Giant of Science escrita por Bárbara Brizola


Capítulo 3
Capítulo 3: Liberdade


Notas iniciais do capítulo

Chegamos a mais uma despedida suas lindas e seus lindos!
Mais uma vez obrigada a todos que deixaram seus reviews e recomendações tanto aqui quanto em GOM. Ainda vale recomendar as duas viu?

Dedico este capitulo a linda da Nicky Wingates que recomendou divinamente e me deixou levemente chorosa. Obrigada de coração!

Dedico a todos que chegaram ate aqui meu mais profundo obrigado e sintam-se amados!

Dedico a historia a linda da Flavia Rolim que me apoiou e animou sempre, sem ela eu ainda estaria parada na vida esperando um soco da inspiração.

Obrigada de coração!
Divirtam-se!!!



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Bruce estava terminando de organizar o laboratório, antes de o seu turno terminar, quando ouviu a porta bater as suas costas. Raramente alguém vinha até ele. Mas não era nenhum funcionário da Stark Industries. Era Natasha Romanoff.

– Você já foi mais silenciosa. – Ele disse com um sorriso de canto. Não era nenhuma surpresa que ela tivesse subido sem ser vista por Happy.

– Não estou em missão oficial. – Afirmou se encostando ao balcão. Apesar da afirmação ela vestia seu uniforme preto.

– Bom saber que eu não sou a missão do dia.

– Achei que gostaria de saber que a mídia não o procurou, apenas porque Fury cuidou disso para você. Stark ajudou um pouco, mas ninguém desafiaria o Fury. E estamos rastreando os passos da Hand infiltrada. Steve ficou muito impressionado com o disfarce. – Ela comentou displicente. – Foi ousado usar o rosto de alguém de Nível alto.

– Certo. Devo agradecer? – Perguntou, pendurando o jaleco num suporte.

– Se quiser. – Ela afirmou indiferente.

– E como vou saber se você mesma, não é uma agente disfarçada? – Perguntou com um meio sorriso. Ela não correspondeu. Ele riu.

– Mas acho que já ficou óbvio que a S.H.I.E.L.D., vai vir atrás das informações uma hora ou outra. Assim como a H.Y.D.R.A. vai. Não seria mais simples nos dizer o que ele quer saber?

– O que ele quer saber está além do que eu mesmo sei, Natasha. – Seu timbre era suave e tranquilo. Abriu a porta do laboratório e fez um gesto para que ela passasse na frente. O elevador estava vazio quando entraram. – Além disso, o que ele pode querer com um portal dimensional? Abrir e deixar que coisas que não entendemos venham parar aqui?

– Eu não sei o que ele quer. Está alem do meu Nível de Acesso. – Explicou tranquila. – Mas não seria mais fácil ceder?

– Pode ser que não dê em nada, mas existem duas pessoas que poderiam se prejudicar com isso. – Afirmou tranquilo. – E eu não sou do tipo que prejudica os amigos apenas para seguir ordens.

– É apenas um experimento. Ninguém vai sair prejudicado, Bruce. – Ela falava de maneira inexpressiva e fria. Podia não estar em missão, mas se conseguisse o convencer ganharia alguns pontos dentro da agência.

– É apenas um experimento que coloca a S.H.I.E.L.D. atrás da Liana outra vez. – Afirmou enquanto chegavam ao átrio. Os lábios de Natasha se crisparam ao ouvir o nome dela. Nunca tinha lembrado de nada, mas tinha atuado no acompanhamento dela durante as Olimpíadas e se lembrava bem do trabalho que tinha dado. Além disso, Liana tinha fugido embaixo dos narizes dos melhores agentes da S.H.I.EL.D., e Natasha não estava acostumada a ser passada para trás.

– Bom, eu só tinha que trazer esse recado. Boa sorte. – Ela disse secamente antes de se afastar e entrar em um carro preto. Ele riu sozinho, exasperadamente. Não estava em missão? Mas a conversa talvez comprasse a ele mais seis meses de sossego antes do próximo contato.

Bruce pegou um táxi. Seu carro só ficaria pronto no dia seguinte. Quando chegou, Anong já estava no quarto de volta da arquearia. Ele gritou um cumprimento da porta antes de ir direto para o banho.

