Bad Things escrita por Melody Malone


Capítulo 2
A Ascensão de Lúcifer


Notas iniciais do capítulo

Me surpreendi com a quantidade de pessoas que gostaram da fic, muito obrigada a todos. Espero que gostem deste capítulo tanto quanto gostaram do outro. Boa leitura.
A aparência da Elena não será descrita agora, ainda não é relevante, se aquietem.



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A luz do sol já embelezava Santa Fé. A grande lua alaranjada que eu havia visto a algumas horas atrás já desaparecera em meio a grandiosidade do sol, os raios solares ainda eram escassos, mal penetravam a cidade como que se quisessem se desviar dela. Já eram nove horas da manhã, hora da caça ao lobo...ou quase isso.

Me levantei da cama com um pouco de dificuldade, não por ter dormido pouco, mas pelo fato de que minha noite de pesadelos se repetia mais uma vez. Fui em direção ao guarda-roupas velho como tudo nesta cidade, vesti uma camiseta fina e um sobretudo escuro, coloquei uma calça preta que eu já não usava há anos, estava larga, talvez devido a minha “repentina” perda de peso, devido a isso tive que usar suspensórios, coisa fashion para usar se estivesse com setenta anos de idade. Coloquei as botinas que estavam surradas de tão velhas, peguei uma maleta que continha todos os documentos necessários para minha estadia na cidade por um breve tempo. Segui em direção ao banheiro que até então estava intocado. Tomei um susto quando me olhei no espelho e constatei que eu tinha as olheiras mais profundas que qualquer um poderia imaginar e uma pele pálida, barba por fazer e cabelo bagunçado.

—Quem resistiria ao meu charme? — ironizei, balbuciando para mim mesmo.

Escovei os dentes, penteei o cabelo para ficar com uma forma normal e fiquei me encarando no espelho. O silêncio era assustador. De repente, uma batida forte na porta me fez despertar. Olhei para trás e a porta estava escancarada, dei passos tão leves que nem mesmo eu podia me escutar andando, fechei a porta e olhei em direção a minha cama, havia uma figura em cima dela.

—Achei que jamais chegaria—Disse eu.

—Você sabe que eu sempre venho quando você chama, John.

—É um prazer te ter de volta, Elena.

—Você nunca me teve, querido.

Sorri um pouco envergonhado, admito que Elena era uma das poucas mulheres que me deixavam sem jeito.

—Você sabe o quê eu quis dizer— Eu disse, sorrindo.

—Eu sei, querido, eu sei — Disse Elena, ironicamente— Pois bem, o quê eu faço aqui? Não me diga que você só inventou toda uma história para me ver.

—E o prêmio de maior ego vai... Sério, Elena. Temos um caso aqui e eu preciso da sua ajuda, você veio sozinha?

Ela desfez seu sorriso imediatamente, olhou para mim com os olhos arregalados, se levantou da cama e parou de pé em minha frente.

—Onde está o Henry, Elena?

—John.. ele—Ela parou de falar por alguns segundos — está em um caso de lobos, não quis vir comigo por que achou que não era necessário já que você está aqui.

Nós nos sentamos em uma mesa no quarto onde eu havia preparado todos os papéis para a chegada de Elena.

—Bom, sobre o nosso caso, ontem eu ouvi uma senhora na igreja dizendo que seu filho era o diabo, ela não queria enterrá-lo.

—Você perguntou o por quê?

—Perguntei ao padre, ele disse que o filho dela foi mordido por um animal e ela ficou louca.

—Mas se foi o filho dela que foi mordido, por que ela ficou louca?

—Exatamente.

—Interessante.

—A igreja é grande demais para a população, o cemitério também. No caso da igreja o padre falou que ela é muito velha e costumava abrigar mais pessoas antigamente, porém o cemitério é recente e é tão grande quanto a igreja.

—Qual é, John? Você acha que a outra parte da população está escondida no esgoto? Isso não é uma fanfic, é a vida real, isso não acontece na vida real.

—No esgoto? De onde você tirou isso? Claro que não. Minha teoria é que exista uma grande colônia na igreja, ela parece bem menor por dentro que por fora, acho que possa existir paredes falsas.

—E você baseia sua teoria em...

