Já estava na segunda semana de aula e como sempre tinha aula de Feitiços com a Sonserina depois do almoço nas sextas. Os alunos da Grifinória tinham aula de Transfiguração no mesmo corredor, então eu fui com James, Aaron, Nicholas e Katherine.

Eu não era exatamente amiga desses outros três, mas como James ficou grudado neles era impossível não conviver. Era incrível como eles pareciam melhores amigos de infância em tão pouco tempo, com suas brincadeiras e piadas internas que eu sempre ficava boiando.

Aaron era bem divertido na maior parte do tempo. Nós conversávamos algumas vezes mas o menino era muito influenciável, tudo que os outros diziam ele concordava,e isso era complicado. Nicholas estava sempre com James, eles riam do nada, cochichavam e planejavam coisas, mas o loiro não me transmitia nenhuma confiança. Ele parecia falso, interesseiro e sempre me olhava de um jeito estranho, com um sorriso de desdém. Katherine era tratada como a princesa do grupo, sempre empoleirada no pescoço de James. Ela conversava comigo as vezes, mas me olhando em desafio, sorrindo falsamente... e o pior era suas palavras. Ela tinha uma maneira de me insultar em publico dizendo coisas que parecem elogios, mas não são. Katherine não gosta de mim, e eu não gosto dela.

_ Está entregue loirinha. – Nicholas diz quando chego na porta da minha sala, onde alguns alunos estão conversando.

_ Não me chame assim McLaggen. – murmura cruzando os braços e ele ri, mas não um riso feliz, aquele riso que me dava arrepios.

_ Não precisa ficar brava Nique, é brincadeira. – James diz revirando os olhos.

_ Ela tem razão James... Dominique não tem tanta intimidade com nós para ser chamada por apelidos. – Katherine diz sorrindo tão gentil quanto um centauro. – Nós vemos no almoço Dominique.

Eu suspiro vendo eles se afastarem correndo e rindo, entro na sala e vou até um assento vazio ao lado de um menino da minha casa. Ele tinha cabelos castanhos enrolados e rabiscava freneticamente em um pergaminho. Já havia visto ele antes, é claro, mas não sabia seu nome. Na verdade eu não sabia o nome de muita gente já que passava muito tempo com James e os outros.

_ Olá... Eu sou Dominique. – digo tirando meu livro da mochila. – E você é o...

_ Jack Pierce. – ele responde sem me olhar. – Ficamos lado a lado em herbologia.

_ Claro, eu me lembro. – minto dando de ombros. – Mas não sabia seu nome. O que está fazendo?

_ Nada. – diz ainda rabiscando.

_ Nada... Isso não é nada... Deixa eu ver. – falo me inclinando, ele se afasta e amassa o pergaminho jogando na bolsa. – Porque fez isso?

_ Não queria que visse. – responde abrindo o livro. Eu aceno com a cabeça e o encaro por um tempo enquanto ele le. – Para de encarar.

_ Não. – digo sorrindo e me divertindo.

_ Para, isso é chato. – ele diz fechando o livro e me olhando. – Se não parar vou te encarar também.

_ Ok, vamos ver quem aguenta mais. – desafio me endireitando na cadeira e olhando para ele, Jack suspira e também me encara, seguro o riso algumas vezes e ele também parece querer rir, meus olhos ardem mas não pisco nem uma vez. – Posso aguentar isso o dia todo Pierce, desista...

_ Não vou desistir Weasley. –Jack diz sorrindo com os olhos marejados por não piscar. – E não me chame de Pierce.

_ Porque?

_ Não gosto do meu sobrenome.

_ Porque?

_ Porque não.

_ Porque não não é resposta! – digo curiosa e então a porta da sala se fecha bruscamente me fazendo piscar, sinto meu olhos arderem com as lagrimas e me viro irritada para Jack.

_ Venci. – ele diz sorrindo e abrindo o livro de novo.

_ Ah, isso não valeu! – exclamo batendo o meu livro na mesa.

_ Não sei o que não valeu, mas se acalme Senhorita Weasley, e vamos todos abrir o livro na pagina 7 por favor. – a professora diz me olhando severamente e eu coro ouvindo Jack rir baixinho.

_ Você é um chato. – resmungo pegando minha pena.

_ Tudo bem, você também não é muito legal. – Jack responde rindo e eu acabo rindo junto. Ele era legal, na verdade. Só que também era esquisito.

A sala passou rápido e logo nos guardamos o material. Jack, atrapalhado, derrubou tinta no chão da sala toda e tentando limpar ficou cheio de manchas pretas na roupa, o que me fez rir.

_ Se correr você consegue trocar antes da próxima aula. – digo saindo com ele para o corredor.