Comeram um sanduíche que a menina preparou na cozinha e saíram apressados. Não demoraram a chegar ao curso. Anong subiu para a aula e ele se sentou em um café no outro lado da rua, onde passaria as próximas duas horas a esperando. Pediu um capuccino e um bolo, antes de permitir se distrair mexendo no celular por quase uma hora e meia.

O celular vibrou na mão dele, quando o nome de Steve Rogers piscou na tela. Era raro receber ligações do amigo e depois dos últimos dois dias ele não conseguia esperar nada de bom.

– Oi Steve.

– Oi Bruce. Eu queria te pedir desculpas pelo problema com a falsa Agente Hand. – Esclareceu. - Viemos no mesmo avião e foi a primeira vez que a vi. Quando ouvimos os outros agentes falando sobre o que Tony andou inventando as suas custas ela pareceu interessada... E eu achei que fosse, sabe, interesse mesmo... – Justificava-se sem jeito. O cientista riu baixo. Parecia que todos tinham virado casamenteiros.

– Não se preocupe. Acho que consegui assustar o bastante para não quererem repetir o feito. – Comentou com bondade. Steve riu. – Eu imagino que as coisas devem estar uma loucura.

– Estão. Desde o levante da H.Y.D.R.A. as coisas se tornaram complicadas, mas ainda assim estamos conseguindo por a casa em ordem. Lentamente, mas vamos conseguir. – Afirmou confiante. A organização tinha saído das sombras durante o período em que Liana estivera se recuperando. Desde lá as coisas tinham ficado confusas. E aquele pensamento o lembrou de que não tinha dado uma notícia ao Capitão. – Eu vi Liana Stark na casa do Tony. – Contou enfim. A resposta demorou um segundo a mais.

– Ela continua vindo então? – Perguntou rindo. – Como ela está?

– Não cheguei a conversar, mas me pareceu ótima. Estava indo embora quando cheguei.

– Que bom que ela está bem...

– Que tal mudarmos de assunto antes que a Maria escute? – Sugeriu rindo abertamente. Steve riu alto.

– Fury conseguiu despistar a mídia? – Prosseguiu aceitando a deixa.

– Aparentemente, sim. De qualquer forma não conheço muitas pessoas que se arriscariam a chegar perto sabendo que vão me irritar. – Comentou com uma risada. O amigo também riu.

– Certamente não. – Concordou.

– E quando vocês vão fazer uma visita? – Questionou enquanto via a filha sair do prédio e atravessar a rua. Estava acompanhada da professora.

– Vou combinar com ela e te avisamos, pode ser?

– Pode, pode sim. Preciso desligar agora, Steve, mas combinem mesmo. – Falou, enquanto a filha e a professora ocupavam cadeiras ao lado dele.

– Certo, até mais! – O loiro despediu-se antes de desligar. Ele verificou o horário no aparelho. Ainda faltavam dez minutos para acabar a aula.

– Eu não perdi a hora. – Disse a elas que sorriram.

– Na verdade não... – A professora começou a falar, desviando os olhos.

– Posso comprar um bolo também? – Anong falou alto a interrompendo.

– Pode. - Consentiu pegando uma nota de vinte dólares da carteira e entregando a menina. – Pegue um para sua professora também. Qual sabor? – Questionou olhando a mulher.

– Morango. – A loira respondeu, aceitando a cortesia dele. A menina largou a mochila na cadeira e entrou na loja. – Não consigo dizer não para doce. – Falou com um sorriso simpático.

– Como se precisasse. – Respondeu erguendo as sobrancelhas para ela. Lana Moore fazia o tipo mignon. Muito magrinha e baixinha. De fato tinha o porte de uma bailarina.

– E preciso mesmo, se eu ganhar peso, o coreógrafo da companhia vai me infernizar!

– Devo deduzir que a pizza é sigilo absoluto? – Perguntou com um meio sorriso.

– Que pizza? Eu não comi pizza nenhuma! – Exclamou num tom artificial, arregalando os olhos muito azuis como se estivesse horrorizada com a ideia. Ele não pôde deixar de rir.

– Deve ter sido outra pessoa. – Falou no mesmo tom que ela. Anong voltou, seguida por um garçom que colocou os bolos na mesa, antes de se retirar.

