Com sorte a vice-diretora Abgail, permitiu que eu e Zoey nos limpássemos daquela sujeira no banheiro antes de irmos a diretoria. Tanto meu cabelo e roupa quanto de Zoey estavam cobertos por purê de batata, bolo e entre outras surpresas indistinguíveis do refeitório. E única coisa do qual eu sentia raiva no momento não era do fato de estar suja e nem de estar indo a diretoria logo no primeiro dia, mas sim o fato de ninguém ter feito nada quanto Regan.

— Ainda bem que a vice-diretora deixou a gente se limpar dessa bagunça, antes que secasse em nosso cabelo. Sabe, ia ser muito pior ainda para tirar... — comentou Zoey penteando com um pouco de dificuldade o cabelo, ao mesmo tempo tirando-me de meus devaneios.

— Zoey, você acha que se contássemos sobre a Regan pra a diretora ela acreditaria...? — falo já certificada que tinha me livrado de toda sujeira visível, só o forte cheiro de ketchup em meu cabelo permanecia.

— Acreditar? Acho que sim, mas todos os alunos sabem quanto é ruim se meter com a Regan. Ela praticamente tornaria nossas vidas um inferno na escola ou pior... Mas sempre saindo ilesa. — admitiu ela dando leve suspiro.

Resolvi não dizer mais nada até que estivéssemos nos resolvido. Não queria ter arrastado Zoey para aquela confusão junto comigo. Tinha que pensar. Fiquei apenas a observando arrumar o cabelo em frente ao espelho em silencio, até que ela levou suas mechas de cabelo para trás das suas orelhas, revelando assim algo que chamou minha atenção. Suas orelhas eram estranhamente pontudas! Quase iguais as de um duende ou... como as de um elfo natalino?

— Z-zoey? Suas orelhas e-eer... — apesar de estar um tanto surpresa e confusa tinha que tentar ser um pouco delicada.

— O quê? — primeiramente ela não entendeu. Então ela logo começou a tatea-las, e quando finalmente se deu conta do que eu estava falando voltou a esconder suas orelhas, com seus longos cabelos loiros. E abaixou a cabeça parecendo bastante constrangida.

— ... — o silencio era mutuo.

— Eu posso explicar! Não é nada de mais, só uma... —

Zoey já ia explicando quando então escutamos batidas fortes na porta do banheiro seguindo de um aviso da vice-diretora para sairmos logo. Eu e ela nos entreolhamos e deixamos o banheiro sem dizer nada. A vice-diretora Abgail deu um suspiro frustrado quando nos viu, seguido de alguns murmúrios de reclamações e nos encaminhou finalmente até a diretoria. E lá estava a diretora, sentada em sua poltrona com um olhar desapontado para nós.

— Podem se sentar meninas. — falou ela fazendo um sinal com as mãos para que nos acomodássemos. E calmamente logo nos sentamos nas cadeiras a frente de sua enorme mesa de mármore.

— Diretora Johnson, eu posso explicar. Eu sou a única respo... —

— Não precisa dizer nada, Emilly. A vice-diretora Abgail já me contou tudo... — interronpeu a diretora com uma voz de autoridade.

— Nossas normas não permitem tal falta de disciplina dentro da propriedade escolar. — completou Abgail, me fuzilando com um olhar ameaçador.

— Exatamente. Isso foi realmente muito desapontador vindo por parte vocês. Principalmente de você Srta. Collin’s , isso foi algo mesmo inesperado, uma aluna com histórico sempre escolar sempre exemplar... — a diretora olhava para Zoey com um ar triste quase maternal. Zoey murmurou um ‘’Eu sinto muito...’’ encolhendo seus ombros.

— Então Infelizmente, isso será reportado em sua ficha. Enquanto a Srta. Chamber’s, como é nova aqui eu apenas farei uma ligação para seu pai, mas da próxima não será tão simples. Agora estão liberadas, já podem voltar para suas salas. —

Antes que eu pudesse me levantar lentamente, pude ver Zoey já deixando a sala com um ar chateado consigo mesma, e foi a partir daquele momento que senti que aquilo não poderia estar certo. Aquilo tudo era culpa da Regan!

