Inesquecível escrita por Ju Dantas


Capítulo 5
Trecho do Diário de Isabella King




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Trecho do Diário de Isabella King

(sem nada definida)

Eu o odeio. Odeio com todas as minhas forças. E eu aposto que minha mãe o odiava também. Por isto ela preferiu morrer.

Talvez eu também prefira morrer do que ficar aqui.

Eu simplesmente sei que esta pessoa não sou eu. Isabella King. Filha do homem mais rico da cidade. Invejada por todos. Eu tenho vontade de rir quando as pessoas me dizem como sou privilegiada. Como gostariam de estar no meu lugar. Ótimo, eu trocaria de lugar com quem quer que fosse se me fosse permitido.

Acho que Gianna amaria ser eu. Ela sem dúvida daria pulinhos de felicidade em seus saltos Manolo Blanc, comprados com meu cartão de crédito, quando eu ainda acreditava que ela queria ser minha amiga e lhe cobria de presentes caros, porque ela ficava toda feliz com isto.

Mas Giana era como todos os outros. Ela apenas queria aquilo que o dinheiro do meu pai podia lhe proporcionar. E se para isto ela tinha que fingir que gostava de mim, então ela fazia isto.

Eu não me lembro bem quando começara a perceber que ela era apenas uma vaca invejosa, mas acho que foi quando comecei a perceber que toda a felicidade que me fazia acreditar que eu devia ser grata, simplesmente não existia.

Eu era uma farsa.

Toda minha infância rodeada de babás austeras e brinquedos fabulosos, me sentindo mal por deixar meu pai bravo quando eu me esgueirava até seu escritório para implorar que ele lesse uma história pra mim, apenas para ser enxotada de lá, porque ele tinha coisas mais importantes pra fazer. Quando entrei na adolescência eu percebi que coisas mais importantes nem sempre tinham a ver com negócio e sim com alguma mulher jovem e bonita que pulava quando ele dizia pule e que sairia rapidamente da sua vida quando ele se cansasse, mas muito feliz por estar coberta de joias.

Eu me perguntava se minha mãe se parecia com alguma delas. Meu pai nunca falava dela. E na minha curiosidade infantil eu cobria todo mundo de pergunta, mas ninguém parecia disposto a quebrar o silêncio, que só mais tarde entendia ser um silencio imposto por meu pai.

E fora quando eu começara a me tornar mais questionadora que meu pai também se tornara mais presente na minha vida. Mas não como eu sonhava antes, mas sim para segundo suas próprias palavras que ele fizera questão que eu nunca esquecesse “fazer com que eu me tornasse uma verdadeira King, dando valor ao que ele me proporcionava e sendo grata, não fazendo perguntas idiotas ou agindo feito uma criança rebelde. Afinal, eu era uma rica herdeira e tinha que me comportar como tal.” E rapidamente eu me certificara de que isto significava me vestir como uma princesa e me comportar como uma. Colégios caros, aulas inúteis, como ballet, equitação e piano, que por mais que tentassem, não conseguiam fazer com que eu fosse soubesse fazer um passo de dança descente, tocasse qualquer sonata que fosse direito ou me mantivesse sobre o cavalo sem cair de cara no chão. E isto só deixava meu pai mais furioso.

Por que eu não podia ser como as outras garotas? Por que eu tinha que preferir ler livros antigos e ouvido música sozinha? Por que eu detestava ser o centro das atenções, me vestir bem e falar sobre as últimas fofocas com as outras garotas ricas?

Foi então que surgira Giana. Nós tínhamos a mesma idade e sua mãe, Chelsea, a irmã mais velha do meu pai, acabara de se divorciar do terceiro marido, que a deixara sem um tostão. O que fizera com que ela se mudasse com a filha para a mansão King. Meu pai achara que Giana seria uma boa influência sobre mim. E para uma garota de 16 anos, deslocada e tímida que nunca tivera uma amiga de verdade, eu também me iludira achando que seria assim.