– E o carro? – Lana, perguntou comendo o morango que vinha sobre a cobertura de chocolate.

– Fica pronto amanhã. – Respondeu um pouco evasivo. Ela deu um sorriso tímido, antes de abaixar os olhos para o doce. Bruce imediatamente percebeu que ela devia tê-lo visto nos jornais e o reconhecido. E a expressão da criança, mostrava que ela estava aprendendo a entender aquele tipo de sutileza.

– Bom, porque eu pensei em irmos no sábado jogar boliche no shopping do Greenwich Village. O que vocês acham? – Perguntou, olhando dele para a garota. Anong e o pai trocando um breve olhar perplexo.

– Sim! – A garota falou, mais alto do que pretendia, quebrando o silêncio breve. Bruce olhou atentamente para Lana. Depois de Hand a desconfiança imperava nele, mais do que nunca.

– Claro... – Concordou. – Eu passo para te buscar?

– Eu moro do lado do shopping. Não precisa, mas obrigada, fica mais simples nos encontrarmos direto lá. Pode ser às cinco da tarde na frente do boliche, mesmo? – Perguntou, terminando o bolo.

– Pode sim. – Ele confirmou. A mulher sorriu.

– Então nos vemos no sábado. Eu tenho outra turma daqui a pouquinho e preciso subir. – Se justificou levantando. – Obrigada pela companhia e pelo bolo.

– Que bolo? – Ele perguntou num tom brincalhão e gentil.

– Também não sei. – Afirmou rindo antes de atravessar a rua. Ele riu distraído até que seus olhos encontraram os da filha que pareciam apenas duas fendas de tão estreitos. Ela tinha um sorriso maroto e acusador que o fez desviar o olhar para o celular.

Procurou o número de Steve nos recentes e ligou de volta. Após alguns toques o amigo atendeu parecendo surpreso.

– Eu preciso de um favor. – Banner explicou a ele. – Preciso que verifique um nome para mim.

– Um nome? Para que?

– Ahn... Eu vou sair com uma pessoa e quero ter certeza de não repetir o problema com a falsa Hand. – Explicou um pouco constrangido.

– Claro. – Falou mantendo certo profissionalismo acima da voz que soava divertida. – Qual o nome?

– Lana Moore.

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Tudo que a S.H.I.E.L.D. parecia saber sobre Lana Moore se resumia a que ela aparentemente era quem dizia ser. Professora de ballet, membro da companhia New York City Ballet, uma das mais notáveis do estado. Filha única, seus pais eram aposentados e moravam no Alabama. Costumava sair com as amigas do tempo da faculdade duas ou três vezes ao mês. Havia quitado seu apartamento a pouco mais de um ano com a ajuda dos pais. Tinha um cachorro como companhia e pedia sushi toda sexta. Comprava livros e DVDs com certa frequência, geralmente pela internet. Uma mulher comum e tranquila que possivelmente o mais próximo que tinha chegado de uma organização como a H.Y.D.R.A., tenha sido num de seus filmes.

Por isso Bruce estava na sala esperando Anong que ainda se arrumava no quarto, para irem encontrar a mulher. Ele havia vestido uma calça jeans simples e uma camisa social amarela e agora tamborilava os dedos no sofá, distraidamente.

– Anong são quatro e meia. – Alertou alto.

– Cheguei, cheguei! – Cantarolou entrando na sala, usando um vestidinho azul, com um saltinho muito baixinho. Ela havia gasto todo aquele tempo ondulando os cabelos. Ele não pôde deixar de se admirar e fez uma careta demonstrando isso, de forma que a fez rir e mostrar a língua. Ela estava crescendo rápido demais. – Vamos? – Chamou indo para a porta.

Foram ouvindo música no carro a caminho do shopping. Músicas da Disney, que ela cantarolava animada. Ao menos seus gostos não estavam mudando tão depressa.

Embora Anong o tenha feito entrar numa loja de brinquedos e em uma de roupas conseguiram chegar no horário. Lana chegou cerca de cinco minutos depois deles. Vestia sapatilhas pretas de veludo, uma calça jeans clara e uma blusa frente única azul royal que apenas servia para destacar os olhos claros e bem maquiados. Lana não chegava a ser uma modelo, mas definitivamente era uma mulher bonita, a seu modo. E sorriu ao vê-los.

