Setevidas escrita por tony


Capítulo 48
O legado de uma Imperatriz


Notas iniciais do capítulo

"Arco de Redenção - 1 de 7"



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Corro pelo hospital ao lado de Lucas, Lupin e May.

Minha barriga ainda dói muito por causa da última batalha que tive para capturar a carta Louco, e por isso não consigo correr direito. Lupin, está muito aflito e de certa forma, também estou. Saber que a Clarinha está sofrendo por minha causa, me deixa desesperado e ao mesmo tempo desapontado. Ela é minha responsabilidade e acabei falhando como seu primo.

Falhei como anteposto também.

Quando eu viro o corredor da UTI, dou de cara com o Denner e minha mãe sentados na sala de espera.

— Nathan? — Denner tira a atenção do celular quando me vê passar no mesmo instante. — O que você está fazendo aqui... e...

— Nathanael e Natália...onde é que vocês estavam? — Minha mãe diz se levantando da cadeira vindo na nossa direção. Ela segura meu rosto e levanta minha cabeça. Ao observar bem, sua expressão começa a mudar de raiva para preocupação. — Nathan o que houve com a sua cara? — Pergunta se referindo aos cortes ao lado dos meus lábios e provavelmente se referindo ao olho um pouco roxo também.

— Mãe, eu não posso explicar agora... — Digo tentando me livrar dos dois.

— Lucas, Lupin? — Denner chama a atenção dos garotos — O que vocês estão fazendo aqui também? E que raios aconteceu com o Nash?

— Eu... eu... — Lucas gagueja procurando alguma explicação.

— Nathanael, você está arranjando briga por aí? — Minha mãe questiona ficando cada vez mais abalada. — Eu canso de conversar com você sobre más companhias, e agora.... Olha o seu estado.

— Mãe, não é o que você está pensando...

— Não é? — Ela pergunta com todo aquele olhar de repreensão. — Então me explica que eu não estou entendendo... você sai de casa mais cedo com o seu irmão pra ir na casa de um amigo, sai pra buscar sua prima, acontece o maior blackout na cidade, você desaparece e volta nessa situação?

— Mãe...

— Sua tia em trabalho de parto. — Ela diz começando a ficar furiosa. — Seu irmão preocupado contigo. Você nesse estado... E onde está a Clarinha?

— Durmam. — May ordena no mesmo instante e todos da sala caem no chão desacordados. Ela segura seu báculo e dirige o olhar pra mim. — Não temos tempo. Depois a gente resolve essa discussão.

— Ta. — Digo voltando a correr rapidamente em direção à saída.

Tia Ruth está em trabalho de parto? — penso aflito. — Ai meu Deus, por favor, cuida bem da minha tia enquanto eu busco a Clarinha.

— Lupin, onde é que vocês se abrigaram depois da manifestação da carta amaldiçoada. — Lucas questiona assim que saímos.

— No colégio, no terraço. — Ele responde quase de imediato com os olhos cheio de lágrimas

— Ok. — Digo parando de correr. — Lupin, você vem comigo até o colégio, enquanto May e Lucas tentem encontrar algum mantra de cura até chegarem lá. Não podemos perder tempo, então irei voando com o Lupin pra encontra-la o mais rápido possível.

— Entendido. — Lucas diz prontamente disposto. — Só tomem cuidado.

— Espectro de luz que oscila entre o vermelho e violeta, atue na mais pura faixa de sete cores da minha aura. — Recito as palavras mágicas, enquanto emano um brilho de luz pelo corpo. — E envolva o peregrino Nathanael com as suas emoções. — Um par de asas surge nas minhas costas e um diadema de cristal com duas asinhas aparecem na minha testa. Um manto branco cobre parte do meu corpo e meu short se transforma numa espécie de pano cheio de penas. — HALO! — Grito no exato momento em que uma auréola aparece sobre minha cabeça.

Lupin se transforma em um filhote de gato e pula sobre os meus braços.

— A gente se encontra lá. — Digo.

Lucas acena com a cabeça.

Eu me sinto exausto, mas consigo usar toda minha energia pra voar pelas ruas destruídas da cidade. As asas novas são diferentes e um pouco complexas pra controlar de primeira, por isso, cambaleio no ar por alguns momentos, arrancando um sorriso rápido do pequeno felino.

— Lupin. — Sussuro. Ele olha pra cima e consigo ver seus olhos lacrimejando. — Vai ficar tudo bem!

Ele abaixa a cabeça novamente.

