Black escrita por Artur


Capítulo 21
Capítulo 21: Epílogo — We Carry On


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores queridos, como estão? Espero que estejam ótimos! Bem, eu sei que demorei e MUITO para postar esse epílogo. Acontece que era algo que eu não pretendia fazer, e o meu tempo livre não colaborava... mas aqui está ele! É algo simples, mas que trás um grande simbolismo para os sobreviventes. Teremos pequenos pontos de vista intercalados entre si, ou seja, vocês verão como cada um encontrará sua maneira de seguir em frente, como diz a música título desse derradeiro capítulo. Preparem-se, as emoções não acabaram!

Beijos! Obrigado por tudo!



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Black

Capítulo 21: Epílogo — We Carry On

Um pouco mais tempo, era só o que mais precisava naquele momento. Sua coluna entrou em contato com a lataria da porta dianteira do carro, enquanto sua respiração seguia arfante e incontrolável. Escutara o último estrondo do tanque de guerra, seguido do brado retumbante de Sofia e do desespero agudo de Ethan.

Seu alicerce se foi. Viu sua família ser dizimada pelo mundo em que vive, perdeu os pais e as duas irmãs. Poderia lamentar pelo resto de sua vida, mas, internamente, uma raiva eclodia por dentro do jovem loiro. O Gibbert restante ficou estagnado ali mesmo, sentando no chão gélido do pátio da prisão olhando para torre onde sua irmã encontrara o próprio fim.

Não foi rápido o suficiente, e culparia a si mesmo até o fim. Desligou-se de tudo que acontecia a sua volta momentaneamente, sua visão estava turva e zonza. A explosão da torre — próximo de onde estava — deixou-lhe desnorteado e arfante enquanto uma fumaça espalhava-se pelo local. Escutou novamente os gritos de Ethan, fazendo-o retornar à realidade novamente; por um momento quase desistiu de tudo.

Os últimos disparos cessaram, e Scott sabia que a guerra estava chegando ao fim. No entanto, pela situação que acabara de presenciar, sua irmã encontrou um fim inevitável quando, no momento em que correu desesperada atrás do irmão, foi forçada a ir para torre. Caso Scott não tomasse uma escolha tão abrupta, Sofia ainda estaria viva ao seu lado.

Scott sentiu raiva de si mesmo, mas estava ciente que tudo aquilo não poderia ser em vão. Fitou a imagem da mochila de Glenn largada bem à sua frente, arrastou-se pelo solo até puxá-la pela alça; estava na hora de agir.

— Sofia... — Sussurrou enquanto retirava a granada com suas mãos trémulas e nervosas. Deu um último suspiro de aflição antes de partir na direção do tanque que se encontrava logo atrás do carro que se protegera.

O fardo era maior do que pensava. Por um momento, sentiu suas pernas estremecerem, sem forças para continuar com a trajetória. No entanto, o último brado de Sofia ainda estava presente na mente do jovem adolescente, que percebera o que deveria ser feito.

Scott Gibbert retira o pino da granada e, assim como suas pernas, suas mãos estavam trémulas. O garoto então lança a granada na direção do tubo do tanque de guerra de Woodbury, pondo-se a correr logo em seguida.

A explosão acontece. O tanque estava, ao poucos, imergindo-se em chamas.

Poderia ter sido veloz, precisava ter sido mais rápido. Não conseguia evitar que as lágrimas escorressem pelos seus olhos claros, espalhando-se na face suja e suada do jovem. E, por mais que tentasse provar o contrário, a esperança torna-se efêmera e fugaz em um piscar de olhos.

Uma mão toca em seu ombro esquerdo. Chamando-lhe para que se reerga. Michonne parecia ser blindada contra toda aquela situação; seus sentimentos mostravam-se omissos, irreais. Todavia, seus olhos provavam o contrário. A dor que sentia, o desespero advindo de uma sequência bárbara de acontecimentos, tudo acentuava sua angustia, seus sentimentos omissos.

Michonne alertara Scott. Ainda não havia acabado, a prisão estava sendo tomada aos poucos. Mesmo com as perdas, com a toda destruição, os sobreviventes precisavam seguir em frente, lutar pelo lar que conquistaram com tanto esforço. Scott fitou a samurai, segurando firme em sua mão até se reerguer mais uma vez.

A poça de sangue escuro e viscoso crescia com o passar do tempo. Os únicos membros à mostra da pequena Judith mostravam a crueldade de Phillip e de seus seguidores. O corpo de Lori estava torto, em cima da própria filha. Seus olhos estavam revirados, a boca entreaberta, perdeu a vida em questão de segundos.

Ao lado do corpo sem vida de Lori, estava Carl ajoelhado, observando a aglomeração do sangue da mãe e da própria irmã. Beth e Billy, mesmo chocados, asseguravam a proteção do perímetro, eliminando os caminhantes que haviam adentrado no pátio do presídio.

— Mãe... — Sua voz saiu falha, sem potência. Abafada pela dor que sentia — Judy... — Seu olhar estava paralisado, mas as lágrimas já desciam quando o pequeno Grimes notou Rick e Andrea correndo na direção de onde estava.