– Que vergonha chegar depois de vocês, sendo que eu moro do lado. – Comentou, enquanto se aproximava.

– Você não está atrasada. – Anong respondeu. – A gente que sempre chega cedo mesmo.

– Pessoas pontuais. – Ela disse animada. – Raridade hoje em dia. Ainda mais nessa cidade doida.

– Acho que atrasar é falta de consideração, mas não se pode obrigar as pessoas a fazerem as coisas certas. – Banner foi obrigado a concordar. Detestava esperar, ainda mais se tivesse marcado antes.

– A gente pode ir jogar logo? – Anong perguntou numa vozinha suplicante.

– Por mim, sim. – A loira respondeu. A garota olhou para o pai que assentiu. Anong ergueu os braços numa comemoração acompanhada de uma dancinha enquanto entrava no boliche e pedia os tickets.

Ela seguiu a frente dos dois para a pista e se entreteve colocando um nome para a equipe no computador à beirada da pista de número oito. Bruce não notou que a equipe deles se chamava Iniciativa Vingadores. Uma música animada tocava baixa ao fundo, enquanto garçonetes levavam pizzas, porções de fritas e todo tipo de bebida aos jogadores das pistas vizinhas. Era um lugar animado e cheio, embalado pelo aroma de comida e sons de risadas e pinos de boliche.

– Você disse que a cidade era doida... – Ele comentou quebrando o silêncio momentâneo. Ela sorriu com espontaneidade.

– Eu cresci no Alabama. Em Anniston. Meus pais são aposentados, mas trabalhavam com turismo e mesmo sendo uma cidade menor atrai um bom número de pessoas, mas nada como aqui. – Explicou enquanto escolhia uma bola grande e azul para jogar. Bruce pegou uma amarela, um pouco menor. – E você?

– Minha infância não é exatamente um tópico interessante. – Comentou com um sorriso constrangido. A mulher pareceu sem jeito por alguns segundos, antes de sorrir.

– Então me conte algo sobre você. Algo que seja interessante. – Lana comentou displicente, enquanto Anong jogava a primeira bola, derrubando apenas dois pinos. Ambos riram da cara de decepção dela. A loira se posicionou e fez sua jogada, derrubando oito dos dez pinos no final da pista. As duas garotas comemoraram batendo as mãos e rindo. Isso dava a ele tempo de pensar. Algo interessante sobre ele. Talvez ficar verde e destruir a cidade fosse interessante, mas provavelmente a faria sair correndo. Trabalhava com um ramo complexo da ciência, mas dificilmente uma artista estaria interessada nos pormenores do seu trabalho e ele tampouco achava o assunto relevante para um momento como aquele. Ele se posicionou na pista e lançou a bola sem muita concentração. Mal percebeu quando derrubou nove dos dez pinos, fazendo a filha soltar um suspiro frustrado. Mesmo Lana levou as mãos aos cabelos fazendo uma careta. Algo interessante sobre ele. Algo que o fizesse comum, mas não comum demais. Ele se aproximou da mulher novamente enquanto a filha voltava ao centro da pista.

– Eu morei por um tempo na floresta amazônica, passei um tempo na Índia e na Tailândia onde encontrei a Anong. – Respondeu por fim.

– Nossa! – Ela comentou parecendo genuinamente surpresa. – Eu fui a Paris uma vez e foi o mais legal que consegui. Fui para fazer um curso de técnica de dança. Você foi a passeio, Doutor Banner? – A mulher perguntou. Ele franziu as sobrancelhas, se virando para a olhar, sem ver Anong fazer um strike por pura sorte. O que podia responder?

