Inesquecível escrita por Ju Dantas


Capítulo 4
Intrigante


Notas iniciais do capítulo

De novo, desculpa a demora! :)



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Intrigante – Que ínsita curiosidade; que consegue surpreender.

O detetive Crowley remexe em seus papéis sobre a mesa, procurando alguma alusão ao diário de Isabella King, mas sem encontrar nada.

–Está me dizendo que Isabella tinha um diário em seu quarto?

–Sim. - Edward Masen confirma com a cabeça.

–Fizemos uma busca completa em seu quarto e não foi encontrado nenhum diário.

O rapaz dá de ombro.

–Você viu este diário novamente depois daquele dia?

–Não.

–Isabella comentou com você sobre este diário alguma vez ou sobre o roubo do primeiro diário, fez alguma suposição, acusou alguém?

–Não.

–O que acha que aconteceu com o segundo diário? Acha que pode ter sido roubado como o primeiro?

–O senhor é o detetive aqui.

Crowley disfarça um suspiro impaciente. Sim, ele era o detetive, mas aquele caso estava cada vez mais intrigante.

Ele mira novamente o suspeito. Ainda podia continuar chamando-o assim?

Não sabia dizer, talvez ainda fosse cedo para fazer suposições.

Ele precisava ouvir mais daquela história...

Depoimento de Edward Masen

Algumas vezes na vida você se vê numa situação totalmente estranha e se perguntando como foi que chegou até ali. Era assim que eu me sentia, sentado num dos melhores restaurantes franceses da cidade, esperando Isabella King.

Olhava em volta, enquanto os garçons, meus companheiros de infortúnio, transitavam entre as mesas repletas de pessoas ricas e bem vestidas.

Será que eles sabiam que eu era um deles? Que, naquela noite, vestindo um terno emprestado do meu amigo Jasper, presente de sua fashionista namorada maluca, eu nada mais era do que uma farsa?

Eu ainda me perguntava que diabos eu estava fazendo ali, quando ouvi o som inconfundível de saltos altos se aproximando e levantei o olhar para ver Isabella King materializada em frente à mesa, ao lado do maître que parecia estar recepcionando a própria rainha da Inglaterra, enquanto afastava a cadeira para ela sentar.

Eu aproveitei aqueles segundos para medi-la, apreciando o vestido preto de veludo que abraçava seu corpo. Mangas compridas e decote canoa que deixava a clavícula à mostra. Quem diria que clavículas poderiam ser sexys.

Eu queria beijá-las.

–Espero que tudo esteja ao seu contento, senhorita King. – o homem praticamente fazia reverências. Isabella parecia não se importar.

Distante como a realeza, certamente.

Linda como uma rainha de verdade.

Seus cabelos estavam presos num coque frouxo, o que era quase lamentável. Seus olhos muito bem maquiados se prenderam em mim com um brilho de divertimento, enquanto o pobre homem continuava a listar toda a lista de maravilhas do lugar.

–Acho que a senhorita King já entendeu. – eu o cortei, só então ele pareceu me notar. E limpando a garganta com um pigarro, sorriu solícito.

–Querem ver a carta de vinho, senhor...?

Eu olhei para Bella levantando a sobrancelha interrogativamente.

–Vinho seria bom. – sua reposta pareceu satisfazer o maître, que se afastou com meneios exagerados.

–É sempre assim?

–Se quer saber se eles sempre começam a agir como fantoches de uma comédia de erros quando o nome King é citado, a resposta é sim.

–Isto parece te incomodar e te divertir ao mesmo tempo.

Ela deu de ombros.

–Hoje estou de bom humor.

Eu não sei por que aquilo me animou. Ela queria dizer que eu a deixava de bom humor? Eu queria acreditar que sim.

O sommelier se aproximou com o vinho, quase tão ridículo em sua ânsia de agradar Bella quanto o maître, o que só fez com que ela continuasse a esboçar um ar blasé e desinteressado.

–É realmente muito desconcertante. – comentei divertido quando o homem se afastou. Bella revirou os olhos por cima de sua taça de vinha tinto.

–É ridículo.

–Se odeia tanto este tratamento de realeza, por que quis vir aqui?

–É uma boa pergunta.

O garçom se aproxima e fizemos nossos pedidos.

Pelo menos o rapaz não parece muito impressionado por estar servindo Bella King.

Ela havia escolhido o lugar para nos encontrarmos, obviamente. E eu não fizera objeção. Embora eu devesse supor que era um local exclusivo e caro, eu só me dera conta do quanto, quando eu comentara com Alice que tinha um encontro e dissera o local e ela soltara um grito de admiração.

