Sombras do Passado escrita por BastetAzazis


Capítulo 21
A Marca Negra


Notas iniciais do capítulo

Fora de Hogwarts, começa uma nova fase na vida de Severo.



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Sombras do Passado

Sombras do Passado

escrito por BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling. Abaixo estão apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Suviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!

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Capítulo 21: A Marca Negra

Os meses que se seguiram ao Baile de Formatura foram decisivos para a maioria dos formandos daquele ano. Sirius finalmente deixou a residência dos Potter, que o tratavam como um segundo filho, ao receber a herança de um tio que deixara tudo para ele por ser o único Black que não compartilhava as idéias de pureza de sangue com o resto da família. Infelizmente, logo depois, a Sra. Potter faleceu, e levado pela tristeza da morte da esposa, segundo os curandeiros de St. Mungus, o Sr. Potter também partiu meses depois. Mais ou menos na mesma época, o mesmo aconteceu com os pais de Lílian, e os jovens namorados viram-se sozinhos num mundo cada vez mais atemorizante devido à ameaça de Lord Voldemort. Movidos pela sensação de abandono e cada vez mais unidos pelo apoio que um dava ao outro, Tiago e Lílian ficaram noivos depois de apenas alguns meses de namoro e planejavam se casar o mais rápido possível. Os únicos membros da família da noiva que Tiago conhecera foram a irmã Petúnia e o marido dela, Válter Dursley, num episódio desastroso, onde seus futuros cunhados o examinaram de cima a baixo, franzindo a testa para seu cabelo rebelde e fazendo comentários sobre suas vestes. Após conhecer o casal, Tiago pôde notar que não eram apenas alguns bruxos que não gostavam de trouxas, mas que também podiam existir trouxas tão preconceituosos quanto os seguidores de Você-Sabe-Quem; também entendeu porque Lílian se desligou totalmente do mundo trouxa e da família da irmã quando os pais faleceram, ela realmente não tinha mais nada em comum com eles. Ainda, Sirius, Tiago, Lílian, Pedro e Remo, após as várias aventuras que passaram em Hogwarts contra Voldemort, uniram-se a Dumbledore e à Ordem da Fênix, que agora já contava com mais de vinte bruxos e abortos, além de outras criaturas que também se sentiam ameaçadas com a ascensão do Lorde das Trevas.

Infelizmente, Voldemort também aumentara seu número de Comensais da Morte; Evan, Paulo e Roberto receberam a Marca Negra assim que se formaram e já participavam ativamente dos ataques planejados pelo seu mestre, além da chegada de mais bruxos adeptos às suas idéias, inclusive bruxos estrangeiros como os russos Igor Karkaroff e Antônio Dolohov. Os ataques dos Comensais da Morte se tornavam cada vez mais violentos, levando à morte de diversos bruxos conhecidos e muito respeitados, como os irmãos Prewett. Os dois irmãos lutaram bravamente contra cinco Comensais da Morte, e sua perda trouxe à Ordem da Fênix a irmã mais nova deles e o marido, Molly e Artur Weasley, que mesmo com cinco filhos pequenos juraram vingar a morte dos irmãos, ajudando Dumbledore e a Ordem em tudo que fosse possível.

Conforme lhe fora prometido, Severo recebia uma coruja por dia de Isabelle desde que suas férias de verão começaram. Ela passara o primeiro mês de sua viagem na França, visitando parentes distantes, mas pelo que dizia em suas cartas, já planejava viajar mais ao sul da Europa e, depois, seguir em direção à África. Ele tentou imaginar como Isabelle se comportaria, acostumada ao luxo e à riqueza da Mansão Malfoy, passando algumas semanas numa pousada simples na Cidade do Cairo, ou ainda, na companhia de bruxos que ainda viviam entre as tribos africanas, e concluiu que ela passaria por maus bocados, crescendo a esperança de que ela resolvesse retornar mais cedo que o planejado.