Uma reunião dolorosa, marcada pela dor que sentiam naquele instante.

— Lori... não! — O destemido líder da prisão desabou no chão úmido do pátio. Custava a acreditar no que acabara de ver; sua esposa e sua filha mortas, em um único disparo. Andrea permanecia boquiaberta, desnorteada com a imagem brutal bem na sua frente.

— Rick — A loira tentou trazer o xerife de volta a si — Rick, nós precisamos continuar!

Seus esforços pareciam ter sido em vão. Rick Grimes, ainda deitado ao lado do corpo da amada, não conseguia suportar a dor de duas perdas impactantes. Contudo, eis que Carl põe-se de pé, fitando o pai com um olhar seco, porém, firme.

Lori parecia apresentar pequenos movimentos estranhos. Seu maxilar remexia conforme o olfato parecia se aperfeiçoar. Seus olhos ganhavam outra cor, acinzentados como as paredes da prisão. E, aos poucos, sonidos inaudíveis tornaram-se agudos quando ficara provado que Lori havia, de fato, retornando como uma errante.

— Rick! — A exclamação de Andrea para com o corpo transformado de Lori durou apenas alguns segundos. O pequeno Grimes efetuara um disparo no crânio da própria mãe, fazendo o sangue jorrar e respingar no corpo de Rick.

Um silêncio tomou conta do trio de sobreviventes. Carl permanecia em pé, com um olhar mais firme quando se comparado ao do pai. O garoto segura a arma com firmeza, parecia encarar as perdas como algo inerente ao apocalipse que viva.

Mais afastados dali, um abraço carinhoso, seguido de um breve beijo, surgia por detrás dos demais carros espalhados pelo pátio. Maggie estava ao lado de Glenn, ambos vivos e seguros.

A Greene mais velha comemorava a sobrevivência do esposo que tanto amava, assim como Hershel, que logo se junta ao casal. Contudo, a explosão da torre onde Sofia e Ethan se refugiavam a deixava preocupada.

Hershel caminha com dificuldades em direção à Maggie. O veterinário não conseguia esconder a alegria em vê-la viva, intacta, sem nenhum ferimento. Era o que tanto esperava, o que tanto desejava.

— Sempre tive esperanças que conseguiríamos vencer — Hershel abraçou a filha, com uma voz amistosa e emocionada — Não sei o que faria sem você e sua irmã.

— É assim que vamos seguir em frente — A voz de Glenn saiu baixa, mais tranquila do que antes — É desse jeito que vamos sobreviver. Não importa o que iremos enfrentar ou as perdas que virão... a única coisa que importa é que fiquemos vivos.

Pai e filha se separam. Maggie observava o esposo com um esbelto sorriso. Seu olhar parecia um pouco diferente, mais esperançoso... cheio de vida.

— Precisamos nos juntar aos demais — Proferiu, recuperando a seriedade de antes — Nos reunimos e assim fugiremos. A prisão não é mais um lugar seguro. — Tais palavras atingiam em cheio a jovem Greene, mas era o que precisava ser feito, aquele não era mais o seu lar, o lar de sua família.

Rapidamente, disparos chamavam-lhe sua atenção. Beth e Billy tentavam manter o pátio livre de transformados, mas a quantidade de andarilhos era superior a de sobreviventes. Maggie avistara sua meia irmã correndo no amplo espaço em que estava, a loira disparava precisamente entre os primeiros errantes, contando com o apoio de Billy.

Maggie sorriu. Sua irmã estava viva. Percebeu o quão forte sua irmã mais nova estava, sofreu tantos empecilhos com a guerra, inúmeras cicatrizes em seu corpo... tinha tudo para desistir novamente, mas seguiu em frente assim como dissera que faria. Beth mostrou ser uma sobrevivente forte e sagaz ao lado de Billy, e isso orgulhava Maggie profundamente.

Na área externa da prisão, aos arredores da floresta que cercava o presídio, um homem alto caminhava à passos lentos e vagarosos. Seus dois braços erguiam um corpo sem vida, alguém que serviu de inspiração, de alicerce, no seu passado. Daryl Dixon carregava o próprio irmão mais velho. Ao contrário de Maggie, o caipira presenciou a morte do irmão, viu-se desabar no solo, sem forças, sem esperanças.

Caminhou durante um bom tempo. Seus pés ardiam, mas a vontade de conceder um enterro digno ao irmão era maior.

Após ultrapassar as últimas vegetações arbóreas da floresta, Daryl tomava noção do que havia acontecido na prisão enquanto estava ausente. Zumbis estavam espalhados por todo o campo, um grupo volumoso havia se aglomerado na torre central da prisão, enquanto as demais davam sinal de que explosões existiram ali.

Daryl parou a trajetória por um período razoável de tempo. Fitou Merle em seus braços; não conseguia mais chorar, nada poderia lhe derrubar. Já sofrera o bastante em um único dia, e nem a imagem de seu porto seguro completamente destruído, da prisão em que vivia e que também acreditava ser o lugar de Merle, o fez desabar mais uma vez.