– Na verdade eu fui para o interior, não fiz exatamente turismo. Fui para... espairecer. – Começou cheio de dedos com o assunto. Lana não parecia perceber as reservas dele. Mas com o que ele não tinha reservas? Era um homem tímido e com alguns problemas de comportamento que tornavam a maioria das conversas desconfortáveis. Anong pulava ao redor deles querendo mostrar a pontuação depois de fazer o segundo lançamento. Ambos a parabenizaram e comemoraram, antes que Lana arremessasse sua bola que foi direto para a canaleta fazendo os três rirem. Bruce jogou a sua na sequência e fez um strike, ultrapassando a pontuação da filha que ficou muito decepcionada. Todo strike dava direito a uma segunda chance, mas dessa vez apenas sete pinos caíram. Enquanto a menina voltava a fazer sua jogada, ele retomava a conversa. – Eu conheço pouco desses países, mas as pessoas são a melhor parte. E o ‘’doutor’’ é completamente desnecessário. – Concluiu por fim. A loira sorriu discretamente com a última frase, mantendo os olhos na bola que rolava na pista.

– Qualquer hora dessas, você viaja de novo para eles e vai fazer turismo. – A bailarina comentou batendo animada na mão de Anong que derrubou outros seis pinos.

– Vamos os três juntos! – A garota falou sem nenhum pudor. Os dois riram constrangidos.

– Por que não? – Lana disse, pegando a bola da base e indo jogar. Bruce ficou pasmo com a resposta tranquila da mulher. Pessoas autoconfiantes sempre o surpreendiam. Ela fez seu primeiro strike e rodopiou a menina por uma mão numa comemoração desengonçada bem pouco típica do que se podia esperar de uma bailarina. Olhou para ele sorrindo, como se não tivesse falado nada demais. Talvez não tivesse mesmo. Desde Betty ele era um pouco arisco em demasia. – Sua vez. – A mulher o chamou tirando-o de seu devaneio. Bruce fez mais um strike antes de cutucar a filha na cintura numa zombaria que a fez rir alto. Ao fazer a segunda jogada, conseguiu derrubar nove pinos. – Não é possível! – Lana exclamou alto.

– O melhor boliche de New York! – Afirmou de um jeito convencido, muito pouco típico dele. As duas riram.

– Pai, podemos pedir pizza? – Anong sugeriu, depois de mandar sua bola na canaleta. Ele assentiu, pegando uma pequena comanda de sobre a mesinha lateral. – Eu vou! Eu vou! – A menina protestou, pegando o papel e correndo animada.

– Segredo? – Ele questionou à Lana.

– Certamente. – Sussurrou com um sorriso cúmplice. O cientista foi incapaz de reprimir um sorriso de canto, antes de ela fazer a jogada. Lana era uma mulher divertida. Ela se inclinou de lado gesticulando, desejosa de que a bola fosse mais para a esquerda, mas ao invés disso acertou apenas três pinos. Ela girou fazendo uma careta. Ficou parada ao lado dele, enquanto Bruce se preparava para a jogada. – Erra, erra, erra, erra.

– Isso é trapaça, sabia? – Resmungou quando a bola derrubou quatro pinos. Ela caiu na gargalhada.

Se sentaram enquanto esperavam Anong voltar. Pela demora devia ter pegado fila. Ficaram observando os jogos que ocorriam nas pistas vizinhas, enquanto conversavam amenidades e riam das jogadas erradas. Então viram a menina voltar acompanhada não do garçom, mas de uma mulher morena e alta com mechas vermelhas. Bruce obrigou-se a não perder a cabeça ao reconhecer Victoria Hand. Ou a falsa Victoria.

Lana o viu silenciar em meio a uma frase sobre a faculdade onde estudara. Viu os olhos castanhos do homem correram da menina para a mulher, enquanto a cor lhe fugia da face. Anong vinha conversando sobre qualquer coisa que eles ignoravam e trazia um sorriso estampado no rosto. Ele não havia dito a ela a causa do problema recente. Não havia dito a ela que não confiasse em Hand.

Precisava tirar a filha de perto da agente, mas tinha receio de se aproximar e descobrir o que ela queria. Estavam num ambiente fechado cheio de famílias em um final de semana tranquilo e certamente ter o Hulk demolindo o lugar estragaria um pouco a diversão. Ele deu um sorriso apagado a Lana e foi em direção às outras duas.

– Anong, é sua vez de jogar. – Instruiu sem a olhar. A menina foi animada para a pista sem notar sua expressão tensa que serviria de alerta.

– Doutor Banner. – Ela cumprimentou com muito profissionalismo. Ele conteve sua irritação, esboçando um sorriso amarelo.