No fundo, eu ainda era uma menina carente que queria desesperadamente deixar meu pai orgulhoso, para quem sabe assim, ele gostasse mais de mim. Então eu deixara Giana me moldar em alguém parecido com ela. Ela era bonita, descolada e elegante. Começara a estudar no mesmo colégio exclusivo de garotas que eu e rapidamente me levara para as melhores rodas. Antes, eu hesitava em participar de qualquer grupo, por me sentir muito diferente das outras meninas, mas agora elas pareciam me aceitar muito bem. E por algum tempo, eu me enganara que era feliz assim, sendo uma delas. Gastando dinheiro com roupas, joias e sapatos. Passando horas em spas para participar de festas e reuniões da mais alta roda.

E meu pai ficara nas nuvens. Finalmente eu me transformara na herdeira King.

Mas se eu achava que ele viraria um pai amoroso e presente, que me colocaria em seu colo e me contaria como fora sua história com minha mãe eu estava muito enganada. Não demorou para eu descobrir que ele queria apenas me exibir como um de seus carros caros. Ou como seu negócio mais bem feito.

Eu era Isabella King, um objeto para ser exibido e invejado. Mais um nas aquisições de Royce King.

Então eu começara a me cansar de tudo aquilo. E a perceber que toda a felicidade a minha volta era apenas uma ilusão.

Eu odiava aquelas roupas. Eu não via nenhuma graça naquelas festas. As garotas que se diziam minhas amigas queriam apenas ser “a amiga da herdeira King”. Gianna percebera meu crescente descontentamento, mas continuara a me encorajar a ser a mesma. “Você tem que ser grata por esta vida que tem! Sabe quantas pessoas gostaria de ser você? Olha a sua volta, você tem tudo e nem dá valor!” Ela vivia cada vez mais irritada com minha falta de interesse pelas coisas que ela dava tanto valor. E havia uma parte de mim que achava que ela tinha razão. Que eu devia mesmo ser feliz com o que eu tinha.

Por que eu não podia ser feliz? Por que eu não era feliz? Por que não me dava bem com meu pai? Quantas adolescentes podiam falar o mesmo? Talvez eu fosse só mais um clichê.

Então eu deixava me levar. Eu me tornara craque em fingir. Eu continuara sendo a herdeira King que todos admiravam e admiravam. Olhando para tudo a minha volta com um sorriso blase entediado, que todos achavam ser normal numa garota como eu. Mal sabiam eles que as vezes por dentro eu estava gritando.

Voltei a fugir para a solidão de meus livros sempre que possível, escrevendo em meu diário todas as minhas inseguranças e medos. No fundo, acho que já sabia que não havia nada de verdade na minha vida. Nenhuma amizade que fosse intima e desinteressada o bastante para que eu confessasse o que sentia.

Eu ainda me sentia extremamente solitária, mesmo com todas aquelas pessoas a minha volta, me bajulando. E claro que também tinha os garotos. Na maioria das vezes eles eram hesitantes. Eu era como uma princesa que deveria viver na torre de um castelo e todos sabiam que nem todos seriam aceitos na corte do rei Royce King para ter o prazer de cortejar sua herdeira. Era ridículo, mas quase assim.

No começo, eu não me importava muito. Eu era tímida e lia romances históricos demais. Achava isto quase romântico. Como se uma hora fosse aparecer um príncipe em seu cavalo branco e se apaixonar por mim perdidamente. Mas quando comecei a minha intensa vida social com Gianna, eu percebia como os garotos a rodeavam e não hesitavam em flertar descaradamente. Não era nada extraordinário, já que Gianna era linda. E ela não tinha um pai rico e temido.

Gianna era comum e podia ter quem ela quisesse.

E eu me toquei um dia que eu namoraria aquele que conquistasse meu pai primeiro. Esta era a mais constrangedora verdade.

E de nada adiantou eu ter minha fase de rebeldia quanto a isto, quando conheci um garoto que me interessou numa festa e tomara coragem de ir até ele e flertara descaradamente como vira Gianna fazendo tantas vezes, apenas para ele me dar o fora depois de dois encontros porque meu pai não tinha gostado dele e não o achara a altura de sua filha. Depois de eu dizer o quanto aquilo era absurdo, afinal eu tinha 17 anos e não era mais criança e podia namorar quem eu quisesse, Randall, este era o nome dele, dissera que meu pai ameaçara arruinar o pai dele, um novo rico na área de construção. Novo rico, mas não rico o suficiente, pelo o que eu entendera

Fora naquela noite em que eu tivera a primeira discussão feia com meu pai.

