez que olhava para aquele sorriso amplo e até mesmo convencido, sentia que não precisava mais se esconder, que tudo estava certo, na mais perfeita ordem.

Foi assim no último dia que se viram.

A lembrança era perfeita e vívida em sua mente, se soubesse que depois daquele dia não o teria mais em seus braços... Teria o impedido ou ido junto com ele. Mas, quem era ele para prever o que poderia acontecer?

Estava algo que Sonic chamaria de um “lindo dia”, os flickies cantavam, o céu estava limpo, pouco se via nuvens, ventava pouco, porém confortável. Naquele dia como qualquer outro, o ouriço estava elétrico, animado, parecia que nada o faria parar quieto no sofá, enquanto Shadow estava como sempre com uma expressão fechada enquanto preparava o café da manhã para ambos, não que ele precisasse, mas por achar de certa forma até divertido e a comida não era ruim no todo, não queria admitir, mas gostava desses momentos com Sonic, eram confortáveis e o fazia se sentir como qualquer mobian normal, não como uma arma, tampouco como uma experiência, mas sim alguém morando junto com o namorado.

Se ele soubesse que depois daquele dia não veria mais o ouriço, teria lhe beijado com mais ardor, lhe abraçado com amor ou até mesmo lhe impedido de sair sozinho, talvez até mesmo se divertissem tanto correndo juntos ou no quarto de ambos, porém o dia não estava tranquilo ou favorável para Shadow, tinha que ir obrigatoriamente entregar relatórios à G.U.N e Sonic parecia tão animado que nunca passou por sua mente que a rotina de ambos mudaria tão drasticamente.

Seus braços apertaram com força sua volta, como se tentasse manter todo o seu corpo inteiro, ao invés do desespero cortante que invadia seu peito, ele ainda chorava, mas se sentia mais leve com isso, como se estivesse em paz consigo mesmo. Se levantou de sua cama, pouco dando importância em ajeitar sua cama, foi direto ao banheiro, tomando um banho rápido com água fria. Não conseguia mais tomar banho quente sem que as memórias de Sonic compartilhando o recinto consigo lhe invadissem a mente.

Alguns minutos depois, porém, mal parecia que ele era o ouriço que outrora estava desesperadamente chorando em seu quarto, seu rosto estava devidamente composto, sua postura ereta e seus movimentos vazios e sem vida. Como se há muito não tivesse vontade de viver e somente operasse no automático.

Pegou a esmeralda que guardava com carinho na gaveta do criado mudo, olhou para ela por alguns momentos, o verde brilhante lhe fazendo se recordar de vívidos olhos esmeraldas. Balançou a cabeça e com um sussurro sem vida, murmurou as palavras típicas de sua técnica de teleporte.

Abriu os olhos para se deparar com a tentativa de um jardim, mesmo que falhado ainda podia ser resquícios de que a terra havia sido mexida recentemente, a casa simples, pequena e não parecia com nada em seu interior, era construída de tijolos vermelhos, onde as telhas — que tinham as mesmas cores da parede — cobriam o entorno das janelas também, tinha dois andares apesar de parecer que era pequena demais para tal proeza. Apesar de suas cores, a casa mais parecia cinza.

Se aproximou dela, porém antes que fizesse algum gesto para bater, a porta se abriu. A imagem do garoto raposa era deplorável, os olhos vermelhos de tanto chorar, a postura de quem não dormia direito, sua face cansada, até mesmo sua tentativa de um sorriso era falha.

— Olá, Shadow. — Seu cumprimento não era como usualmente se via vindo de Tails, suas caudas balançavam melancolicamente.

— ... — O ouriço não tinha resposta, encarou a raposa silenciosamente e, mesmo que fosse um pensamento egoísta, sentiu-se um pouco melhor de que ele não era o único que estava sofrendo. Suspirou e deu as costas para o garoto.

