Eu sentia uma dor terrível nas minhas costelas, e tinha sangue escorrendo pelo meu ombro, Shelby veio correndo até mim que estava estirado no meio da avenida me retorcendo de dor. A última coisa de que lembro é da voz aveludada de Shelby me dizendo que a ambulância estava a caminho. Por fim, meus olhos se fecharam.

Assim que voltei a meu estado consciente e percebi que estava deitado em uma maca de hospital, forcei meu corpo para que eu conseguisse levantar e dar o fora dali.

– Vai com calma. -as mãos macias de Shelby tocaram suavemente em meu peito, enquanto ela me recostava em um travesseiro que tinha atrás de mim.

– Merda. –resmunguei de dor. E percebi que alguém tinha enfaixado minhas costelas, e tinha feito um curativo em meu ombro.

– Foi um acidente e tanto, aquele carro bateu com tudo na sua moto. -comenta Shelby, me fazendo lembrar que Andrew estava dirigindo o carro que tinha me acertado em cheio.

Uma coisa em que Andrew é bom, é nos acertos de conta. Eu tinha acabado de lhe dar a pior surra que alguém já tenha levado de mim, tinha o feito cuspir sangue, eu quase o matei. Eu o fiz se arrepender de ter tratado Cassie como uma qualquer,a única pessoa que podia destratar Cassie era eu,e mesmo eu tinha limites,nunca usei mais do que palavras para atingi-la.

E não sei por que, mas ver Cassie tão destroçada quanto eu vi aquela noite, tinha me feito sentir um ódio tão forte que eu não fiquei em paz até ter descontado minha raiva em Andrew Campbell, o aproveitador de pessoas vulneráveis. Eu só não contava que ele fosse tentar me matar, mesmo assim seu objetivo não era esse porque se fosse duvido que eu ainda estivesse vivo,ele só queria que ficássemos quites.

– Me tira daqui. -pedi a Shelby, ela tinha ligado para mim pedindo que eu fosse encontrá-la e o “acidente” aconteceu quando eu estava de frente para a lanchonete preferida dela, onde ela estava a minha espera.

– Eu não acho que já esteja em condições de sair daqui. -ela acariciou o meu rosto, onde eu podia sentir que tinha alguns machucados superficiais.

Depois de tanto insistir ao médico que vinha me avaliar a cada quinze minutos, e depois de ter lhe dado um cheque generoso, ele deixou que eu fosse embora. Eu odiava o ambiente hospitalar.

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Eu estava entrando no apartamento de um dos prédios que pertencia ao meu pai, que por ironia da vida era o mesmo de Cassie. Meu corpo levemente sustentado na frágil Shelby, que se esforçava para que eu não precisasse fazer tanto esforço, e vi que Perry, Erick e Cassie estavam adentrando no corredor.

– Shelby?-escuto a voz de Erick, e entro rapidamente levando Shelby comigo.

– O que diabos aconteceu?-Erick já preocupado, irrompe pela porta assim que eu deito no sofá.

– Obrigado Shelby, mas...

– Eu sei, já estou indo. -ela me interrompe, me dá um beijo na bochecha, acaricia o meu cabelo e sai nos deixando a sós.

– O que aconteceu?-Cassie pergunta me fazendo notar a presença dela ali, e surpreende Erick que também não tinha percebido que ela tinha entrado.

– Longa história. -reviro os olhos me referindo a Erick, e ignorando Cassie.

– Eu sabia que estava se metendo em problemas junto com seus “amigos”, e até tive que te encobrir novamente, o seu pai nos fez uma surpresinha e foi te procurar lá na faculdade. -diz Erick.

– Dessa vez, foi diferente. Foi um acerto de contas, do Andrew. -assim que falei esse nome, Cassie ficou ainda mais curiosa para saber o que tinha acontecido.

– Andrew Campbell!? O que tem na cabeça para se envolver com pessoas desse tipo?Sabe que ele esta metido em várias polêmicas, o irmão mais velho dele esta sendo investigado por tráfico de drogas. -Erick estava receoso e ao mesmo tempo explosivo.

– Eu devia isso a alguém, tinha que colocar Andrew em seu lugar. -dei de ombros, como se não fosse nada demais ignorando a dor que percorria pelo meu corpo.

– Foi por minha causa. -fala Cassie chamando a nossa atenção.

– Como Andrew pode ter haver com você?-pergunta Erick confuso.

– Foi só um acidente, eu estava indo me encontrar com Shelby quando Andrew bateu com tudo na minha moto me fazendo algum estrago. -falei rapidamente impedindo que Cassie continuasse o que estava prestes a contar.

