Pedra da Lua

A sensação de que havia passado anos distante daquele lugar preenchia o coração de Sakura. A pouca vida que ainda restava dentro da sede de lobos tinha sido dizimada mais rápido do que o esperado. 

Emily era a prova.  

A garota que tinha sido fatalmente ferida em um dos treinamentos tinha olhos selvagens, pele marcada por sujeira e sangue, os fios de seu cabelo estavam desnivelados... Como se tivessem sido arrancados a força. 

Nenhum deles precisava dizer em voz alta que aquela garota não tinha mais do que vinte anos de idade. E ainda assim, seus olhos escuros eram marcados pela guerra que seu próprio clã era obrigado a enfrentar. 

— O que aconteceu aqui? — Lucian perguntou. Como alfa, ele possuía influência sobre os lobos, mesmo aqueles que não faziam parte de sua matilha.  

— Estamos em guerra, senhor — Emily respondeu com os olhos fixos nele. Um leve esboço de dor foi visto quando ela ousou se levantar, a flecha que Neji havia atirado estava firmemente presa na pele da garota. — Houve rebelião contra a alfa. 

— O que aconteceu com ela? — Sakura ousou se aproximar de Emily e não foi repelida. A preocupação nas feições da vampira intrigavam a garota. — Emily... 

— Ela está presa nos andares superiores — Emily pressionou o próprio ferimento e outra careta de incômodo adornou sua face. — É perigoso ir até lá. Nossos irmãos... — Os olhos dela lacrimejaram. — Estamos matando uns aos outros como animais selvagens. 

Naruto achou que aquele era o momento certo para fechar a porta que os separava dos demais cômodos. As dobradiças rangeram, a madeira parecia resistir em contato com suas mãos.  

A única troca de olhar com Gaara foi o suficiente para que o Sabaku fosse ao seu lado para ajudá-lo a bloquear a porta. 

Eles podiam ouvir os rangidos nos andares superiores. Eram leves como passos de gatos desinibidos e desinteressados, mas em meio aos relatos da garota que vivia entre lobos, todos tinham motivos o suficiente para acreditar que estavam cercados por um número novo de inimigos. 

Tenten observava a situação com as mãos entrelaçadas. Ela sabia que tinham chego em um impasse, mesmo que ninguém ousasse dizer em voz alta sobre aquilo. 

Os lobos que Lucian havia trazido estavam do lado de fora da velha cozinha, averiguando as salas que eles não foram capazes de ver. O alfa permanecia de frente a garota, ouvindo cada nova história com o semblante animalesco que o conferia a expressão de quem estava prestes a atacar algo. 

Ino girava a adaga em seus dedos, mas os olhos azuis não brilhavam há muito tempo. A Yamanaka tinha uma postura ofensiva e não falava muito, ao contrário de todas as vezes em que Tenten a tinha encontrado. 

— Fique por perto — Neji dissera atraindo a atenção da cigana para si. — Agora que sabemos que Cassandra está fora da linha de comando, nenhum lobo pode ser considerado aliado.  

Tenten não respondeu. Ela sabia que os demais haviam escutado as frases do Hyuga e que Sakura, dentre todos eles, mantinha um olhar descrente sobre o que acontecera. 

A rebelião havia sido uma surpresa. Lobos, que tinham um sendo de lealdade maior do que qualquer outra raça mágica, haviam voltado-se contra os próprios irmãos quando elegeram um novo alfa. O nome de Paul fez com que Sakura trincasse o maxilar e fechasse as mãos em punhos. 

Ela se arrependia por tê-lo enviado de volta.  

Os apoiadores de Cassandra Valerius foram caçados. Torturados, mortos e muitos haviam fugido para um refúgio entre as montanhas. 

Os que ficaram eram submetidos ao novo líder, embora nenhum escapasse ileso de suas crueldades. Principalmente quando traidores eram descobertos. 

— Onde está Orochimaru? — Itachi questionou interrompendo o silêncio. 

A menção ao nome do feiticeiro causou um arrepio na pele de Tenten. O homem que matava por prazer e tinha uma visão abstrata sobre o mundo eram aquele que todos deviam evitar durante a missão. 

