Névoa de Guerra escrita por Kuma


Capítulo 8
O navio ioniano


Notas iniciais do capítulo

Esse é o maior capítulo até agora e_e
Decidi que o ritmo da história vai ser de hiatos relativamente longos, porém as histórias virão mais longas.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/536797/chapter/8

Riven

Sentia-se encurralada.

Nem o pânico nem o nervosismo a impedia de se sentir encurralada. No navio ioniano, Riven finalmente voltava para Noxus depois da sua mal sucedida campanha - o que certamente deixaria o Alto Comando furioso, afinal, além de ter se exilado por vontade própria em Ionia, a tropa que ela comandava falhou. Prefiro ser executada em Noxus a morrer neste navio. Deuses, me poupem de mais essa humilhação. Sua espada estava partida, ela estava cercada por vítimas dos ataques de suas tropas noxianas na investida em Ionia, e não sabia por quanto tempo seu nome falso pareceria legítimo - principalmente por seus traços noxianos.

Todas as noites seu sono era roubado por pesadelos daquela campanha maldita. A tropa de choque noxiana estava em cacos, mas havia uma pequena esperança de conseguirem dominar um templo influente. Riven bradara a espada e liderara a investida, assistindo todos os bravos soldados correndo em direção à morte. Os ionianos perceberam o ataque cedo demais, e os noxianos caíram em uma enrascada. Pelos flancos, dezenas de ninjas apareceram, atirando suas shurikens e sumindo logo depois. No ápice de seu desespero, os soldados gritaram pelas armas químicas.

A pior decisão de suas vidas.

Riven sonhava todas as noites com a fumaça de Singed invadindo cada beco, cada buraco no chão, cada narina humana. Ela enrolara um lenço sujo no rosto, desesperada por ar, e viu seus soldados caindo, e ionianos, e mais noxianos, até o ponto em que soldados noxianos, ninjas e civis já eram todos uma só pilha de corpos envenenados. Alguns tossiam, outros gemiam, mas a maioria só gritava sem voz alguma, revirando os olhos dolorosamente. Riven lembrava-se de como correra. Simplesmente por impulso, correndo como se o peso da espada nunca existira. Correu e tropeçou e ergueu-se e correu novamente, até cair de vez e acordar com a chuva empapando suas roupas ensanguentadas.

Suas lembranças foram interrompidas por um homem gritando Raven do outro lado da porta de sua cabine. Deuses, Yasuo é quem menos quero ver agora. Em questão de alguns drinques e perguntas feitas na hora certa, Riven arrancava informações fáceis no navio, e acabou descobrindo que o samurai que a chamava agora tivera seu mestre executado no ataque de Noxus, e era falsamente acusado do assassinato. Outra vítima era um arqueiro corrompido, cujo vilarejo fora o palco da tragédia com as armas químicas.

Relutante, Riven se levantou, desenrolando o cobertor branco em suas pernas. Pisou na madeira fria e estremeceu, caminhando lentamente até a porta, o que não durou nem cinco passos. A fraca luz dos corredores do navio foi parcialmente bloqueada pela silhueta esguia de Yasuo.

– Bom dia... – Ela sussurrou, ainda com a garganta fraca de uma recente febre do mar. O samurai só devolveu o cumprimento, olhando ao redor como se alguém os observasse. Estava claramente tenso.

– Boas novas, se é que posso dizer assim. – Yasuo finalmente respondeu, depois de caminharem bastante pelo corredor, cujo piso de madeira rangia a cada passo. A luz das lâmpadas de óleo nas paredes era tão fraca que Riven achava que tirá-las não faria a menor diferença. – O capitão já avistou o solo noxiano. Chegaremos a terra firme à noite.

Riven parou de andar, tentando mastigar a informação. O samurai pareceu compreender, pois parou também, e passou a mover as mãos nervosamente. À noite estarei em casa. Ela não sabia se isso era bom ou ruim. Pretendia se alistar na Liga, mas e se a descobrissem antes? Seria Noxus seu refúgio ou lápide? Talvez ambos.

– Certo... – Ela disse, voltando a caminhar. Abriram a porta barulhenta que dava acesso ao convés e se separaram. Riven foi direto para a cozinha.

