Estava parada em frente minha casa, encarando o batente da porta. A casa está quieta, talvez ele esteja dormindo ou talvez ele esteja me esperando. Entro em casa e percebo que papai está em sua poltrona e é claro, com a garrafa barata de whisky.

—Você demorou, onde estava? —perguntou ele quando percebeu minha presença.

—Err... eu estava com a banda.

—Hmm, estou morrendo de fome.

—Peço perdão papai e não se preocupe vou começar fazer agora—digo já encaminhando para a cozinha.

Abro a geladeira procurando alguma coisa para cozinhar, as únicas coisas que encontro são legumes, o que me leva a preparar uma sopa. Logo me lembro do Jornal Oficial.

Não ligo muito para a Seleção e muito menos para o príncipe. Mas a ideia me parece triste, quer dizer, será que o príncipe não sai com ninguém? Nunca se apaixonou?

Acredito que não para ter se decorrido a uma seleção aonde 35 garotas iriam lutar para conquistar seu coração. Apesar de achar a ideia horrível fui convencida a me inscrever. Srta. Robinson praticamente me obrigou e eu aceite pelo fato dela nunca ter tido uma filha e me considerar como uma. E por sempre me ajudar principalmente nos momentos difíceis. Além do mais eu nunca seria escolhida, não sou como taynara. Eu sou bonita, admito. Mas eu não sirvo para isso, não penso em um futuro sendo casada com alguém que eu não amo e muito menos ser rainha. Acho que por ter a maioria de amigos homens e por ser criada com Eliseu eu tenho uma temática diferente sobre o amor. Apesar de ter todos os cara de Dover na minha mão eu nunca me apaixonei. Nunca fui beijada e nunca me entreguei. Não me dou muito bem com a maioria das garotas de Dover, por motivos coerentes. Elas sempre falam de meninos, fazem fofoca e me odeiam completamente. Termino a sopa e deixo na bancada para esfriar.


—Papai será que poderia ligar a TV por alguns instantes?—pergunto.

—Hmm... não pago força para você ficar assistindo coisas inúteis na TV, Bella—disse ele sem emoção.

Como eu queria que hoje em dia o Jornal Oficial fosse obrigatório, mais infelizmente não. Muitas coisas mudaram desde do reinado de Maxon e America.

—Por favor—Implorei—hoje serão apresentadas as selecionadas.

—Tudo bem—ele vacilou depois de quase me ajoelhar.

Arrumei a mesa e peguei a sopa, enquanto ele se sentava a mesa. Ele exalava o hálito de bebidas, apesar de que ele não estava tão bêbado quanto costumava ficar. Coloquei a sopa em um prato e entreguei para meu pai.

Liguei a TV bem na hora que o incrível e velho entrevistador Gravil Fadaye voltava-se para a rainha.

Ela sorria, um sorriso sereno, mais encantador. Não sei como eram as outras garotas que competiram com a rainha, mas duvidava que alguma delas fosse mais graciosa e linda que ela. Suas palavras sobre o conselho para as selecionadas foram sábias e graciosas:

—Seja você mesma, não se disfarce através de uma mascara. Sejam puras. A partir de hoje vocês não serão mais as mesma, podem acreditar nisso, mais não mudem quem vocês são por dentro. Não deixem que toda essa luxuria estrague a garota que existe dentro de você, isso não é um jogo, muito pelo contrário. Uma de vocês será à futura rainha de Illéa e principalmente esposa de meu filho.

—Como sempre nos surpreendendo, com suas palavras belas e sabias, majestade. E agora vamos revelar as trinta e cinco jovens escolhidas para a seleção. Senhoras e senhores, unam-se as minhas felicitações para as seguintes filhas de Illéa!

O brasão nacional apareceu na tela. O rosto de Austin aparecia em um quadradinho no canto superior direito. A ideia era mostrar as reações dele diante das fotos que iam surgindo no monitor. Acreditava-se que ele já demonstraria alguma opinião sobre elas, como nos também faríamos em casa.

Gravril tinha uma serie de fichas na mão, e estava pronto para ler o nome das garotas que, segundo a rainha, estavam para ter a vida mudada para sempre. A seleção começava naquele exato momento.

—Senhorita Annabelle Mitchell, de Oxford.
A foto de uma menina delicada com pele de porcelana apareceu. Parecia uma dama, com o jeito tímido, e com aqueles incríveis olhos verdes. Austin pareceu animando.

—Senhorita Nathalie Tompson, de Middlesbrough.
A foto de uma jovem morena, com incríveis olhos azuis penetrantes. Ela parecia mais velha, mais madura. Austin cochichou algo para a Rainha.

—Senhorita Thayla Stoles, de Hansport.
Era uma Loira de olhos flamejantes. Ela parecia radiante, mais ao mesmo tempo esnobe, me lembrou vagamente Taynara.

Virei para papai que estava na mesa, mais com os olhos vibrados no monitor.

—Ela não parece um pouco...

—Senhorita Anna Bella Miller, de Dover.

