Bad Things escrita por Melody Malone


Capítulo 3
Eu sei o que você fez no verão passado


Notas iniciais do capítulo

Eu recebi duas recomendações? É isso mesmo produção? Obrigada mesmo, eu estou super contente com isso, também estou muito contente com todos os comentários de vocês. É motivador ver que vocês estão gostando da história e me influência a tentar escrever cada vez melhor.
Boa Leitura.



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Eu estava parado diante de uma placa de "bem-vindo a Santa Fé" que há muito havia sido consumida pela ferocidade do tempo. Um dia chegou a ser nova e brilhante mas agora me lembrava mais um letreiro que uma placa propriamente dita. Junto a estrada, havia um poste enferrujado com mais de dois metros e meio de altura. A cidade estava totalmente tomada pela nebulosidade e tempo frio, o ar estava incrivelmente pesado e mal se podia ver as lojas existentes na cidade que parecia ter sido esquecida pelo tempo. As lojas também não tinham se saído muito melhor: eram um conjunto de lojas de apenas um andar, alguns dos tijolos de concreto já eram aparentes, a tinta na parede era escassa e enrugada, cheias de enormes falhas em todo lugar. Manchas de infiltração pareciam dançar entre as paredes, formando desenhos que até mesmo Picasso invejaria nas vitrines que, por sua vez, estavam cobertas de folhas secas.

A cidade estava completamente deserta, não era possível ouvir nem ao menos os sons dos pássaros em minha volta. Olhei pela vitrine embaçada de uma das lojas, havia apenas uma estante com alimentos e prateleiras cheias de revistas e livros, não tinha ninguém lá dentro também. Fui em direção ao local mais central da cidade, onde era de se imaginar que toda a população totalmente estranha e narcisista estivesse. Na igreja.

Já me parecia diferente do usual, como se mudasse de forma a cada dia, agora as paredes não eram grandes e largas como costumavam ser quando eu cheguei na cidade mas sim como se tivesse servido de cenário para a terceira guerra mundial, as paredes estavam machadas de sangue negro. As vidraças que antes brilhavam até mesmo com a mais escassa luz do sul, agora estilhaçadas em mil pedaços ao lado de fora da igreja. Fui tomado por um pensamento terrível, daqueles que não conseguimos esquecer quando parecem ter sido costurados no mais profundo lugar na nossa consciência: Se os estilhaços estavam para o lado de fora, algo talvez tenha lutado para sair do lado de dentro.

Me aproximei da porta que ainda era mesma, parecia ter sido intocada, exceto pelo de que as letras que estampavam uma passagem da bíblia agora não existiam mais. Meu nariz e minha boca foram inundados pelo cheiro tenebroso de morte. Não existia nenhuma indicação de que qualquer ser vivo esteve ali há pouco tempo, exceto pelo cheio, o fedor azedo e nauseante que marcava a diferença entre o mundo dos vivos e dos mortos. De pé diante da porta, faço uma pequena observação sobre algo que eu não experimentava há muitos anos. O medo é algo que você não pode lutar contra, é algo tão primitivo quanto a vida, por mais que você os encare. Eu não era o tipo de cara que tinha medo de muitas coisas, mas isso não significava que eu não os tinha, eu não gostava muito da sensação pois, para mim, é um sinal de fraqueza. Agora, como se fosse uma brincadeira do meu subconsciente, eu estava tendo que encarar o maior de todos. Eu estava sozinho.

Eu nem sempre me importava muito sobre o quê eu iria encontrar atrás da porta de uma igreja velha com as paredes cheias de uma sangue preto e com as vidraças estilhaçadas, mas devo admitir que não era um coisa muito comum na minha vida. Devo lembrar que não era muito comum eu ter uma conversinha com lúcifer, mas acontece. Decidi que pela primeira vez eu deveria ser discreto, então fui aos fundos da igreja e encontrei uma porta de ferro trancada e espinhos se entrelaçando em sua volta. O cheiro era ainda mais forte, o medo já era mais forte também. Peguei uma adaga que eu sempre deixava no meu calcanhar em caso de emergência, eu também tinha um punhal mas tinha um valor sentimental para ser usada em espinhos. Não para mim, logicamente, mas para o antigo dono. Tentei cortar os espinhos mas sem muito sucesso, então o espinho simplesmente se desfez, como se não precisasse ser cortado, o chão em minha volta começou a se desfazer e a minha visão escureceu. Quando minha visão voltou, eu estava dentro da igreja, um homem de preto vestindo uma cartola e com uma bengala estava de costas em minha frente. Ele se virou lentamente para mim.

— Sabe, John, algumas vezes você me faz questionar qual é o sentido de estar vivo, as pessoas simplesmente vivem mas não sabem para quê. Quem realmente se pergunta acaba entrando em um estado em que a felicidade não é algo presente em sua vida. Você é feliz, John?