— Promete?

— Prometo! — Respondo de imediato.

Lupin é muito achegado à minha prima. Desde quando ela apareceu lá em casa, eles se tornaram grandes amigos, quase inseparáveis. Consigo sentir sua aflição junto com a minha, e por isso entendo que agora mais do que nunca, seu coração está desesperado.

Aumento a velocidade do voo até chegar na porta do colégio, mas quando me aproximo minhas asas automaticamente somem e caio de bunda no chão junto com Lupin.

— Ai! — Ele reclama.

— A culpa não foi minha. — Explico —Tem alguma coisa de errada no colégio, olha! — Falo apontando para densa luz que sai do telhado.

— É a Clarinha! — Lupin diz entrando na escola. — Ela deve estar em perigo, Nash!

Sinto um aperto no coração assim que começo a correr atrás do felino. Um pressentimento muito ruim invade meu corpo me causando calafrios constantes como se essa sensação fosse nostálgica. Enquanto subo rapidamente as escadas do prédio, pego a carta Torre e a seguro firme para me proteger de futuras surpresas indesejáveis. Sem ao menos pensar duas vezes, Lupin invoca sua forma híbrida e empurra a porta do terraço com todas as forças.

Ele corre na direção do corpo de Clara que está desacordado no chão do terraço, mas quando ele se aproxima, consigo enxergar uma enorme barreira se formar ao redor da criança.

— LUPIN CUIDAD... — O corpo do menino é jogado pra longe antes que eu pudesse terminar de alertar. Minhas lágrimas involuntariamente começam a cair e um enorme choro de bebê ecoa sobre o lugar.

Meu corpo está paralisado.

Não consigo me mover nem pra enxugar minhas lágrimas do rosto. Em um piscar de olhos sou teletransportado pra uma sala escura e um pouco iluminada.

Pouco a pouco vou recuperando os movimentos do meu corpo. E caminho para a direção central da sala onde se reúnem vários médicos em volta de uma mesa cirúrgica.

Quando me aproximo o suficiente, consigo ver minha tia Ruth toda suada sorrindo para o seu bebê que acabara de nascer. É uma menina! Seus olhos começam a lacrimejar e consigo ver um sorriso enorme cobrir todo o seu rosto. Sua aura transborda alegria. É tão intenso que consigo me aquecer naquele doce calor aconchegante. 

— Qual é o nome da menina? — Um dos médicos pergunta pra escrever na pulseirinha de identificação.

— Sempre sonhei em ter uma filha. — Minha tia responde sem tirar os olhos da recém-nascida que não parava de berrar. Os gritos são tão altos e agudos que me lembram a Ariana Grande. Sorrio só de pensar que o nome da garota poderia ser Ariana, mas meu coração se surpreende quando ela responde: — E sempre falei pra mim mesma que quando minha filha nascesse, se chamaria Clara. — Ela fala me deixando completamente confuso — Significa “luminosa”. —Sorri

— É a sua primeira gestação? — O médico pergunta — Não tem nenhum outro filho?

— Não. — Ela responde olhando profundamente a bebê. — Essa é minha primeira filha e gestação. Minha querida e pequena...

— CLARA. — Ouço o grito agoniante de Lupin quebrar todos os meus pensamentos confusos que pairam sobre a minha cabeça. No mesmo instante, sou transportado novamente para o terraço da escola e vejo o corpo de Clara começar a levitar aos poucos.

Lupin não consegue se aproximar da garota e eu ainda não consigo criar coragem para organizar meu raciocínio que ainda estar por vir. O que eu vi na sala de parto foi tão estranho. Como a minha tia pôde ter dito que a Clarinha não era sua filha e ter dado o nome dela pra sua outra filha?

— NASH! — O menino grita chorando cortando minhas reflexões. — O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AÍ PARADO? NÃO CONSEGUE VER QUE ELA ESTÁ...

— Está se manifestando... — A voz de uma garota interrompe os gritos de desespero de Lupin. Olho para trás e vejo minha prima ao lado de Lucas caminhando na nossa direção.

Lupin limpa o rosto com as mãos e antes que pudesse questionar algo, Natália usa seu báculo para criar bolhas de energia e dispara na direção da Clara. O híbrido entra na frente para protege-la, mas antes que as bolhas colidissem com seu corpo, elas se transformam em pequenas borboletas de energia e saem voando pelo céu.

— Eu sinto muito, Lupin. — Natália diz abaixando seu rosto. — Nathanael, ela...

