Quando a Chuva Encontra o Mar: Uma Nova Seleção escrita por Laura Machado


Capítulo 127
Capítulo 127: POV Nina Marshall




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Charles levantou Gabrielle no ar do jeito mais romântico possível. Os dois sorriam um para outro, completamente encantados com suas próprias felicidades. Eu sorria, eu mesma estava feliz por eles. Depois de tudo que tinha acontecido com ela, depois do que tinha acontecido com ele, eles mereciam esse final feliz. Ela merecia ganhar a Seleção. E ele a merecia como rainha.
O Rei Maxon e a Rainha America assistiam um pouco de longe. Assim que nós chegamos, Charles pediu para que eles ficassem do lado dele. Mas os dois insistiram que esse momento era dele e eles não queriam tirar a atenção dele. Era até um pouco engraçado ver um rei e uma rainha tão humildes. Eles eram o topo do país, todos nós devemos dar a nossa vida pela deles quando precisasse. E mesmo assim, eles tinham a bondade de nos fazer esquecer desse fato. Eles nunca agiam como superiores, mas nunca perdiam a autoridade.
Gavril Fadaye tentava entrevistar o casal, que parecia bem mais interessado um no outro, mas meus olhos ainda estavam presos à rainha. Ela sorria com um ar de dever cumprido, mas também com admiração. O rei colocou um braço na sua cintura, a puxando para ele. E por poucos segundos os dois só se olharam como garotinhos. Ela se colocou na ponta do pé, beijando-lhe os lábios com cuidado e carinho. Depois eles sorriram um para outro. E então começaram a andar na minha direção.
Eu desviei meu olhar o mais rápido possível, respirando fundo e tentando fingir que prestava atenção em Charles, não neles. Mas antes que meus olhos pudessem encontrar o casal feliz no meio do salão, eles caíram sobre a princesa da França, que andava determinada até mim.
Eu achei que ela fosse passar direto, que se eu não estivesse prestando atenção nela, ela não pararia para falar comigo. Mas eu estava errada. Eu ouvi quando ela puxou a cadeira do meu lado e se sentou confortavelmente, tendo certeza de que o seu vestido não estava amassado.
"Ela está linda, não é?" Ela perguntou. Só por curiosidade, eu levantei meus olhos e segui seu olhar até Gabrielle. "Esse vestido é maravilhoso!"
Por um segundo, eu parei de odiar Amélie. Ela estava certa, o vestido de Gabrielle era maravilhoso. Era de uma renda delicada azul bem clarinho. Eu nunca imaginaria algo assim, mas funcionava perfeitamente bem. Era delicado, mas ainda tinha um ar descontraído. E quando Charles a levantou no ar de novo, dessa vez a girando, ele tomou suas curvas sem exibi-las, e balançou de leve com o seu movimento.
"É realmente maravilhoso," eu falei, talvez um pouco hipnotizada pela cena.
Vi com o canto do olho quando Amélie se virou para mim. "Não se preocupe," ela disse e meus olhos encontraram os dela. "Seu dia ainda vai chegar." Suas palavras me cortaram como uma faca no estômago e eu achei que eu nunca ouviria nada tão casualmente ofensivo. Até que ela continuou falando. "Não digo seu dia de se casar com um príncipe," ela disse, dando de ombros de leve. "Mas você ainda vai encontrar alguém para você. Pode esperar que esse cara vem," ela levou uma mão ao peito, pronta para falar sobre a história dela.
"Com licença," eu falei, empurrando a minha cadeira para trás e me levantando.
Eu era a única ali que tinha conseguido fugir de todas as vezes que ela tinha exibido seu casamento, apesar de todas as selecionadas virem me contar. Até as minhas criadas já tinham passado por aquilo. Mas eu não conseguiria ficar ali. Eu não conseguiria ouvi-la explicar sobre como a sua vida era perfeita, como ela estava com o cara que amava. E como eu teria que sentar e esperar pelo meu cara, que não era o dela. Meu dia ainda chegaria. Meu dia de NÃO me casar com um príncipe. Eu ainda encontraria alguém para mim. Outro alguém. Longe dali.
