Quando a Chuva Encontra o Mar: Uma Nova Seleção escrita por Laura Machado


Capítulo 128
Capítulo 128: POV Sophie Abramovitch




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/536690/chapter/128

Eu andei até a minha cadeira enquanto Charles guiava Gabrielle até os tronos que os esperavam em um palco montado no final do Grande Salão. As câmeras os acompanharam como eu fiz com os olhos. Em poucos segundos eles estavam sentados e o rei e a rainha se juntaram a eles. Logo que eu me sentei, o Príncipe Sebastian buscou Amélie na sua mesa e a levou também para o palco, parecendo bastante contrariado. Se era intenção dele fingir que estava feliz, ele era péssimo nisso. Dava para ver nas rugas da sua testa, em seus dentes cerrados. Amélie queria tanto estar ali quanto ele não queria. Ela sorriu para as câmeras, completamente confortável com todos que a miravam até de casa. Ele, em compensação, manteve seus olhos no horizonte, como se o que ele visse o mantivesse na farsa. Como se ele fosse perder seu auto-controle caso quebrasse aquele olhar.
Sem querer, eu me virei para ver o que ele via. E então eu entendi. Nina estava na porta do Grande Salão, metade de seu corpo para fora. Ela respirou tão fundo que eu vi de longe, depois ela deixou de olhá-lo e saiu. Um dos guardas na porta a fechou atrás dela, depois voltou à sua posição normal. Foi quando seu olhar encontrou o meu e ele piscou com um olho só.
Droga, eu pensei. Gustave estava de volta. Minhas férias tinham acabado. E para que eu tinha usado as minhas férias? Para nada. Para sentar no jardim e tocar meu violão, sem conseguir tirar os olhos da namorada de Gerad, que insistia em se bronzear no sol tosco do outono. Eu tinha pensado comigo mesma mil vezes que ela era idiota por isso. Completamente fútil. Mas ali estava ela no Grande Salão, sentada a algumas mesas de mim, seu bronzeado brilhando de um dourado hipnotizante contra o seu vestido vermelho. E eu ali, parecendo a garotinha que era.
Eu me virei para a minha mesa e vi que eu e Beatriz estávamos sozinhas ali. Talvez fosse a melhor hora para ela acabar com a minha curiosidade.
"Charles já falou com você?" Eu perguntei, quase sussurrando.
Ela mantinha os olhos fixos no palco e demorou alguns minutos para perceber a minha presença. "Quê?!" Ela perguntou, frustrada quando finalmente olhou para mim.
Eu engoli a seco. Depois de todas as vezes em que ela falava para quem quisesse ouvir que ela e Charles estavam se apaixonando, deveria ser insuportável assistir outra pessoa aonde ela queria tanto estar. E eu não queria piorar nada.
Então dei de ombros, sem responder. Por um segundo, parecia que ela ia insistir no assunto, mas ela acabou só suspirando e voltando seus olhos para o palco outra vez. Eu podia jurar que ela estava lacrimejando, mas dei minhas costas para ela antes de ter certeza. Se ela estava triste daquele jeito, eu queria poder lhe dar o máximo de privacidade que conseguia.
Eu já tinha me acostumado com o jeito de Gavril naquele ponto. Nós só tínhamos o visto algumas poucas vezes, essa tinha sido uma Seleção realmente curta. Mas foi fácil de perder aquela imagem que eu tinha dele de casa. Agora ele só era um cara animado demais que parecia acender na frente das câmeras e apagar fora delas. Eu só ouvi enquanto ele falava sobre a nossa Seleção e sobre a futura rainha de Illéa. Eu vi um olhar estranho passar por Gabrielle quando ele falou isso, mas desapareceu tão rápido quanto tinha chegado e logo ela estava sorrindo.
Logo Gavril terminou o Jornal Oficial em clima de celebração - palavras dele - e nós estávamos liberados para festejar. Todos pareceram segurar a respiração até que as câmeras tivesse saído do salão. E então realmente estávamos liberados. Livres. E a festa começou.