– Agente Hand, ou seja lá quem você for, achei que nossa última conversa tivesse sido clara o bastante. Alguma dúvida? – Falou de maneira incisiva. Ele a queria longe de sua filha e de si próprio o mais rápido possível. Ela mantinha uma expressão tensa, apertando os lábios de um jeito antipático.

– Sim, Doutor Banner, eu tenho uma dúvida. – Afirmou o surpreendendo. – Você sabe que eu não sou quem digo ser e eu sei que a S.H.I.E.L.D. não lhe permite realizar as pesquisas que precisa para que você possa ser quem realmente é. Sem monstro.

– Obrigado pelas palavras suaves. – Afirmou dividido entre a diversão pelo atrevimento da mulher e a irritação por sua ousadia em o abordar daquela maneira. – Aonde você quer chegar?

– Doutor Banner, a H.Y.D.R.A está disposta a oferecer toda a estrutura para suas pesquisas. Cobaias, equipamentos, pessoal. Qualquer coisa. Sem esses limites éticos que apenas servem para atravancar a ciência. Tudo poderá ser feito e testado. Basta dizer o que precisa e nós daremos. – Propôs com uma naturalidade impressionante. Bruce sentiu os olhos se arregalarem enquanto o ar lhe fugia dos pulmões. A proposta era tentadora. Absurdamente tentadora.

– E o que isso me custaria?

– A localização das partes do experimento de Jane Foster. E sua disposição em auxiliar na remontagem. – Esclareceu com toda tranquilidade do mundo. O preço era alto. Não que ele fosse leal a S.H.I.E.L.D, mas se fosse pego seria declarado inimigo público. – Imagine como seria poder leva-la para viajar num final de semana. Sem medo. Sem preocupações. É isso que estamos lhe oferecendo Doutor Banner. – Ele olhou para a filha. Anong Banner estava fazendo sua jogada, despreocupadamente. Lana, no entanto, os olhava de longe com uma expressão séria. Ele não percebeu quando Victoria Hand se aproximou. – Não haveria necessidade de se afastar. De perder para a distância e o tempo. Não haveria uma segunda Betty. Apenas precisa nos dizer onde podemos encontrar o que queremos.

– E para que querem? – Questionou firme, não se deixando impressionar por aquelas palavras, a muito custo.

– Isto está além da sua alçada. – Cortou-o. – Mas posso lhe garantir que não colocaria ninguém daqueles que lhe são caros em risco.

– Se fosse tão simples assim, não precisariam agir na surdina. – Concluiu. – A H.Y.D.R.A. não quer o experimento apenas pela ciência. Se eu aceitasse, e não estou dizendo que vou, que garantias minha filha teria quando a S.H.I.E.L.D. resolvesse intervir? Eles conseguiriam me tomar a guarda dela com a mesma facilidade com que me entregaram. Eu aceitaria isso e a colocaria numa vida de mais incerteza e insegurança? Fugindo de agentes? – Acusava estreitando os olhos e falando num tom baixo e macio. Não haveria negociação. – Não estou interessado.

– Acha que pode controlar a besta?

– Eu cuidaria suas palavras se fosse você.

– Se preciso fazer isso, já tenho minha resposta. – Victoria anunciou triunfante.

– O que você tem é uma ameaça. – Afirmou seco, sentindo um leve tremor se espalhar pelas mãos. A mulher levantou as sobrancelhas e ele viu pelo canto dos olhos, vários jogadores se interromperem nas pistas de boliche. Sorriu impressionado. – Desculpe, isso foi rude.

– Não tem problema, Doutor. – A falsa Victoria afirmou, entregando a ele um cartão onde se lia o nome de uma distribuidora de galões de água, um número de telefone e o nome de Janina Fuhrmann. – Caso mude de ideia, basta ligar.

– Obrigado... – agradeceu, sem saber ao certo o motivo de guardar o cartão no bolso da camisa. Não ligaria para aquela mulher. O Outro Cara estava o melhor controlado que poderia estar e ele não arriscaria a paz frágil da bolha em que criava a filha por um pouco de liberdade de pesquisa. Por mais tentador que fosse, o cientista tinha outras prioridades. – Não apareçam mais. Eu tenho o contato de vocês. A prerrogativa de procurar quem quer que seja pertence a mim. E espero que isso fique bem claro.