Na ausência de Isabelle, Severo conheceu Karkaroff e Dolohov e fez amizade com os bruxos estrangeiros enquanto esperava pela chegada dos resultados dos N.I.E.M.s. Sabendo que o Lorde das Trevas o treinara desde cedo para ser um espião, imaginava que ainda não havia entrado no círculo mais íntimo de seus seguidores para não correr o risco de ser reconhecido por Dumbledore e, assim, poder se infiltrar em Hogwarts sem problemas. Para seguir esses planos, Severo já havia traçado seus próximos passos. Escolhera um renomado Mestre em Poções para continuar seus estudos: o bruxo inglês Artur Dee. Ele ocupava uma posição importante no Ministério e, mesmo que sua reputação fosse inquestionável, seus compromissos em Londres davam uma certa liberdade aos seus raros aprendizes, e segundo seu avô, o Mestre em Poções levava a pesquisa tão a sério que era capaz de fazer vistas grossas a alguns métodos utilizados para o sucesso das suas experiências. Entretanto, o que convencera Severo a se candidatar como seu aprendiz fora o parentesco com o famoso alquimista, também pesquisador das Artes das Trevas, John Dee. Muito do que ele aprendera sobre o assunto fora devido aos trabalhos deste antigo alquimista, e agora, ele não via a hora de ser aceito para estudar com o herdeiro do seu laboratório e biblioteca em Mortlake, onde, além de se aprofundar no preparo de Poções, poderia ter acesso aos livros raríssimos, alguns inclusive proibidos, e manuscritos do próprio punho de Dee. Quando o Lorde das Trevas ouviu seus planos, Severo pôde sentir a aprovação no olhar dele e soube instantaneamente que, se conseguisse ser aceito como aprendiz em Mortlake, ele receberia a Marca Negra mais cedo que o previsto.

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O sol quente do final do serão já estava se pondo no horizonte quando Severo levantou os olhos do pergaminho com as últimas notícias de Isabelle sentindo um aperto no peito, imaginando se ela ainda sentiria o mesmo por ele quando voltasse, depois de tantas coisas diferentes que ela estava vendo e tantos bruxos que conheceria. A batida insistente de outra coruja em sua janela o fez espantar esses pensamentos e atender o pássaro. Após deixá-lo entrar, recolheu o pergaminho que trazia em sua perna e o abriu avidamente quando percebeu o selo do Ministério da Magia: o resultado das suas provas de N.I.E.M. finalmente havia chegado. Suas notas foram excelentes, e ele apressou-se em enviá-las para o Mestre em Poções a quem pretendia se candidatar como aprendiz, seguindo seus planos de usar isso como fachada enquanto se dedicava ao que realmente lhe interessava: as Artes das Trevas e servir ao Lord Voldemort.

Seu Excelente em Poções, Herbologia, Aritmancia e Feitiços, além da influência do seu avô, conseguiram convencer o recluso Artur Dee, que em menos de uma semana mandou uma coruja dizendo que o aguardava em Mortlake no início de setembro. No mesmo dia em que recebera a resposta de seu futuro mestre, Severo recebeu do avô uma capa pesada que deveria ser usada quando saíssem naquela noite. Ele reconheceu a veste instantaneamente e sorriu: era a mesma usada pelos Comensais da Morte em seus encontros.

Assim que anoiteceu e apenas a lua cheia brilhava no céu nublado do final do verão, o Sr. Prince aparatou o jovem neto até a entrada de uma casa sombria no alto de uma colina. A casa parecia desabitada e, provavelmente, era considerada assombrada pelos trouxas da vila que se estendia logo abaixo na planície. Severo seguiu em direção à porta, mas foi interrompido pelo avô, que acenou para segui-lo. As duas figuras encapuzadas deram a volta pela casa e continuaram por um caminho de pedras estreito que os conduzia até a orla de uma floresta, que fez Severo lembrar-se da Floresta Proibida em Hogwarts.

– Você deve seguir esse caminho – Severo ouviu a voz do avô. – Vai levá-lo até o Lorde das Trevas, ele o aguarda.

Severo seguiu em silêncio enquanto o avô continuou parado na orla. A floresta era fechada, e o caminho ficava cada vez mais estreito e coberto pela grama e folhas conforme ele avançava. As árvores que começavam a perder as folhas com a aproximação do outono formavam figuras assustadoras com seus troncos pelados na escuridão da noite, e o brilho prateado da lua parecia deixar a cena ainda mais ameaçadora. Ele continuou caminhando, iluminando o caminho com a ponta da varinha, até que percebeu que a vegetação começou a ficar mais escassa e notou que seguia em direção a uma clareira.