O que ele esperava vindo ali? Um Tails feliz e animado? Estava sendo idiota em pensar que poderia encontrar um resultado diferente, sendo que Tails tinha para Sonic um amor talvez maior que o que ele mesmo sentia, porque eles cresceram e amadureceram juntos, tiveram um passado conturbado juntos. Quem era ele para vir egoistamente para a casa dele esperando que ele pudesse lhe trazer alguma espécie de conforto.

— Você vai amanhã? — Perguntou o garoto, não esperando resposta, complementou. — O Presidente convocou todos para o memorial... — Sua voz morreu e parecia prestes a chorar.

— Sinto muito. — Foi a única resposta antes que ele desaparecesse em uma trilha de ouriço.

A raposa fechou a porta tristemente.

Sua próxima parada não era o que ele chamaria de normal, porém dessa vez, não fez menção de se aproximar, estava oculto entre os arbustos que rodeavam a casa, podia ver uma ouriça rosa transitando entre um cômodo e outro, seu usual vestido vermelho havia sido substituído por um vestido maior preto, sua tiara vermelha não adornava mais seus espinhos rosas e assim como Tails, ela não parecia estar mais disposta. De onde estava conseguia ver que a alegria juvenil dela se extinguira.

Fechou os olhos por um tempo, não queria ver mais aquilo por muito tempo.

Quando abriu os olhos novamente, estava de frente a um clube, suas portas estavam fechadas, porém ele tinha a chave para entrar quando bem quisesse, o que encontrou era algo diferente do que alguma vez esperou encontrar. Rouge, sempre com um sorriso malicio e uma postura egoísta com tudo e todos, também estava sofrendo. Essa reação vindo dela, parecia surpreender-lhe, desde que ela nunca demonstrou animosidade para o ouriço.

Estava debruçada na mesa, sua roupa abarrotada, seus cabelos sempre impecavelmente arrumados estavam bagunçados, garrafas enchiam a mesa e algumas jaziam no chão, vazias e quebradas.

Suas orelhas brancas se moveram ao som, depois sua cabeça se ergueu, seus olhos turquesas demonstravam dor e até mesmo sofrimento. Sua maquiagem havia se desfeito, deixando marcas no rosto, seu batom estava agora sujando uma de suas luvas, a expressão desolada, mesmo que de todo o grupo, ela era quem ele menos esperava essa reação, ela deu um sorriso fraco.

— Surpreso? — Zombou, sua voz saia lenta e embargada.

— O que está fazendo? — Perguntou com repreensão, olhando para ela com os olhos em fendas.

— Bebendo — revirou os olhos como se estivesse falando com uma criança — quer também? — Deu um sorriso bobo.

— Por que está agindo assim? — Fez uma careta ao olhar para ela. — Você nunca se importou com nada. — Afirmou olhando para ela de forma estranha.

— Quem não se importa aqui é você, Sunshine — começou com a voz arrastada, seus olhos não focavam direito, parecia ser incapaz de andar corretamente — sempre achando que é superior, você merece morrer sozinho. — Ela cuspiu as palavras com amargura e ressentimento. — Todos sentem a falta dele e você? — Apontou acusatoriamente para o ouriço que recuou surpreso com a intensidade das palavras dela. — Veio aqui para rir do nosso sofrimento e mostrar o quão superior é? — Fez uma careta.

— Rouge?! — Ele exclamou mais do que surpreso. As palavras delas lhe feriam.

Ele sofria, mais do que isso, estava em pedaços, destruído.

Ele rosnou e fechou as mãos em punhos.

— Amanhã de manhã é o memorial dele. — Disse parecendo se esquecer que há poucos segundos estava lhe acusando de ser insensível. — Você vai? Vocês eram rivais, é o mínimo que deveria fazer. — Ela de um sorriso afetado e se debruçou na mesa, soltando um gemido de dor logo em seguida.