– Certamente. – A agente concordou. – Ficaremos esperando. Boa sorte Doutor Banner. – Despediu-se e saiu tão repentina quanto tinha chegado. Ele suspirou, voltando a calma. Virou-se e viu que Anong e Lana o encaravam. Era a vez dele de jogar. Voltou e lançou a bola sem muita atenção. A menina ria sem perceber que algo tinha estado errado.

– Foi no carro dela que você bateu? – Lana questionou displicente após alguns minutos, quebrando a tensão que ele havia criado sem querer. Bruce a olhou com um meio sorriso, entendendo a conotação da pergunta.

– Foi sim.

– Deu para notar. – Afirmou, enquanto cortava as fatias da pizza que um garçom havia trazido. – Acho que ela não volta mais.

– Espero que não. – Concordou. A filha sentou no colo dele pegando uma fatia da pizza. – Se encontrar com Victoria Hand, não quero que fale com ela, combinado? – Pediu a filha. Ela olhou dele para Lana que piscou o olho como se aquilo fosse um jogo. Anong entendeu muito bem que aquilo tinha a ver com os problemas de seu pai e rapidamente assentiu em concordância.

– E vamos comer logo essa pizza que eu ainda tenho um placar para virar! – A bailarina afirmou num timbre alto erguendo o copo de refrigerante.

– Veremos! – Concordou com um sorriso. Não deixaria com que os pensamentos que corriam no fundo de sua mente atrapalhassem o resto do dia. Estava se divertido e por enquanto era apenas isso que queria. Quando estivesse sozinho, teria tempo para ruminar aquela proposta e todo o risco que tinha sido aceitar aquele convite. A culpa o encontraria mais tarde. Era um compromisso frequente, mas por hora, adiável.

Aquela uma hora que tinham reservado ao boliche se desdobrou em mais três sem que notassem. Por mais que tentassem Bruce era muito melhor no jogo e acabou realmente vencendo. Depois dali, acabaram caminhando por mais algum tempo pelo shopping conversando de tudo um pouco. Anong convenceu o pai a comprar um novo jogo para seu portátil e Lana os arrastou em seguida para uma loja de perfumes onde comprou um novo. Ambas se uniram para o obrigar a escolher um também.

Antes de encerrarem o passeio, surpreendendo a si próprio, o cientista sugeriu que fossem ao fliperama, onde passaram pelo menos mais uma hora. E dessa vez Anong era insuperavelmente melhor o que a deixava bastante convencida.

Pegaram o carro no estacionamento e apesar de Lana morar na quadra ao lado, fizeram questão de a deixar ali. Por melhor que o bairro fosse, esse horário não era dos melhores para uma mulher andar sozinha. Anong seguia jogando o novo jogo no banco de trás e mesmo quando estacionaram ela não ergueu os olhos do portátil.

Bruce tirou o cinto de segurança, enquanto a loira fazia o mesmo. Ele virou-se para a filha que permanecia concentrada.

– Não vai se despedir da Lana? – Perguntou.

– Até terça! – Despediu-se sem erguer os olhos.

– Até! – A mulher respondeu animada, saindo do veículo. Bruce suspirou.

– Não vai descer do carro?

– Não, né? – Rebateu com impaciência, como se fosse óbvio. Por algum motivo aquilo o deixou profundamente constrangido, mas não disse nada. Fechou a porta e acompanhou a bailarina a porta do prédio de cinco andares. Era largo e de tijolo à vista, tendo um visual antigo para um bairro moderno como aquele. Ela parou à porta virando-se para ele.

– Bem, obrigada.

– Foi um prazer ganhar de vocês no boliche. – Alfinetou com um toque de ironia. Ela riu e lhe deu um tapinha no braço.

– Vai ter revanche e eu vou me vingar. – Afirmou sorrindo. Certo. Então ela queria sair com ele outra vez. Mesmo que tivesse certeza de que ela estava ciente de quem ele era, Lana parecia muito certa sobre essa afirmação. Era melhor para os dois que ele não desse corda a esse impulso dela. Ou a loira acabaria se enforcando sem perceber. Por isso ele apenas sorriu.

