Miguel e Davi escrita por Lola Vésper


Capítulo 5
Capítulo 5 – Preciso Dizer que eu te Amo – 07/03


Notas iniciais do capítulo

Depois de dois capítulos meio down, finalmente um mais amorzinho kkk
Espero que gostem!



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A visão de Davi entrando no sebo fez o coração de Miguel disparar. Ele estava quase no fim de seu expediente e ficou feliz em ver o outro a aparecendo. Não podia imaginar o que ele estava fazendo ali, mas olhava os livros perto da porta, distraído. Os cabelos castanhos estavam arrepiados e ele usava uma camiseta sem manga e um short camuflado. Estava um pouco suado, dando a impressão de que correra antes de chegar ali.

Davi pareceu nem reparar na presença do outro, então ele saiu de trás do balcão e foi até o garoto.

– Posso ajudar o senhor? – Miguel perguntou como estava acostumado a fazer quando a pequena loja tinha clientes.

Os olhos mel pingados de verde levantaram da capa de um livro que ele tinha em mãos, encontrando os olhos castanhos de Miguel.

Um pequeno sorriso brotou no rosto de Davi. Havia algo de pervertido em seus lábios que deixou Miguel ligeiramente constrangido.

– Só estou dando uma olhada… – ele disse. – E esperando um amigo sair do trabalho.

Ele não soube o que dizer. Davi estava ali simplesmente esperando ele… Normalmente odiava trabalhar no sebo, os livros velhos fazendo o seu nariz coçar o tempo todo e as longas horas parado esperando algum cliente. Porém o pior era quando tinha de fato um cliente. Não era o maior fã de falar com pessoas desconhecidas.

Mas, não eram todos que tinham a sorte de ter pais lhe mandando dinheiro como Bia. E as opções eram trabalhar no sebo durante a tarde ou morar na rua.

Parecia uma decisão fácil de fazer.

– A Bia me contou que ia te encontrar aqui – Davi confidenciou, em um tom mais baixo, como se fosse um grande segredo.

– Ah! – ele disse. – Certo. Vai querer alguma coisa?

– Muitas coisas… – ele sorriu, com aquele olhar cheio de malícia.

– Não. – Miguel falou, meio constrangido meio divertido. Ele apontou para a mão de Davi – Estou falando dos livros…

– Claro que está! – ele riu. – Claro que está.

Os dois ficaram em silêncio. E Davi olhou para o livro que tinha em mãos por algum tempo. Depois se virou para o amigo:

– Já leu?

Davi segurava uma versão de Édipo. Miguel conhecia o mito grego sobre o homem que se matara o próprio pai e casara com a própria mãe, apesar de nunca ter lido o livro. Ele foi sincero e esperou enquanto o outro ainda dava mais uma olhada no livro.

– Acho que vou levar. – ele falou. – Não soaria bem vir até aqui, tomar seu tempo, e não comprar nada! Quanto custa?

Miguel levou Davi até o balcão e cobrou o livro.

Por fim, ele percebeu que já estava na hora de ir embora, e tirou o crachá, indo para os fundos da loja para pegar sua mochila e avisar o dono, seu Chico, que estava indo embora.

Miguel e Davi saíram do sebo lado a lado. Normalmente o primeiro teria andado até em casa, mas o segundo lhe revelou que estivera correndo na beira da praia ali perto e que estava cansado. Davi falou que morava ali perto e perguntou se não queria dar uma passada no apartamento dele.

– Claro! – Miguel respondeu, sorrindo.

E, foi assim que eles subiram as escadas de um prédio de esquina para o apartamento onde Davi morava com o pai e a irmã.

– Quer comer alguma coisa? – o de cabelos arrepiados perguntou, deixando seu o livro que acabara de comprar em cima do sofá e indo para a cozinha.

– Quero – Miguel respondeu parando na sala.

A sala não era muito grande, mas bagunçada o suficiente para você saber que seus moradores não eram muito fãs de limpeza. Tinha um quadro com uma flor na parede e uma teve antiga em um móvel.

– Miguel! – Davi gritou da cozinha. – Você gosta do quê?

– Ah… – ele respondeu, tomando o cuidado de não falar alto demais para não soar mal-educado. – Como qualquer coisa que você comer.

Algum tempo depois, Miguel se viu sentado em na sacada do apartamento, sentado em uma cadeira de madeira ao lado de Davi, rindo e comendo iogurte de banana.

Sentia-se bem com Davi. Sempre se sentia. Era diferente de estar com Bia ou algum outro amigo. Davi era… Digamos que despertava sentimentos em Miguel.

– Hum – Miguel disse, limpando a boca suja de iogurte, depois de uma risada particularmente alta. – Você tem certeza de que seu pai e sua irmã ainda vão demorar a chegar?

– Positivo – ele respondeu, concordando com a cabeça ao mesmo tempo. – Ela faz um curso noturno e ele saiu com a nova namorada e não vai voltar cedo.

Miguel olhou para Davi, olhou para os olhos mel dele. Pensara por muito tempo naquele momento. Tinha que ser. Tinha que falar. Estava certo de seus sentimentos e precisava confessar ao outro. Se não fizesse, as coisas poderiam acabar piores. Esperou Davi olhar para ele também começou:

– Eu…

Mas engasgou logo no começo. Procurara o momento certo por muito tempo e agora que finalmente soava adequado, ele não conseguia dizer. Era três palavras simples. Ele o amava. Já trocara beijos com Davi algumas vezes, mas era tão complicado quando algumas vezes eles agiam simplesmente como amigos, como se nada tivesse acontecido…

O problema era que tinha. E Miguel sabia como se sentia sobre isso. Precisava saber o que Davi sentia também.

– Eu, eu…

– Sim? – Davi olhou ansioso para ele, esperando que ele terminasse de falar.

Miguel estava perdido nos olhos de Davi. Contou até três e respirou fundo. Aquele era o momento de perdê-lo ou ganhá-lo definitivamente.

– Eu te amo – disse por fim.

Davi não disse nada nem fez nada por um tempo. E, foi essa falta de reação que deixou Miguel nervoso. Se ele tivesse rido e falado que só podia ter enlouquecido e que não correspondia o sentimento, Miguel teria ficado chateado, mas seria melhor. Qualquer coisa teria sido melhor do que aqueles segundos que se seguiram depois de ter dito aquelas três palavras. Nada teria feito mais mal aos nervosos de Miguel que não aquela ansiedade.

– Eu te amo também, Miguel. – Davi respondeu por fim, um sorriso rasgando seu rosto subitamente. Então, aproximou-se do outro e beijou-o.

Miguel fantasiara muitas vezes sobre como seria dizer que amava Davi. Não espero que fosse logo depois de sair do trabalho, na sacada de um prédio de esquina enquanto as primeiras estrelas começavam a pontilhar o céu carioca e um carro buzinava na rua.

Não foi perfeito, mas Miguel amou.


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Notas finais do capítulo

Comentários? *-*



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