Quando chegou à clareira, encontrou o Lorde das Trevas. Ele estava no centro de um círculo formado por pedras de diferentes formas, e a luz da lua parecia direcionada unicamente para ele. Severo notou Nagini, a leal cobra do Lorde, rastejando em volta dele como se o protegesse, e admirou com olhos arregalados como as duas criaturas se comunicavam em língua de cobra. 

Nagini seguiu até Severo e começou a rastejar à sua volta, como se o farejasse. Depois de alguns instantes, a cobra deu um silvo forte e voltou para o lado do seu mestre. O Lorde das Trevas sorriu em silêncio e acenou para que Severo se aproximasse até que ele chegou à borda do círculo, onde foi ordenado a ajoelhar-se sobre uma das pedras à sua frente.

O Lorde das Trevas caminhou alguns passos para ficar bem à frente de Severo e, fazendo-o inclinar a cabeça para cima, encarou-o nos olhos. Severo sentiu mais uma vez que sua mente era invadida pelo Lorde, mas não havia o que temer. Ele estava certo da sua vontade em se tornar um Comensal da Morte, do seu ódio pelos trouxas que sempre o discriminaram por acharem que sua mãe bruxa era estranha demais para viver entre eles, e da sua fascinação pelas Artes das Trevas, pelo poder que elas traziam aos seus praticantes e pelo temor que levavam aos seus inimigos.

Voldemort sorriu mais uma vez quando deixou a mente do seu futuro Comensal. Voltando para o centro do círculo, virou-se para Severo e disse finalmente:

– Eu sabia que você não me decepcionaria. Continue pensando assim e terá minha preferência.

Sem imaginar que o Lorde das Trevas dizia o mesmo para todos os seus seguidores, que para ele na verdade não passavam de meros peões na sua guerra contra o Ministério, os olhos de Severo brilharam com a idéia de se tornar o preferido do Lorde. Ele, um mestiço, seria mais importante que qualquer herdeiro de sangue puro, e assim, o próprio Lúcio ainda viria procurá-lo para oferecer uma união com sua família e garantir a posição de destaque da Família Malfoy através da irmã.

Enquanto Severo sonhava de olhos abertos, o Lorde das Trevas havia retirado de suas vestes um pequeno frasco de poção e o levantara em direção a luz da lua. Com a outra mão, ele sacou sua varinha e começou a murmurar um encantamento em voz baixa. O líquido no frasco pareceu fervilhar e, logo depois, começou a mudar de cor, como se captasse os raios prateados que vinham da lua. Quando terminou o encantamento, o Lorde voltou-se novamente para Severo, entregando-lhe o frasco.

– Tome – ele ordenou.

Severo pegou o frasco das mãos dele e o bebeu num gole só. O gosto era horrível, e ele fez uma careta, sentindo traços de tripas de dragão, leite de cobra e excrementos de hipogrifo, além do sabor ocre e da viscosidade que se encaixavam nas descrições do sangue de unicórnio. Ele estremeceu ao reconhecer o ingrediente; sangue de unicórnio, além de ter seu uso proibido pelo Ministério, era um ingrediente evitado até mesmo pela maioria dos bruxos que se dedicavam às Artes das Trevas devido ao grande poder e respeito que essas criaturas invocavam. Enquanto sentia a poção agindo em seu corpo, Severo temeu, por um breve momento, não estar indo longe demais com o seu fascínio pelas Artes das Trevas. Mas este momento durou pouco, pois no instante seguinte, o Lorde das Trevas aproximou-se novamente dele e agarrou seu braço esquerdo, deixando-o estendido e iluminado pela lua cheia brilhante.

– Severo Snape – o Lorde das Trevas invocou, apontando sua varinha para o braço estendido dele –, você jura fidelidade a mim, Lord Voldemort, como seu único mestre e Lorde das Trevas?

– Sim – ele respondeu.

Os lábios de Voldemort esboçaram um sorriso, acompanhado de um brilho doentio nos olhos amarelados.