Eu ainda estava um pouco desconfortável de pensar em Beatriz logo ali, atrás de mim, desabando de tristeza. Mesmo que ela se fizesse de forte. E eu nunca tinha sido muito próxima dela, eu não saberia consolá-la. Não ali, não daquele jeito. Alguma coisa me dizia que ela me odiaria muito mais se eu tentasse animá-la. Então eu a ignorei.
Assim que pude, me levantei e fui até o bar para buscar alguma bebida. Em um minuto, eu tinha terminado de tomar um cosmopolitan. O barman nem me perguntou, simplesmente enchou de volta a minha taça. Na terceira, eu percebi como ele era bonito. Ele sorriu para mim e despejou o líquido de volta na taça de vidro e eu observei o movimento que ele fazia.
Eu estava bem. Nada tinha me subido à cabeça. Mas era bem isso que eu queria, me perder um pouco. Aquela não só era a minha última noite no castelo, mas eu também era uma das perdedoras. Eu tinha o direito de ficar um pouco embriagada. Eu tinha o direito de aproveitar as bebidas e as comidas do castelo. E eu sabia que eu não estava perdendo só a Seleção. E isso era o que mais me incomodava.
Eu tomei o último gole e me virei de volta para olhar para o barman. Ele já começava a preparar outro quando eu o parei e pedi um martini. Nunca tinha tomado um desses, mas estava louca para descobrir como era o gosto. Enquanto ele o preparava, eu batia meus dedos na bancada, tentando acompanhar o ritmo da música que tocava. Sem querer a letra começou a se bagunçar na minha cabeça e eu resolvi inventar a minha própria letra. Eu estava balançando a cabeça no ritmo das palavras que eu criava quando alguém se colocou do meu lado.
Eu deixei minha cabeça tombar para a esquerda para ver quem era, imaginando que fosse só mais alguém querendo sua dose de álcool. Assim que reconheci o cabelo ruivo de Gerad, eu me endireitei, meus ombros rígidos com a minha própria vergonha.
"Alguém parece estar curtindo a festa," ele disse, se apoiando na bancada com o cotovelo.
"Todos parecem estar curtindo a festa," eu falei, dando de ombros. Menos Beatriz e Nina, eu pensei na hora. Mas balancei minha cabeça para o pensamento se afastar.
Péssima ideia. Ainda que não estivesse já completamente embriagada, o álcool no meu sistema era o suficiente para pedir pelo amor de deus para eu não chacoalhar minha cabeça com aquela força e rapidez.
Eu tive que levar uma mão à minha testa para conseguir me recompor. Do meu lado, eu ouvi a risada fácil de Gerad. Quando me virei para olhá-lo, ele mirava o barman, que colocava minha nova taça à minha frente.
Uma música um pouco mais animada começou a tocar, enquanto eu dava meu primeiro gole no martini. O gosto não era dos melhores e na hora eu quis cuspir de volta o líquido na taça. Seria muito ruim da minha parte pedir para o barman trocar minha bebida? Fazer alguma coisa com frutas, sei lá?
Ainda tentando decidir, eu me virei de costas para o bar. Na hora em que meus olhos encontraram Caresa conversando com a rainha, eu resolvi que não ia devolver o martini. Eu não podia ser a criança que não conseguia beber drinks de adultos. Eu teria que aguentar.
"Você não vai dançar com o seu namorado?" Gerad se virou também de costas para o bar, um copo de uísque em sua mão.
Aquilo eu sabia que odiava.
"Eu não tenho namorado," eu disse. "Você não vai dançar com a sua?"
Eu me virei de leve para olhá-lo, sem querer demonstrar que eu me interessava mais por sua resposta do que a minha pergunta já deixava implícito.