Shadow balançou a cabeça em reprovação, olhou para ela de forma dolorida, embora soubesse que ela não pudesse vê-lo. Apesar de saber que as palavras dela eram consequência de seu estado alcoolizado, ainda assim lhe causou a dor no peito de saber que estava sendo estupido.

Ele estava sozinho, outra vez. Não tinha lugar para onde recorrer, não tinha ninguém que pudesse lhe dizer palavras confortadoras levando em consideração que ele nunca se permitiu ter amigos por perto. Sua relação com Sonic nunca chegou ao conhecimento dos amigos do mesmo, desde que se sentiam confortáveis em não ter nenhum deles sabendo sobre eles. Talvez fosse um erro afinal.

Talvez eles deveriam ter contado para pelo menos Tails, para que pelo menos o garoto raposa soubesse que ele mais que todos estava sofrendo, que ele também sentia falta, sentia a dor da perda quando o comandante deu o veredito final e encerrado as buscas. Sentiu raiva de si mesmo por isso, sentiu raiva por se sentir sozinho, sentiu ódio de si mesmo por não se sentir capaz de falar com Rouge corretamente, de admitir para a morcega que Sonic era muito mais que um rival, mais que uma amizade.

Eram amantes.

Frustrado consigo mesmo e com sua incapacidade de ser aberto com a única pessoa que conseguia ter uma conversa que se podia se chamar de civilizada, mesmo que envolvesse rosnados e provocações, deu as costas para a morcega, não queria ver que até ela conseguia demonstrar que sentia a falta dele.

Ao andar pelas ruas, via em cada rosto que passava, sinais visíveis de luto, tristeza e desesperança. Sua carranca se vincou ainda mais. Há havia mais esperanças? Estava tudo acabado?

Ele não pensava assim, mesmo que cada rosto que visitou e encontrou em seu caminho dissesse que era inútil ainda persistir, era como se de alguma forma, ele tivesse certeza que Sonic ainda estivesse vivo, só precisando de ajuda para poder voltar, como se estivesse preso ou tivesse sido sequestrado.

A única pista que lhe dava esperanças disso era que, em todos esses dias que Sonic estava supostamente desaparecido, não houve um ataque sequer, nenhum sinal da aparição de Eggman, nada que pudesse apontar aonde ele estaria se escondendo dessa vez e foi por isso que, mesmo que todos os outros acreditassem que o ouriço estava morto, Shadow não iria desistir de encontra-lo. Mesmo que levasse anos, ele nunca desistiria.

Quando deu por si, estava diante a mesma planície de meses atrás, onde ele disse as palavras erradas que haviam ferido Sonic sem intenção. Sentou sobre a grama úmida, pouco dando atenção a medida que seus pelos negros molhavam. Olhou para cidade diante de si, com o olhar desfocado. Como se estivesse lutando contra suas emoções, como se estivesse prestes a chorar de novo. Abraçou seus joelhos e escondeu seu rosto neles, respirava várias vezes profundamente, tentando controlar toda sua dor, mesmo que fosse difícil, seu peito estava mais dolorido que nunca.

Central City tão antes barulhenta e cheia de luzes parecia em luto, até mesmo o vento trazia um clima melancólico, não se surpreenderia se começasse a chover também, no entanto o céu estava claro, sem nuvens, assim como naquele dia.

— É, eu sei. — Ouviu uma voz dizer acima de si, era estranhamente familiar, apesar de ser uma das vozes que ele nunca esperava encontrar. — Até mesmo o vento sente falta dele. — Mesmo sem olhar, sabia que provavelmente ele estava sorrindo embora melancolicamente como todos.

— ... — Não disse nada, não precisava dizer nada, não queria também levantar a cabeça e admitir que estava sim sofrendo por Sonic, era como se ele fosse parte essencial, um elemento indispensável para todos, tão necessário quanto o calor do sol para as plantas.

Era como se sem ele, o mundo todo se tornasse completamente sem cor, um cinza opaco e deprimente.