O renegado, o assassino... Aquele que havia vendido a própria alma em troca da imortalidade. Os adjetivos para Orochimaru ocupavam uma categoria ruim e Tenten sabia que seria capaz de citá-los por longos momentos. 

— Não o vejo há dias — Emily murmurou em resposta. — Esta não é mais a sede de seu exército... 

— Para onde ele foi? 

A pergunta de Sasuke foi respondida com um aceno de cabeça. Como alguém que estava longe dos postos de comando, Emily apenas sabia das histórias que eram contadas através de relatos não confiáveis. 

— Temos que ir até ela — Sakura olhou para Sasuke. Ele demorou para fitá-la, os orbes vermelhos contrariados eram expressivos. 

— Neji tem razão — A voz de Sasuke era baixa. — A situação mudou. Nenhum lobo deste lugar pode ser considerado aliado... 

— Está dizendo que quer voltar? — A voz da Haruno soara como um rosnado. — Cassandra está viva, temos que resgata-la. Viemos até aqui... 

— Nós temos uma missão, Sakura — Sasuke rebateu com seriedade. — Destruir a pedra da lua.  

— E salvar os lobos do norte! — A Haruno bradou. — Está se esquecendo disso?! 

— Não é nossa prioridade salvar um clã que se deteriorou — Para a surpresa de todos, quem havia proferido tais palavras era Lucian. — Cassandra é minha irmã, mas se... 

— Cale a boca — Sakura rosnou em resposta. Ela ergueu o dedo indicador e apontou para o lobo. — Eu prometi que a ajudaria! Fiz a promessa de que libertaria o clã. 

— Não existe clã para libertar se eles desertaram a própria alfa — Lucian rebateu. Os olhos cinzentos brilhavam com malícia e seriedade. — É uma guerra, criança. Não temos tempo para cumprir promessas ridículas. 

Os punhos de Sakura fecharam-se ao lado de seu corpo, mas ela foi impedida de avançar sobre Lucian por Sasuke. O Uchiha tinha um semblante severo e balançou a cabeça negativamente, um aviso claro de que ela não devia prosseguir com o ataque. 

Os olhos esmeraldinos tornaram-se vermelhos e ela rejeitou o toque de Sasuke com um puxão de seu próprio braço, caminhando em direção à saída da cozinha com passos determinados.  

— Temos que montar um novo plano — Sasuke avisou esperando que ela permanecesse na sala. — Sakura... 

— Estou me afastando de vocês, para não atrapalhar — A Haruno avisou com seriedade. Ela cruzou os braços e apoiou-se na parede ao lado da porta. — Estou aguardando as orientações, Sasuke. O que vamos fazer agora? 

A desconfiança nos olhos de Sasuke permaneceu por mais alguns instantes, antes que ele respondesse a pergunta de Sakura. 

— Vamos para os andares superiores — O Uchiha respondeu captando a atenção de todos para si. — Quando estivermos perto do objetivo, iremos nos separar. Precisaremos manter o território tranquilo para que Tenten destrua a pedra da lua. 

— Precisamos de uma distração — Naruto sugeriu e um sorriso brincou em seus lábios. — E eu acho que sei a melhor maneira de fazermos isso. 

X-X-X 

Tenten conteve um grito ao ver Naruto e um dos inimigos colidindo furiosamente contra uma parede. O plano do Uzumaki consistia em atrair o máximo de atenção que eles pudessem para uma área diferente de onde a Pedra da Lua estava. 

Ela tinha visto Itachi rolando escadas em conflito com um grande lobo marrom e Gaara sendo arremessado em um dos cômodos durante o caminho por um homem que aparentava ter o dobro de seu tamanho.  

— Vamos, vamos — Ino dissera puxando a Mitsashi na direção oposta em passos rápidos. — Merda — Ela empurrou Tenten antes de desviar de um pedaço de madeira semelhante à um antigo tampo de mesa. — Levem ela daqui — Pediu a Yamanaka antes de correr na direção da mulher que a atacara.  

Era um plano ridículo — A Mitsashi pensou enquanto se escondia em um velho armário do corredor. Ela, Sakura e Neji haviam subido alguns lances de escada e escondido as próprias presenças enquanto mais inimigos avançavam sobre os amigos no andar inferior. 

— Eles estão se divertindo? — A incredulidade no sussurro de Neji atraiu a atenção de Tenten. — Não é uma situação apropriada... 