–Meu Deus, com quem você vai sair? Achei que estava sem grana, como vai levar uma garota num lugar deste?

Eu desconversara dizendo que a garota em questão tinha me convidado.

–Está saindo com uma garota rica? – os olhos de Alice brilharam de curiosidade, mas eu continuara desconversando, o que não era fácil em se tratando de Alice.

Jasper se limitara a me lançar olhares especulativos, mas nada perguntara, enquanto Alice me vestia como um boneco Ken e até insistira em pentear meu cabelo.

–Eu poderia ter sugerido outro lugar. – continuo.

–Por que não sugeriu? – sua voz era quase desafiante.

–Achei que você estava ditando as regras.

–Fico curiosa para saber onde me levaria então.

Eu sorri de lado, com um monte de imagem interessante em minha mente. Ah sim, havia muito lugares que eu gostaria de levá-la. Mas nenhum que seria aprovado, dado nosso status de namoro de mentira.

O que era definitivamente uma pena.

Muita pena.

Nosso pedido chega e eu me distraio, observando os movimentos que ela faz para levar a comida a boca. Ela tinha uma boca muito sexy.

De repente ela levantou a cabeça franzindo o olhar.

–Por que está me encarando?

–Levando-se em conta que estamos aqui para verificar as regras de nosso acordo, eu posso perguntar se é permitido dizer que você está linda esta noite?

Ela sorri daquele jeito que parece não acreditar de verdade no que eu falo.

Como se estivéssemos, ambos lá, apresentando um papel.

O que não deixava de ser verdade em absoluto.

–Você também fica bem em um terno.

–É do meu colega de quarto.

–Você tem um colega de quarto elegante.

–A namorada dele é uma fashionista que faz estágio com uma personal stylist.

–Fale-me sobre ela.

–Sério? Quer me ouvir falar sobre a maluca Alice?

–Gosto de ouvir sobre gente comum.

–Gente comum? Certo. Alice é adorável.

–Achei que fosse maluca.

–Maluca de um jeito adorável. Ela e Jasper namoram há quase um ano. Acho que são almas gêmeas.

–Acredita em alma gêmea?

–Você acredita?

–Nem um pouco.

–E seus pais?

–Minha mãe preferiu morrer a ficar com meu pai. Acho que entendo isto.

–Você odeia seu pai.

–Se importa se não falarmos do meu pai? Não quero vomitar sobre seu lindo terno.

–Tudo bem. Você quem manda. Então onde estávamos?

–Almas gêmeas

–Ah sim, eu acredito que meus pais eram almas gêmeas.

–Onde eles estão hoje?

–Mortos.

–Trágico.

–Realmente. – eu não consegui esconder a melancolia que me abatia sempre que eu me lembrava dos meus pais.

–Eu o deixei triste.

–É sempre triste.

–O que aconteceu?

–Minha mãe teve câncer e meu pai simplesmente não conseguiu vive sem ela.

–Acha que isto é amar? A simples ausência de alguém ser insuportável?

–Acho que alguns amores são inesquecíveis

–Você já teve um amor assim, inesquecível?

Imagens de Lauren atravessaram minha mente.

Ela fora meu relacionamento mais longo. O mais íntimo. O que achei que ia durar um pouco mais. Mas agora não conseguia me lembrar se desejei ser pra sempre.

Ela fora inesquecível?

Eu me lembraria de Lauren e do que vivemos pra sempre.

Mas eu já não me lembrava do amor.

Nem saberia dizer se fora realmente amor, daquele tipo, inesquecível.

–Você está lembrando. – eu voltei à realidade com seu olhar perscrutador.

Não havia mais aquele humor blasé em sua atitude. Ela parecia... curiosa.

Eu sorri, sacudido a cabeça.

–Não acho que ela era minha alma gêmea. Se é esta a pergunta.

–Então existiu um “ela”.

–Esta é a pauta de nossa conversa agora? Minhas ex? Talvez eu exija saber sobre seu histórico também. Há um “ele”? Há em algum lugar um amor inesquecível?

–Todos os homens só desejaram uma coisa de mim. E isto nem era meu de verdade. O dinheiro.

–Não acho que seja verdade.

–Não me conhece.

Eu queria dizer para ela que era impossível não olhá-la e não querê-la.

Me lembrei de Felix e Demetri. Giana havia dito que os dois pareciam competir entre si por Bella.

