Scorpius estava acordado há cerca de cinco minutos, porém se recusava a abrir os olhos. E os motivos por não querer abri-los eram inúmeros. Toda sua cabeça doía como se estivessem a batido incessantemente na parede. Demorou um pouco para entender o que estava acontecendo, concentrou-se em buscar suas memórias de bêbado e, quando as mesmas invadiram sua mente como um flash back, soube o quão fodido estava. Quer dizer, os últimos momentos com a Weasley... Ah não! Só esperava que a ruiva acordasse com uma grande amnésia.

Talvez estivesse cego mesmo, não conseguia assimilar os acontecimentos da noite passada muito bem e, para completar, a ressaca não ajudava nenhum pouco. Após vários minutos se remoendo internamente, decidiu tomar um banho. Obviamente, ele estava enlouquecendo por querer tanto a insuportável da Weasley para si. E, por mais que odiasse sequer pensar nisso, a aposta estava cada vez mais longe de ser o motivo de tal aproximação.

O dia anterior provara isso como um tapa na cara bem estalado, ele sequer pensou na aposta ou na merda de sua dignidade quando estava cantando sobre galinhas que se chamam Marilu e dançando alegremente com A WEASLEY. O pior de tudo isso é que ele havia GOSTADO... muito. Ok, talvez estivesse ficando esclerosado. Ou talvez fosse apenas orgulhoso demais para admitir o que estava realmente se passando com ele.

Um rápido relance passou por sua cabeça.

“- Diga-me Rose – Zabine perguntou, lançando um olhar malicioso ara ele - Você gosta do Scorp?

– Eu não - a garrafa estava ficando vermelha - sei - e ficou normal novamente.”

Quando percebeu que estava esboçando um meio sorriso, do tipo apaixonadamente ferrado, já era um pouco tarde. Algo acendeu em sua mente, como uma lâmpada. E, ele soube mais do que nunca, que estava perfeitamente, redondamente, extremamente, profundamente ferrado.

Rose Weasley

Maldita dor de cabeça. Maldita bebida estúpida. Maldita fome absurda e maldita hora em que concordei participar daquela festa do pijama. E aqui estou eu, com uma senhora ressaca enquanto tomo uma xícara de café maior que eu.

Juro que gostaria de não me lembrar de nada, seria bem menos vergonhoso e embaraçoso. Porém, minha memória de elefante tinha que ser boa até mesmo quando eu estava bêbada. E quando digo bêbada, acredite. Onde eu estava com a droga da minha cabeça? Eu poderia ter me ferrado ou até mesmo levado uma detenção e perder minha suada reputação. Ou pior, ser expulsa. Mas, sinceramente? Não é isso que realmente me incomoda, quero dizer, o que foi aquilo com o Malfoy, meu Merlim?

EU DISSE QUE O CARA É UMA DELÍCIA. EU DANCEI COLADINHA COM ELE, EU QUASE BEIJEI ELE. Merda, Rose, como você faz uma coisa assim?

E claro, ainda descobri que não sei o que sinto por ele. E eu realmente não sei. Quer dizer, a garrafa estava enfeitiçada com a poção da verdade. Não teria como mentir nem se eu quisesse muito. O grande problema é que nem eu mesma sabia.

É pra rir mesmo. E depois chorar.

– Bom dia, senhora Malfoy – Lily disse sentando ao meu lado e pegando um bolinho. Sua cara está provavelmente pior do que a minha. O que é um bom consolo.

– Bom dia é um caramba, me chama assim de novo pra você ver onde vai parar esse teu cabelo ruivo água de salsicha.

– Já vi que o humor de vocês está maravilhoso! - Albus disse, rindo. Como esse idiota conseguia estar de bom humor?

Apenas o ignorei, virando minha cara para o outro lado. Sem me dar conta de que, advinha, eu estava olhando para a mesa dos sonserinos.

– Aliás, o que está fazendo na nossa mesa?

– Nossa, como você está áspera hoje, sinceramente.

Bufei, olhando novamente para a mesa sonserina.

O grande problema é que Malfoy estava olhando para mim. Por um momento nos encaramos e de repente ele estava vindo em nossa direção. MERLIM! Como eu queria ser um avestruz só para cavar um buraco no chão, enfiar minha cabeça lá e nunca mais sair. A vergonha me inundava, acho que cheguei a paralisar. E pasmem, por um pequeno momento me senti preocupada com minha aparência - que não é da melhores após um madrugada louca e uma ressaca filha da mãe.

EU AJEITEI MEU CABELO. Como isso foi acontecer? Desde quando eu me importava com o que ele achava de mim?

Ele simplesmente não tirava os olhos de mim, nenhum momento sequer. Eu realmente já considerava a ideia de cavar um buraco no chão, com a varinha mesmo. O mais engraçado era que todos olhavam para nós como se estivessem na expectativa de algo.

Scorpius Malfoy (Narrador)

Minutos antes

– Cara, o que foi aquilo ontem? - Zabine falou, enquanto massageava a área da cabeça jogado em um canto do dormitório sonserino.