Eu entendia tudo isso. Eu já tinha entendido. Eu não precisava da sua voz me contando, arranhando cada erre de emoção. Eu já tinha tido aquele pesadelo cada segundo daquela semana. Eu o sabia de cor.
Com pernas bambas, eu segurei a saia do meu vestido e fui até o bar. Já tinha colocado na minha cabeça que queria beber alguma coisa, qualquer coisa que tivesse álcool. Mas na hora de pedir uma bebida, tudo que eu pensava era que eu queria um chá. Eu só me virei de costas para o bar e apoiei na bancada, olhando para a festa.
As câmeras da televisão continuavam rodando por aí e uma delas passou por mim. Eu sorri, sem conseguir fingir muito bem que estava feliz. Depois de alguns segundos, a luz da câmera se apagou e o cara que a segurava a apoiou no ombro.
"Lady Nina, não sei se estou estrapolando de estar falando com a senhorita-" ele disse, mirando o chão, envergonhado.
"Não tem problema," eu disse, já apreciando a atenção inusitada.
Ele abriu um sorriso e me mirou, um pouco desanimado. "Eu estava torcendo por você."
Eu sorri de volta para ele, por educação e gratitude. "Como poderia?" Eu perguntei retoricamente. "Olha para eles, não tem como competir com isso."
Ele seguiu meu olhar até Charles e Gabrielle, que iam se sentar nos tronos no final da sala com o resto da família real.
"Não," o câmera se virou de novo para mim. "Eu estava falando do Príncipe Sebastian."
Aquilo me pegou de surpresa. Se não fosse pelo produtor dele, que passou por nós e o apressou a voltar a trabalhar, eu teria ficado ali, olhando para ele, completamente confusa por mais alguns bons minutos.
De onde ele tinha tirado aquilo? Como ele poderia saber? Estava tão claro assim?
Eu só percebi que meus olhos tinham começado a lacrimejar quando vi Sebastian se aproximando da mesa onde eu tinha estado sentada há pouco tempo. Ele ofereceu seu braço para Amélie, bastante contrariado. Então os dois começaram a andar em direção aos tronos da família real. Eu enxuguei as poucas lágrimas que conseguiram se soltar e andei na direção contrária, já mirando as portas do Grande Salão.
Tive que desviar de algumas pessoas que riam, que batiam palma e olhavam para o palco onde todos estavam, mas eu acabei chegando lá. Dois guardas estavam na porta, mas eles não me contrariaram. Pelo contrário, um deles abriu a porta para mim. Antes de sair, eu me virei mais uma vez para onde Sebastian estava sentado. Podia jurar que ele não me veria, que estaria ocupado demais com as câmeras e com Gavril.
Mas não. Lá estava ele, sentado entre sua mãe e sua noiva, seus olhos em mim.
Eu me virei sem tentar falar nada, sem fazer nenhum aceno, nenhum gesto. Eu não tinha o que falar para ele. Eram como se eles estivessem em uma casa de vidro, onde eu não conseguissem entrar. Eu só podia assistir. E eu já tinha me cansado de assistir.
Não sei quanto tempo demorei para chegar no meu quarto, mas demorei mais ainda para fazer a minha mala. Eu ainda estava tentando fechá-la, quando minhas criadas chegaram.
Elas me questionaram, mas eu falei que Charles tinha me deixado ir embora. Eu mesma não tinha conversado com ele, mas ele tinha me pedido para ficar por Gabrielle. E ela já não precisava mais de mim. E eu estava já cansada de sentar e esperar um milagre. Esse milagre não viria. E eu precisava aceitar isso. Eu só não precisava assistir.