— Sabe — começou hesitantemente, olhando para o chão com seus olhos roxos — também sinto a falta dele, é como se sem ele nada tivesse aquela graça, sabe? — Parecia difícil para admitir, mas de uma forma estranha, mesmo que insano, o equidna parecia se sentir mais confortável em admitir isso para o ouriço.

Ouviu um suspiro vindo de Knuckles enquanto o equidna se aproximava para se sentar ao seu lado, orelhas ébano se contorceram com os sons vindo de sua nova companhia.

— Mesmo que ele fosse aquele cara chato, ele sempre teve um bom coração. — Continuou dizendo, mesmo sabendo que dificilmente receberia resposta, o canto de seu lábio se repuxou em um meio sorriso desanimado. — É difícil acreditar que ele desapareceu, quando há pouco tempo ele estava ali, enchendo o saco como sempre fez. — Olhou para o céu tristemente.

— Ele não morreu. — Foi a afirmação fria vinda do ouriço negro, erguendo a cabeça e olhando diretamente para os olhos roxos do equidna.

— Eu também não acredito nisso. — Knuckles comentou distraidamente. — Ele não faz o tipo que se deixa cair facilmente. — Suspirou desanimado. — Mas depois de todo esse tempo, nenhum sinal, nenhuma pista, nem sequer um espinho encontramos. — Seus olhos se fecharam como em desistência.

— Ele não está morto. — Reafirmou com mais intensidade.

— Desiste cara, se ele estivesse vivo já teria dado um sinal. — O equidna murmurou ignorando a raiva no tom do ouriço. — Ele nunca foi do tipo que desaparece fácil. — Disse com desgosto estremecendo quando lembranças das aventuras passadas junto do ouriço vinha em sua mente.

— Não há corpo. — Disse friamente. — Nem mesmo Dr. Eggman deu as caras. — Disse sugestivamente.

— Acho que até o Eggman tem consideração pelo azul, depois de ter sido uma pedra no seu sapato por muitos anos. — O equidna murmurou em resposta, distraído demais para pegar a dica da sugestão do ouriço.

Shadow franziu a testa, se levantou em um pulo, dando as costas para o equidna.

— Eu sei que você também sente a falta dele. — Disse Knuckles com cautela. — Só é orgulhoso demais para admitir. Todos nós sentimos muito. — Olhou para o ouriço que parecia paralisado. — Vai amanhã no memorial, acho que Sonic ficaria feliz se fosse. — Convidou, seu tom trazia algo que ele poderia chamar de conforto, embora fosse inútil para o ouriço negro naquele momento, nada poderia confortá-lo, exceto Sonic.

Sua mão esquerda alcançou o pulso direito, massageando o pulso desnudo com tristeza. Deu uma olhada rápida para o equidna que estava esticado preguiçosamente, antes de murmurar seca e friamente.

— Cuide do que é do seu interesse, equidna. — E caminhou afastado para longe dele, sem nenhuma vontade de correr ou até mesmo usar Chaos Control.

— De nada. — Foi a resposta sarcástica vinda dele.

O dia se passou arrastado, lento e vazio. Estava novamente em sua casa, porém deitado no sofá, o seu quarto trazia em sua mente memórias que ele não estava preparado para encarar novamente, em realidade toda a casa em si era um portfólio carregado de lembranças. Dos momentos agradáveis e felizes, das discussões, das lutas, das noites de amor.

Era como se estar dentro daquele lugar lhe comprimisse, como se todas as paredes gritassem sua falta.

Dramático, não?

A manhã seguinte começou nublada, talvez o clichê de luto se aplicasse naquele dia em particular.

Ele não estava entre os que estavam amontoados em frente a uma estátua com tamanho natural do ouriço, não era um dos que estavam carregando guarda-chuvas negros para se proteger os pingos que caiam impiedosamente. Tampouco era um dos que se abraçavam enquanto choravam em luto pela tão importante perda.

