POV Jonathan Christopher

Eu mal podia disfarçar a ansiedade em minha voz ao lhe perguntar sobre sua vida.Eu queria saber tudo sobre ela:parentes;gostos;idade;forma de pensar,absolutamente tudo.

Foi naquele dia que descobri que mesmo que fosse um mundano ao invés de um Caçador de Sombras eu jamais poderia ser ator,pois notei em seus olhos que Kimberly percebera minha decepção ao ver que ela me negara um beijo,mesmo tendo tentado esconder isso para não magoá-la.

De qualquer forma,por ora,me contentava com sua doce companhia e descobrir cada vez mais sobre o mundo daquela bela garota.Mundo este que soube que era bem extenso quando ela me perguntou:

–Bem,o que exatamente você quer saber sobre mim?

–Qualquer coisa.-Respondi,dando de ombros.

–Receio que precise ser mais específico,Jonathan.

–Para começar,porque não me fala sobre o que gosta de fazer?Quais são seus hobbies?-Escolhi esta entre uma infinidade de questões possíveis de serem feitas.-Gosta de ler?Toca algum instrumento?

–Adoraria,mas infelizmente sou um fracasso no campo musical.Não tenho talento para nada.Gosto de ler,mas não é exatamente minha paixão,como algumas pessoas dizem.E você,sabe tocar alguma coisa?

–Ah...-Porque eu havia falado sobre tocar algum instrumento?Aquilo acontecera há tanto tempo.E era melhor esquecer logo.No entanto,agora eu estava sendo obrigado a mexer com certas memórias indesejáveis:-Quando era pequeno,aprendi a tocar flauta.Eu amava tocar.Mas meu pai me proibiu de tocar nela ou de me interessar por qualquer outro instrumento musical que fosse.

–Que horror!Porque ele faria uma coisa dessas?

–Até mais ou menos os meus 10 ou 11 anos,meu pai cuidava de um outro garoto além de mim.Nunca o vi,mas ele vivia falando dele.Assim como eu,esse menino aprendera a tocar um instrumento musical,não a flauta,mas o piano.Ele cresceu e acabou traindo o meu pai,tornando-se uma decepção para ele,o que foi uma surpresa já que o pianista sempre fora claramente seu preferido.O fato é que ele atribuiu a culpa dessa decepção não só ao piano como á musica em geral.Ele dizia que a música tornava um homem fraco,sentimental demais.Por isso ele me proibiu de tocar flauta.

–Mas você não tentou desobedecê-lo?-Perguntou Kimberly,curiosa,após um minuto de silêncio.Eu lhe lancei um sorriso amargo e disse:-Acho que isso seria meio difícil,levando-se em consideração que ele quebrou minha flauta e rasgou minhas partituras.

–Oh,sinto muito.Eu realmente não sabia.

–Não é nada,você não tinha como saber.-Respondi,tentando sair do torpor que aquele triste assunto me colocara.-Desde que perdi minha flauta,a minha paixão é ler.Meu pai não me deixa ler romances,deixando os poucos que tem em lugares difíceis de pegar,mas eu procuro bem,e essa regra eu desobedeço quando ele está fora(o que acontece com certa frequência),afinal,é meu gênero literário preferido.Você me disse que ler não é seu maior hobbie,mas gosta um pouco,então de que gêneros você gosta?E qual é o seu maior hobbie?

–Eu sou completamente cinéfila!-Ela respondeu em meio a gritinhos,daquele jeito que todo fã faz quando fala sobre algo que gosta muito.Ao perceber a confusão estampada em minha face,ela explicou:-Isso significa que sou fã de cinema.Mas também amo teatro,séries,novelas,musicais...artes cênicas em geral.Quanto ao gênero literário,bem...eu costumava gostar de romance e terror,mas nos últimos tempos tanta coisa aconteceu...-ela parecia desconfortável,sem saber o que dizer-acho que prefiro drama.

–Você gosta de Shakespeare?-Como fã que sou não pude me conter.

–Nunca li nada dele,mas assisti várias peças!São todas ótimas!Qual é a sua preferida?

–De fato sã todas incríveis,mas como todo bom romântico,a minha preferida é Romeu e Julieta.E a sua?

–É realmente uma peça linda!É difícil escolher uma...adoro Hamlet,mas sou fanática por Titus Andronicus!Sim,acho que ela é a minha preferida.

–A mais sanguinária de todas as obras shakespearianas?Eu sou seu oposto:li vários livros,mas nunca vi as histórias sendo encenadas.Na verdade...-comecei,envergonhado-nunca fui a um teatro ou cinema.É legal?

–Você está falando sério?Nunca foi a um cinema,nem teatro?-Ela parecia chocada,como se aquilo fosse a coisa mais triste que já tivesse ouvido.-Isso é um horror!Preciso te levar para ver um filme!

–É só marcar o dia.-Respondi,alegre.

–E então,sobre o que mais você quer me perguntar?

–Deixe-me pensar...você é realmente francesa,ou foi transferida de algum Instituto para estudar lá e estudar o hábito de outros Caçadores de Sombras,estrangeiros?

–E então,Jonathan...-percebi pelo nervosismo em sua voz que havia algo que ela não me contara,algo extremamente importante-na verdade...eu não sou uma Caçadora de Sombras.