–Felix e Demetri parecem gostar de você.

–Como sabe sobre eles?

–Garçons não são surdos.

–O que ouviu? – ela não parecia muito satisfeita e eu quase me arrependia de ter colocado o assunto na roda.

–Não muito. Mas eu também vejo. E os dois pareciam correr atrás de você naquela festa.

–Também não quero falar dos dois fantoches preferidos do meu pai, se não se importa.

–Por isto me contratou? Para espantar os “fantoches” do seu pai? Um simples: “não estou interessada”, não seria suficiente?

Ela não respondeu.

Em vez disto, pediu a conta e eu entendi que a nossa noite tinha terminado. Bella não parecia mais estar em seu bom humor declarado do começo da noite e isto me deixava intrigado, para dizer o mínimo.

Eu estava também decepcionado. Quanto mais tempo eu passava com ela, mais eu queria.

Mas eu não falei nada enquanto ela claramente nem me perguntou nada enquanto colocou seu cartão de crédito na mesa.

Nós seguimos para fora do restaurante e eu vejo um reluzente BMW vermelho sendo trazida pelo manobrista.

–Este é seu carro?

–Um dos...

–Claro.

Logo atrás eu vi outro carro preto parado e o mesmo segurança que eu já tinha visto antes, parado em frente com cara de poucos amigos.

Bella acompanhou meu olhar e fez uma careta.

–Meu pai insiste para que Emmett vá a todos lugares comigo.

–Emmett é seu guarda-costas então?

–É mais como um capanga do meu pai. Mas não ligue pra ele, até que é um cara legal quando não está seguindo as ordens do meu pai.

–Seu pai sabe que você está comigo hoje?

–Certamente ele saberá.

–Então acho que isto é um boa noite. Seu guarda-costas parece impaciente para te levar embora de volta ao castelo e eu tenho que pegar o metrô.

–Você anda de metrô?

–Nem todos têm uma BMW ou duas na garagem.

–Quer uma carona?

Eu deveria ter dito não. Mas certamente já ficou óbvio que dizer não a Isabella King era algo muito difícil pra mim.

Assim, eu entrei no carro com a garota mais incrível do mundo e observei, fascinado, ela tirar os sapatos e dar partida.

Ela liga o som e Clair de Lune enche o carro.

Quem diria que Isabella King apreciava música clássica?

–Parece surpreso? – ela indaga.

–A música.

–Ah, Clair de Lune me acalma. Minha mãe costumava tocar pra mim. Não que eu lembre, eu era apenas um bebê, mas uma vez meu pai me disse... – ela parou de repente. - Ele disse que odiava a música, porque minha mãe tocava direto quando eu nasci, porque eu era um bebê difícil de dormir e só Debussy me acalmava.

–Por que ele odiaria a música então?

–Meu pai costuma odiar o que me faz feliz.

E com estas palavras, ela mexe quase com fúria no som e muda a música. Um rock pesado enche o ambiente.

Eu queria perguntar mais. Queria saber mais. Mas me calei.

–Me diz onde mora. – ela perguntou, mudando de assunto e eu dou as coordenadas.

Não demorou para ela parar em frente ao meu prédio. Cedo demais.

–Muito obrigada pela carona. Seu carro é realmente espetacularmente rápido.

–Parece impressionado. O que tem os garotos com os carros?

Eu ri.

–O que posso dizer. Sou um garoto.

–Se tivesse um carro, qual gostaria?

–Acho que gosto de Volvo.

–Posso imaginá-lo num volvo prata.

–Volvo prata, da onde tirou isto?

Ela ri.

–Não sei.

–E qual seu carro preferido? - eu podia apostar que ela teria muitos em sua garagem.

–Eu não ligo pra isto. Carros chamam muito a atenção. Acho que, se eu pudesse, ia andar em uma caminhonete velha caindo aos pedaços.

–Você é estranha, Isabella King. – comentei suavemente.

Ela tinha tudo. Mas parecia não querer ter nada.

Ela virou a cabeça para me encarar e eu sondei seus olhos castanhos na semiescuridão do carro.

A atmosfera estava carregada de expectativa. Será que ela sentia?

Será que ela sabia que bastaria um sinal seu, por menor que fosse, para eu romper a distância entre meus lábios e os seus?

–O que vem a seguir? – perguntei, querendo prolongar mais nosso estranho encontro. – Acha que este jantar será suficiente para fazer todos acreditarem que somos namorados?

Ela mordeu os lábios nervosamente.

–Você não quer mais fazer isto?