— Tantas coisas para conversarmos e você quer falar sobre a minha felicidade? Que tal falarmos como você matou um garoto inocente?

— Não, John, você está fazendo as perguntas erradas. Eu venho tentado ser paciente com você por um longo tempo. Pense, como você chegou aqui? Onde está todo mundo? Onde está Elena?

— O que fez com todos?

—Viu? Novamente as perguntas erradas. Agora te faço uma pergunta, como você sabe qual porta é a certa, John?

Olhei para ele, não parecia furioso ou homicida, ainda parecia mau mas acho que isso é uma característica dele, pelo fato de ser o Lúcifer talvez. Eu ainda não estava entendendo o quê ele estava tentando dizer, mas realmente comecei a me perguntar como fui parar ali, tudo parecia tão confuso. Olhei para todos os lugares, nada parecia quebrado ou velho como tudo ao lado de fora.

—As janelas, John, olhe as janelas.

—Não estão quebradas – Agora eu já não sentia medo, eu estava apenas confuso – Como?

—Como você sabe qual porta é a certa? Como sabia por qual porta entrar?

—Eu... não sei.

—Quando uma porta não é uma porta.

Ele desapareceu em frente aos meus olhos, a igreja começou a desmoronar, tudo ao meu redor estava desaparecendo, eu ainda continuava imóvel, o chão ao meu redor começava a desmoronar novamente e eu caí em um tipo de abismo escuro que não parecia ter um fim. Ouvi um grito ensurdecedor e a luz voltou novamente aos meus olhos. Olhei ao meu redor, eu estava no quarto da pensão, eu ainda estava sozinho. Me levantei e fui em direção ao banheiro, me olhei no espelho e parecia ainda pior que no dia anterior, eu pude ver a porta se abrir atrás de mim pelo espelho, uma mulher loira, alta e com olhos negros que eram incrivelmente sedutores, olhou para mim com dois copos de café na mão e sorriu pelo reflexo.

—Elena.

—Bom dia, dorminhoco. Eu fui comprar café, você quer? –Disse ela, apontando para mim um dos copos que segurava em sua mão.

—Claro.

—Eu liguei para Joseph, ele disse que já estava a caminho. Eu só não entendi, o quê aconteceu lá?

—Eu já disse, um tipo de monstro que eu não via há muito tempo.

—Isso não explica muita coisa.

—Quer discutir sobre isso? Ótimo. Pois vamos até a igreja, tem alguém que precisamos ver.

—Quem? O padre?

—É, pode se dizer que sim.

—Como 'pode se dizer que sim'?

—Eu tive um sonho, essa cidade estava cheia de sangue e a vidraça da igreja estava quebrada, mas dentro da igreja estava tudo perfeito, inclusive as janelas.

—Um sonho, John? –Disse Elena, agora com um tom de voz mais grave – Acorde, John, ACORDE!

Abri meus olhos e eu estava deitado em cima de uma mesa cheia de livros. Joseph e Elena conversavam perto do bebedouro do que eu imaginava ser a biblioteca, eles olhavam para mim com preocupação, como que se estivessem com medo de mim. Os dois voltaram para a mesa quando viram que eu estava acordado.

—Tudo bem, John? –Disse Joseph.

—Sim, como chegou tão rápido? Como eu vim parar aqui?

Os dois me olharam com extrema preocupação.

—Você não se lembra mesmo? –Disse Elena.

—Não.

—John, nós estamos aqui desde ontem quando começamos a procurar a autópsia sobre o garoto que morreu, eu fui até o necrotério e você veio para a biblioteca.

—Você ligou para mim, John, disse algo sobre ser o fim, eu cheguei umas sete horas depois disso– Disse Joseph, que só não parecia mais confuso que eu.

—Não, não é possível, a igreja, Elias, eu estava lá, você me salvou, Elena.

—Não, John, nós não saímos daqui desde ontem.

—Oh, não é possível, eu entendi tudo –Disse Joseph.

—Nos explique, por favor.

—O que quer que seja que esteja nessa cidade, está mexendo com você. Não quer que você descubra o que está acontecendo, está te fazendo ter alucinações, te fazendo ter medo.

—Eu não estou com medo.

—Baseado nos seus 'Não quero ficar aqui sozinho, por favor me ajude' que você dizia enquanto estava dormindo, eu diria o contrário. Isso está mexendo com suas memórias, John, e se você for o foco disso então precisa nos contar tudo.

—Tudo o quê? – Elena perguntou.

—Tudo sobre a minha não tão breve visita ao inferno –Eu disse, temendo as terríveis lembranças que me atormentavam.

Elena olhou para mim com espanto, acho que ela pensou que por mais que meu passado pudesse ser sombrio, não era tão sombrio. Antes de começar a falar, fiquei pensando sobre os motivos de eu ter ido para o inferno que estavam passando pela cabeça dela. Todo o tempo que estivemos juntos durante os últimos três anos, poderia desmoronar por causa de apenas um erro. Joseph olhou para nós, estávamos nos encarando tanto que conseguimos deixar até Joseph, que a pessoas mais sem vergonha que eu já conheci, sem jeito.