—A população é de dez mil pessoas, todas elas estavam na igreja quando eu cheguei, quando eu estava perto da porta eu ouvi um murmúrio mas quando eu entrei lá apenas o padre estava falando. Então me diga, espertinha, quem eram as pessoas que estavam falando?

—Tudo bem, isso é assustador. O que faremos agora?

—Se essa cidade tiver uma biblioteca nós iremos até lá, eu preciso da autópsia de Tom Felt.

—O garoto mordido?

—Exato.

—E como você espera conseguir isso em uma biblioteca?

Olhei maliciosamente para ela, não era um dos melhores, mas era um plano.

—Eu já disse como você está bonita hoje?

—Ah qual é? Eu não vou seduzir ninguém.

—Você tem uma dívida comigo.

—Na verdade é ao contrário.

—Tanto faz, mas se você não quer então não vou te obrigar.

—Eu tenho um plano melhor.Nós vamos até o necrotério, fingimos ser da polícia e pegamos a autópsia.

—Até que você é inteligente.

—Oh, cale a boca.

Nós fomos em direção ao necrotério, quanto mais tarde ficava mais escuras as ruas ficavam. Hoje as ruas já estavam mais movimentas, cerca de uma ou duas pessoas a cada quarteirão, já era um avanço. Passamos em frente a igreja e eu percebi um movimento, um carro preto havia acabado de parar em frente e o padre parecia já estar esperando, um homem vestido de terno cinza, musculoso e do meu tamanho saiu lá de dentro. Cinco homens estavam com ele, provavelmente guarda costas, o padre o cumprimentou e o chamou para dentro.

—Ei, Elena, olhe.

—Quem é aquele?

—Não sei, acho melhor eu ir descobrir. Consegue pegar a autópsia sozinha?

—Claro. Te encontro na pensão.

Ela continuou em direção ao necrotério. Eu parei novamente em frente as escritas na porta da igreja, agora pareciam ter mudado para uma língua que eu não podia identificar, lá dentro não havia ninguém. Admito que eu me sentia empolgado por entrar numa igreja vazia com suspeitos sobrenaturais, porém ainda assim era assustador, parecia como um de meus pesadelos. Fui em direção ao altar que estava vazio, nem mesmo a bíblia estava colocada. Fui ao confessionário que também estava vazio, então eu tive a horrível sensação que havia alguém atrás de mim, coloquei a mão em meu bolso direito e apertei firme o canivete que havia lá dentro. Me virei e o homem de terno estava parado em minha frente, me olhou de cima para baixo e olhou para o padre que estava atrás de mim. Então olhei para trás também.

—Padre, não vi o senhor aí—Eu disse.

—Eu estava no confessionário, filho.

—Eu interrompi alguma coisa?

—Na verdade, sim —Disse o homem de terno— Eu estava me confessando.

—Não, não estava.

—Eu não disse que estava me confessando com o padre, senhor...

—Eric—Eu disse, não diria o meu verdadeiro nome a um completo estranho.

—Prazer, Elias.

—Elias, meu filho, acho que está na hora de partir — Disse o padre, impaciente.

Ele se dirigia até a porta da igreja, seus olhos negros e maliciosos se fixaram em mim, Elias apenas desviou o olhar quando chegou ao fim da igreja. Me senti estranho, não pelo fato de ter sido encarado por um estranho cheio de guarda costas e que tinha olhar demoníaco, mas como que se eu estivesse sofrendo profundamente naquele momento, como se eu nunca mais fosse ser feliz novamente.

—Me desculpe qualquer incomodo, padre.

—O quê faz aqui, filho? Veio se confessar?

—Não, na verdade não. Eu gostaria de saber mais sobre Tom Felt, ele era muito conhecido na cidade?

—Desculpe, não tenho permissão para falar dos assassinatos da cidade.

—Assassinato? Mas o senhor disse que foi uma mordida de animal.

—Ora, filho, isso deixa de ser assassinato?

—Depende do ponto de vista. Mas você não pode nem comentar como ele era antes?

—Ele era um menino alegre, sempre conversou com todos e sempre se deu bem com todos. Era meu coroinha, sua mãe sempre falava tão bem dele.

—Alguma coisa muito grave deve ter acontecido para que ela o chamasse de diabo, não é?

—Acidentes, ele se misturou com quem não devia e acabou levando o que mereceu.

—Com quem ele se misturou?

—Pessoas ruins, agora se tiver terminado, eu preciso ir.