— Não é — Sakura concordou no mesmo instante em que um estrondo alto pode ser escutado. — Aqueles idiotas — Apesar da reclamação, a Haruno tinha um pequeno sorriso nos lábios. 

Os lobos de Lucian estavam armando explosivos em pontos estratégicos da construção da sede, enquanto o Alfa e Sasuke buscavam por Cassandra — mesmo que a contragosto. 

— Podemos sair agora — Sakura avisou abrindo a porta do armário. O cheiro de sangue impregnava o corredor, mas ela ignorou aquele detalhe para indicar que os outros dois podiam sair também. — Mais um lance de escadas e estaremos no lugar certo — Ela segurava o punho da espada e seus olhos vasculhavam cada local com atenção. — Neji... 

— Estou disfarçando a nossa presença — O Hyuga avisou. Os olhos perolados brilhavam intensamente e aos poucos, Tenten sentia que algo quente a envolvia, como uma barreira protetora. — Mas não vai funcionar se eles nos verem.  

— Eu cuido disso — Sakura avisou. Algo havia chamado sua atenção e ela optou por ser a última a subir as escadas que os guiaria para o objetivo. — Não estão achando isso estranho? — A Haruno murmurou com os olhos estreitos. Ela sequer ousava respirar. — Os únicos barulhos são os dos confrontos com nossos amigos... 

— Uma armadilha? 

— Já estamos nela — Sakura olhou para o lado de fora da sede através de uma janela e indicou que eles deviam prosseguir. — Neji, o céu... 

— Eu sei — O Hyuga tinha os ombros tensos e apontou para a última porta do corredor. — Fácil demais — Em sua voz ressoava a mesma desconfiança de Sakura.  

O Hyuga franziu o cenho e deu mais um passo na direção da porta. Naquele instante, nem mesmo os ruídos dos andares inferiores eram audíveis; a sensação de que estavam entrando na boca de um animal perigoso era pressentida por todos. 

As mãos de Tenten tremiam e estavam frias, como se estivessem embaixo d’agua por longos minutos. Ela esbarrou em Neji quando ele parou subitamente, os olhos perolados brilhando, ressoando com a barreira que estava há poucos metros da porta. 

A Mitsashi conseguia senti-la, embora tivesse demorado para ver a cor vermelha que ela emanava. Ergueu a mão como Neji fizera e a sentiu firme contra seus dedos, cada vez mais quente, repelindo seu toque com cada vez mais força. 

— Se apresse, Neji — Sakura alertou olhando para trás com demora. — Não estou gostando disso.  

— Não me apresse — Neji manteve suas mãos em contato com a barreira e olhou para Tenten. — Me ajudar com isso seria um ótimo treinamento, mas prefiro que você mantenha seus poderes para o que te espera lá — Dissera ele antes de pedir para que Tenten se afastasse. 

A atmosfera mudou. Tenten sentia a presença de uma força ainda mais poderosa do que a da barreira em sua frente, impulsionando um feitiço potente contra as proteções que jaziam ali. 

O piso começara a tremer, pulsando tão violentamente que as paredes sacolejavam, derrubando o que restava dos quadros em um som estrondoso. O teto havia rachado e com receio, a Mitsashi se afastou, os olhos castanhos fixos no Hyuga que concentrava toda sua energia naquele pequeno gesto. 

A luz azulada que emanava das mãos de Neji aos poucos começara a preencher o vermelho da barreira, ele pressionava suas mãos com força, os ombros tensionados, os lábios haviam virado uma linha rígida em seu rosto. 

— Neji...Neji! — Tenten fez menção de se aproximar quando uma nova rachadura surgiu, dessa vez, sob os pés do Hyuga. — A propriedade... 

— Deixe-o, Tenten — Sakura avisou com seriedade. — Se não entrarmos logo, teremos problemas piores — Ela puxou a espada e aguardou até que inimigos aparecessem, mesmo que sua intuição lhe dissesse o contrário. 

A sensação de que estavam invisíveis sob o olhar dos outros era tão real que Sakura quase baixou a guarda. 

Neji arfou, o sangue que escorria de seu nariz manchava seu o queixo e respingava no chão como um ferimento grave. Ele sentia a palma de suas mãos queimando, pela própria magia e por aquela que devia eliminar. Um esforço que ele não esperava e que promoveu uma exaustão em seu espírito não programada. 