— Não! — Começo a chorar quando consigo entender o que realmente está acontecendo. Isso não é possível. Não pode estar acontecendo.

Lucas se aproxima e me dá um forte abraço.

Lupin permanece estático sem entender nada, mas ao abrir sua boca para perguntar, uma forte luz começa a emergir do corpo da pequena Clara, à transformando em uma mulher alta com um belo vestido branco. Seus cabelos se tornaram grandes e loiros e em sua cabeça brilha uma coroa dourada, assim como seu colar.

A mulher desperta e abre seus olhos aos poucos.

— Nathanael... — Ela diz sorrindo. — Meu mestre.

Me solto dos braços de Lucas e aos poucos ando na direção da loira.

— Cla... Clarinha... — Digo relutante sem acreditar naquilo tudo.

O pequeno Lupin começa a chorar ainda mais ao se ligar no que está acontecendo.

— Eu estou tão feliz por ter chegado a hora. — Ela fala.

— Então... Você sempre foi uma carta? — Questiono lembrando de todos os momentos que passei com a Clara. — Ela nunca existiu?

— Eu existo, mestre. — Ela responde com sua voz tranquila. — Isso não importa?

Tento forçar um sorriso. — É claro.

— Eu sinto muito por estar me manifestando dessa forma, mas quando senti a vontade da sua tia em ter uma filha, tive que agir e responder aquela força de vontade incrível que há dentro dela.

— Você que à fez engravidar? — Pergunto

E então, May sai em disparada respondendo:

— Ela é a carta da fertilidade.

— Também conhecida como A Imperatriz. — Lucas completa.

Olho para a loira e finalmente consigo entender tudo.

A Clarinha surgiu quando minha tia engravidou. Ela sempre esteve lá por toda a gestação dela. Acompanhou tudo de perto e agora que a minha tia está em trabalho de parto, ela está se manifestando! Isso explica todos os momentos estranhos em que a forma do híbrida do Lucas e do Lupin apareceram quando à conhecemos pela primeira vez.

— Então... essa é a sua verdadeira forma? — Pergunto mesmo sabendo da resposta.

— Sim. — Ela diz com um sorriso no rosto.

O olhar furioso e intenso de Lupin começa a nos atrapalhar quando ele grita. —NÃO! VOCÊ NÃO É A NOSSA CLARA. — Lupin diz berrando entre os soluços do choro. — NÃO PODE SER.... VOCÊ NÃO É A NOSSA AMIGA... NÃO É A NOSSA CLARA... VOCÊ NÃO PODE SER UMA CARTA. — Fala caindo ajoelhado no chão. — Por favor, não faça isso comigo, Clara.

A loira segura seu vestido e aos poucos caminha na direção do pequeno felino. Ela se abaixa e sussurra algo no ouvido dele e então ele se levanta.

Lupin fica olhando atentamente para a mulher e ainda triste, responde. — Ela não vai ser você.

— Não! — A mulher responde — Ela será a sua Clara!

E com isso, o menino dá um forte abraço na Imperatriz.

Minhas lágrimas começam a descer freneticamente ao ver aquilo. Tento controlar a emoção só de pensar que nunca mais verei a Clarinha novamente. Ela nunca foi a Clarinha de verdade, mas sempre foi verdadeira pra todos nós. Suspiro. Pouco a pouco recupero o ritmo da minha respiração e me aproximo da mulher.

— Não tem nenhuma forma de você continuar entre nós? — Pergunto.

Ela se levanta e pega minhas mãos transmitindo toda a energia maravilhosa que senti na sala de parto com a minha tia Ruth.

— A minha missão já foi cumprida, Nathanael. — Diz com um certo pesar em sua voz — Está na hora de servir ao meu mestre.

— Seu primo! — Corrijo.

A Imperatriz sorri.

— Obrigada... — Ela fala soltando minhas mãos. — ... está na hora de ir.

— Eu sei. — Digo pegando minha auréola.

Olho para o Lucas que se aproxima pronto pra ficar do meu lado.

— Vamos sentir sua falta, Clarinha... — Ele diz sem se importar com a forma da mulher. — Mesmo se manifestando dessa forma, não estou bravo. Estou orgulhoso por ter te conhecido.

— É. — May fala se aproximando também. — Isso faz de mim sua falsa prima de segundo grau, então... Foi bom te conhecer.

Sorrio. Esse foi o máximo de elogio que já ouvi da boca da bruxinha.