Scorpius ignorou-o o máximo que pode, porém começava a ficar impossível. Já que o mesmo repetia a mesma pergunta sem parar e sua cabeça parecia que ia explodir. Preparava-se para descer para o Grande Salão e tentar comer algo aceitável, porém sentia uma espécie de vergonha alheia ou algo assim. E pela PRIMEIRA VEZ EM SUA VIDA, estava com medo de encarar uma garota. E o pior de tudo, o que deixava a situação mais ridícula ainda, era que essa garota era sua (nem tanto) odiada garota da aposta, Rose.

Há alguns minutos, enquanto tomava seu banho relaxante e se afogava nas mágoas de sua maldita aposta e maldita ressaca, o loiro chegou à maldita conclusão de que aquilo havia saído de seu controle. Ele queria a ruiva mais do que já quis qualquer outra garota e NÃO ERA PELA APOSTA. Era algo mais. Algo que ele não sabia ainda. Ou talvez simplesmente fosse orgulhoso demais para admitir.

– Aquilo o que?

– Qual é Scorp? Não venha bancar o loiro burro - Zabine disse, vestindo o uniforme sem ao menos tomar um banho.

Scorpius revirou os olhos.

– Eu sei que você lembra muito bem do que aconteceu. Vocês se beijaram?

– Não.

– Sério? Você é muito lerdo, cara.

– E você é muito idiota.

Zabine riu alto, encarando o amigo de forma maliciosa.

– Ao menos, meu caro, eu sei quando gosto de alguém e não ajo como um legume sem cérebro.

– Legumes não tem cérebro, de qualquer forma - Scorpius disse, de forma azeda. Pela primeira vez, começava a entender as brincadeiras e indiretas dos amigos.

– Vai levar essa aposta adiante? - Zabine disse de forma séria, o que surpreendeu Malfoy.

O loiro não respondeu nada, sentia-se cada vez mais culpado por ter apostado Rose. Quando fez isso, pensava nela diferente. Agora, bom... não sabia muito bem.

– Cuidado para não se arrepender depois, Malfoy.

– Como posso saber que não está dizendo isso só por que quer ganhar essa aposta?

Zabine encarou o amigo, Scorpius era um tapado mesmo. Estava na cara que ele sentia algo pela Weasley e mesmo assim o orgulho continuava lá.

– Vamos logo, Scorp. Temos aula de poções daqui a pouco.

Rose Weasley

Quando Scorpius parou bem a minha frente, me olhando nos olhos, percebi que estava com a boca entreaberta e também o encarava. A cena com certeza estava bem estranha. Ele me deu um selinho, rápido, quase ninguém viu. Eu fiquei extremamente chocada. E quando estava me recuperando do choque, o loiro me entregou um bilhete e piscou. Minha boca quase toca o chão.

– Sinto muito por cortar o clima do casal, mas temos um pequeno probleminha - o idiota do Albus. Não sei por que estou com raiva por ser interrompida nesse pequeno momento anormal, isso esta definitivamente sem limite. Guardei o papel que Malfoy me deu para lê-lo depois.

– Qual o problema dessa vez? - Lily perguntou, levantando a cabeça pela primeira vez desde o bom dia. Seus olhos estavam fundos e com bolsas gigantes negras. Ela parecia uma noiva ruiva cadáver ou um zumbi ruivo. E pude perceber um pouco de tristeza também, o que me intrigou um pouco.

– Ontem, na hora que estava voltando para meu dormitório, acabei esquecendo minha varinha em algum lugar no caminho.

– O QUE?

– Calma Rose - Malfoy disse - Quer dizer... ér, Weasley. Podemos procurar, não é como se pudessem nos expulsar por algo assim.

– O problema é que todos sabem qual é a varinha de Albus Potter, já que ele tem essa mania irritante de querer ser sempre o centro das atenções. - Lily disse.

– Não é o fim do mundo - Albus falou - Só preciso da ajuda de vocês para pegar a varinha no dormitório feminino da Grifinória sem que ninguém veja.

– O QUE? EXPLICA ISSO DIREITO!

– O problema é que uma menina da Grifinória encontrou minha varinha e não quer devolver.

– Como você sabe que essa menina está com sua varinha?

– Porque ela me falou.

Nesse exato momento entendi a situação e me deu muita vontade de rir.

– Não me diga que foi quem estou pensando?

Albus apenas acenou a cabeça.

– De quem vocês estão falando?

– Da Isabela, aquela do ano passado que conseguiu - até hoje não sei como - roubar as cuecas do Albus.

Todo mundo riu, pela primeira vez no dia.

– Aquela? Que colocou fogo no casaco preferido dele por que ele não quis levá-la a Hogsmeade?

– Sim, ela mesma! - disse, rindo. Isabela Schereave era uma perseguidora de carterinha do meu primo, nos últimos meses ela havia dado trégua a ele, já que quase foi expulsa da última vez. Mas pelo jeito já estava de volta à ativa. Ela é uma louca! E quando digo louca, não estou exagerando.

– Com tanta gente, por que ela que foi achar essa porcaria dessa varinha?

– Tenho a sensação de que ela me persegue.

– Ah não...

– O que foi? - Olhei para onde o mesmo estava olhando - Ah não...