O corpo do bruxo caiu ao chão quando a barreira foi rompida. O sangue em seu rosto continuava a espalhar-se, mesmo quando ele foi amparado pela Mitsashi que parecia prestes a chorar. 

— Não seja tola, eu ficarei bem — Ele disse limpando o próprio nariz com o auxílio das mangas de sua blusa. — Vamos entrar — Apesar do orgulho, Neji aceitou a ajuda de Sakura para levantar. 

A Haruno tomou a dianteira e tocou a maçaneta, quente como o calor que emanava da barreira destruída. O cômodo, no entanto, era frio e era impossível não recuar diante de tamanho choque termico. 

Não havia luz além da pedra da lua, que brilhava em um pequeno altar, fazendo com que as sombras que se projetavam nas paredes tornassem-se fantasmagóricas, distorcidas e abomináveis. 

Tenten continuava sentindo que suas mãos tremiam. A insegurança quanto seus próprios poderes assolava-lhe o peito, densa, cruelmente. A imagem do sangue de Neji voltava a sua mente a cada novo passo, como uma lembrança maldosa de que ela jamais seria capaz de continuar... Não seria capaz de destruir. 

Morrerá ao me tocar 

Ela arregalou os olhos e olhou para Neji esperando que ele dissesse algo, mas o Hyuga concentrava sua atenção em outro ponto... Alguém que a Mitsashi não havia percebido até o instante em que Sakura fechara a porta. 

Presa contra a parede e sustentada por correntes prateadas como uma figura macabra, estava a loba que era conhecida por Cassandra. O cabelo escuro era desgrenhado, volumoso e seus lábios, bem como seu rosto, estavam manchados por sangue escuro e seco. 

As presas cortavam-lhe os próprios lábios e seus olhos brilhavam tão perigosamente como águas profundas que jamais seriam exploradas. Alguém que tinha perdido a sanidade. 

— Cassandra... — Sakura chamou esperando notar algum sinal de reconhecimento. — Viemos salvá-la — A mulher, no entanto, manteve seus olhos fixos em Tenten. 

— Por que ela está me olhando? — A Mitsashi questionou com receio. As presas de Cassandra pareciam alongar, enquanto seus pulsos feridos debatiam-se contra as correntes com violência. — O que está acontecendo? — Ela recuou e esbarrou em Tenten. 

Vai morrer ao me tocar 

— Quem disse isso?  — Tenten olhou para Sakura e Neji, mas ambos pareciam tão confusos quanto ela. — Quem disse... 

— Vocês estão em sintonia — Neji interrompeu o segundo questionamento, olhando para a pedra da lua com seriedade. — Concentre-se, Tenten. Precisa fazer isso o quanto antes. 

— Não temos tempo — Sakura alertou ao notar que Cassandra debatia-se cada vez mais, como um animal descontrolado. — Essas correntes não vão segurá-la... 

A Mitsashi lutou para manter suas mãos firmes, mesmo que seus passos em direção ao altar fossem vacilantes. Ela sentia maldade e as vozes em sua própria mente pareciam gritar para que ela se afastasse, recusando-se a ser tocada por ela. 

— FIQUE LONGE DE MIM! — Cassandra gritou repentinamente, debatendo a si mesma com mais intensidade. — Fique longe de mim, garota imunda! Não me toque com essas mãos desertoras, não me toque! — Ela bradou, os ferimentos de seus pulsos intensificando cada vez mais. 

— Tenten, você consegue — Sakura encorajou prostando-se ao lado da jovem cigana. Os olhos da Haruno continuavam vermelhos e embora tenham se desviado na direção da Mitsashi por poucos instantes, ela manteve a atenção em Cassandra. — Sei que consegue. 

Tenten aquiesceu e ergueu as mãos, antes que pudesse tocar a pedra da lua, a barreira a repeliu como fogo. Ela gritou, sentindo os dedos arderem e as bolhas que surgiram em suas mãos eram pouco, se comparado ao que podia ter acontecido. 

— Está deixando que ela sinta a fraqueza em seu coração — Neji avisou como costumava fazer durante os treinamentos. — Precisa se concentrar, Tenten — O toque dele sobre o ombro da Mitsashi era quente, reconfortante.  