_ É... Até mais Weasley. – Jack diz emburrado com a roupa e sai correndo para a sala comunal. Eu pego meu horário já que ainda não tinha decorado tudo e vejo que minha próxima aula é de DCAT com a grifinória. Sorri com isso e fui até a sala do quarto andar pensando um pouco sobre a carta que estava no meu quarto.

Eu havia escrito para meus pais no meu terceiro dia e recebi uma resposta no começo dessa semana, mas ainda não tinha aberto... Eu tinha medo do que eles iam falar.

_ Ei, Weasley... – uma voz me faz parar e levanto a cabeça olhando um grupo de sonserinos que devia ser do quarto ou quinto ano.

_ Sim?

_ Como é para você? – um deles pergunta parecendo curioso. – Ser a única excluída da família?

_ Não sei do que está falando. – digo apertando meus livros mais forte e tentando ir, mas outro coloca o pé na minha frente me fazendo cair no chão.

_ Claro que sabe baixinha. – o primeiro continua rindo. – Sua família é conhecida por atos heroicos, grandes bruxos, todos da Grifinória geração por geração... Mas você... Você não foi digna da nobre casa não é? O chapéu viu em você o que eu vejo na sua família... Nada. Você não é nada... É insignificante, e foi para uma casa de gente como você. Seus pais devem ter ficado tristes. AO invés de ter outra filha perfeita como sua irmã... eles tiveram uma maçã podre.

_ CALA A BOCA! – grito me levantando. – Você é horrível, um trasgo! Porque está dizendo isso? Não tem mais nada para fazer?

_ É verdade, eu tenho sim. – ele diz pensativo. – Você não merece minha atenção... Eu só estava curioso para saber como é ser a rejeitada da elite.

_ Bom você nunca será da elite, então nunca saberá! – digo empinando meu nariz do mesmo jeito que vi Vicky fazer um dia e sai dali correndo até a sala de DCAT.

A sala já estava bem cheia. Molly acenou para mim em uma carteira da frente e logo voltou a ler ajeitando sua saia antes. A roupa dele estava sempre impecável, lisa, sem manchas, como tudo dela.

Avistei James na segunda fila, mas ele já tinha se sentado com Nicholas, atras estavam Katherine e Aaron. Eles pareciam planejar algo secreto, pois falavam bem baixinho e pararam quando me aproximei.

_ Oi Nique! – James diz limpando a garganta. – Você está bem?

_ Eu queria falar com você depois. – digo ajeitando minha mochila no ombro, os olhares dos outros três em mim me incomodavam. – Depois da aula?

_ Depois da aula não vai dar... – James diz olhando para os outros. – Mas podemos conversar amanhã, é sábado.

_ Ok... Nos encontramos no lago? – pergunto e ele afirma com a cabeça. – Depois do almoço.

_ Tudo bem Nique! E leve meu boné!

_ Ele é meu James, desista. – digo rindo e me afasto até a última carteira onde Fred está sozinho batendo na mesa com um lápis e a varinha em um ritmo rápido. – Cuidado Fred! – digo vendo faíscas saírem da sua varinha.

_ Ah Dominique! Você me desconcentrou! – ele diz largando as “baquetas”. – Quer sentar comigo?

_ Posso? – pergunto hesitante e ele afirma. – Valeu.

_ Tudo bem, você deve estar meio perdida agora que James fez novos amigos. – Fred comenta olhando para sua varinha que já estava lascada em um ponto.

_ Não estou. – murmuro torcendo os dedos.

_ Está sim! Mas não se preocupe, logo você arranja amigos também... e como vai com os texugos?

_ Não fale assim... Os texugos... é estranho! – comento com uma careta.

_ Não é não. Nós somos os leões, vocês são os texugos. Texugos amarelos! Dominique nique-nique, você é um texuguinho! – Fred diz cantarolando e rindo da minha cara, decido ignorar as piadinhas dele e me concentro na aula, com Fred soltando comentários engraçados a cada três minutos me fazendo dobrar de rir.

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Sábado amanheceu meio frio, então me agasalhei com um casaco fino, o MEU boné e fui tomar café. O meu salão comunal estava bem vazio, por que ainda era cedo, mas continuava com aquele cheiro maravilhoso de chocolate quente. Nos corredores corria um vento frio que me fez apressar o passo até o Salão Principal.

_ Bom dia texuguinho! – Fred diz quando passo por ele na mesa da Grifinória. Molly está sentada mais a frente com duas meninas conversando, Teddy estava ali perto mexendo no seu café e Vicky está ao lado de Fred remexendo nos seus ovos. – Nem pergunte, os dois tão com essa caras de bunda e não respondem quando você pergunta o que aconteceu.