–Você quer?

–Eu preciso.

–Eu disse que ia fazer o que você quisesse.

–Por quê?

Eu queria dizer que eu queria fazer aquilo de verdade. Mas tinha certeza que não era isto que ela queria ouvir, então fui para a resposta mais fácil.

–Você está me pagando.

–Claro.

Ela abriu o porta-luvas e tirou um envelope e me deu.

–Falando nisto, aí está o seu pagamento.

Eu segurei o envelope, quando na verdade tinha vontade de devolvê-lo.

Mas eu sabia que, pra ficar com Bella, eu tinha que seguir suas absurdas regras.

–Boa noite, Edward. - ela virou o rosto e ligou o carro.

Estava claramente me dispensando.

Eu fiquei parado na calçada vendo a BMW se afastar com o carro do segurança logo atrás.

–Uau! – eu dei um pulo de susto ao ver Alice se materializar ao meu lado.

–Alice, da onde você saiu?

–Eu estava esperando você voltar. Estava curiosa. Mas eu nem consegui vê-la! Mas deve ser cheia da grana pra ter até um segurança a seguindo, Edward!

–Você é muito intrometida. – eu entrei no prédio com ela em meu encalço.

–E você está cheio de segredos. Vamos, me conte, onde a conheceu..

–Numa festa. – fui evasivo de propósito, abrindo a porta do apartamento.

–Sei... E quando vai nos apresentar para que possamos ser amigas?

–Alice, foi só um encontro.

Ela rolou os olhos.

–Duvido muito. Eu te conheço. Esta garota é diferente.

Ah sim, Alice não fazia ideia do quanto Bella King era diferente.

Do quanto nosso relacionamento era diferente.

Na manhã seguinte eu assisti às aulas com meu pensamento longe. Jasper havia me feito algumas perguntas no caminho, não tão indiscretas e insistentes como as de sua namorada, mas ainda assim curiosas.

–Alice disse que esta garota que saiu é muito rica, onde a conheceu?

–Numa festa.

–Sei... E é sério?

Eu dei de ombros.

–Quem sabe?

–Quando vão se ver de novo?

Eu me fazia a mesma pergunta quando saía da aula naquele começo de tarde, quando vi o chamativo BMW vermelho parado no meio fio.

E Isabella King emergindo de dentro dele.

Quando eu acordara naquela manhã, depois de passar boa parte da noite fantasiando com ela, eu dissera a mim mesmo que eu estava exagerando em sua perfeição.

Mas naquele momento, vendo-a na minha frente, toda vestida de preto, com os cabelos longos e maravilhosamente escuros dançando com o vento de outono contra o rosto branco e lindo, eu a achava ainda mais incrível.

E eu não conseguia parar um sorriso.

Eu estava ferrado.

–A que devo a honra, senhorita King?

Ela jogou as chaves pra mim.

–Você dirige.

Eu olhei em volta, enquanto ela sentava no banco de passageiro sem esperar resposta. Como eu previra, Emmett estava logo atrás.

Em entrei no carro e dei partida. Desta vez um rock alto já estava tocando no rádio.

–Para onde, madame?

–Apenas dirige.

Eu levantei a sobrancelha, curioso, mas fiz o que ela pediu. O carro era uma delícia. Macio e rápido.

Eu olhei pelo espelho retrovisor e o carro preto nos seguia logo atrás.

–Este cara não cansa de te seguir a todos os lugares?

–Ele faz o que meu pai manda.

–Seu pai deve temer por sua segurança.

Como sempre que o nome do seu pai era mencionado, ela parece irritada, para dizer o mínimo.

–Ela só gosta de manter o controle sobre mim.

–Então vamos dar um pouco de emoção ao pobre Emmett.

E, sem aviso, eu virei rápido para a estrada e aumentei a velocidade.

Oras, eu era mesmo um garoto e podia aproveitar para me divertir com um máquina possante daquelas.

E passamos a hora seguinte dirigindo em alta velocidade pelas estradas da cidade e eu me perguntava que horas Emmett iria desistir, mas ele não o fez. Certamente, Royce King não gostaria nada que ele perdesse sua preciosa filha de vista.

–Acho que já enchemos o dia de Emmett de emoção por um mês inteiro. – Bella diz divertida ao meu lado. - Pare na próxima rua.

Nós estávamos em uma área comercial exclusiva quando eu parei o carro e saltamos.

Eu levantei a sobrancelha, curioso, quando ela seguiu em frente, não me restando alternativa a não ser segui-la para dentro de uma loja de grife.

