Contos Fragmentados escrita por Maria Antônia Freitas


Capítulo 5
Sol e Lua.


Notas iniciais do capítulo

“Eu e você.
Como o sol e a lua.
Eu, o caminho que você segue.
Você, a juventude que eu desejo.
Como o sol e a lua.
Eu, o espelho de quem tu és.
Você, o reflexo de quem eu fui.
Como o sol e a lua.”

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/535930/chapter/5

Pela janela do quarto azul, observo a imensa rua vazia e molhada devida o acontecimento de ontem.
Percebo que a rua já não está como antes, não está seca, muito menos movimentada. Sem toda a vida de ontem. Sem o barulho da multidão. Sem cor. Sem amor.
O que aconteceu mesmo com essa rua?
Ah, sim, a tempestade.
Recordo-me de estar tomando meu café com leite pela manhã de hoje, quando li o destaque em negrito do jornal, dizendo que após o meu cochilo, a tempestade de granizo cobriu a rua movimentada.
Claro, foi isso. Foi à maldita chuva que espantou a cor de minha querida rua.
Assim como a maldita morte espantou a ingenuidade de Isabela.
Ah... A garota dos cabelos escuros, da pele clara, do sorriso envergonhado, com o coração aberto, e com olhos engraçados.
Ah, a doce Isabela, que passou do amarelo para o vinho, que deixou de sorrir para séria ficar, que parou de amar e aprendeu a odiar.
Ah, a pequena Isabela. Que se esqueceu do sol, e virou amante da lua. Que deixou sua boneca de lado, e por dentro cresceu.

Antes, Isabela emoção.
Hoje, ela e a razão.

Crescida está, a menina que ganhou e perdeu, a que amadureceu e esqueceu, que sorriu e superou, após a terrível morte de seu amor.
Ah... A maldita morte.
Que mudou o coração do sorriso completo. Que fez o pai alegre sumir, que deixou viúva a amada esposa, que fez a menina Isabela mudar.
Ah... A cruel morte.
A cruel morte, que como a tempestade, espantou de alguém a felicidade. Que tirou de alguém, um amor, seja o amor em qualquer uma de suas formas, que já não importa mais, a morte já o tirou.

Surpreendo-me com os passos calmos de Isabela pela imensa rua molhada. A grande mulher, que antes fôra a minha pequena garota, não tarda a acenar para a minha pequena janela. Em resposta lhe estendo um grande sorriso com minha branca dentadura, que a faz sorrir de volta.
Caminha, agora, em direção ao meu portão, e se atreve a perguntar o que eu fiz para o jantar.
Graciosa Isabela, veio até minha casa, apenas para poder jantar com a desgraçada velha que a abandonou em seu pequeno quarto cor-de-rosa.
Sim, a desgraçada velha que escondeu Isabela, para fugir da dor. Talvez a velha também quisesse fugir da realidade, mas realmente eu não lembro muito bem do que pensei quando a pequena garota disse: “Ele morreu, você não pode fazer mais nada. Ele se foi, e você não pediu desculpas para ele.”
Eu realmente não havia lhe pedido desculpas. Tranquei-me em meu quarto, junto ao meu orgulho, e ele se foi. Ela veio, com a realidade, e tranquei a garota no quarto cor-de-rosa.
Entretanto, ao contrário dele, ela voltou após a tempestade, e não me culpa por tê-la deixado sozinha. Ela não se foi. Ela não guardou rancor. Ela me compreendeu. Ela me desculpou.

Quem és tu, Isabela? Que me avistou pela janela.
Quem és tu, nova Isabela? Que perdoou a desgraçada velha.
Quem és tu, Isabela? Que hoje é mais madura que a própria velha.
Não tenho respostas para pequenas perguntas, mas tenho um culpado, e se não fosse por ele, ela não teria voltado.
Eu, que tanto o culpei por tê-la afastado, por ter tirado a vida de um nobre ferreiro, hoje agradeço por fazê-la compreender, que a morte é ruim, é trágica, e é horrível, apenas para aqueles que não sabem lidar com a perda. Apenas para aqueles que não sabem vê-la da forma mais prazerosa possível. Para aqueles incapazes de sorrir com as memórias boas que teve com o amor que a morte lhe tirou.
Obrigada, querida cruel morte, por fazer a pequena Isabela crescer, e por fazer a desgraçada velha compreender que você não vem para causar dor, e sim para avisar, aos que ainda estão vivos, que eles devem aproveitar o dia, como se fosse o último, pois você, a querida cruel morte, não tarda a chegar, e quando eles menos esperaram, você surge para os levar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Dedico este capítulo, aos que cresceram como Isabela.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Contos Fragmentados" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.