Vermelho;

Era a cor que mais odiava;

Era a cor que estava tingida em suas mãos quando seu pai se foi;

Fora morto injustamente;

Na frente daquela pequena garota;

Deixando a mãe dela traumatizada e viúva;

Mudaram de cidade alguns dias depois;

Mas o clima de solidão ainda pesava nas costas das duas;

Era triste;

Perdeu as contas das vezes que encontrou a mãe enrolada nos lençóis chorando;

Aquela cor ainda a abalava;

Tanto que tinha até mesmo seu cardápio tinha mudado;

Não comia mais carne vermelha ou branca;

Os vegetais imperavam desde o café da manhã até o jantar;

Acostumou-se também a pequena;

Gostava de tomate e maçã, assim como outras frutas vermelhas;

Tinha de comê-las escondido para sua mãe não ter crises de choro;

Nada em sua casa era vermelho;

O branco e o preto eram visto em cada cômodo;

Apesar de tudo isso, elas viviam bem;

Amigas, cúmplices, confidentes…;

Foi quando a garota conheceu seu vizinho;

Passava horas o observando ler pela janela;

Parecia tão entretido na leitura que nem sentira a sua presença;

Desanimou de primeira, mas não desistiria;

Era tímida, preferia ser notada sem ao menos dizer um “Oi” sequer;

Mas hoje…

Até mesmo o “eu te amo” ela consegue dizer para esse garoto;

Pequenas frases, mas o suficiente para que ele emocionasse;

Às vezes ele chorava;

Como no dia que soube que seria pai;

Vermelho;

Era a cor que ela mais odiava;

A cor que tingiu suas mãos ao pegar a pequena criança pela primeira vez;

A cor da vida e da morte;

Chorou de felicidade;

Segurava com todo o carinho e cuidado a vida que gerou com ele;

Gilbert era seu nome;

Pai deste pequeno Fritz;

Aposto que deves estar morrendo de vontade de tê-lo em seus braços;

Seu pequeno;

Logo estaremos de volta querido;

Para o nosso conforto;

Nossa casa;

Nossa família.

Nossa vida.