Nascida nas Sombras escrita por Bruna Ribeiro


Capítulo 16
Capítulo 15




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CAPÍTULO 15 - PRAZER, SENHOR.

–Alexander – Florence segurou na camisa do garoto e o puxou em sua direção, fazendo-o parar de andar mais rápido em sua frente.

–Oh, quanta delicadeza – ele tirou a mão dela da sua camisa – O que foi?

–Não acho que deveríamos ter deixado a bota naquela salinha.

–Como você disse, minutos antes, ninguém vai lá. E, de qualquer jeito, eu escondi muito bem. Nós nos preocupamos com ela depois.

–Eu.. Eu me recuso a acreditar que aquilo é sangue.

–O que acha que é? Tinta talvez? – ele quase riu – Bem, segundo você então, uma pessoa pisou em uma poça de tinta vermelha que cheirava a sangue?

–Fique quieto, só era forma de falar.

–Olha, esqueça isso por um tempo, okay? Estamos atrasados para o almoço, a campainha já vai bater.

–Aquilo era sangue!

–Shhhh – Alexander olhou ao redor, quase assustado com a possibilidade de alguém ter escutando a conversa.

–Aquilo era sangue – Florence repetiu, agora quase como um sussurro – Não posso simplesmente ‘’Ah, era sangue? Bem, o que é uma bota cheia de sangue perto do meu almoço?’’

–Florence, não podemos levantar muitas suspeitas quanto a nossa parceria. Mais do que já levantamos, quero dizer.

Ela assentiu com a cabeça.

–Você sabe o que a bota significa, não é? – perguntou logo depois.

–É claro que sei – ele respondeu – Ou o assassino esteve aqui para uma rápida visita ou nunca saiu desse lugar.

–E.. A-Anna?

–Ela continua na minha lista.

–Eu não sei mais o que pensar. Essa escola é tão confusa e ainda tem meu pai.

–O que tem seu pai?

–Não te interessa.

–Sempre doce, eu vejo.

–De qualquer jeito, tenho muitas perguntas em relação a tudo isso e inclusive em relação a mim.

–Bem, nesse final de semana é o dia de visitas. Minerva geralmente o marca bem perto do começo das aulas para que os alunos se sintam mais confortáveis com a escola, recebendo apoio dos pais. Isso também porque alguns Filhos da Noite são muito apegados ao parentes, o que dificulta um pouco.

–Engraçado você falar isso, porque não vejo tanto amor aos iguais nesse lugar.

–O que quer dizer?

– Embora algumas pessoas tenham me odiado e outras pessoas até chorado, agora elas não parecem sentir tanto pelas duas garotas mortas.

–Somos assim, Florence, a nossa dor dói como a de todo mundo, mas a nossa recuperação é rápida. Nós aprendemos isso desde o começo de nossas vidas.

–Por quê?

–A morte não está tão longe da noite. Nós temos que saber lidar com ela também.

–Nossa – Florence suspirou – Vocês são bem loucos.

–Nós – corrigiu – Agora você, eu querendo ou não, é uma de nós.

–Bem.. Ah.. Você disse que nesse final de semana vamos poder receber visitas?

–Sim, eu disse.

–Minha mãe me garantiu que ia me ver, mas eu não liguei porque estava com raiva. Acho que ela pode ser útil para responder o que preciso.

–Por que acha que eu te falei sobre a visita?

–Alguém já te disse que você tem que parar de parecer tão metido a inteligente e convencido?

–Alguém já disse o mesmo a você?

–Alexander eu estava... – Mayre, que surgiu em um dos corredores perto dos dois, se interrompeu quando percebeu que Florence estava com Alex – Ah, vocês dois.

–Sim? – Alexander perguntou, tentando parecer despreocupado – Algum problema? Porque você veio...

–Yeah, bem, falta muito pouco para a campainha soar e você não aparecia, eu achei...

–Oh, sim, tinha esquecido – ele sorriu – Obrigado, Mayre – foi a vez dela sorrir.

–Já eu agradeço por ignorarem a minha existência com seus sorrisinhos. Obrigada mesmo. Hey, Mayre, oi para você também. Sim, estou ótima e meu dia está maravilhoso.

–Bem, oi, Florence – Mayre parecia constrangida, o que sua colega achou adorável e hilário.

–Você realmente consegue ser desagradável, minha nossa – Alexander reclamou.

