A Dança Dos Demônios: A Maldição escrita por Alpaca


Capítulo 1
Capítulo I - O Início


Notas iniciais do capítulo

Ahkascius planeja fugir essa noite, e encontrar um modo mais fácil e menos doloroso de praticar bruxaria, mas algo acontece, e seus planos deverão mudar.



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O sino da igreja tocou, anunciando o término da missa. Todos saíram cabisbaixos, fazendo suas preces. Eu os imitei, embora estivesse pensando naquele delicioso pedaço de carne que me aguardava em casa. Era isso, ou ser queimado até a morte na fogueira.

Sabe quando as pessoas contam aquelas histórias de bruxas más fazendo satanismos para todos os seus vizinhos e estuprando criancinhas? Pois é, isso não é bem verdade. Não em parte, pelo menos. Nós estupramos mesmo criancinhas. Tudo bem, essa parte é mentira. A verdade é que bruxas não são necessariamente mulheres, e existem muitos tipos de bruxos. Existem aqueles que adoram Satanás, aqueles que adoram a natureza, e há quem adore estuprar criancinhas. Eu sou do tipo que adora o sarcasmo. Para falar a verdade, eu ainda não decidi o que vou adorar. Demônios, natureza, criancinhas... para mim não faz diferença, desde que façam o que eu quero. É nisso que consiste a bruxaria, afinal. Mas tudo é baseado em uma troca justa. Você oferece algo a alguma coisa, e ela te dá o que você quer. Nesse quesito, devo dizer que os demônios são melhores.

Não fique com medo de mim. A menos que você seja uma criancinha, eu não vou te machucar. Tudo bem, eu tenho de parar com essa piada.

Sabe a parte de ser queimado vivo? Isso também é mentira. Eles não fazem isso com a gente; o que eles fazem é muito pior. E essa é a parte ruim de se mexer com demônios. Lembra de quando eu disse que tudo é baseado em uma troca de igual valor? Essa regra não se aplica quando você deixa de pagar sua dívida. Se você o fizer, tudo que restará de você em dois dias será o coração. Literalmente. E você não pode descansar. O que eles fazem é nos sequestrar e nos manter presos, de forma que não possamos fazer a troca. Acredite, a dor é imensa. E o problema é que continuamos vivos por todo o processo, e depois dele. Imagine-se transformado em carne moída, e continuar vivo. Você nunca irá cicatrizar-se, mas nunca irá morrer. Imagine sentir a dor de toda a sua carne ser transformada em purê, e sentir essa dor eternamente. E acredite, isso não é metade do que acontece.

Outra mentira: não saímos com varinhas jogando feitiços em todo mundo, e nem voamos em vassouras — a parte da vassoura é dos bruxos da natureza. Eles montam em uma vassoura e saem pulando pelas plantações, e isso faz com que ela cresça quase perfeitamente.

Agora que você sabe da verdade, é hora de começar nossa história. Meu nome é Ahkascius, e eu moro em um vilarejo pacato com um nome estranho: Mannaz. Esses nomes estranhos se dão devido à antiga população desse lugar ser inteiramente nórdica — o que explica o fato de estar situado quase que em uma montanha, e ser muito frio. Muito frio.

Apesar de esse lugar uma vez ter sido parte da cultura nórdica, onde adoravam mais de um deus, ele foi tomado pelo cristianismo. Esses hipócritas contratam bruxos para descobrir e capturar outros bruxos, e então matá-los. Dizem que são queimados em fogueiras para tranquilizar os outros bruxos. Queimar por algum tempo é melhor que sentir dor eternamente.

Por que ainda existem bruxos, se o preço é tão alto, você deve estar se perguntando. Simples: poder. Eu poderia te matar apenas cortando minha própria garganta. Eu não sentiria dor, porque posso pedir isso, também. Eu cicatrizaria em algumas horas, mas você morreria.

Acontece que eu não sou um desses bruxos comuns. Eu não faço tratos com demônios, e nem fico oferecendo frutinhas para uma estrela circunscrita — não mais, pelo menos. Eu descobri um novo modo de fazer isso. Um modo mais seguro, digamos. Venho pesquisando isso desde os meus seis anos, quando vi meu primeiro elemental. Desde então, venho anotando tudo em meu grimório.