Ele deu de ombros, sem falar nada. Então eu me virei para olhá-la de novo. Uma mulher mais velha se juntou a ela e a rainha e pareceu pedir para falar sozinha com a rainha, deixando-a para trás enquanto as duas andavam para longe.
"Minha mãe," ouvi Gerad falando e nem tive tempo de me recompor antes de me virar para olhá-lo.
"Oi?" Perguntei, surpresa.
"Aquela, falando com a minha irmã. É a minha mãe," ele disse, logo antes de tomar um gole de seu uísque.
Pensei em beber um pouco do martini, mas antes que conseguisse levar a taça à boca, eu parei. Não precisava ser tão masoquista.
Meus olhos se voltaram para a rainha. Eu ainda tinha problemas em vê-la como irmã dele, mas a mãe dele era muito mais fácil de encaixar. Ela se parecia com ele e só de olhá-la por dois segundos, eu já consegui imaginá-la vindo falar com ele, perguntando se ele estava comendo bem, porque ele insistia em namorar aquela menina ridícula.
Tá, talvez ela não fosse perguntar isso. Mas uma menina pode sonhar, não?
"E sua irmã?" Eu perguntei. "A outra, digo."
"May volta amanhã," ele suspirou. "Ela não perderia o casamento. Ela que desenhou o vestido."
Eu soltei uma risada pouco educada, logo me reprimindo com a minha mão livre. "Desculpa."
"Não," ele desencostou da bancada e se colocou na minha frente. Um sorriso tomava seu rosto inteiro, relaxando meus olhos e transformando minha risada em um queixo caído. "Pela reação dela quando eu falei que ela que tinha que desenhar o vestido, eu mal posso esperar para ver a cara dela amanhã, quando ela tiver que tirar fotos do lado da noiva. Vai ser a melhor parte do dia!"
Eu deixei minha cabeça tombar um pouco para o lado e pisquei algumas vezes, tentando focá-lo. "Você não acha que o casamento vai ser a melhor parte do dia?"
"Não esse," ele fez uma careta, como se eu fosse louca de considerar aquilo. "Todos aqui sabem que Sebastian está quase implorando pela guilhotina para não ter que subir ao altar."
Eu não consegui me controlar, a imagem que aquilo deixou na minha cabeça era engraçada demais! Pior do que a outra vez, a risada que eu soltei dessa não foi só mal educada. Mas feia. Nasalada. Eu parecia um porco engasgando. O que só fez Gerad rir da minha cara.
Talvez o álcool estivesse começando a subir à minha cabeça.
"Está vendo? Até você sabe que é verdade!" Ele riu comigo, sua risada limpa e linda, soando como música para meus ouvidos.
Eu nem deveria sonhar. Alguém tão perfeito não conseguiria nem olhar para alguém tão inapropriada. Não quando ele tinha uma menina que combinava com ele em perfeição do seu lado.
O pensamento matou qualquer coisa que eu estivesse pensando que era engraçado. E logo eu me senti mais no lugar de Sebastian do que de alguém de fora.
Eu me virei de volta para o bar e apoiei minha taça na bancada. Gerad me acompanhou. Eu mirava a bebida, tentando decidir se o álcool valia o gosto terrível ou se eu conseguiria aguentar a vergonha de admitir que eu não conseguia beber bebida de adultos.
"Sabe o que eu queria tomar?" Gerad perguntou, cortando meus pensamentos.
"O quê?" Eu estava praticamente rezando para ele que dissesse 'martini', só para eu empurrar minha taça para ele.
"Tequila," ele respondeu, para minha surpresa. "Vamos lá, largue esse martini e tome alguns shots comigo."
Eu me virei para olhar para ele. "Você tá louco?" Eu perguntei, rindo pelos meus dentes.
"Não," ele disse, fingindo estar ofendido. "Se você não quiser, eu tomo sozinho. Ei, me traz três shots de tequila," ele falou para o barman.
"Três shots? Isso é você bebendo sozinho?" Inconscientemente, eu já estava empurrando minha taça para um pouco mais perto do bar.