Voltei os olhos para a TV, no susto. Lá estava minha foto tirada logo depois de Eliseu oficializar mais três novos shows na semana. Eu parecia incrível. Meus olhos, pareciam tão... tão angelicais e profundos. Meus longos cabelos loiros caiam em cachos por minha face, estava tão linda. Nem pude perceber a reação do príncipe, pois estava chocada de mais, não ouvia mais nada e minha visão foi totalmente tomada por desespero.

Oh não, eu estava na seleção.

Olhei para trás, para meu pai. Ele parecia desesperado, seus olhos azuis agora tinham uma tonalidade sombria, por um momento tive medo do que aconteceria a partir dali. Lágrimas caiam sobre minha face enquanto tentava assimilar tudo aquilo. A fixa só foi cair quando papai se levantou e caminhou até a porta. Oh não, não, não.

Eu sabia o que viria a seguir.

Ele a trancou e caminhou até mim, que agora estava de pé o encarando.

—O...o que você fez? —ele sibilou calmamente, mais com um olhar sombrio.

—Eu, eu... não tinha ideia que... que isso iria acontecer—tentava me controlar entre as lagrimas e... o desespero.

—Sabe o que você é Bella?—disse ele rugindo. Balanço a cabeça, em negação—Sabe o que você é Bella, me responda! —berrou ele, pegando meus pulsos.

—Não, não, não... eu não sei o que eu sou—digo transbordando entre lágrima e lágrimas.

—Você é uma ingrata—sussurrou ele no meu ouvido—você ira me deixar como sua mãe me deixou, você voltara para aquele castelo com ela foi e você não voltara inteira para mim. Você... você será igual eles, eu, eu... eu cuidei de você...e você se apaixonara por aquele principezinho metido. Você vai se esquecer de mim, você não voltara pra mim... você não voltara para mim Bella, ela não voltou... e você...e você também não voltara... —disse ele me surpreendendo. Oh não, não papai. Eu nuca o deixarei.

—Papai, eu não te deixarei. Eu nunca de deixarei.

—Sabe o que você é Bella? —perguntou ele novamente.

—Não, não, não papai, eu não vou te deixar acredite em mim, por favor—digo tentando abraça-lo.

Ele suspirou com meu ato e então me agarra pelo pulsos novamente me forçando a olha-lo.

—Sabe o que você é Bella? —perguntou ele calmamente me causando medo e apavoramento.

—Por favor—Implorei.

—Você é igual a ela, você é igual a ela, você, você.... Você é uma ingrata—disse ele—e.. e pessoas ingratas tem o que merecem—seus olhos escureceram, dando ênfase a última frase. Não, não, de novo não.

Ele me soltou e começou arrancar o sinto da sua calça, me afastei voluntariamente.

—Por favor, por favor, por favor—digo, sussurrando entre os soluços e convulsões.

—Por favor o que Bella? —diz ele friamente, se aproximando cada vez mais.

—Não faça isso, por favor! —Implorei mais era tarde demais, ele já tinha me acertado.

Como isso doía, outro golpe foi dado e outro e outro...a dor ia se dizimando, como a água exora pela cachoeira. A dor me corroía, me machucava e me quebrava. Ele me batia sem dó ou sem piedade e esse sentimento me machucava ainda mais, me quebrando numa dor profunda e sentimental, que me levava a escuridão, ao abismo. Cada golpe relembrava cada momento que passei.... Cada lembrança... cada cicatriz...minha vida era como um labirinto, você sempre tenta se esquivar ou tentar sair dele. Mas ele é astuto, ele é inteligente, ele te pega nos momentos frágeis, nos momentos inexplicáveis onde você pensa que venceu, quando você pensa que há luz, que finalmente há esperança.

—Você mereceu isso garotinha. Você não obedeceu o papai, você é desobediente. O papai apenas te consertou ok? Agora você vai dormir um pouquinho, amanhã será um novo dia—meus sentidos estavam se dissipando, não enxergava mais aquele que me carregava nos braços, não ouvia mais nada, e...e não sentia mais dor...

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Abro os olhos, desesperada me levanto. Tive novos pesadelos, pesadelos terríveis...onde fui sorteada para entrar na seleção... onde eu seria uma selecionada... e depois veio, veio...a dor...ainda me lembro de cada golpe, cada chicotada, cada chute.... Mas, mas... foi só um pesadelo, não? Me levanto e antes de mais nada, sinto a dor pulsando através do meu corpo inteiro. Minhas costas ardem com o movimento sinuoso, minhas pernas fraquejam e por um momento penso que vou desmaiar. Olho em minha direção, para meu corpo, e vejo... vejo as marcas...o sangue ainda recém seco.

Oh não, não, não.

Aquilo não foi um pesadelo, foi real. As lembranças vagam em minha memória lembrando das palavras de papai “Você me deixara, assim como ela me deixou” “Você é ingrata” “Você não obedeceu o papai”, isso significava que entraria para a seleção, que me tornaria uma selecionada, que entraria para uma disputa que nem sequer fazia parte, significava que deixaria meu pai... que deixaria meu mundo obscuro, que deixaria a todos. Eles iam me mudar? Eles me transformariam? Eles me resignariam a ser cruel? Eu não queria isso. Eu não quero entrar para a seleção. Eu não quero ser uma selecionada. Eu não quero a coroa e principalmente... Eu não quero o coração do príncipe.