Era ridículo tudo aquilo que tinha acontecido, e sem falar que minha amizade com Erick já estava fragilizada por minha própria atitude de afastá-lo, e eu sei que ele não ia gostar de saber que coloquei Cassie no meio das minhas bagunças. Erick era o único que me conhecia de verdade e mesmo não concordando com minhas atitudes, continuava a me apoiar e ajudar quando eu precisava. E também tinha Cassie, eu sabia que ela não ia querer alguém sabendo do que aconteceu.

– Andrew fez isso porque eu tinha o feito implorar por sua existência. -expliquei assim que Erick e Cassie me encaravam mais confusos do que antes.

– Deixa eu ver se entendi,você quis usar Andrew como um saco de pancada para aliviar todo o ódio que sentia e em troca ele te atropelou impiedosamente.Eu sei que nesses últimos tempos,tem um sentimento de ódio te consumindo por causa de tudo o que passou com seu pai,mas você esta se perdendo cara,ficando irreconhecível.

– Erick. -pigarreei para que ele percebesse que tinha uma intrusa entre nós.

– Andrew foi um babaca comigo, foi por isso que Tyler foi atrás dele e fez o que fez. E bem, olha só como ele está agora. -fala Cassie.

– Por acaso estão tentando me enlouquecer?Querem me explicar direito o que estão dizendo?-Erick estava impaciente.

– Naquela noite da festa eu tinha um racha para ganhar, mas só que perdi e meu adversário era o Andrew, como o ganhador pode pedir certas coisas como prêmio ele quis um encontro com Cassie e eu a fiz ir, e então Andrew foi um abusado e pensou que ela seria como as outras garotas que ele estava acostumado a sair, se é que você me entende... E o resto você sabe, eu fui atrás dele o deixei em um estado bem precário e ele fez o mesmo comigo.

– Isso é demais, o que fez com o verdadeiro Tyler?Será que não percebesse o que andou fazendo nessas últimas semanas?Se metendo com as pessoas erradas, incluindo Cassie nas suas loucuras... Eu não posso continuar participando disso, vendo o meu amigo se autodestruindo e acabando com tudo ao seu redor. Quando o velho Tyler Mackenzie estiver de volta, eu estarei aqui. -Erick me deu as costas e saiu sem olhar para trás.

– E a quem devo meus agradecimentos?Ah, sim a Cassie com sua boca que tinha que falar demais. -fui seco.

– Uma hora ou outra ele ia acabar sabendo. Foi tão grave assim?-ela me pergunta apontando para minhas costelas enfaixadas.

– Bom, ainda estou vivo não é?Quer dizer que ainda terá que me aturar. Eu podia te fazer o mesmo favor que me fez e afastar sua amiga de você.

– Como pode continuar me culpando por suas próprias idiotices? Seu orgulho é tanto que não pode reconhecer que errou?-exaspera Cassie.

– De um jeito ou de outro eu consigo te irritar não é?-assim que a provoquei ela se aproximou da porta pronta para sair.

E por mais inexplicável que fosse eu senti um pouco de medo, sim medo de não sei o quê.

– Mais que droga. -reclamei da pontada de dor que senti assim que me mexi, se estendia da minha perna até meu ombro. O que fez Cassie se aproximar de mim pronta para me ajudar no que fosse preciso,mesmo que pudesse estar me odiando depois do encontro com Andrew.

– Se eu fosse você, chamaria Shelby para ficar com você por um tempo. -diz Cassie, sentada na beira do sofá enquanto eu encarava os seus olhos de perto.

Nos últimos anos, a única coisa que eu sentia era raiva, mas de repente tinha uma pessoa com um olhar que me fazia ficar em paz, que me dava calma, era como se passasse a mensagem de que estava tudo bem, de que ainda tinha coisas boas no mundo. Mas infelizmente essa pessoa era a Cassie, e nunca nos entendemos muito bem, e nem poderia, eu não podia me permitir ser o fraco que meu pai achava que eu fosse.

– O que foi?Ainda estamos em trégua. -fala Cassie percebendo que eu achava estranho por ela estar ali comigo.

– Por quê?-perguntei.

– Porque eu não sou o monstro que você imagina que eu sou. -responde Cassie sorrindo tristemente.

Eu, Tyler Mackenzie sou um poço de bagunça e contradição. Ignorei toda a dor que eu sentia, firmei minha mão na nuca de Cassie e a beijei novamente, mas dessa vez ela também retribuiu. E pude sentir que mesmo que ela nunca admitisse se preocupava comigo, e mesmo que eu nunca admitisse eu desejava Cassie ferozmente, a odiava e a desejava, e isso era o meu fim.

– A gente se odeia. -ela disse assim que nossos lábios se separaram, ainda com os olhos fechados, enquanto eu sentia sua mão com todo cuidado afagando meu queixo.

– Eu sei, isso não muda nada entre a gente. -acariciei sua cintura.

E não mudava mesmo, beijar Cassie podia ser muito bom, mas ela continuava sendo a causa de meus problemas.