–Guarde essa ‘’sua nossa’’ para depois, porque agora estou com fome.

E, com a arrogância lá em cima, Florence caminhou até o refeitório.

[....}

–Onde você estava, garota? – Anna parecia quase histérica quando Florence se sentou na mesa ao seu lado – Garota, Minerva estava pronta para acabar com você.

–Ah, é?

–Não só com você. Com muita gente atrasada. Inclusive Mayre e Alexander e uma menina do lado do nosso quarto...

–Sim, sim.

Florence comeu um pedaço de alguma coisa que não sabia bem do que era, mas que tinha certeza que havia queijo. Quando a comida tocou seu paladar, ela ficou levemente satisfeita por estar deliciosa.

–Ei, soube sobre o dia das visitas? – Anna perguntou, encarando-a com expectativa.

–Sim, soube.

–Eu mal posso esperar para que ele chegue. Minerva ainda está decidindo se pode acontecer sábado ou domingo.

–Eu também mal posso esperar – Florence disse, sem saber se acabara de mentir ou de confessar alguma coisa.

–Meu pai me ligou ontem e confirmou que vem. Nem consigo conter minha animação. – Anna finalmente ganhou a atenção de sua amiga, que agora parecia paralisada – Meu irmão mais novo, Drake, também está louco para me ver. Tomara que chegue logo.

–Seu pai vem?

–Sim. Sua mãe vem?

–Acho que sim.

–Isso vai ser tão legal! – ela deu um pulinho em sua cadeira – Você vai me apresentar para a sua mãe como sua melhor amiga?

–Vou?

–Eu sabia que iria.

–Era uma pergunta!

–O que era uma pergunta? – Anna juntou as sobrancelhas, segurando o garfo.

–Esquece – Florence suspirou.

[...]

A semana realmente passou como um borrão.

Havia tanta coisa para se fazer e tanto problema acumulado, que parecia tudo muito pior do que realmente era. A cabeça de Florence começou a doer todas as noites, por conta dos treinamentos exaustivos e de Alexander, que não gostou nenhum pouco da visita que o pai de Anna faria em breve a escola. ‘’Ele nunca vem para esse tipo de coisa’’ ele falou a ela, noites antes ‘’Me lembro do irmão de Anna passar a vida inteira aqui e ele nunca o veio visitar uma vez, sequer. Duvido que com Anna seria diferente. Há algo mal explicado’’. Mas tudo parecia estar mal explicado, naquela história.

E o afastamento de Alexander, depois de receber a noticia da visita, não ajudou em nada. Era óbvio que ele estava arquitetando alguma coisa e o que mais irritava Florence era que ela não sabia de absolutamente nada. Ninguém mais via Alexander com frequência depois da conversa que eles tiveram, com exceção de Mayre. Essa, Florence percebia, fazia questão de vê-lo uma vez por dia, pelo menos. E embora tentasse falar com ele (ela piscou algumas vezes para Alexander no refeitório e deixou cair alguns talheres perto da mesa dele, uma vez) ele parecia ignorá-la.

Florence estava pronta para discutir e arrancar a verdade, mas uma coisa chegou antes. A visita dos pais.

Ela queria muito ver a mãe, depois de tantas brigas e divergências, queria tentar deixar tudo quase okay com essa parte de sua vida, mas quando o dia finalmente chegou, ficou sem ter essa certeza.

–O que achou dessa? – Anna saiu do banheiro com uma roupa azul escura, bem diferente da anterior que havia mostrado – Particularmente gostei mais dessa aqui. Combina com o jeito do meu pai.

–Eu gostei dessa.

–Foi isso que disse na última, Florence.

–Foi porque eu gostei das duas.

–Fale a verdade!

–Estou falando!

E ela quase riu quando pensou ‘’Definitivamente estou mentindo. Você está parecendo um pavão, Anna, mas eu quero ir embora desse quarto’’

–Você acha mesmo que ficou bom? – Anna perguntou de novo.

–O jeito como essa roupa te emagrece é surpreendente.

Anna arregalou os olhos e correu para frente do espelho. Bingo. Ela, como Vivian, deveria adorar que falassem esse tipo de coisa.

–Tudo bem, tudo bem – Anna disse, sem tirar os olhos do seu reflexo – Eu realmente estou maravilhosa. Vamos sair daqui, quero que o mundo me veja.