– Será capaz de cumprir minhas ordens, não importa as conseqüências, apenas para meu benefício? Você é capaz de agüentar a dor e o sofrimento apenas por respeito a mim?

– Sim – Severo repetiu, tentando parecer seguro e esconder o receio que sentiu ao beber a poção.

Sentiu seu pulso ser apertado com força pelo Lorde, obrigando-o a manter o braço estendido. O brilho da lua no seu antebraço parecia fazê-lo congelar, e ele sentiu que a poção que bebera começara a fazer efeito, como se o líquido fosse guiado pela varinha do Lorde das Trevas, agora encostada em sua pele. Severo sentiu a ponta da varinha de seu mestre queimando sua pele e olhou em direção a dor. No seu antebraço, uma figura em relevo fora marcada pelo líquido sob sua pele, enquanto Voldemort seguia os traços com sua varinha, a ponta gelada queimando-o como se estivesse em brasa. Severo observou, tentando fingir que suportava a dor, enquanto a figura de uma caveira era marcada claramente em sua pele.

Ele suspirou forte quando a varinha deixou de tocar seu braço, sabendo que a dor voltaria logo, pois ainda faltava uma cobra ser desenhada em sua pele para completar a Marca Negra. Sem mostrar preocupação com o jovem ajoelhado à sua frente, Voldemort retornou a apertar sua varinha contra o antebraço estendido de Severo. Rapidamente, o desenho de uma cobra enrolada na caveira previamente tatuada foi se formando, queimando a pele até marcá-la completamente.

Severo tentou puxar o braço quando o desenho foi completado, mas seu mestre ainda o segurava com força. Quando pensou que ao menos estava livre da dor, percebeu que o ritual estava apenas começando. A ponta da varinha de Voldemort havia mudado de cor, e agora, ele a passava em volta da Marca Negra desenhada no braço de Severo, murmurando um encantamento parecido com o que realizara na poção. Severo sentiu um urro de dor escapar da garganta quando o encantamento terminou; seu antebraço ardia como se estivesse se queimando, e quando abriu os olhos, viu um líquido prateado ser retirado do seu braço pela Marca Negra e recolhido pela ponta da varinha de seu mestre. A poção que bebera se misturara com seu sangue e, agora, era recolhida novamente pelo Lorde das Trevas. Ele estava ligado ao seu mestre agora; naquele momento ele percebeu que estaria preso a Voldemort pelo seu próprio sangue que se misturara à poção.

Enquanto o líquido era retirado do seu corpo, Severo sentia a recente Marca Negra queimar na sua pele, e seu corpo implorava para que ele perdesse os sentidos. Ele sabia que isso era seu último teste; se ele não fosse capaz de suportá-lo, jamais teria a confiança do Lorde das Trevas. Baixou a cabeça, agora em dúvida se estava realmente seguindo o caminho certo. Valia a pena se sacrificar daquele jeito? Se humilhar perante uma figura tão cruel e impiedosa para seguir seus desejos cegamente? A dor que tomava conta do seu corpo queria convencê-lo a desistir, mas então ele lembrou-se do motivo principal para estar ali: Isabelle. A Marca Negra a traria de volta para ele, traria aceitação entre os bruxos das famílias mais respeitadas, e então, a união entre o servo favorito do Lorde das Trevas e a herdeira de uma das famílias mais consideradas no mundo bruxo finalmente enterraria de vez sua herança trouxa; ele estaria livre de preconceitos e seria tão respeitado e estimado como o Black ou o Potter, seus inimigos desde a infância em Hogwarts.

A lembrança de Isabelle deu-lhe forças para suportar os últimos momentos de dor até que toda a poção fosse retirada do seu corpo. Ele levantou a cabeça e encarou o Lorde das Trevas. Mestre e servo se olhavam fixamente enquanto Severo ainda sofria com a Marca Negra queimando em seu braço. Voldemort o observava orgulhoso, até que a última gota prateada foi recolhida e a Marca Negra parou de arder. Com o braço livre, Severo tentou se levantar, mas sentiu seu corpo fraco e caiu estatelado no chão. Procurou pela presença do Lorde das Trevas na clareira, mas parecia que ele já não estava mais lá. Tentou então aparatar de volta para casa, mas seu corpo estava fraco demais, e a dor que continuava refletindo em seu braço o impedia de se concentrar propriamente. Algum tempo depois, sentiu alguém aproximar-se dele e segurá-lo nos ombros, parabenizando-o e murmurando alguma coisa sobre ele ter se tornado um homem agora e, no instante seguinte, estava no seu quarto.