O caipira pigarreou, continuando com seus passos lentos. Alguns errantes ameaçavam o sobrevivente, mas nada o parava, nem mesmo uma dúzia de andarilhos.

Logo avançou nas cercas destruídas da prisão. Apesar de querer enterrar seu irmão naquele local, sabia que o presídio se fora, mas também sabia que seus companheiros ainda estavam ali, ou pelo menos esperava isso.

Daryl prosseguiu até encontrar algo estranho no gramado verde da prisão. Aproximou-se lentamente e, quando percebeu do que se tratava, viu seu corpo ir imediatamente ao chão, com Merle — sem vida — ao seu lado. 

A cabeça de Carol, decepada pelo Governador, movia-se morosamente. Daryl jamais pensou que iria encontrar alguém como Carol em uma situação tão aterrorizante. Alguns metros ao lado do crânio, estava o corpo da Peletier com o sangue espalhando-se gradativamente da abertura feita pela espada de Phillip.

— Carol... — Daryl sussurrou, rouco e falho — Carol...

E, surpreso, chorou como nunca havia chorado. Primeiro Merle, agora Carol. Daryl perdeu duas pessoas importantes em um único dia, seria impossível segurar seus sentimentos reservados. Chorou solitariamente deitado no gramado da prisão, Carol, aquela em que via uma figura materna que nunca teve, morrera de uma maneira horrenda. Daryl inclinou a cabeça, olhando para a face morta e sem vida de Merle. Sua dor aumentou consideravelmente, parecia entrar em colapso a qualquer momento, mas Daryl põe-se de pé mais uma vez.

Olhou para a cabeça transformada de Carol, depois fitou mais uma vez o corpo sem vida do próprio irmão. Daryl ergue a cabeça, vislumbrando um cenário caótico na prisão, um verdadeiro campo de guerra. Mas, não importa quantas vezes desabasse, sempre daria um jeito de seguir em frente.

                                                ...

De cima, ele não conseguia ver o chão. A quantidade de transformados era imensa e, naquele instante, tomavam posse daquela que um dia jurou amar. Seria difícil de acreditar que duas pessoas poderiam ter um relacionamento no meio de um apocalipse, mas o forte exemplo de Glenn e Maggie o deixava esperançoso, feliz por amá-la cada vez mais, mesmo com tantos contratempos.

Agora, esse pensamento não poderia ser contínuo. Sua voz já estava rouca de tanto gritar; não acreditara no que acabara de ver, na dor que sentiu ao vê-la caindo na direção dos seres pútridos. Poderia segurar sua mão mais uma vez, era tudo que desejava, tudo que precisava. Sentir sua pele mais uma vez, olhar nos seus olhos por uma última vez.

Nem ao menos se despediram. Não pôde dizer tudo que queria dizer, apenas percebeu o quão frágil todos podem ser em um mundo acabado. Boa parte da torre havia sido destruída, levando consigo Sofia em um caminho sem volta.

Ethan fechou os olhos por alguns segundos, tornando a abri-los na sequência. Olhou para o aglomerado de errantes que dividam o corpo de Sofia Gibbert, repartindo-a em diversos pedaços; era apenas um pedaço de carne em maio aos urubus famintos.

A imagem da morte de Sofia deixara Ethan total ente desnorteado. O sobrevivente caminha na direção da borda da torre central, ultrapassando as barras de ferros que restaram após a explosão. Olhou para baixo, sentiu algo tomar seu corpo, algo anormal, uma vontade imensa de continuar ao lado de sua amada, de se sentir vivo ao lado de Sofia.

Sentiu um vento gélido tocar em seu rosto antes de saltar da torre. Ethan vai de encontro ao chão, repetindo o mesmo destino que Sofia tivera. Contudo, ao ver seu corpo sendo tomado pela multidão de transformados, Ethan sabia que estaria mais próximo de sua amada.

A escuridão que tomou conta de seus olhos tornou-se uma escapatória para poder continuar ao lado de Sofia e, especialmente naquele instante, sentiu-se acolhido pelo escuro, como se uma nova chance lhe fosse dada, uma oportunidade de realmente viver, sem se preocupar com as sombras tortas dos transformados, ou com olhares ambiciosos de humanos.

Ethan e Sofia transformam-se, metaforicamente, em um. Seus corpos sem vida encontram o fim um ao lado do outro, deslocados através das sombras, morrendo por uma chance de lutar.


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Notas finais do capítulo

É isso pessoal, espero que tenham gostado! Deixem um último comentário! Agradeço a todos que participaram de alguma maneira e que contribuíram para que a fic chegasse até aqui. Postei Black em 2014, e ainda não acredito que demorei tanto para postar apenas 21 capítulos, mas o tempo nunca foi um dos meus melhores amigos, haha! Mesmo assim, concluo mais uma história minha! Tenho dois projetos futuros que serão postados após o dia 14 de novembro, até breve! Beijos!



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