POV Valentim

Enquanto Jonathan Christopher tomava banho eu trocara a minha roupa,vestindo uma blusa com capuz,para que assim,a pessoas não conseguissem me identificar.

Guardando minha lâmina serafim no bolso,saí de casa,deixando a porta bater atrás de mim.Ainda estava nervoso pelo que Jonathan fizera,não podia acreditar que após tanto tempo de treino ele ainda cometia um erro tão banal quanto esquecer de levar uma arma.Eu realmente fizera um grande favor,ao deixá-lo vivo.

Montei em meu cavalo,e corri na direção de Alicante,afinal,independente do quão irritando meu filho me deixara não podia deixar que isso interferisse no que eu considerava não só meu trabalho como minha missão:limpar o mundo daquilo que não serve,eliminando qualquer um que tivesse qualquer espécie de contato com um demônio fora de uma luta ou mesmo que fosse conivente com isso.

Estava com pressa,não poderia perder a hora.Precisava estar ali no momento certo.Enquanto cavalgava eu pensava em quão corrupta,conivente com os Acordos e solidária com os seres do Submundo essa nova geração de Caçadores de Sombras era.

E ainda,haviam aqueles que mesmo que não tivessem grande contato com aquelas desprezíveis criaturas sobrenaturais,conseguiam envergonhar a nobre raça dos Nephilins.

Por sorte,ainda existiam alguns de nós,aqueles mais antigos,que eram contra os Acordos e só não o revelavam por medo da represália da Clave,mas que se uniam á minha causa.Informantes que entravam em contato comigo,me avisando quais seres deveriam ser eliminados para o bem de todos.

A maior parte deles se localizava em Alicante,mas eles estavam espalhados por todas as partes do mundo.Em todo o mundo haviam pessoas dignas do sangue angelical que corria em nossas veias.

Eu sempre fazia aquilo,em especial em Alicante.Os informantes me diziam quem era a pessoa,em que dia conseguiria encontrá-la quando a cidade já estivesse escura,e a que horas.Então eu ia e fazia o serviço sujo.

Porém,naquele dia era diferente.Eu sabia que era pelo bem da causa.E não era a primeira vez que eu matava um conhecido.Mas eu jamais matara alguém que conhecera quando era apenas um bebê,filho de meus antigos aliados,outrora participantes do Ciclo.E me fora difícil descobrir no que se transformara.

Relembrando meu plano,e me acostumando cada vez mais facilmente com a ideia de que ao matá-lo estaria beneficiando a humanidade,mal reparei que já havia chegava a Alicante.

Fiz com que meu cavalo parasse,desci,e o deixei ali,caminhando durante o resto do percurso.A última coisa que queria era chamar a atenção ao aparecer com um cavalo aquela hora da noite.

Em Alicante,me dirigi ao local que meus informantes haviam indicado.Logo percebi que estava no lugar certo,o som alto de uma festa preenchia meus ouvidos,e uma feiticeira de pele azul fumava na janela daquela grande casa.

Balancei minha,cabeça num gesto de desaprovação.Não conseguia acreditar que havíamos chegado a um ponto em que aquilo era permitido na cidade natal dos Caçadores de Sombras.Lembrando-me do plano,me dirigi á um beco escuro próximo á barulhenta casa.Não pude deixar de sorrir.Era o local perfeito para a minha tarefa.

Fiquei mais algum tempo lá,esperando,porém,para a minha sorte,logo ouvi duas vozes masculinas conversando:

–Ainda não acredito que você me convenceu a vir para essa festa.

–Ah,vamos,foi divertido,admita!-Ele ria.

–Sim...não...digo...talvez eu tenha me divertido um pouco sim.

–Não te disse,amor?Eu ainda acho que deveríamos ter ficado mais tempo na festa.Não está nem na metade.Ainda dá tempo de voltar se quiser.

–O que?Mas já passou da meia-noite!-O garoto parecia estarrecido.-E acho que bebi demais.Nem pensar que eu volto para aquela festa.

–Você realmente não está acostumado com as festas do Submundo.Ou melhor,com festa nenhuma.-O homem riu novamente.-O que é um tanto intrigante,levando-se em consideração que você é namorado do antigo maior festeiro do Brooklin!

Eles continuaram conversando,mas não prestei atenção.Namorado.Festeiro do Brooklin.Festas do Submundo.Não está acostumado a festa.Tudo indicava que de fato eram eles.

Se ainda me restava alguma dúvida,esta se foi quando eles se aproximaram e pude enxergar o brilho dos olhos felinos do homem que tanto ria.

Após ter certeza de quem eles eram,me posicionei estrategicamente em frente á eles.Eles mantinham uma conversa animada,e se assustaram ao ter sua passagem impedida.Foi o dono dos estranhos olhos quem falou primeiro:

–Pode nos deixar passar,por favor?

–Receio que não.-Declarei após pegar minha lâmina e enfiá-la no peito do jovem rapaz ao seu lado.

Quase senti pena do garoto.Seus olhos azuis eram de fato transparentes,extremamente honestos,revelavam tudo o que lhe passava pela mente:surpresa;dor;medo;e principalmente...incompreensão.

–Quam é você?-Questionou ele,com a voz engasgada.

Não respondi,mas meu capuz deve ter caído,pois logo seu olhar se tornou puro espanto e incredulidade.Por fim ele disse:

–Você...-Sua voz falhava.-Valentim...Pensei que fosse só uma história.

–Todas as histórias são verdadeiras.-Declarei e sai correndo,puxando o capuz para encobrir meu rosto logo após largar seu corpo caído no chão,sangrando.