_ Não me chame de texuguinho Fred! – digo lhe dando um tapa. – E é melhor não se meter na briga de casal desses dois...

_ Não somos um casal! – Vicky e Teddy exclamam juntos e se entreolham surpresos me fazendo segurar o riso, diferente de Fred que gargalhava abertamente.

_ É... To vendo m-mesmo... – ele comenta rindo.

_ Bom dia, qual é a graça?- James chega perguntando e se sentando ali na frente com Nicholas e Katherine.

_ Teddy e Vicky estão brigados mas não são um casal. – respondo enquanto Fred se controla. – Estamos rindo dessa mentira...

_ Ah claro... Mas tome cuidado Teddy Lupin, não vai machucar minha prima hein? – James diz apontando o garfo para Teddy.

_ Ownt! Que fofo James! – Vicky diz retirando a tromba um pouco.

_ É... Não acostuma não... Mas é só um aviso. – James diz se servindo de suco e olha para mim. – Vai ficar plantada aí ou vai se sentar?

_ Jay... Ela não é daqui, vai se sentar com a Lufa-Lufa, não é Dominique? – Katherine diz sorrindo tão verdadeiramente quando o nariz de Voldemort.

_ Isso. – respondo depois de contar até 10. – Não vemos depois do almoço James?

_ Huhum... – ele diz comendo salsichas e eu vou para a minha mesa que já está bem cheia. Avisto Jack comendo em um canto mais afastado lendo um livro e vou até lá me sentando.

_ Bom dia Pierce!

_ Bom dia, e não me chame pelo sobrenome. – ele responde fechando o livro e tomando um gole de suco. – Porque o boné aqui dentro?

_ Mania. – dou de ombros me servindo de bolo de caldeirão. – Você faz alguma coisa além de ler?

_ Sim.

_ O que?

_ Porque?

_ Só responde! – exclamo nervosa e ele ri.

_ Ler é muito bom, mas também sou incrivelmente bom em Snap Explosivo... E voo bem... Um pouco...

_ Vai tentar entrar pro time? – pergunto curiosa.

_ Ano que vem talvez... Mas não é prioridade. – ele diz voltando a abrir o livro.

_ Você usa umas palavras difíceis. – comenta e Jack ri pelo nariz.

_ Prioridade não é uma palavra difícil. – ele responde e eu dou de ombros comendo. – Eu estava pensando em voar um pouco hoje a tarde... Você voa?

_ Sim.

_ Quer ir comigo? – ele pergunta meio nervoso.

_ Eu ia adorar.... – respondo sincera, porque realmente seria legal. – Mas eu combinei de encontrar meu amigo.

_ O Potter? – Jack indaga franzindo a testa e eu afirmo. – Não acha que anda muito com os Grifinórios?

_ E isso é ruim por acaso? São minha família, meus amigos...- digo pensando que Katherine, Nicholas e Aaron não são exatamente amigos, mas estou sempre junto deles.

_ Não é ruim, é só que... Você está sempre com eles. – ele diz olhando para mim. – E com isso está se afastando da própria casa. Me diz... Qual o nome das suas colegas de quarto?

_ Hm... Tem a... a Watson! – respondo pensando e ele afirma com a cabeça. – E aquela loirinha... Freya..?

_ Isso... Vai por mim Dominique, tente se aproximar do pessoal da nossa casa. – ele diz meio hesitante como se pensasse se era certo me contar algo. – Eu ouvi alguns falando... Que você era metida, que renegava a Lufa-Lufa, que só fica com os Grifinórios porque os considera melhores...

_ Mas não é assim! – exclamo surpresa.

_ Eu sei. Eu vi que você não é isso... Mas os outros não sabem, porque você mal conversa com eles. – Jack se levanta e pega se livro. – Só pensa no que eu disse ok?

Eu aceno com a cabeça e fico ali pensando em tudo encarando meu bolo. Era verdade que eu mal falava com meus colegas. Eu sempre ia dormir em silencio e acordava cedo, então mal conhecida as meninas que dividiam o quarto comigo. Nas aulas eu sentava cada dia com uma pessoa diferente, e nos intervalos estava sempre com James, Fred e seus amigos.

Olhei discretamente em volta e percebi um grupo de primeiristas cochichando e olhando de relance para mim. Podia ser síndrome de perseguição mas achei que falavam de mim.

Decidi balançar a cabeça e esquecer isso, estava sendo boba. Terminei meu café e fui para meu quarto, peguei meu dever de poções e desci para a sala comunal para fazer até dar o horário do almoço. Quando finalmente terminei, subi, peguei a carta ainda fechada dos meus pais e fui almoçar.

Eu ia abrir aquela carta hoje, com James ao meu lado.

Tudo ia ficar bem.