Nos dias que se seguiram, seu braço esquerdo ainda ardia constantemente, até que a dor foi enfraquecendo lentamente, tornando-se uma mera coceira e, depois de uma semana, desapareceu completamente. A Marca Negra agora parecia apenas uma tatuagem marcada no seu antebraço esquerdo, exceto pela dor aguda que sentia cada vez que o Lorde das Trevas requeria sua presença.

A primeira vez que isso aconteceu foi na véspera da sua partida para Mortlake. O Lorde o convocou para esclarecer seus planos: queria aproveitar o fato de Severo ser um mestiço, e por isso dificilmente seria suspeito de ser um Comensal da Morte, para usá-lo como espião. A fachada de aprendiz em Mortlake seria útil para que, escondido do seu tutor, Severo pudesse se aprimorar nas Artes das Trevas e, depois, tentar um cargo como professor de Defesa Contra as Artes das Trevas em Hogwarts, recrutando estudantes fascinados pelo assunto e podendo ficar de olho nas ações de Dumbledore. Para garantir a discrição de seu futuro espião, Severo não se envolveria nos próximos ataques previstos pelo Lorde, mas seria periodicamente convocado para relatar seu progresso em Mortlake.

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Severo passou um ano em Mortlake. As novas técnicas e variados ingredientes que manipulava fizeram seus conhecimentos em Poções aprimorarem-se rapidamente, e ele achava que em breve já receberia seu título de Mestre em Poções. Entretanto, seu mentor mostrou-se ser atarefado demais com seu alto cargo no Ministério para estar atento a todos os passos do jovem aprendiz. Quando ele se ausentava do laboratório para suas tarefas em Londres, Severo tinha toda a liberdade para acessar os manuscritos secretos do antigo fundador da biblioteca e acabou encontrando uma variedade de feitiços e poções que certamente seriam proibidos pelo Ministério, mas que fariam o Lorde das Trevas regozijar-se.

No final de novembro do ano seguinte, Severo retornou à Mansão Prince com seu título de Mestre em Poções atestado pelo seu tutor, também Mestre em Poções, Artur Dee. Mesmo que não fosse oficial, ele também se considerava um Mestre nas Artes das Trevas com tudo que aprendera sozinho e desenvolvera com a ajuda da biblioteca de John Dee.

Entretanto, embora mais de um ano já houvesse passado desde a última vez que vira Isabelle, ela ainda não havia retornado à Inglaterra. Pela carta que recebera no dia anterior, depois de passar quase três meses viajando por lugares exóticos na Ásia, ela agora decidira seguir para a América antes de voltar à Europa. A única coisa que o deixava esperançoso de vê-la novamente eram suas cartas diárias, prometendo-lhe que logo estaria de volta.

Por outro lado, seu avô parecia que não teria sossego enquanto não visse Severo casado com a herdeira dos Malfoy. Enquanto Severo estava em Mortlake, ele realmente fizera o que prometera na noite do Baile de Formatura. As últimas tarefas incumbidas a Lúcio Malfoy pelo Lorde das Trevas misteriosamente falharam, ou só foram terminadas graças à intervenção de outro Comensal da Morte, de maneira que, na época em que Severo retornara para casa, mais nenhuma ação era deixada ao encargo de Lúcio, e seu prestígio caíra muito entre os demais Comensais.