E fora também a primeira vez que eu percebi o quão duro ele podia ser quando contrariado.

Ele me deixara trancada no quarto por dois dias, depois de me arrastar para lá e gritar em alto e bom som que eu só sairia de lá depois que pedisse desculpas.

Eu chorara os dois dias seguidos dizendo que nunca pediria desculpas. Mas eu também sabia que de nada ia adiantar bancar a adolescente rebelde. No fundo, eu ainda me sentia meio culpada. E no final de dois dias eu pedira desculpas. Acho que tinha alguma esperança que ele sorriria e abriria seus braços para que eu me aconchegasse no meio deles. Isto nunca aconteceu.

Naquele dia eu não percebi que era apenas uma questão de manter o poder.

A mim, restava apenas ser a herdeira King, esperando que meu controlador pai arranjasse um pretendente a sua altura.

O que ele não contava era que eu poderia não estar nem um pouco interessada em ser apenas um fantoche naquela peça.

Porque eles não tardaram a aparecer. Alguns eram fabulosamente ricos. Outros apenas eram ótimas conexões para os negócios. Todos tinham duas coisas em comum: uma vontade vergonhosa de agradar meu pai em nenhum tinha um verdadeiro interesse em mim.

Eu rejeitei todos eles.

E isto só deixava meu pai mais irritado.

Eu ficava muito furiosa também. Mais brigas. Mais castigos.

E acho que com o tempo eu começara a apreciar.

Quando ele ficava bravo comigo, eu tinha sua atenção. Era quase masoquista.

Mas também era quase divertido pra mim. Era como eu o punia.

Era como eu me conectava com ele.

Quando eu fiz 18 anos, eu ganhei uma viagem para a Europa. Com Gianna, claro.

Uma segurança estava com a gente o tempo todo, enquanto nos hospedávamos nos melhores e mais caros hotéis.

Era tudo muito tedioso e previsível. Até que eu conheci Peter na Riviera Francesa

Ele era bonito, charmoso e estava com seu iate ancorado na costa. E não se acovardou diante do meu nome. Me tratando como uma garota atraente e interessante e por alguns dias fez companhia a mim e Gianna, tornando nossa viagem menos tediosa e mais animada.

Ele me beijara em frente ao mar numa noite.

E eu achava mesmo que ele estava interessado em mim. Até chegar no seu barco na tarde seguinte e pegá-lo na cama com Gianna.

Fora quando eu percebera que Gianna era apenas uma vaca invejosa e que não se importava em me magoar contanto que ela pudesse ter aquilo que ela achava que era meu.

Então, num átimo de rebeldia, eu fugi.

Fora o mais perto que eu conhecera da felicidade, por um tempo.

Uma semana, de total liberdade, apenas uma mochila nas costas, andando de trem e de ônibus, usando jeans e camiseta. Fazendo amizade com estranhos que não faziam idéia de quem eu era de verdade. Eu aprendi a fumar. Fiquei bêbada. Beijei garotos desconhecidos. Pela primeira vez eu me senti real.

Claro, minha fuga não durara muito. Meu segurança me achara e eu e Gianna fomos levadas de volta a Boston.

Eu me recusara a ir pra faculdade que meu pai escolhera. Eu achava que ele ia me obrigar a ir, mas isto não acontecera.

Eu achava que tinha vencido uma batalha. Mas eu devia saber que Royce King não dava nada de graça.

Eu tive certeza quando Demetri e Félix começaram a se aproximar de mim.

Eles não passavam de dois fantoches do meu pai. Eram seus executivos queridinhos. Os dois disputavam descaradamente sua atenção. E eu percebi a jogada. Meu pai sabia que eu não ia nunca continuar seu legado. Eu fora criada para ser a princesa.

Para ser a esposa de alguém que continuaria seu legado nos negócios. E muito provavelmente o bastão seria passado a Demetri ou Félix.

Eles só precisavam vencer a gincana “Quem vai conquistar Bella”

Mas mal sabiam eles que esta era uma batalha que eu escolhera vencer.

E eu já escolhera minha melhor arma e seu nome era Edward Masen.


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