Uma vendedora muito solícita se aproximou de nós.

–Olá, em que posso ajudá-los?

–Você pode ajudar meu namorado. – Bella respondeu e eu não estava preparado para a onda de prazer que percorreu minha espinha ao ouvi-la me chamando assim.

Era realmente estimulante.

–O que vão precisar? – a garota virou a sua atenção para mim e eu olhei para Bella de volta com a sobrancelha levantada.

–Vamos a uma jantar na casa da família King, o que acha que ele deve vestir?

A boca da moça se abriu em assombro, mas ela logo tratou de se recompor e limpar a garganta, adquirindo de novo um tom profissional.

–Entendi. Vocês podem me acompanhar.

–Quer dizer que vamos num jantar na casa da família King? – perguntei, enquanto seguíamos a vendedora, que mostrava as roupas masculinas.

–Meu pai está dando um jantar para nova namorada.

–E você vai levar o seu novo namorado?

Ela sorri, sentando-se numa poltrona, enquanto a vendedora pede que eu vá experimentar as roupas que separou.

–Não é pra isto que estamos aqui?

Eu queria dizer que eu estava ali por outro motivo, mas em vez disto, entro no maldito provador e deixo que a vendedora, muito feliz por Bella ter dito que ela podia escolher o que quiser sem se preocupar com o valor, insistir que eu vestisse uma roupa atrás da outra.

Alice estaria no paraíso numa hora desta.

Quando eu finalmente saí do provador, não vi Bella em lugar algum e meu celular está tocando.

Eu me sentei sobre um banco, a vendedora, muito contente, disse que ia fechar a conta, enquanto eu atendo Carlisle.

–Oi, Carlisle.

–Edward, Esme me perguntou se está tudo certo para o almoço de domingo.

Eu passei os dedos pelos cabelos sem saber o que responder. Será que Bella ia querer a minha companhia no domingo para mais um de seus teatrinhos? Eu deveria impor algum limite, não? Será que até os namorados contratados não teriam o domingo de folga?

–Acho que sim. – eu queria não ter soado hesitante.

–Eu e Esme encontramos Alice e Jasper ontem à noite e ela os convidou também.

Eu já sabia onde ele queria chegar e não tinha certeza se queria entrar neste assunto.

–Ela me disse que estava saindo com uma garota.

–Alice é uma linguaruda.

Carlisle ri.

–Pode trazê-la também, se quiser.

–Eu duvido que isto aconteça.

–Por quê?

–Eu não sei o que Alice deu a entender, mas isto não é nada demais.

–Alice deu a entender muitas coisas e Esme ficou muito feliz, devo dizer. Desde Lauren você não namora ninguém.

Por que as pessoas a minha volta insistiam em citar Lauren?

Eu levantei o olhar e vi Bella me encarando com um olhar especulativo.

–Carlisle, eu preciso desligar.

–Tudo bem. Apenas me avise se mudar de planos.

–Eu não vou deixar de ir no almoço de aniversário de Esme, Carlisle. – respondi enfaticamente antes de desligar.

Bella ainda me encarava.

–Quem é Carlisle e Esme?

Ela era bem curiosa para uma namorada de mentira, eu queria dizer, mas me limitei a responder, colocando o celular no bolso.

–Carlisle é meu professor e Esme é sua esposa. Na verdade ele é mais do que isto. Eu o conheço desde Chicago, ele é uma espécie de mentor pra mim.

–Ele sabe dos seus... serviços?

Eu me senti irritado com o rumo da conversa e me levantei.

–Não. Já podemos ir, ou você ainda tem mais alguma ordem pra mim, madame? – eu estava sendo propositalmente desagradável, mas ela não pareceu se importar, apenas seguimos em frente pela loja.

–Você está todo emburradinho por eu te ter transformado numa espécie de Julia Roberts em Uma Linda Mulher? – ela parou em frente a uma prateleira cheia de óculos escuros e pegou um.

Eu não consegui deixar de rir.

–Julia Roberts adorou sua tarde de compras com o cartão de crédito do Richard Gere.

Ela colocou os óculos em mim. Aspirei seu perfume

Frésias. Ou algo assim.

–E você não está gostando? – ela tira o óculos e põe outro.

Nunca ousei me afastar. Ela estava tão perto, que eu podia ver as pequenas e quase imperceptíveis, sardas em seu rosto pálido.

Tão fodidamente bonita que me deixava sem fôlego.

–Eu deveria gostar?