Não era só um grupo de pessoas que estavam em luto, tampouco somente uma cidade. Cada mísero canto do planeta carregava a dor do luto por uma perda tão significante.

Em um dos prédios mais altos, ele estava assistindo de longe, vendo massas de pessoas se aglomerando, se abraçando e chorando, vários mobian e overlanders trajados de preto.

Era uma cena deprimente, ele não aguentava mais ver aquilo.

Pegou a esmeralda que tratava com tanto esmero, apertando entre seus dedos, estava trajado com seu uniforme militar da G.U.N, desde que de uma forma ou outra, era um evento de respeito, mesmo que se sentisse contra a ideia de que Sonic estivesse morto, parecia que suas esperanças estavam pouco a pouco se tornando aceitação.

Fechou os olhos, seus lábios murmuravam silenciosamente as palavras de comando.

Ele iria para o último lugar que deveria ir, onde tudo começou, onde um acidente fez sua vida dar um giro de 360º, onde ele poderia sofrer em paz com sua dor, talvez nunca mais desse as caras, ficaria ali, onde foi desperto e onde começou a nutrir um sentimento muito diferente de rivalidade. Onde eles lutaram pela primeira vez, quando ele percebeu que pela primeira vez tinha um oponente em potencial.

Prision Island.

O ar era frio, diferente do pesado de toda a cidade, abriu os olhos sendo cumprimentado com toda a imensidão verde, embora algumas partes da ilha estivessem em destroços e o antigo laboratório-prisão extinto, a área verde estava intacta. Algo surpreendente levando em conta toda a dimensão da explosão.

Deu um suspiro de nostalgia, era um lugar calmo, apesar de tudo que aconteceu ali.

Quase deu sorriso, quando sentiu uma energia familiar, como uma esmeralda, piscou confuso.

O que uma esmeralda estaria fazendo ali?

Seguia calmamente, sua testa se vincou em concentração enquanto procurava onde estaria.

A cada passo, seu coração parecia martelar em seu peito, como se uma expectativa estranha estivesse tomando controle de seu corpo.

Estranho. Muito estranho.

O que poderia ter lhe deixado em expectativa? Uma Chaos Emerald? Nah, não seria o suficiente para isso.

Mas, e se?

E se fosse o sinal que ele tanto buscou nas últimas semanas desesperadamente?

E se, mesmo que fosse uma probabilidade quase nula, e se isso lhe levasse até Sonic?

Teria valido a pena?

A energia se tornava cada vez mais forte e pulsante, surpreendentemente, seu anel no pulso esquerdo vibrou. Os de seus tornozelos pareciam ter criado vida também, como se estivesse respondendo a um sinal que ele não tinha captado, ou não queria captar.

Seus passos pareciam altos demais para seus ouvidos, quando seus sapatos foguete pisavam ruidosamente sobre galhos e folhas secas, estalando a cada passo seu.

O ambiente estava perfeitamente silencioso, exceto é claro pelo som de seus passos, sua respiração e até mesmo o pulsar de seu coração.

Foi quando que, ao passar por um último arbusto, encontrou a esmeralda, vermelha, brilhante como seus olhos carmesins que estavam arregalados e sua respiração presa na garganta, porém não foi a esmeralda que causou tal reação à ele.

Não, uma esmeralda era insignificante comparado com a visão que preencheu seus olhos.

Cobalto.

O mais puro e brilhante cobalto, reluzindo com a pouca luz solar que conseguia passar dentre as folhas densas das árvores que rodeavam o lugar, um rio passava perto dali, ele podia ouvir o som de água corrente, mas nada disso importava.

Suas narinas captaram o cheiro de sangue, que fazia seu estômago se retorcer em preocupação. Antes que tivesse dado por si, já estava ajoelhado ao seu lado, descartou suas luvas brancas e estava tocando seu braço pêssego.