–Ah, com certeza ele vai ver você – Florence resmungou baixo, levantando da cama – Provavelmente o espaço inteiro está vendo você agora mesmo, com essa roupa.

–O que disse? Não ouvi.

–Eu disse ‘’Ah, Meu Deus, que cintura é essa? Eu quero para mim!’’

Anna tocou em sua cintura, comovida e disse um ‘’Vamos logo’’ totalmente orgulhosa.

As duas saíram do quarto e acompanharam várias outras garotas no corredor até o andar de baixo, onde pais, tios, primos e outros parentes os esperavam. Era realmente muita gente, mas não parecia ser um problema.

Quando as duas terminaram de descer as escadas, ficaram alguns segundos procurando rostos familiares em meio a multidão. Nada. Andaram por alguns metros e falaram com algumas pessoas (Anna, no caso) e então nada.

–Bem, realmente está complicado para nós, Flor – Anna comentou.

–Do que me chamou?

Mas Anna ignorou ou não escutou o que ela havia dito.

–Acho melhor nós separarmos – ela continuou – Não vamos ter muitas chances juntas. E se você achar sua família, eu vou ficar com cara de idiota porque não vamos conseguir achar quem procuramos ao mesmo tempo.

–Você tem razão.

–Eu sei – ela sorriu – Até mais tarde, Flor.

– Flor? – resmungou Florence, quando Anna já havia desaparecido de vista – Eu não gostei, não é o tipo de coisa que eu gostaria. Flor? Acho que o idiota do Peter me chamava assim.

–Lembrando velhos tempos? – alguém disse atrás dela.

Florence se virou, ainda furiosa com Alexander.

–Ah, minha nossa – ela exclamou para ele – Você fala!

–Hein?

–Essa semana inteira você me ignorou. Você me ignorou! Eu chamava e você virava a cara, idiota!

–Não me chame de idiota.

–Idiota.

–Nossa, quanta maturidade.

–Greve de silêncio não é muito mais maduro, idiota.

–Eu não estava fazendo uma ‘‘greve de silêncio’’ e a questão é que eu estava pensando sobre o pai de Anna.

–A semana inteira?

–É – ele respondeu, trocando o peso de um pé para o outro – E eu também queria me manter longe de você por esse tempo. Se Anna realmente estiver metida nisso, ela pode relatar nossa aproximação essa semana.

–E por que nossa aproximação nessa semana seria tão importante?

–Desde que eu soube que ela tinha comentando a visita que seu pai iria fazer hoje, achei que poderia ter sido o tipo de informação que eles quisessem deixar escapar de propósito. Seria importante mantermos esse afastamento, para o caso deles desconfiarem sobre as nossas desconfianças.

–Hum.

–Isso foi ‘’Você está certo, me desculpe’’?

–Isso foi um ‘’hum’’ e ponto.

–Agora sei porque me senti tão em paz esses dias.

–Já que pensou tanto tempo, que conclusão chegou?

–A mais óbvia.

–E qual seria?

–O pai de Anna veio aqui para vê-la.

–Sim, ele veio ver a filha.

–Estava me referindo a você. Ele veio ver você.

–Eu?

–Ele e seu pai eram muito amigos e se tudo o que está acontecendo nessa escola for obra dele, faz sentido.

–Eu...

–Não me admiraria ele vir falar com você em breve.

–E o que eu digo?

–Aja como sempre. Finja-se de uma completa ignorante.

–O que disse de mim?

–Estou dizendo no sentindo de ignorante aos assuntos, de não saber muito sobre eles.

–Para o seu bem, é melhor.

–Olha, eu venho aqui e falo sobre isso e você...

–Eu o quê?

–Sinceramente...

–Pela Noite – alguém exclamou atrás de Alexander, fazendo o virar na mesma hora – Eu nunca pensei que estaria vivo para ver um Woodley conversando com um Willis, depois de tudo o que aconteceu – o homem parecia se divertir com suas próprias palavras e Anna agarrada aos seu braços, juntamente com um garotinho de cabelos loiros, só fez Florence ter certeza do que já imaginava – Ah, sinto interromper. É que, essa garota aqui, não parou, um segundo, de falar sobre você, querida. E eu quis vê-la de perto. Prazer, sou o pai de Anna Jones.

É claro que é.


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