A sensação de estar morrendo não é das melhores, e a pior parte disso é não poder fazer nada.

Eu havia sido transferida para uma especie de quarto onde eu ficaria hospedada dentro do hospital, acho que os médicos não queriam que eu morresse em casa, então eu ficaria naquele quarto por um tempo, as paredes eram em um tom verde que causava enjoos, nessas paredes habitavam quadros com flores e alguns com uns cervos tomando água de um lago. Também nessas paredes haviam varias tomadas, uma cama própria de hospital e sobre essa cama haviam várias saídas para oxigênio. Aquele quarto tinha tudo para ser normal, mas ao mesmo tempo ele não tinha nada de normal.

Collin entrou no quarto segurando uma caixa não muito grande, mas também não muito pequena e depositou a caixa sobre um criado mudo.

–Tem certeza que é apenas isso?- ele apontou para a caixa

–Sim, acho que não é necessário muitas coisas para morrer- me sentei na cama cabisbaixa

–Não fale assim, eu vou doar meu rim para você- Collin passou os braços sobre meus ombros e beijou minha cabeça

O que Collin disse parecia romântico e até mesmo fofo, porém me irritou extremamente, ele não podia fazer isso comigo e eu não podia fazer isso com ele.

–Não sei se você falou brincando ou não, mas mesmo assim você não vai doar seu rim- tirei seu braço dos meus ombros e levantei da cama enquanto o mesmo continuou sentado

–Jessie, eu não estava brincando, eu vou doar meu rim para você

–Não Collin, você NÃO vai- dei enfase ao "não"

–Por que? Me dê um motivo aparente- ele levantou da cama e ficou de frente para mim

–Porque Collin é um rim, você sabe o que é isso? É um órgão extremamente importante, não é como se fosse um coração, mas mesmo assim ele ainda é necessário, você sabe o quanto que vai ter que se cuidar? Não quero que se arrisque por mim- virei as costas para ele e algumas lagrimas desceram

–Jessie eu te amo, eu vou me arriscar por você, e-eu já vi seus exames, somos compatíveis- ele me abraçou

–Não Collin, não vê meu ponto de vista? E se não dermos certo? E se terminarmos? Vai pedir para o tribunal seu rim de volta? Não pode se arriscar por mim- me desvincilhei do abraço- e foda-se se somos compatíveis ou não, eu não quero isso e tenho todo o direito de negar a droga desse rim- Sai do quarto aos prantos

Corri para o estacionamento, eu não queria que ele fizesse aquela loucura, doar um rim, fiquei imaginando ele em um bar paquerando uma garota qualquer e dizendo "a desgraçada levou meu rim" e blá blá blá.

Me sentei em um banco que tinha por lá, fechei meus olhos e comecei a chorar incessavelmente, nem notei que tinha alguém do meu lado, eu só sabia chorar.

–Está tudo bem? Pergunta idiota você esta chorando- era uma voz feminina- lencinho?- ela me entregou um pequeno lenço acetinado que no qual sequei minhas lágrimas.

Finalmente abri meus olhos e vi que ao meu lado havia uma garota de longos cabelos ruivos e olhos castanhos claros que se olhássemos de certo angulo e luz certa pareceriam vermelhos, ela era linda.

–Lylla-ela estendeu sua mão para mim

–Jessie- Cumprimentei ela

–É visitante ou esta internada?- ela me perguntou

–Internada e você?- ela não tinha cara de alguém que estivesse doente

–Internada também, é indelicado perguntar o que você tem?- ela possuía um olhar inocente

–Não, não é, eu tenho um rim fajuto- sorri- e você?

–Coração fajuto... Eu preciso de um novo e se quer saber é assustador pensar sobre isso- ela desviou o olhar para os seus pés- era por isso que estava chorando?- aquele olhar inocente não desaparecia

–Não... Sim... Talvez... Desde um certo tempo para cá eu tenho chorado muito por muitas coisas.

–Me conte sua história, que eu te conto a minha.

–Ok- eu precisava desabafar

...

Eu havia contado tudo à ela, tudo mesmo, desde Ambre até minha briga com Collin.

–Uau, se quiser matar seu namorado poderia por favor me dar o coração dele?- ela disse brincando

–Agora é sua vez- finalmente falei

–Ótimo- ela deu uma piscadela- Quando eu era criança, eu tive cinco ataques cardíacos em menos de setenta e duas horas- meu queixo caiu (no sentido figurado é claro)- Depois disso minha vida ficou bem parada, os médicos passaram a me chamar de Coração de Leão, eu não podia correr muito, pular ou até mesmo comer coisas gordurosas, eu não podia nem ficar muito animada, mas eu sobrevivi... Até há algum tempo atras quando eu tive mais um ataque cardíaco que quase me matou e depois desse ataque apareceu uma mancha preta no meu coração, e agora eu estou na fila para um doador, é uma pena que corações não nasçam em arvores...

–Se eu pudesse te doaria o meu, mas estou muito ocupada tentando achar um rim- olhei para o céu

–Por que você não aceita o rim do seu namorado, afinal vocês estão namorando ha seis anos, não seis dias ou seis meses, são anos, se eu fosse você aceitaria, ele te ama e está disposto e te doar um pedacinho dele, ele já fez isso uma vez não foi?!

–O que? Quando?- não entendi o que ela quis dizer quando disse que ele já havia me doado algo

–O coração dele... Ele já fez isso, ele entregou para você, e do fundo do meu coração preto que não sabe bater, eu espero que você tenha feito o mesmo- ela olhou no fundo dos meus olhos

–Ninguém intende meu ponto de vista...

–E você? Entende o dele?- ela questionou

–E-eu- Lylla estava me desarmando

Lylla sem se despedir levantou do banco e saiu, ela não parecia brava comigo, ela simplesmente voltou para dentro do hospital, quando a porta se abriu ela passou por Collin que estava vindo em minha direção.