—Acho que vou dar um tempo para vocês.

—É, pode ser –Disse Elena, seus olhos estavam com um pouco de lágrimas e seu rosto estava vermelho.

—Sinto muito.

—Sinto muito? Sério, John? Você foi pro inferno e tudo que tem a me dizer é sinto muito? Eu fiquei um ano inteiro achando que você estava num caso com Joseph, eu te esperei. Eu vim quando me chamou, mas você estava no inferno? Eu quase morri para que você não fosse para lá.

—O quê que você queria que eu fizesse? Me sentasse e deixasse que você morresse? E tive que implorar ao Joseph para não te contar, não foi difícil só para você.

— Eu não disse que foi difícil só para mim, eu só acho que você poderia ter deixado Joseph me contar, eu poderia ter te tirado de lá. Você não confiava em mim?

—Você não podia. Eu confiava em você, eu me casei com você, ficamos três anos juntos.

—Três anos? – Perguntou ela, sadicamente – Acho que foram apenas dois anos já que o último ano você estava brincando de pega-pega com o capeta. John, você sabe o que eu perdi por você?

—Não, eu não sei. Provavelmente nada tão ruim quanto ir pro inferno.

—Nada tão ruim – repetiu ela sussurrando – Acho que não é só de mim que o Joseph escondia algo.

Joseph nos olhava de longe, veio em minha direção quando viu que Elena se levantou da mesa e foi embora, não era algo muito fácil de se explicar os motivos de ter ido para o inferno. Joseph se sentou na mesa e me encarou, ele deu um suspiro longo e olhou para baixo como se estivesse realmente envergonhado, eu nunca havia visto ele assim.

—Não foi culpa sua, Joseph. Ela tinha que saber.

—Não é isso, eu me culpo todos os dias desde o dia em você foi pro inferno. Não por você ter ido mas pelo que Elena perdeu por você.

—Você gostaria de me contar agora ou eu preciso ir pro inferno e voltar novamente? –Eu disse rindo, mas não foi recíproco.

—Ela estava grávida, John. Quem te levou pro inferno também quis levá-la mas não conseguiu, então levou apenas o seu filho.

Olhei para ele, incrédulo, senti meu rosto queimando e meu coração acelerou como nunca antes, não foi possível segurar as lágrimas que vieram imediatamente aos meus olhos.

—Por que levaram uma criança? Eles não fazem isso.

—Eles não a levaram para o inferno, apenas a mataram para não ter nada de você na terra. Elena nunca o culpou, ela achava que você estava em um caso qualquer, foi doloroso para mim não contar a ela que você não iria retornar as ligações. Quando você me ligou procurando por Elena eu achei que era um trote ou algo assim mas mandei ela mesmo assim, ela tinha que te ver antes de mim.

—Eu...– a minha voz falhava pelo esforço em segurar as lágrimas, nunca pensei estar tão triste antes – eu tenho que falar com ela.

—John, não vá. Aquela Elena morreu quando você se foi, ela é diferente agora, não é mais a sua esposa. Tente pensar em outra coisa, tente se focar nesse caso.

—Você tem razão. Quando te liguei, coisa que eu não lembro, eu estava em uma rua totalmente escura e tinha acabo de ser ataco por lúcifer. Ele tinha dito que eu ia voltar para ele, disse que eu ia me juntar ao seus filhos.

—Filhos? Ele não tem filhos.

—Acho que foi figurativamente falando, só acho.

—Não, ele não chama de filhos.

—Okay, então acho melhor comentar sobre o fato que agora há pouco eu sonhei com ele na igreja.

—O quê ele disse?

—Estava me perguntando como eu sabia qual era a porta certa, então ele mesmo se respondeu.

—Qual a resposta? John, isso é muito importante, se for o quê eu acho que é, a gente tá muito ferrado.

—A porta certa é quando um porta não é uma porta.

—'Quando uma porta não é uma porta'. Um enigma.

—Se isso está se manisfestando pela mente do John, talvez seja algo relacionado a ele –Disse Elena, voltando a se sentar na mesa, os olhos estavam inchados mas achei melhor não perguntar mais nada.

—Quando uma porta não é uma porta, quando uma porta é a mente. Você, John, você é a porta. Acho que, o que for que esteja fazendo isso com você, quer saber o que tem atrás dela.

—Mas se eu sou uma porta, se minha mente é uma porta, como eu sei se isso aqui é real?

—Você não sabe! –Disseram eles em uníssono.


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Notas finais do capítulo

Desculpem qualquer erro que me passar despercebido.
Até o próximo capítulo.

Pergunta do capítulo: Isso tudo que está acontecendo com o John, é real?