— Eu... — Lupin se levanta do chão. — Prometo que vou dar o meu melhor.

A luz da mulher de vestido e coroa dourada começa a brilhar ainda mais. Seus olhos transmitem uma alegria imensa e somos todos contagiados por essa aura.

Aponto minha auréola para a personificação da fertilidade, a mulher que outrora era uma menina com deficiência na fala.

— Nathan, lembre-se... — Ela diz me olhando através do halo. — A luz que iluminará a escuridão que virá, está no seu sangue.

Aceno com a cabeça.

— Obrigado, Clarinha... —  Falo contendo o choro. — Obrigado por tudo. —Digo fechando os olhos. — À sete chaves... eu selo à sua aura!

Toda a luz é sugada para dentro da auréola, até que a Imperatriz se transforma em pequenas borboletas de energia até entrarem todas uma a uma. Quando finalmente termina, sinto meu rosto queimar de tanta vontade de chora. —Apresente sua forma submissa! — Verbalizo transformando a energia em carta que cai no chão e não faço a mínima questão de pegar.

Corro para abraçar Lucas, que me conforta em seus braços.

May guarda seu báculo e respira profundamente me dando o espaço que preciso.

Lupin relutante pega a carta e a observa por alguns instantes até vim me entregar.

— Ela ainda está entre nós. — Ele fala segurando o choro ao máximo.

— Eu sei. — Digo pegando a carta. — Eu sei.

E então o abraço.

Não entendo muito bem como tudo isso pôde ser tão complexo. Como estivemos sempre ao lado de uma carta de Shat e nunca percebemos isso. Nos apegamos de uma forma tão intensa que nunca desconfiávamos que a pequena Clara, era na verdade um ser de energia fértil. É estranho saber que tudo isso não era real. Estranho saber que ninguém vai se lembrar dela, por que na verdade ela nunca existiu.

Mas pra nós, ela sempre existirá.

De volta ao hospital, entro relutante no corredor onde se encontra o quarto da minha tia Ruth. Eu e Nathalia nos preparamos psicologicamente para o sermão da minha mãe ao nos vermos novamente, enquanto nos despedimos de Lucas e Lupin.

— Tem certeza que não querem vim com a gente? — Pergunto enquanto vejo Lupin espionar pela janela da porta a bebê da minha tia.

— Acho melhor não. — Lucas responde. — Você e sua mãe tem muito o que conversar, e Lupin teve um dia cheio... preciso leva-lo para descansar e me encontrar com o meu irmão Lugi e o garoto que consegue enxergar auras.

— Aé. — Digo me recordando. — Seu dia ainda vai ser cheio então.

— É. — Ele diz. — Se cuida, Nash! — O garoto fala me dando um forte abraço.

— Você também. — Sussurro quando o solto.

Me despeço dos meninos e entro relutante ao lado de Natália na sala. —  “É agora que o couro come.” — Penso. Mas ao ver a criança, me sinto inundado por tamanha felicidade e só consigo pensar na presença da Imperatriz entre nós.

A antiga Clara deixou uma marca em cada um de nossos corações.

Uma marca, não! Um legado!


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Notas finais do capítulo

Oi pessoal,
SIIIIIIIM!! DEPOIS DE QUASE 3 ANOS FORA, ESTOU AQUI POSTANDO OS NOVOS CAPÍTULOS DESSA MINHA HISTÓRIA QUE EU AMO TANTO. Venho pedir mil desculpas aos leitores que me acompanham ou acompanharam e dizer que voltei pra ficar de vez. Estarei postando 1 capítulo por dia até semana que vem e esse será o "Arco de Redenção" onde muitas perguntas serão respondidas e serão essenciais para o entendimento da história.
Antes que muitos fiquem chateado, desde que a Clarinha apareceu ela sempre foi uma carta, SIIIM! Então não pense que foi uma decisão repentina ela ser uma carta poderosíssima kkkkk sempre deixei pistas sobre isso no desenvolvimento de SETEVIDAS: Prova disso? quando ela apareceu pela primeira vez, o modo de defesa (híbrido) do Lucas e do Lupin se manifestaram sozinhos (coisa que só acontece assim de repente na presença do inimigo)....................................
Então é isso pessoal, espero que gostem do capítulo e não fiquem muito decepcionados. Amanhã tem mais e estarei de volta com mais um capítulo inédito.
BJOOOS NO CORAÇÃO ♥
P.S.: PF... Não deixem de comentar pra eu não perder as esperanças de que ainda existem leitores ;-;



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