Severo percebeu que a repentina onda de falhas sucessivas de Lúcio tinha o dedo do seu avô. Entretanto, sua atitude em relação a isso foi um pouco diferente do que o Sr. Prince esperava. Afinal, seria muito mais fácil conquistar o respeito de Lúcio Malfoy ajudando-o a recuperar a confiança do Lorde das Trevas, e não o prejudicando. No ataque de Comensais da Morte seguinte, Severo os seguiu, contra as suas ordens de manter-se afastado, e alertou Lúcio da aproximação de aurores, ajudando todos os Comensais envolvidos a fugirem antes de serem capturados ou identificados. Com a ajuda de Severo, o massacre liderado por Lúcio Malfoy foi um dos mais violentos a uma vila trouxa que já se tivera notícia desde a ascensão de Você-Sabe-Quem, aumentando o medo entre a população bruxa e provocando uma reação extrema do Ministério. No final daquele ano, Bartolomeu Crouch, chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia, permitiu o uso das Maldições Imperdoáveis pelos aurores em combate contra Comensais da Morte. A notícia causou reações variadas entre a comunidade bruxa, alguns aprovaram, outros eram totalmente contra, alegando que estavam recorrendo aos mesmos métodos que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Voldemort, entretanto, regozijou-se com o medo que estava provocando no Ministério. Se estavam recorrendo a medidas tão drásticas, era porque estavam ficando sem recursos para enfrentá-lo e, em pouco tempo, estariam dominados.

O massacre bem sucedido à vila trouxa trouxe de volta a confiança do Lorde das Trevas em Lúcio Malfoy e, conseqüentemente, Lúcio sabia que devia isso a Severo. O jovem Mestre em Poções conquistara uma posição de respeito entre os demais Comensais da Morte, principalmente entre aqueles cientes dos planos de seu mestre em enviá-lo para Hogwarts como espião. Percebendo que a associação com Severo Snape poderia ser vantajosa, Lúcio passou a convidá-lo com freqüência para a Mansão Malfoy, onde ocorriam os eventos mais luxuosos da sociedade bruxa, e Severo rapidamente se viu no meio de Comensais da Morte à paisana e altos funcionários do Ministério. Finalmente, ele havia conseguido o que sempre quis: estar, mesmo sendo um mestiço, entre as famílias bruxas mais respeitadas da Inglaterra e ser considerado como um igual entre eles. A única coisa que faltava para garantir que sua posição continuaria inabalada era Isabelle.  Uma união formal com a família Malfoy elevaria o nome Snape para a mesma posição das famílias Black, Lestrange, Avery, entre outras, e a ligação com sua única descendência trouxa seria completamente esquecida.

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Apenas algumas semanas depois do último ataque de Comensais da Morte, o Sr. Prince adoecera repentinamente e acabou falecendo às vésperas do Natal. Severo providenciou todas as cerimônias comuns entre as famílias bruxas mais tradicionais e as recebeu impecavelmente na Mansão Prince. Ele não chorou, nem lamentou a perda do avô. Ele era grato ao avô por tudo que lhe dera e ensinara quando viera morar com ele, mas jamais sentira o mesmo que sentia por sua mãe. Na verdade, sentia como se tivesse construído uma barreira contra esse tipo de emoção; não queria passar novamente pelo que passara na morte da mãe, principalmente agora que não teria Isabelle para confortá-lo.

Os dias seguintes passaram rapidamente. Entre papéis que devia assinar e compromissos que tinha que cumprir para providenciar a liberação da herança e continuar os negócios da família, Severo tinha apenas as cartas de Isabelle para se distrair. Ela parecia tão feliz aprendendo sobre os feitiços de cura usados pelos bruxos da Amazônia que ele nem comentou sobre a morte do avô. Sentava-se toda noite sozinho, na frente da lareira da biblioteca, e passava horas lendo e relendo as notícias dela, até que subia para o quarto, refletindo que ela ainda não mencionara nada sobre sua volta para a Inglaterra e concluindo tristemente que talvez ela jamais voltasse.

Pouco mais de uma semana após a morte do avô, ele fora convidado a comemorar o Ano Novo na Mansão Malfoy. Narcisa Malfoy estava grávida e fizera questão de organizar uma festa luxuosa, onde exibiria a barriga ainda pouco aparente para toda a sociedade bruxa. Severo passou a maior parte do tempo conversando educadamente com diversos amigos do seu avô, entretanto, pensava apenas na falta que sentia de Isabelle. Estar na casa dela e não vê-la desfilando entre os convidados tornava àquela situação mais real, como se apenas agora ele tivesse entendido que ela estava a milhas de distância e não tinha a menor intenção de voltar. De repente, estar no meio dos bruxos mais respeitados como ele sempre sonhara, reunidos para comemorar a chegada de um novo ano, não fazia mais sentido se ele continuava sozinho. Enquanto Narcisa e Lúcio convidavam todos para se dirigirem ao ponto mais alto do jardim, a fim de admirarem o show de fogos de artifício que haviam encomendado, Severo seguiu para o outro lado da mansão, preferindo ficar sozinho na calma de uma sacada com vista para o outro lado da propriedade.