Depois de elas insistirem muito para me ajudar, eu disse que só precisava de um chá. Eu o tomei sentada no banco na frente da janela, olhando para o jardim, tentando bloquear todas as vezes em que alguma memória boa aparecia na minha cabeça. Eu não queria as boas, eu só queria as ruins. Eu já tinha me acomodado em minha própria miséria, eu precisava era ter raiva. Talvez se eu voltasse para a raiva, eu conseguisse superá-lo. Talvez eu pelo menos conseguisse respirar.
Eu estava já pensando em me levantar, quando alguém bateu à porta. Eu pensei em falar para entrarem, mas minha boca não me obedeceu e eu me mantive em silêncio. Mas ele entrou sozinho e, sem falar nada, ele se sentou no banco do meu lado.
Eu tive que lutar contra mim mesma para não me virar para olhar para ele. Eu foquei no meu chá, segurando minha xícara com as duas mãos e com força.
Meu silêncio não era voluntário. Eu não saberia o que falar. Eu não saberia o que dizer. Fiquei esperando que ele falasse alguma coisa, mas ele também não parecia saber bem o que encaixaria naquele momento. Depois de alguns minutos, ele colocou seu braço discretamente em volta de mim. Eu queria lutar contra ele, eu queria protestar e empurrá-lo. Mas acabei simplesmente deixando a minha cabeça apoiar em seu ombro.
E nós ficamos ali, olhando para o jardim iluminado por poucas luzes. Eu o deixava me abraçar, tentando me intoxicar com o seu cheiro. Eu sabia no fundo do meu coração que aquela seria a última vez que eu teria alguma chance de estar com ele. E eu não queria que aquele momento acabasse. Eu sabia que nada tinha mudado. Eu sabia que nós nunca ficaríamos juntos. Mas naquela hora não importava. Porque eu também sabia que ele me amava como eu o amava. E eu nunca tinha tido tanta certeza de alguma coisa antes como eu tinha daquele sentimento. Eu sabia que seu coração era meu, que lhe matava tanto quanto me matava ter que ficar longe. E talvez eu precisasse daquilo, talvez fosse essa certeza da afeição dele que fosse me salvar. Eu precisava tanto que ele me salvasse!
Quando eu senti uma lágrima contornando meu rosto, eu me afastei dele. Eu ainda queria ficar ali, eu ainda queria poder abraçá-lo e fingir que o mundo era só nós dois. Mas eu sabia que se eu ficasse mais um segundo com ele, eu não conseguiria ir embora. Eu precisava ser mais forte do que isso.
Contra a minha própria vontade, eu me levantei, deixando que seu braço caísse no banco. Eu dei a volta nele e fui deixar a minha xícara na mesa. E então eu me voltei para a minha cama, onde minha mala me esperava.
"Você vai embora," ele disse. Não era uma pergunta, era como se ele estivesse me avisando. Eu só concordei com a cabeça.
Ele me assistiu fechar tudo que faltava e vestir meu casaco. Eu não queria ir embora de vestido, mas eu não queria ficar mais ali. Eu me virei para ele, que se levantou e foi até mim. Esperei em silêncio enquanto ele colocava as mãos no bolso. Nós já éramos estranhos, já não sabíamos como agir. Alguma coisa me dizia que eu devia pegar a minha mala naquela hora, mas a esperança de um milagre ainda vivia dentro de mim. Então eu fiquei de pé ali por mais alguns segundos, esperando que talvez alguma coisa pudesse acontecer para que eu não precisasse mais ir embora.
"Seu pai vem te buscar?" Ele perguntou, como se nós dois não fôssemos nós dois e não estivéssemos onde estávamos.
"Vem," eu respondi. "Ele e meus irmãos.
Sebastian concordou com a cabeça, pensativo. Era como se ele nem se importasse com a minha resposta, só quisesse me ouvir falar. Ele me mirou por alguns segundos, enquanto eu baixava meus olhos e suspirava.
"Não tem mais nada que eu possa fazer," ele disse, quase tão baixo quanto um sussurro. "Mas eu te amo o melhor que eu posso."