Gerad deu de ombros. "Eu trabalho duro, eu mereço," ele separou os limões que o barman o entregou e se preparou com o sal. E então os três copinhos foram colocados na frente dele. "Última chance," ele disse, me olhando de lado. "Vamos lá, um para comemorar o casamento feliz. E dois pela tragédia."
"Tragédias merecem dois?" Eu perguntei, já pronta para aceitar.
"Tragédias merecem vinte," ele disse, me mostrando seus dentes em um sorriso divertido. "Mas nós chegamos lá."
O barman olhou para mim, segurando outros copinhos. Eu só concordei com a cabeça, um pouco apreensiva.
"Aê!" Gerad comemorou, batendo na bancada com as duas mãos como se fosse um tambor. Eu ri sozinha, me sentindo um pouco envergonhada e muito, muito animada.
Nervosa, mordendo meu lábio de medo, mas animada. Como se eu estivesse entrando em um clube onde só as pessoas mais legais pudessem entrar. E eu não estava só entrando, não. Eu entrava debaixo do braço do líder.
O barman despejou a tequila nos nossos copos e me serviu alguns pequenos pedaços de limão. Eu só tinha tomado tequila assim uma vez na vida, mas eu sabia o que fazer de ver na televisão. Eu só nunca tinha imaginado engolir aquela quantidade de álcool em pouco tempo.
"Pronta?" Gerad me perguntou. Eu concordei com a cabeça e peguei o primeiro copinho. "Espera," ele pediu, mas pegou o dele também. "A gente tem que beber olhando no olho um do outro."
"Como é?" Eu perguntei, já sentindo meu estômago reclamar daquela ideia.
"É uma tradição," ele explicou. "Dá boa sorte."
Eu só ri de lado e mirei o copinho na minha mão. Mas um segundo antes de virá-lo, eu olhei para Gerad, que mantinha seus olhos em mim. E depois da bebida queimar minha garganta, eu peguei o limão e lambi o sal.
"Você tem que lamber o sal antes," Gerad disse, já pegando o próximo. Ele passou um pouco do limão nas costas da sua mão e depois, sem nem me perguntar, ele pegou a minha mão esquerda e passou um pouco nela também. Depois ele jogou sal por cima dela e fez o mesmo com a dele. "Assim," ele disse, lambendo e virando o segundo copinho.
Seus olhos nunca saíram de mim. E eu fiz o mesmo, chupando o limão logo em seguida. Na terceira vez, nós já nos mexíamos como profissionais. Eu deixei que ele passasse o limão na minha mão sem nem perguntar e depois eu mesma joguei o sal em cima da dele. Nós viramos o último copinho sem quebrar nosso olhar e depois o viramos de ponta cabeça na bancada, vitoriosos.
Foi só nesse terceiro que eu senti os efeitos da tequila começando a tomar conta de mim. Eu sabia que aquela tinha sido uma péssima ideia e não conseguia evitar de me perguntar se eu estava fazendo isso por ele, para provar que eu conseguia acompanhá-lo, que eu era legal como ele. Mas eu sabia, no fundo eu sabia, que eu tinha bebido por mim. Pela minha própria vontade de ser o que eu fosse. E quando ele pediu para o barman me fazer outra bebida, eu já sabia o que responder.
"Piña Colada," eu disse, sorrindo de orelha a orelha para ele.
"Leite condensado, abacaxi e coco?" Gerad perguntou, franzindo as sobrancelhas, divertido.
"E rum!" Eu falei em minha defesa. Ele riu de leve, mas como se visse uma graça em mim. Não como se eu fosse ridícula, como se aquilo o agradasse.
Eu não sabia o que estava pensando, eu simplesmente me inclinei para ele e coloquei meu braço em volta dele, como se nós fôssemos amigos de infância. A verdade era que eu só queria chegar perto dele, eu só queria poder tocá-lo.