—Claro, padre. Eu só precisava saber disso, até mais.

—Até mais, John.

Meu coração disparou, senti um frio na barriga. Eu nunca havia dito ao padre que meu nome era John, para ele eu me chamava Eric. Segui em direção a porta e não olhei para trás, já estava totalmente escuro e deveria ser ainda umas seis horas da tarde, havia um nevoeiro em toda a rua e o ar ficou pesado e frio de repente. A rua estava totalmente vazia, não havia nenhum gato ou rato, nenhum ser vivo sem ser eu, ouvi um barulho de passos atrás de mim, respirei muito fundo e olhei para trás. Um homem vinha em minha direção, estava muito escuro então eu podia ver apenas uma silhueta, ele usava um sobretudo e uma cartola, uma bengala na mão mas não parecia que precisava de uma. Ele estava andando lentamente em minha direção, estava mais e mais próximo e eu não conseguia me mexer. Então ele se aproximou de mim e eu pude ver se rosto, seus olhos eram totalmente brancos, veias negras saltadas perto das pálpebras, todos os seus dentes eram afiados. Ele virou a cabeça, me olhando, como se eu fosse algo que nunca havia visto em sua vida.

—O quê é você? — Finalmente eu consegui dizer.

Não tive muito tempo para ouvir a resposta pois em um piscar de olhos eu estava contra a parede de um beco, ele voltou a me olhar, seus olhos, que antes eram brancos, agora estavam totalmente negros.

—Eu sou a morte, a agonia, o mal, o anjo caído, aquele que está destinado ao sofrimento eterno. Chame como quiser.

Meu coração disparou mais que nunca, eu podia senti-lo em minha boca, pude sentir minha visão embaçando e minhas mãos suando frio. Eu não queria acreditar que depois de tanto tempo, depois de tantos anos tentando escapar com medo e sofrimento, ele estava diante de mim novamente, como que se eu fosse seu troféu e eu não podia fazer nada agora, agora eu era apenas um humano com mais medo que nunca.

—Lúcifer? —Disse eu, incrédulo.

—Quanto tempo, John. Será um prazer vê-lo junto aos meus filhos novamente.

—Não me juntarei a você de novo.

Ele riu, não um sorriso irônico, mas sim uma gargalhada de extrema gozação.

—Como anda seus pesadelos?

—Como você...

—Como eu sei? Eu vejo sua alma, eu vejo ódio, ela agoniza por liberdade, tem sede de poder e vingança, você julga mas tem mais sangue em suas mãos que qualquer outro. Será um prazer tê-lo em minha casa, John.

—Deveria ser mais esperto, se revelar assim já prova que você quem está matando as pessoas na cidade. Então vou te caçar e vou te esfolar.

—É assim que eu gosto, guarde toda essa raiva para mim, eu vou precisar. Vamos lá, John, o que está fazendo nessa cidade? Você veio atrás de mim, você precisa de mim e quando você fica sem a minha presença todos sofrem.

—Você não me dá escolha.

—Eu sei o que você fará, John. Você é tão previsível, você está morto, não percebe? Você morreu anos atrás quando esteve comigo, acordou morto e estará morto para sempre.

—CHRISTO! — Gritei em alto e bom som, ignorando todas as palavras ditas por ele.

Então ele se foi, desapareceu bem em frente aos meus olhos. Eu cai no chão e olhei para o fim da rua, pude ver uma silhueta correndo em minha direção, mas agora parecia bem mais baixa e magra.

—John, o meu Deus, o quê aconteceu?

—Elena? —Minha visão ainda estava meio turva.

—O quê fez isso com você, John? Você está pálido.

—Precisamos chamar Joseph— Disse eu, me levantando.

—É tão grave assim? — Disse ela com preocupação.

—Oh, Elena. Eu estava terrivelmente enganado.

—O que aconteceu aqui, John? Chega de rodeios.

—É uma longa história, Elena. Não sei se viverei tempo suficiente para lhe contar metade dela.

—Você está me assustando.

—"Você era inculpável em seus caminhos, desde o dia em que foi criado, até que se achou maldade em você -Ezequiel 28:15".

—O que isso quer dizer?

—Que começou.

—O quê?

—O Fim.


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Notas finais do capítulo

Desculpem qualquer erro que me passar despercebido.
Até o próximo capítulo.