E é por isso que estou aqui, meu amigo. Vou em busca desses seres, para que eu não precise morrer caso esqueça de pagar alguma dívida, entende? E hoje é o dia. Já preparei uma mochilinha básica com metade da minha casa. Todo dia 6 de junho, às seis da manhã, eles precisam renovar o sacrifício. Esses caras são viciados no número seis. É até engraçado vê-los. E hoje é dia cinco. Faltam apenas algumas horas para que eu possa sair despercebido.

O sino da igreja tocou três vezes. Meia noite. É isso, tenho mais seis horas. Hora de dar uma última checada nas coisas por aqui, e de terminar o contrato. Já preparei tudo, agora só falta... o ritual. Dois rituais em seis horas. Eu consigo.

Desci rapidamente ao porão, onde era visível uma estrela circunscrita desenhada com sal. Depositei a minha colheita desse mês — e não foi pouca — na ponta norte. Nas outras pontas da estrela, depositei uma vela branca em cada, e no centro, um caldeirão com terra. Retirei meu athame do bolso — ah, como vou sentir falta dele —, e fiz um pequeno corte em minha mão, de forma que o sangue escorresse e pingasse no caldeirão. Pronunciei algumas palavras, e penetrei o punhal no caldeirão. O sangue escorreu mais, e o fogo aumentou. Ventava muito, mas o sal não saía do lugar, e o fogo não se apagava. De repente, tudo se acalmou. Estava feito.

Joguei fora a terra do caldeirão, e o enchi com sangue — dessa vez, não era meu —, troquei as velas brancas por pretas, e onde estava a colheita, depositei corações das caças que havia feito durante o mês. Penetrei o caldeirão novamente com o athame, dessa vez embebido em álcool. Começou a ventar novamente, mas dessa vez, mais intensamente. O sal se foi. Droga, era o que eu temia. Os demônios não deixarão eu me libertar. Não se pode ter um contrato com os dois, e parece que os demônios perceberam que eu estava dando um jeito de burlar essa regra. Eles não iam deixar eu sair, mas eu não morreria. Se eu ainda tivesse o contrato da natureza, estaria tudo bem. Droga, devia ter desfeito o contrato dos demônios primeiro. Droga, droga, droga.

— Vai a algum lugar, Ahkascius? — uma voz estridente sibilou em minha mente, e eu soube.

— E o que isso tem a ver com você, Thurisaz?

— Eu sou seu demônio, e você não vai escapar de mim. Pensou que eu não sabia, não é? — respondeu a voz, e logo uma fumaça negra se materializou no porão. — Eu via você pulando feito idiota com aquela vassoura pelo pomar. Eu sabia que você iria me trair. Não se preocupe, Ahkascius. Somos amigos inseparáveis!

A fumaça iluminou-se com uma luz vermelha em dois pontos, que revelavam ser dois olhos. Os olhos de Thurisaz. Ele soltou uma gargalhada demoníaca típica — recheada de sarcasmo e ódio.

— Eu não vou deixar você fugir, Ahkascius — completou. Nesse momento, senti uma dor horrível em meu braço, e ele se desfez. Em seu lugar, surgiu um outro braço cheio de pentagramas desenhados por todo ele. — Se você pensar em me trair, eu vou saber. Mas como sou um demônio muito legal, vou facilitar as coisas para você. Veja! Você tem um ritual portátil bem no seu braço!

— Desgraçado! — esbravejei. — Vá para o inferno, maldito!

— Sim, sou mesmo — retrucou, começando a rir. — Acabei de voltar de lá, e não é um lugar muito agradável, Ahkascius. Comporte-se, ou mando você direto para lá. Você sabe o que acontece com pessoas que vão para lá, não é?

A sombra riu novamente, desmaterializando-se. Droga. Talvez se eu conseguir achar os elementais, eles poderão tirar essa droga de mim. Eu preciso correr. Eu preciso dar um jeito nesse braço, droga. Umas faixas resolvem. Tenho pouco tempo, preciso andar rápido.


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Notas finais do capítulo

E aí, pessoal! Esse capítulo ficou um pouco chatinho porque eu tive de explicar algumas verdades, e como funciona toda a parada dos páquitos com o tinhoso e o estupro das criancinhas. O próximo vai ter menos blábláblá, e mais estupro de criancinhas. Mais ação, digo. Comentem, digam o que acharam! Deixem sugestões e críticas! Obrigado por ler, e até o próximo capítulo!