– Certo, boa noite. – Completou ainda sorrindo, começando a descer os degraus.

– Bruce. – ela chamou antes que ele terminasse de descer. O moreno virou-se de volta, um pé em cada degrau. – Eu tenho uma apresentação no próximo final de semana. Você iria? – O convite o pegou de surpresa. O cientista desviou os olhos tentando pensar numa desculpa para o manter ocupado por todo o dia, já que ela não havia especificado horário. Antes que pudesse completar o raciocínio ela voltou a falar. – Eu gostaria de te ver de novo.

– Ahn... vamos nos encontrar quando eu levar Anong para a aula... – Balbuciou atrapalhado. Ela riu.

– Eu sei, mas não acho que vai ser legal lá. Não quero fazer inveja às mães das alunas. – Afirmou num tom de voz divertido.

Ele franziu as sobrancelhas, encarando o chão, enquanto o cérebro tentava entender o que ela deixava implícito na afirmação. Não teve tempo. Quando ergueu os olhos para a questionar, percebeu que a mulher estava no degrau imediatamente acima do dele. Lana o beijou sem dizer mais nada. O toque dos lábios macios e a suavidade das mãos delicadas que o tocavam nas laterais do rosto, o surpreenderam, deixando-o momentaneamente sem reação. Apenas momentaneamente, já que antes que se desse conta tinha uma das mãos na cintura e outra na nuca da loira a trazendo para o degrau de baixo. A loira tinha um aroma agradável de perfume floral, que ele era obrigado a reconhecer que havia reparado desde o dia em que ela estivera em sua casa. Lana devia ter desintegrado seu cérebro, pois mesmo ouvindo uma vozinha no fundo da mente o alertando que aquilo possivelmente terminaria mal, era incapaz de se afastar dela por vontade própria. Por isso assim como Lana tinha tomado a iniciativa, foi ela que interrompeu aquilo com um sorriso divertido brincando nos lábios, agora sem batom. Ele levantou as sobrancelhas e suspirou um pouco desnorteado.

– Então... Que horas vai ser a apresentação? – Questionou enfim, dando-se por vencido. O sorriso dela se ampliou.

– Eu te entrego o convite na terça. – Afirmou. Ele assentiu, ainda meio surpreso com a própria teimosia. – Boa noite. – Despediu-se, finalmente retrocedendo e entrando no prédio.

Bruce passou as mãos nos cabelos, numa tentativa falha de por os pensamentos em ordem. Desceu as escadas, limpando um pouco do batom dela que tinha ficado nos próprios lábios e entrou no carro em silêncio. Colocou o cinto de segurança e então viu pelo retrovisor que a filha o encarava, com aquele sorriso provocador que tornava seus olhos em fendas. Ele não pôde reprimir uma risada.

– Nem uma palavra. – Alertou ainda rindo. – Muito menos ao seu padrinho.

– Ops... – Ela deixou escapar. O homem então notou que ela tinha o celular nas mãos. Fez uma careta ainda rindo.

Assim que chegasse em casa, Tony e Pepper ligariam para fazer uma entrevista longa e detalhada. Não se importava. Eram os melhores amigos que tinha e quase sua família. Estava decidido a levar uma vida normal. Ou o mais normal que pudesse. Nem H.Y.D.R.A., nem S.H.I.E.L.D. e nem Hulk o impediriam. Faria o melhor que podia. E se Lana estava disposta a embarcar naquela confusão, ele não impediria. Desde que ela estivesse ciente dos riscos e, a principio parecia estar, aquela era uma escolha dela. Estava cansado de lutar contra o mundo. Cansado de ser um prisioneiro de si próprio. Não se esconderia mais. Bruce Banner seria feliz do jeito que desse e como desse. Seria livre.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ter acompanhado! Espero te encontrar na segunda temporada!

Não deixe de comentar e recomendar! o/
Não esqueça de marcar como lido (basta clicar no botão de atualizar acompanhamento, ou ir em fanfics que você acompanha e clicar la).

Beijundas!


Segunda temporada: http://fanfiction.com.br/historia/552062/Goddess_of_Revenge/