Quando viu o garçom ruivo e sardento, filho do capitão, Riven apoiou-se no balcão, apontando para uma garrafa feia e empoeirada no canto de uma prateleira.

– Me dê o pior rum do estoque. – Ela bravejou, tirando os cabelos prateados dos olhos com violência. – Um tão ruim que me faça ficar com uma careta durante o resto do ano. Um tão ruim que eu vou ter de beber apertando o nariz.

– Tu enlouqueceu de vez hein, mulher. – O ruivo riu, pegando a garrafa no canto e entornando seu líquido grosseiro em um copo do tamanho de um polegar. Riven ia sentir falta do sotaque da tripulação. O capitão, seu filho, a esposa cozinheira, o cozinheiro amante da esposa e o imediato eram de Bilgewater, e o sotaque das ilhas era tão charmoso e forçado que qualquer pessoa ouviria um sulista falar por horas. Porém, a fala do garçom foi apagada pela bebida, que desceu queimando sua garganta. Riven fez a careta já esperada, apertou os olhos e aguardou até que a ardência passasse, ouvindo o riso do rapaz do outro lado do balcão.

– A gente chama esse rum de Lágrima de Corno. – disse o ruivo, recolhendo o copo que estava nas mãos trêmulas de Riven. – É pra quem quer esquecê os problema. – Ouvindo o garçom rir, Riven só pode concordar com o propósito da bebida. Por aqueles instantes terríveis de queimação, foi como se Noxus, Yasuo, Varus e toda maldita Ionia jamais existissem. Acho que é por isso alguns simplesmente entregam todo o ouro do mundo a uma garrafa de rum.

Resolveu beber mais alguns goles, e quando notou, já tinha adormecido encima do balcão, sentindo o quadril ficar dolorido com o banco alto e esguio que era envolto por um braço de madeira apertado. Queria acordar à noite, mas quando seu cochilo fora interrompido por uma onda forte que chacoalhou a embarcação, não era nem uma da tarde.

Lenta e tonta, Riven ergueu-se e andou até o convés, um lugar sempre cheio de gente. Não viu sinal algum de Yasuo, suspirou de alívio e apoiou-se no corrimão, sentindo a brisa em seus cabelos prateados. O cheiro de sal era forte, e ela pressentia que chegaria a Noxus impregnada com aquele aroma. Uma boa oportunidade. Poderia dizer a eles que sou de Bilgewater. Sal é o aroma das ilhas. Então se lembrou de como Riven, a comandante em ascensão, era conhecida naquelas terras. Certamente alguns soldados sobreviveram à missão em Ionia, e não iriam esquecê-la tão facilmente – principalmente depois de tê-los abandonado. Fui tão tola. Deuses, por que me tiraram a valentia justo naquele momento? Que me deixassem morrer envenenada também. Se conseguisse sair vitoriosa naquela arriscada missão, provavelmente teria sido promovida a general. Eu era o orgulho de meus tutores. Swain via tanto talento em mim que me deixou treinar com a Mão de Noxus. Ah, deuses, por que estraguei tudo? Estava prestes a chorar quando viu algo na água.

Era uma silhueta, mas tornou-se colorida, e logo tomou relevo nas águas. Lento, grande e imponente, um ser encouraçado, de duas brilhantes luzes no que deviam ser seus olhos, com uma âncora em mãos e uma válvula nas costas, ergueu-se dos mares. As pessoas no convés foram à loucura.

– Que merda é essa? – Riven ouviu uma mulher berrar, enquanto a tripulação sentia as gotas de água caindo no piso de madeira. A criatura de aço movia-se lentamente, porém de forma intimidadora, apoiando a âncora no ombro. Mas ouve silêncio geral quando sua voz foi ouvida.

Fora. – A coisa disse, sua voz como um trovão. Foi o bastante pra sentirem o navio virar-se de supetão, e Riven ouvia alguém chorando. De repente, deparou-se com uma imensidão de cabelo castanho rudemente preso, cujo dono não se preocupava em se agasalhar. Riven franziu o cenho.