Ele riu daquilo, mas como estava quase tão bêbado quanto eu, ele rapidamente colocou seu braço em volta do meu pescoço.
Era engraçado, porque, diferente do meu gesto, o dele me incomodava. Eu só queria tocá-lo, eu não me importava de parecer tonta. Mas eu não queria que ele me tratasse do mesmo jeito, como amiga. Eu quase reclamei para ele que não era assim que eu queria ficar com ele, mas o barman colocou minha piña colada na minha frente e meu foco mudou completamente.
Tudo naquele drink era perfeito. Do abacaxi do lado de fora do copo, até os restos de leite condensado no fundo. Meu corpo estava quase levitando quando eu tomei o meu primeiro - e grande - gole. Mas todo aquele paraíso foi interrompido quando eu vi que Gustave começava a andar em minha direção do outro lado do salão.
"Me protege," eu falei, me virando para Gerad. Na hora eu senti um choque de histeria, não só pelo pânico de ter que falar com Gustave, mas por eu ter simplesmente pedido para Gerad me proteger.
"Do quê?" Ele perguntou, baixando a voz para se igual à minha.
"Gustave," eu falei, mirando-o com olhos suplicantes. Mas eu ria. Eu tentava parar, mas a histeria estava mesmo tomando conta de mim. E tentar me manter séria não estava ajudando, só estava piorando. "Pelo amor de deus, me salva!"
"Achei que vocês estavam se dando bem," ele disse, seus olhos deixando os meus para olhar para alguma coisa atrás de mim. Eu praticamente me agarrei ao seu braço. "Nossa, está assim, é?"
"Ele é insuportável," eu falei, quase chorando enquanto ainda ria. O medo de ele estar logo atrás de mim era enorme, o que só me deixava mais nervosa e contribuía para a minha histeria. "Pelo amor de deus-"
"Vem cá," Gerad disse, depois de me observar por um segundo. Ele me pegou pelo braço e me puxou para o outro lado da festa, fazendo quase um paralelo com Gustave.
Eu não arrisquei um olhar em sua direção, mas algo me dizia que aquilo não estaria ajudando. Ele podia nos ver, ele podia facilmente cortar caminho para onde nós íamos.
Em poucos segundos, eu senti meus pés afundando na grama. Foi quando eu olhei em volta e vi que Gerad me tinha puxado para o jardim.
"Vem!" Ele insistiu, soltando da minha mão e acelerando. "Nós não temos muito tempo!" Ele riu alto, como se fingir que aquilo era um assunto sério fosse a coisa mais engraçada do mundo. Eu queria protestar e explicar o quanto era sério. Mas eu sentia a urgência de correr e me esconder mais forte do que qualquer outra coisa.
Segurando a minha saia como dava e o copo de piña colada que eu não soltaria por nada nesse mundo, eu tentei acompanhá-lo. Eu ria, o que me deixava devagar, mas já nem era só de nervosismo. Era de felicidade. Era estranho demais pensar que nós corríamos para nos esconder. Era engraçado demais.
Ele só parou até conseguir me guiar para um banco que ficava bem na frente de uma fonte que tinha suas luzes apagadas, mas sua água pulando. Eu senti alguns pingos me atingirem na bochecha, mas eu não me importei. Pelo contrário. Aquilo só me deixou ainda mais animada.
"Você está a salvo, senhorita," Gerad disse, fazendo uma reverência.
Em um impulso, Eu pisei em cima do banco, me colocando de pé. Lá de cima, eu o olhei e assenti levemente com a cabeça. "Muito obrigada, senhor," disse, tentando ao máximo parecer da realeza. Aproveitei para soltar a minha saia e tomar um gole do meu drink, enquanto ele só balançava a cabeça.
"Agora você precisa me contar," ele disse, se sentando do meu lado. "Por que você acha Gustave tão insuportável?"
"Porque ele é," eu disse, andando pelo longo banco e passando até por cima dele.