Bebendo o último gole da sua dose de uísque de fogo, ele pensou em voltar para o salão quando sentiu um par de mãos cobrindo os seus olhos. Eram mãos femininas, mas não poderia ser quem ele mais desejava; Isabelle estava do outro lado do oceano agora, provavelmente comemorando o Ano Novo numa noite quente de verão na América do Sul. Mas então, um perfume conhecido preenchera o ar à sua volta, e a voz que ele tanto ansiara ouvir no último ano sussurrou em seus ouvidos:

– Você está no lugar errado, Mestiço. O jardim é o melhor lugar para assistir aos fogos.

Ele sorriu ao ouvir a voz de Isabelle e virou-se para admirá-la; uma mulher de olhos cinza brilhantes, de cabelos loiros claro que emolduravam o rosto que povoara seus sonhos durante todas as noites no último ano, e um sorriso tímido enquanto ela hesitava aproximar-se mais dele. Os dois ficaram parados, se olhando hipnotizados, enquanto as pessoas no jardim faziam a contagem regressiva para o Ano Novo. Quando a contagem terminou, dando início aos fogos, Isabelle deu um passo em direção a Severo e o beijou.

– Eu não poderia deixá-lo mais uma vez sem ninguém para beijar no Ano Novo – ela explicou depois que o soltou.

Severo a tomou nos braços e a abraçou com força, sussurrando entre a grossa massa de cabelo onde havia enterrado o rosto:

– Eu senti sua falta.

– Eu também – ela respondeu, também o abraçando com força.

Quando o barulho forte das explosões dos fogos de artifício cessou, Severo deu um passo para trás e a encarou nos olhos.

– Eu pensei que você não voltaria tão cedo – ele disse.

Isabelle tomou uma das mãos de Severo nas suas e respondeu calmamente:

– Cheguei hoje mesmo. Eu vim assim que soube da morte do seu avô. Pensei que você fosse precisar de mim.

Severo sorriu antes de responder:

– Não se preocupe comigo, eu estou bem. Meu avô ficou doente e já estava muito velho. – Ele a puxou para mais perto dele novamente e continuou: – Mas isso não significa que eu não precise de você.

Ele levantou o queixo dela, aproximando-se dos lábios, e a beijou. Beijaram-se como se fosse a primeira vez; os corpos abraçados com força, como se o tempo que ficaram separados pudesse ser esquecido com aquele único beijo, como se suas vidas dependessem disso. Eles não se importavam com as comemorações no jardim, nem com os convidados que poderiam encontrá-los; aquela noite era apenas para eles dois e nada poderia atrapalhá-los.

Minutos depois, quando Dobby foi procurar Isabelle para avisar que seu irmão a procurava, o elfo doméstico não a encontrou. A varanda estava deserta e não havia nenhum sinal que ela, ou mesmo Severo, estivesse na mansão.


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Notas finais do capítulo

N.A.: Eu sei que alguns podem não gostar, mas eu não resisti e fiz a Isabelle nos fazer uma visita! Deixem-me saber o que vocês acharam nos reviews!

John Dee (1527 – 1608) foi um matemático e astrólogo inglês que ficou famoso pelos seus estudos de alquimia. Foi preso e acusado de usar mágica para tentar assassinar a Rainha Mary I, e solto após a ascensão da sua herdeira, a Rainha Elizabeth I. Depois disso, ele viveu grande parte da sua vida numa residência em Mortlake, onde aprofundou seus estudos em alquimia e juntou uma coleção enorme de livros e manuscritos sobre o assunto. Seu maior interesse em alquimia era o ocultismo e a manipulação de espíritos. A história de John Dee e seu aprendiz é considerada uma das passagens mais lamentáveis da alquimia; mais informações podem ser obtidas em livros sobre história da química.

A seguir: Tiago e Lílian enfrentam Lord Voldemort pela terceira vez...



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