– Sabe o que é aquilo? – disse Yasuo, com o mesmo tom de um adulto que pergunta algo a uma criança já sabendo a resposta, somente pra se deliciar com a falta de conhecimento alheia. – Vamos lá, Raven. Todo mundo conhece a história.

– Não tive muito acesso a histórias. – Riven retrucou, ainda com o coração acelerado pela aparição repentina da criatura marítima e do samurai logo depois. – Conte-me mais.

Ele tossiu.

– É Nautilus. Essa história veio até Ionia por um navio pesqueiro de Bilgewater, não confie nos contos de pescador. – Yasuo começou, com um pequeno sorriso. – Mas... Bem, os pescadores contaram a história de um homem que foi jogado ao mar, preso a uma âncora. O instrumento, que devia ser sua morte, agora é sua arma. Não me pergunte como um homem cai no oceano e ressurge como um titã.

– Que historinha resumida. – Riven disse, novamente se apoiando no corrimão, que agora estava encharcado com gotas de água. – O que esse Nautlos faz? O cara só veio nos enxotar daquela área.

Nautilus é chamado de Titã das Profundezas. Aparentemente ele protege algo que não conhecemos. Não é violento, se não provoca-lo.

– Entendi. – A albina disse, sorrindo sem alegria. Ela conhecia a história, sabia quem era o Titã, mas puxar um assunto que não fosse Noxus fazia bem pros nervos. Olhando pra maré e ignorando Yasuo o quanto podia, falhou miseravelmente ao vê-lo coçando uma cicatriz.

– Por que você tem tantas cicatrizes? – Riven indagou, observando quase clinicamente o abdômen do samurai, que só tinha cicatrizes em locais estratégicos. A realização veio fácil. Todos os ataques eram para matá-lo, a mulher deduziu, aflita. – Não precisa responder.

Yasuo suspirou, seus olhos apertados encarando o nada. Ergueu uma garrafa de algum lugar e tomou um gole. Riven negou quando a bebida lhe foi oferecida.

– Verdade seja dita, não sou muito querido em Ionia. – ele começou, com a voz calma de sempre. – Mas não pense que estou fugindo. Já aceitei a morte, porém meu corpo não. Sempre luto quando alguém me ataca. E me atacam pra matar. Sinto falta de quando eu só erguia a espada para treinar com meu irmão. – Ele bebeu mais uma vez, e Riven se sentia extremamente intrometida.

– Não tem que...

– Nah, desabafar é bom de vez em quando. – Ele riu, talvez o riso mais triste que Riven já ouvira. – Noxus atacou o dojo onde fui criado. Eu desenvolvi técnicas do vento, uma coisa bem rara e que trouxe uma triste coincidência. – Yasuo tossiu. – O mestre do dojo, um ancião muito respeitado e quase meu pai, foi assassinado no dia da invasão noxiana. Os exames no corpo disseram que “técnicas raras de manipulação de ventania” foram a causa mortis. E aí todas as espadas se viraram para mim, literalmente. – Ele bebeu um gole novamente, desta vez mais demorado, e levou no mínimo dois minutos para recomeçar a narrativa. – Tive que fugir. Diariamente alguém me achava e tentava me matar. E eu matava essa pessoa. Os ataques se tornaram rotina, Ionia inteira querendo dar um fim ao samurai assassino, que história dramática. Até Kinkou mandou alguns ninjas! – Aquela exclamação pareceu mais indignação que surpresa. – Mas aí chegou o dia que mudou tudo. O dojo a que eu servia mandou meu irmão.

Yasuo bebeu mais uma vez, porém não terminou a história. Não que Riven quisesse saber o que vinha mais tarde.

– Está indo pra Noxus atrás do responsável pelos ataques ao seu dojo. – Riven afirmou tão aflita que suas mãos tremeram. – Indo atrás de quem tinha poder sobre o vento... – ela mordeu o lábio, encarando o chão.

– Raven?

A culpa a tinha dominado. Em Noxus, ninguém era ensinado a ver uma guerra do ponto de vista de suas vítimas, mas agora...

Riven abria a boca para dizer uma loucura quando o capitão gritou, rouco e ainda assustado com a aparição de Nautilus.

Estamos em Noxus!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Névoa de Guerra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.