— M- mas isso não é justo! Foi a Regan que realmente começou toda aquela confusão no refeitório! A senhora não pode fazer isso com ela. — falo em tom firme e apontando para a porta da sala, qual a Zoey já tinha passado a pouco.

— Melhor você se acalmar, a senhorita não está em posição para discutir com a nossa diretora! — a vice-diretora segurou bruscamente em meu ombro, me deixando visivelmente mais irritada.

— Desculpe, mas maioria dos que testemunharam a cena e passaram aqui não mencionaram nada diferente. Então por favor, faça o favor e volte aos seus estudos.— a voz calma da diretora me deixou com uma expressão perplexa.

— Você a ouviu muito bem! Agora nos deixe em paz com suas tagarelices! — ordenou Abgail me soltando, para que eu saísse dali rapidamente antes que eu acabasse por causar mais algum problema para mim ou possivelmente para Zoey .

Fechei a porta da diretoria com força. Minha vontade era de dar um berro e me questionar quanto a tudo que acabara de acontecer só no meu primeiro dia naquela cidade. Será que eu apenas deveria me contentar, e conviver normalmente com aquele ‘’incomodo’’ igual a todos os outros? Que pareciam fazê-lo facilmente todo dia sem menores problemas. Fui saindo da escola com passos firmes e pesados, até chegar no pátio.

— Será que isso só acontece comigo!? — Berrei chutando uma pequena pedra para longe.

— Ei! Não fique tão brava com a Regan... Os pais delas estão entrando em um duro processo de divorcio! — Respondeu alguma outra voz.

— E o que eu tenho com isso? — respondi cruzando os braços um pouco mais calma.

— Nervosinha você em... — respondeu de novo a voz masculina.

— Espera um instante! Com quem eu estou conversando?! — Eu procurava em volta e não havia ninguém. — Onde você está? — perguntei um pouco assustada.

— Aqui em cima! — gritou ele.

Virei meu rosto para a direção de onde vinha voz, mas a única coisa que via era um gato preto em cima de um galho de uma arvore próxima.

— Só pode estar brincando comigo, né? — o tom sarcástico podia ser percebido facilmente.

— Não, não estou... — o felino gesticulou e desceu da arvore bem na frente dos meus olhos.

Esfreguei os olhos varias vezes perplexa. ‘’Você só pode estar vendo coisas Emilly...’’ pensava enquanto, o gato me encarava com uma expressão confusa. ‘’Deve ter sido o leite estragado do refeitório que você bebeu a pouco, pois gatos não falam na vida real!’’

— O que está pensando? — perguntou o gato se aproximando um pouco mais de min.

Ao ouvi-lo novamente me afastei imediatamente com uma expressão assustada e surpresa. Depois que aquela alucinação desaparecesse eu teria que procurar rapidamente a enfermaria.

— Me desculpe! Eu não queria te assustar. Espera um pouco... — Ao dizer isso o ele se afastou alguns metros de mim, e começou a metamorfosear-se bem na minha frente. Até que eu não conseguia mais ver um gato, mas sim um rapaz de cabelos castanhos escuros com olhos castanhos. Eu podia deduzir que ele tinha mais ou menos a minha idade. — Esta forma está melhor pra você? —

Parte de mim ficou encantada e outra me dizia para sair correndo dali. Infelizmente, a segunda parte falava mais alto me fazendo dar vários passos para trás até que eu estivesse correndo sem direção alguma. Eu devia ter prestado atenção...Pois quando eu ainda observava por trás dos ombro o rapaz se distanciando, acabei batendo de cara com uma arvore me fazendo cair no chão muito tonta chegando a um ponto que depois de alguns segundos eu desmaiei.