— Sonic? — Chamou tão aliviado que a voz parecia estranha para si. Ele podia ouvir que o ouriço respirava, embora muito fraca e ruidosamente, como se exigisse muito esforço.

Virou seu corpo para que ele estivesse deitado de barriga para cima, para logo em seguida paralisar.

Aquele não era o mesmo corpo que tocou há semanas atrás.

Estava doentiamente magro, embora assim pudesse ver com clareza as novas curvas que compunha seu novo corpo, seus quadris mais largos, suas coxas grossas e ainda musculosas, feridas em todas as partes de seu corpo, seu peito subia e descia de forma estranha, onde ele podia ver as curvas gentis de seios, evitou olhar para esse detalhe em particular por muito tempo.

Em seu pulso esquerdo desnudo, descansava um anel de ouro, do mesmo tamanho e poder que os outros três que estavam em Shadow, como se não bastasse essa confirmação, olhos verdes encaravam lhe em fendas, os mesmos olhos que faziam com que seu peito se enchesse de calor.

Suas mãos tocaram seu rosto, enquanto com o polegar enxugava as lágrimas quentes que escorriam pelos grandes olhos verdes esmeraldas, um sorriso confortador brincava nos lábios bronzeados enquanto a expressão da ouriça azul se franzia.

— Shadow? — Veio a voz falha, fraca. Não era a voz que conhecia, era o tom errado vindo do corpo errado, mas não lhe importava esse detalhe. Nada parecia importar quando estava próximo a ele, ou melhor, ela.

— Não fale, faker. — Descansou seu polegar sobre seus lábios, lhe impedindo de dizer qualquer coisa.

Se afastou brevemente, os olhos verdes assistiam enquanto ele desabotoava sua roupa, seu rosto pêssego corou com a ação. Ele queria se levantar, dizer que não precisava de nada disso e que estava bem, mas seu corpo não lhe respondia, estava dolorido, cada célula de seu corpo parecia latejar e queimar como se estivesse em chamas, os cortes ainda estavam abertos e sujos desde que ele caiu na grama suja e molhada.

Era uma visão deplorável, não pensou que podia piorar quando se pegou tremendo de frio. Shadow tinha tirado seu colete e sua camisa branca de algodão, passando seus braços fracos pelas mangas e cobrindo a frente de seu corpo, embora estivesse usando a camisa de forma errada.

— Vai... Sujar... — Tentou argumentar, olhando para Shadow suplicante. Ele melhor do que ninguém sabia o quanto Shadow era estritamente chato com limpeza e odiava sujar suas vestes.

— Não importa. — Disse com delicadeza enquanto passava os braços por baixo da figura que tremia, puxando o corpo gelado para o seu quente e usando o colete para cobri-lo mais.

Se levantou com o ouriço em seus braços, os olhos verdes pareciam agradecidos que enfim tinha deitado o chão frio para estar em braços que ele sabia que pertenciam a si e ninguém mais, mesmo que estivesse em uma situação totalmente estranha e não conseguisse mover um musculo sem que sentisse dor.

Iria tentar dizer mais alguma coisa, mas o olhar severo de Shadow fez que as palavras morressem em sua garganta.

— Descanse, faker. — Foi sua ordem-pedido enquanto olhava para ele com os olhos suaves.

Inclinou a cabeça e depositou um beijo em sua testa azul gélida.

Nada importava agora para Shadow, toda a dor, todo seu sofrimento, não se comparava com o sentimento de felicidade e amor que preencheu seu peito enquanto estava com seus braços ocupados com um ouriço, ou melhor, ouriça azul.

Ele estava seguro agora.

Protegido.

Em seus braços.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Será esse o final da história?
Comentem caso sintam o interesse, gosto de saber sobre o que acham do capítulo.
Acaso houver quaisquer erros, sejam eles de digitação ou gramaticais, por gentileza me avisem.
Até uma próxima.
by: Shadow Shirami.