Ela sorri, pegando os óculos que tirou do meu rosto colocando nela mesma, e se mirando no espelho.

–Não sei o que está na moda no mundo dos garotos de programa que estudam medicina e aceitam ser namorados de mentira nesta temporada.

Eu ri ainda mais e como ela tinha feito comigo, eu tirei seus óculos. Mas não coloquei outro. Apenas mirei seus olhos castanhos misteriosos.

–Não era Julia Roberts que tinha uma regra de não beijar na boca?

Ela ficou vermelha.

Malditamente vermelha.

Deliciosamente vermelha.

Quem diria que Isabella King poderia ruborizar. Naquele momento eu decidi que eu amava seu rubor.

Durou apenas um momento antes dela rir.

–Acho que sim. – ela colocou a cabeça de lado e me lançou um olhar divertido. – Não me diga que você é como Julia Roberts e não beija suas... Clientes.

–Por que está preocupada? Beijos fazem parte do nosso acordo?

Ela mordeu os lábios.

Eu quis empurrá-la contra a prateleira de óculos e beijá-la até que nenhum de nós tivesse fôlego.

–Me diz, Bella. – eu me aproximei quase que por instinto. – O que nossa pequena farsa exige? – meus dedos tocaram seus lábios, obrigando-a a soltá-los dos dentes e entreabri-los.

Eu os acariciei, hipnotizado. Malditamente excitado.

Muito, muito, ferrado.

–Eu terei que te beijar aqui? – me aproximei mais, testando minha sorte e a dela.

Ela não se afastou. Os olhos arregalados e a respiração presa na garganta.

Algo dentro de mim gritava em êxtase que não seria possível que ela não sentisse aquilo.

Que ela não sentia aquela conexão, aquela atração quase irresistível que surgira desde que ela filara meu cigarro naquela tarde.

Algo estava acontecendo. O universo estava se alinhando de forma diferente desde que nossos caminhos se cruzaram.

–Ei Edward!

Eu me virei quase imediatamente ao ouvir a estridente voz de Alice quebrando aquele momento.

E a gnomo maldita estava sorrindo de mim pra Bella, muito satisfeita. Eu queria esmagar meus dedos em volta daquele pescoço intrometido.

–Olha que coincidência te encontrar!

–O que está fazendo aqui, Alice?

–Eu estou trabalhando, oras! Meu chefe pediu para eu vir buscar algumas camisas. – seu olhar curioso correu para Bella. – Não vai nos apresentar, Edward?

Eu suspirei irritado.

–Bella, esta é Alice.

–Ah, eu queria tanto te conhecer! – Alice se aproximou sem a menor cerimônia e abraçou Bella, que parecia petrificada. – Estou adorando ver o Edward de namorada nova!

Bella sorriu forçadamente.

–Não perguntarei o que aconteceu com a velha.

–Ah, nem queira saber mesmo...

–Alice, chega! – eu a calei com um olhar ameaçador. – Bella, podemos ir.

–Mas já? A gente podia... – Alice pareceu aflita.

–Não está trabalhando? Eu e Bella temos que ir agora.

–Tudo bem então! Tchau, Bella! Espero nos vermos mais vezes!

Eu segurei o braço de Bella e a guiei para fora da área que Alice estava.

A vendedora sorridente nos entregou várias sacolas no caixa, enquanto Bella lhe dava o cartão de crédito.

–Não sabia que falava de mim para seus amigos. – ela comentou, quando saímos da loja e entramos no seu carro. – Disse a eles que eu era sua namorada de mentira?

–Claro que não.

–Disse o que então?

–Eu apenas disse que tinha um encontro ontem. Eles que tiram conclusão precipitada.

Ela não comentou mais nada, enquanto o carro percorria as ruas da cidade e meus pensamentos se voltaram de novo para aquele momento na loja, quando estive tão perto de beijá-la.

Eu realmente estive? Ou estava fantasiando?

Bella me intrigava tanto que eu nem sabia mais o que era farsa ou realidade.

Ela parou o carro em frente ao meu prédio.

–Nos vemos hoje à noite? – perguntei, em vista de seu silêncio. Ela parecia muito distraída agora.

Ela respirou fundo e vestiu aquele sorriso blasé de moça rica.

–Claro que sim. Pela primeira vez eu estou ansiosa por uma festa na minha casa. Vai ser muito... Interessante.

–Aposto que sim. – respondi, abrindo a porta do carro e sorrindo também.

Porque o meu interessante certamente era diferente do interessante dela;

E eu mal podia esperar.


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