— Assim são os humanos que foram abandonados — Cassandra rosnou debatendo-se ainda mais. Sakura notou que as correntes afrouxavam a cada novo movimento com apreensão. — Fracos, com corações facilmente despedaçados, solitários... Posso ver sua mãe, criança. Ela queima no inferno, assim como eu queimarei você. 

— Você está mentindo! 

— Estou? — A voz de Cassandra era repleto de escárnio. Os dentes manchados de sangue sorriram para Tenten. — É naquela floresta que está pensando, não é? Nas flores, no lago cristalino... 

Uma bela lembrança antes de uma morte violenta 

A voz que ressoou aos ouvidos de Tenten era aterrorizante. Ela fez menção de recuar, mas o aperto de Neji em seu ombro era reconfortante. 

— Concentre-se em mim, Tenten — O Hyuga disse com confiança. — Esqueça dela. Concentre-se no que eu estou sentindo.  

A respiração de Tenten era pesada. Os avisos de Sakura para agir rápido tornavam-se cada vez mais urgentes, assim como as correntes que prendiam Cassandra contra a parede transformavam-se em algo cada vez menos resistente. 

Tenten fechou os olhos e como Neji dissera, concentrou-se em sentir o que ele lhe transmitia. Uma confiança absurda que nem mesmo ela era capaz de sentir, a certeza de que a Mitsashi era tão capaz de destruir aquela maldita pedra como ele tinha sido capaz de fazer com a barreira do lado externo. 

Ela abriu os olhos e ergueu as mãos, tocando a pedra com uma facilidade que não existia antes. Tenten podia sentir o calor, a fúria que era esbravejada não somente por Cassandra, mas toda a revolta que era emanada por aquele pequeno fragmento corrompido da lua. 

Era intenso, doloroso não apenas fisicamente. Tenten sentia que haviam garras ao redor de seu coração, destroçando cada pedaço da confiança que ela demorara a conseguir. 

— Não vou conseguir — Os olhos dela arregalaram-se e a impressão de que sua mão começava a ser rasgada de dentro para fora quase a fizera afastar-se da pedra. — Não vou... 

— Vou comer seu coração — Cassandra rosnou avançando na direção de Tenten. Um de seus pulsos estava solto e por muito pouco, as garras não atingiram a Mitsashi.  — Cada um dos sentimentos de medo e abandono, eu consigo senti-los, consigo ver o buraco que há em você... 

Ela está gritando, porque já não é mais capaz de alcançar sua mente  

A voz de Neji em sua mente soava reconfortante para Tenten. Ela aquiesceu e concentrou sua própria energia com intensidade, apoiando ambas as mãos contra a pedra da lua para que ela não pudesse fugir. 

Cassandra gritou, o corpo debateu-se e em um grito de fúria, avançou contra Tenten, sendo interceptada prontamente por Sakura que jogou a mulher na direção oposta.  

— Eu cuido disso — A Haruno avisou guardando a espada por um instante. — Confio em você, Tenten. 

Observar o combate de uma de suas amigas causou um aperto no peito de Tenten. As garras e os ataques de Cassandra contra Sakura eram mortais, as garras repletas de sangue buscavam o pescoço da Haruno que desviava com maestria, mesmo que tivesse sido atingida duas vezes nos braços e na coxa.  

Sakura agarrou um dos braços de Cassandra, torcendo-o em uma tentativa de imobiliza-la. Suas presas eram expostas em conjunto a um rosnado intenso, antes que sua cabeça fosse firmemente presa entre o braço direito da alfa e seu próprio corpo. 

A pressão na cabeça de Sakura não era pior do que as garras que pressionavam seu couro cabeludo e que afundariam ainda mais se ela não pensasse rápido. Sakura impulsionou o próprio corpo contra o de Cassandra, fazendo com que ambas batessem furiosamente contra uma das paredes; a loba arfou, mas manteve o enlace com força, mesmo que seu estomago fosse esmagado a cada novo impacto. 

Sakura ergueu uma das mãos, aliviando a pressão contra o corpo de Cassandra por um instante para agarrar o maxilar da loba e puxá-lo com força, fazendo com que ela gritasse e afastasse suas garras da Haruno em uma tentativa de manter a própria mandíbula no lugar. 