Eu levantei os olhos para ele, que segurava algumas lágrimas nos seus. Sua mandíbulava estava travada, como se ele mordesse o mais forte possível. Ele odiava aquilo. Eu odiava aquilo.
"Eu sei," eu falei, sentindo no meu peito que eu não conseguiria falar que o amava. Eu não conseguia nem pensar, que já sentia um arrepio frio me percorrendo o corpo. "Eu preciso ir," eu disse, e seus olhos esperançosos desanimaram.
Eu podia olhar para ele para sempre, podia tentar me agarrar aos poucos segundos onde eu ainda era dele e ele ainda era meu. Mas me virei para a minha cama e segurei na alça da minha mala. Eu a puxei com toda a força que tinha, até ela deslizar pela cama e estar pendura.
Eu ainda esperava um milagre. Mas eu já sabia que ele não viria. Eu praticamente contei meus passos até a porta do meu quarto. Quando cheguei até ela, eu parei. Pensei em olhar para trás, mas me segurei. Então só continuei andando.
E cada metro que andei até chegar nas portas principais do castelo foram uma tortura. Era como se quanto mais perto eu chegasse de desistir, mas a esperança crescia em mim. Como se ela fosse viva dentro de mim e estivesse percebendo que a sua morte estava chegando. Ela lutava contra tudo e todos para sobreviver, mas eu só pedia que ficasse quieta. Eu precisava aceitar, eu precisava que ela desaparecesse.
Os guardas das portas principais nem pararam para me perguntar nada, nem olharam para mim. Eles simplesmente as abriram e eu passei por ele como se fosse um hábito, sem me importar muito com o que fazia.
Assim que o vento gelado atingiu meu rosto, eu senti alguém tirando a minha mala da minah mão. Era outro guarda, que a carregou até o carro parado na porta. Eu fiquei na entrada, enquanto o assistia guardando minha mala no porta-malas e via o motorista entrar. Ele me levaria até o aeroporto, onde meu pai estaria me esperando. Ele tinha insistido em vir até aqui, quando eu lhe contei sobre Sebastian.
Eu teria que o encarar. Eu teria que ouvi-lo falando que eu deveria ter sido mais cuidadosa, que eu não deveria ter me deixado apaixonar por ele.
Eu estava enterrando meu rosto em minhas mãos quando senti alguém me cutucar no ombro. Me virei para encontrar as minhas criadas ali, me olhando com lágrimas nos olhos.
Como eu podia ser tão idiota de nem ter me despedido delas?
Eu as abracei firme e as agradeci mil vezes por tudo que elas tinham feito por mim. Eu prometi que enviaria os colares que tinha desenhado para elas. E disse que gostaria muito que algum dia elas me visitassem em Kent. Eu mostraria a cidade e eu poderia servi-las por um dia. Elas riram de leve, em meio à tristeza da despedida. E então o guarda veio me avisar que o carro estava pronto.
Eu desci os desgraus quase de costas, dando tchau para elas. E em poucos segundos, eu estava dentro do carro, segura e aquecida.
Antes que eu conseguisse pensar ou mudar de ideia, o motorista ligou o motor e nós saímos pelo caminho que levava aos portões principais.
Eu estava calma. Incomodada, triste até. Mas calma. Mas foi só eu ver os portões na minha frente, que meu coração começou a bater forte no peito. Eu realmente estava indo embora. Eu estava deixando o castelo. Eu estava deixando Sebastian.
Eu não podia parar o carro, mas eu me virei o máximo que conseguia. E pelo vidro embaçado, eu vi o castelo desaparecendo lá atrás. Tão pequeno e irreal quanto no primeiro dia em que eu tinha chegado. E tão maravilhoso quanto a primeira vez em que eu o tinha visto. Não consegui evitar de me perguntar se algum dia eu teria a sorte de voltar a vê-lo. Se eu teria a sorte de voltar a vê-lo.


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