"Mas até ontem vocês estavam se preparando para o seu casamento." Eu me virei para olhar para ele. "Ou algo assim."
Eu tomei um gole do meu drink e pensei no que diria. Uma voz na minha cabeça gritava para eu continuar tentando fazer ciúmes em Gerad. Mas eu estava cansada demais para aquilo. E naquela hora, eu não entendia qual seria a grande vantagem de continuar com essa farsa.
Eu suspirei. "Ele sempre foi insuportável," eu falei, pulando do banco e me sentando do seu lado, mas de frente para ele. "Eu só não queria dar o braço a torcer."
"Por quê?" Gerad perguntou, com uma expressão que me dizia que ele já sabia a resposta. Que era só uma questão de eu falar e nós continuaríamos com a nossa vida.
E a curiosidade de saber o que mudaria se eu falasse era grande demais. Meu coração batia tão forte no meu peito, eu podia jurar que era o seu jeito de espremer as palavras para fora da minha garganta.
"Porque eu não gosto de ver você com a sua namorada," eu disse. "Eu queria poder fazer o mesmo."
Eu sabia que mil perguntas podiam sair daquilo. Mas eu já sentia a gravidade do que eu tinha falado pesando contra nós. Eu não precisava de mais, eu não conseguiria aguentar mais. Eu já estava dolorosamente consciente dele ali, perto de mim. A falta de luz, o barulho da água, o jeito que ele me mirava, tudo contribuía para a minha covardice. Eu senti um impulso de levantar e voltar para a festa, talvez beber o resto do meu drink. Era como se todo o álcool em mim de repente não era o suficiente. Eu não conseguia mirá-lo tão bem, mas sentia a eletricidade que vinha dele bem mais forte do que normalmente.
Antes que eu conseguisse me deixar correr para longe dali, ele puxou meu rosto para o dele com uma mão, não hesitando nem um segundo mais do que necessário. O peso que eu antes sentia entre nós, agora me atraía para ele. Meus lábios encontraram os seus como se precisassem um do outro para respirar. E eu senti um arrepio descendo da minha nuca até as pontas dos meus dedos, que o puxavam para mim tanto quanto ele me segurava perto dele.
O copo de piña colada que minha outra mão segurava escorregou um pouco dos meus dedos, me trazendo rapidamente de volta para a realidade. Eu não deveria estar ali. Eu não podia estar deixando-o que ele me beijasse. Não era nem questão de deixá-lo vencer, não era nem isso que me incomodava. Minhas chances não tinham melhorado, meu futuro ainda seria o mesmo. Eu mantinha a minha posição, no máximo eu tinha caído. Eu era a outra. A outra!? Eu não poderia aceitar uma coisa como essa. Não importava o quão forte meu coração batesse quando eu sentia a pele dele encostar na minha. Não importava como meus sentidos acendiam toda vez que ele segurava mais forte na minha nuca, puxando meus cabelos. Não importava o quanto eu o queria. Eu não queria me colocar naquela posição. E eu tão pouco o deixaria me colocar nela.
"Não, Gerad," eu falei, me afastando dele como um todo. Eu me levantei de uma vez, já dando alguns passos atrás.
"Sophie, não é assim," ele disse, também se levantando.
Em um milésimo de segundo, eu o imaginei chegando perto de mim de novo, me abraçando, me beijando. Eu precisava sair dali! Eu não conseguiria ser forte outra vez. Eu não precisava de mais um desafio aos meus princípios. Eu só precisava sair dali.
Me virei de uma vez, sentindo o resto da bebida que eu segurava praticamente voar para longe. Não sabia direito como voltar para o castelo, mas segui a luz o mais rápido que podia, meus saltos perfurando meu calcanhar indiretamente. Isso que dá, Sophie, eu pensei para mim mesma. Isso que dá você querer se perder.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quando a Chuva Encontra o Mar: Uma Nova Seleção" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.