— Concentre-se — Neji dissera ao lado dela. — Sakura sabe se virar, ela ficará bem — Ele enfatizou notando o olhar de preocupação da Mitsashi. Era incrível que ela não houvesse sido repelida pela pedra da lua, mesmo que sua atenção estivesse quase que completamente presa à luta. 

Cassandra fez menção de atacar Sakura novamente e foi atingida em cheio, no rosto, no abdômen e seu corpo tremia, as garras alongando-se enquanto parte dela conectava-se com a parte animal que estava semi-adormecido em seu corpo. 

— Não vou deixar que se transforme — Sakura avisou e pegando impulso, a Haruno correu na direção da loba, agarrando-a pelos ombros enquanto ambas atravessavam o concreto que separava o quarto em que estavam dos demais. 

Tenten conseguia ouvir os gritos, os rosnados, a luta brutal, mas não era mais capaz de vê-los... Não com seus próprios olhos. 

Os orbes castanhos brilharam e tornaram-se prateados como os de Neji por instantes, as lágrimas tornaram-se vermelhas e o sangue escorreu por seu rosto enquanto ela fitava o buraco escuro que havia na parede. 

— Tenten... 

— Por que tem interesse em me destruir, filho da lua? — A Mitsashi murmurou com a voz etérea. A pele dela esquentava e seu corpo, aos poucos, fora envolvido por uma camada de luz que repeliu o toque de Neji. — Por que quer destruir seu próprio sangue? — A pergunta direcionada ao Hyuga não era de alguém que esperava por uma resposta. — Esta menina... Ela tem gosto de sangue — E como uma profecia que se concretizava, os lábios de Tenten passaram a sangrar, embora sua expressão permanecesse inalterada. 

— Tenten, não deixe que ela te controle — Neji alertou. Ele sabia que tais esforços como os que ela estava fazendo podiam ser fatais. — Tenten... 

— Você está enganado, criança — Os dedos dela pressionaram-se contra a pedra e Neji podia sentir o cheiro de carne queimada que emanava das mãos de Tenten. — Não quero ter controle sobre esse corpo... Quero destruí-la.  

 O corpo de Tenten tinha pequenos espasmos, reagindo a toda energia que passava por si com violência. Ainda assim, ela não deixou de tocar a pedra por instante algum. 

Ao ouvir tais palavras Neji tentou impedir que Tenten continuasse a tocar a pedra. Ele avançou, tocou os braços da Mitsashi e tentou afastá-la da influência da magia antiga com todas as forças que conseguiu reunir, e no entanto, não foi capaz de separa-las.  

A pedra prateada, aos poucos, tornava-se vermelha como sangue. E o Hyuga, que era proibido de tocá-la, foi arremessado para longe... Incapaz de protegê-la. 

— Tenten! — Ele bradou erguendo-se do chão. — Não desista! Tenten! — A barreira que havia surgido ao lado da garota era a mesma que protegia a pedra, dessa vez, usando a Mitsashi como um condutor. 

— Sacrificará esse corpo, criança? — A voz etérea murmurou e fechou os olhos por um breve momento, aceitando algo que Neji não era capaz de compreender. — Não. Não, não. Você não... 

Tenten gritou e seu grito, fora acompanhado com o da loba que lutava com Sakura afastada dali. Ambas caíram de joelhos, gritando com tamanha violência que era ensurdecedor. A sensação de que chamas consumiam seus corpos partia desde as pontas de seus dedos até o centro de suas cabeças. 

Com um último grito a pedra que estava entre os dedos de Tenten partiu-se em milhares de pedaços, como pequenos fragmentos de vidro que desapareceram antes mesmo que Neji pudesse observá-los por muito tempo. 

O Hyuga correu na direção de Tenten, a tempo de ampará-la antes que seu corpo fosse de encontro ao chão. A respiração da jovem cigana era pesada, como se seus pulmões estivessem perfurados. Os olhos que sangravam tornaram-se castanhos aos poucos e ela, que não enxergava desde o instante em que sua mente fora tragada a força, finalmente pode ver...  

— Neji... — A Mitsashi sorriu fracamente e com um suspiro pesado, seus olhos fecharam-se por completo.