Cap. 2 – Primeira Aula

Cheguei à escola cedo, ainda faltavam 25 minutos para começar a primeira aula. Decidi entrar logo na sala de física, estava praticamente vazia. Só tinha alguns poucos garotos e uma novata. Ela tinha cabelos pretos, caindo em ondas até o meio de suas costas. Uma franja presa atrás da orelha expunha o piercing na parte de cima da orelha. Tirando isso, sua aparência era bem frágil, grandes olhos castanho-mel e uma pele de porcelana.

Sentei ao seu lado, dava pra ver sua cara de nervosismo então achei melhor ajuda-la.

- Oi.
- Olá.

- Gostando da nova escola?

- Uhum, é bem diferente da minha antiga escola em Roraima. É mais... alegre, ativa.

Reprimi uma risada. A garota não parecia ser desse tipo extrovertida. Talvez fosse apenas por enquanto, começando em uma nova escola, sozinha sem ter ninguém por perto como auxílio. Com um sobressalto, percebi que a vida dela estava longe de ser perfeita... Como a minha.

- Que bom! Meu nome é Carol. Por que se mudou de Roraima?

- O meu é Helena, mas pode me chamar só de Lena. Me mudei por que meu pai conseguiu um ótimo emprego aqui como advogado.
- Legal! Meu pai também é advogado, o nome dele é Marcos Álvares.

Ela parecia ser uma garota legal, podia ser uma boa amiga. Ela passou o cabelo para trás da orelha novamente e notei que em sua mão direita havia uma pulseira prata.  Era bastante singela, com um pingente delicado em forma de flor pendurado nas argolas pulseira.

Parecia ter um valor sentimental para Helena. Fiquei curiosa, que recordações aquela pulseira trazia para ela? Se eu aprendi alguma coisa sobre psicologia humana é que cada um de nós tem algo que traz boas lembranças, bons sentimentos. Para Bruh é um cartão que Pedro deu pra ela em seu primeiro aniversário de namoro. Para Michelle, arco-íris, por que quando ela o vê, lembra-se de Lucas. Para mim, é a chuva. Chuva é distinta, é singela, é simples. Por isso eu gosto dela. Ela é como Rafael. Para Helena, era aquela pulseira. Por quê?

- Essa pulseira... – apontei – o que ela representa para você?

Um sorriso triste se fez nos lábios da minha mais nova colega de classe. Seus olhos estavam marejados. De sua boca, saiu apenas um sussurro.

-Minha mãe me deu. Antes... Antes de morrer.

Uma única lágrima riscou minha face. A história de Lena conseguia ser mais triste que a minha.

Bruh e Chelle entraram naquele instante na sala.

- Bruh, Chelle!
- Oi Carol! Vejo que fez novas amizades. – Bruh disse.
- Olá! Ora ora... uma novata. – Michelle falou.
- Essa é Helena, ela veio de Roraima.
- Oi Helena. – Bruna e Michelle falaram ao mesmo tempo.
- Oi, prazer em conhecê-las. – Lena disse de um jeito tímido.

Bruh sentou-se na minha frente e Chelle atrás de mim.

O professor de física chegou naquele momento, se apresentando.
- Bom dia alunos, eu sou o novo professor de física de vocês, Paulo.
- Bom dia professor! – Todos os alunos falaram em coro.

- Vamos começar com uma pergunta... Suponha que, ao afundar, o barco, considerado como ponto material, tenha se movido dentro da água, com aceleração constante de 4,0 m/s2. Qual foi o tempo aproximado até atingir o fundo?
E assim se seguiu a aula de física...