Royal Hearts escrita por Cams, Tamires, nat


Capítulo 32
Celeste - Do céu ao inferno


Notas iniciais do capítulo

FINALMENTE estou dando as caras por aqui desde a nossa retomada! Tenho muito carinho por essa história e pelos personagens que criamos. Como eu e Cams sempre dizemos em nossas conversas, eles tem vida própria. E nós estamos aqui para contá-la.
Fiquei muito animada e apreensiva escrevendo esse capítulo depois de tanto tempo. Espero que gostem!!
Tamires ♥



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Meu pé se mexia de maneira frenética e toda vez que eu notava isso tentava parar. Mas, quando dava por mim, meus dedos é que estavam tamborilando no tampo da mesa ou enrolando uma mecha de cabelo. Eu estava visivelmente nervosa e qualquer um por perto poderia notar. Minha sorte era estar sozinha. Ou azar. Afinal aquilo tecnicamente era pra ser um encontro e eu estava sozinha. 

Nos últimos dias me enfiei de cabeça em planilhas e planejamentos sem fim. Fiz das minhas novas funções meu refúgio. Julian não tinha idéia do presente que havia me dado. Claro que ganhar a confiança dos meus irmãos e dos meus pais finalmente podendo começar a mostrar tudo que eu sempre estudei e pensei era mais do que um sonho. Mas eu não podia negar como aquilo havia chegado num momento perfeito. 

Minha mente dava voltas infinitas e sempre chegava em tudo que eu não queria pensar. Aqueles beijos que eu não conseguia esquecer. Eu nunca mais deveria beber na minha vida! Mas eu sabia que não era culpa da bebida. O que foi feito bêbada foi pensado sóbria. E é justamente esse o problema. Eu não conseguia entender bem tudo que eu sentia. 

Aqueles dois garotos que eu conheço desde que eramos apenas crianças, e que eu via se tornarem homens, com seus papéis tão distintos e importantes na minha vida. Eu não tinha dúvida de que os amava. Os dois. Mas tudo se organizava em minha mente de uma maneira muito mais confusa. Ou melhor, não se organizava. Linhas e vidas cruzadas. Não só nossas, mas de todos os outros príncipes ali. 

Pensar nisso tudo fazia minha cabeça doer. Lá estava meu pé se mexendo mais uma vez. Nunca devia ter enviado aquele bilhete. Não depois da forma como nos despedimos na última vez que nos vimos. 

 

Sei que não agi adequadamente com você aquele dia. Fui grosseira de uma maneira que me envergonha profundamente relembrar. Mas, revisitando as memórias, percebi que muito não foi dito entre nós. Aquele dia e em muitos outros. Gostaria então de me desculpar. Pessoalmente, não por um bilhete. Vossa Alteza me daria a honra da sua companhia? Estarei te esperando amanhã no fim da tarde, depois que já estiver terminado com as suas obrigações reais, na estufa na floresta do palácio. 

De todo o coração,

Celeste

 

Então aqui estou eu, esperando alguém que talvez nunca chegue. Pelo menos ninguém vai ficar sabendo disso. Os dias que passei me inteirando mais da parte burocrática do reino serviram de alguma coisa. Consegui com que Shay me explicasse e me mostrasse sobre a organização dos guardas, me mostrei tão interessada que ele até deixou que eu trabalhasse um pouco nisso. Foi assim que fiz com que a maioria dos guardas designados para me acompanhar não sejam amigos de Daniel. Impossível fazer com que todos não fossem, mas eu consegui garantir que os dois me acompanhando hoje não são. Espero que Shay não tenha percebido isso.

Apesar do “bolo” eu não podia deixar de notar como aquele lugar era bonito, através das paredes de vidro eu podia ver a floresta. A luz do fim de tarde também entrava, logo seria o pôr do sol e tudo ficaria ainda mais lindo. Não era de todo ruim estar ali sozinha, pelo menos eu estava tendo uma pequena fuga da confusão do palácio. Estava tão perdida em pensamentos que não percebi que não estava mais sozinha.

—Te deixei esperando uma eternidade não é? -a voz me despertou dos meus devaneios e me fez levantar num pulo, o que fez o príncipe rir. Não me lembrava de vê-lo rir com frequência, mas gostei do som da sua voz dessa forma. 

—Não, claro que não. -sua expressão estava desconfiada- Tudo bem, talvez um pouco. -eu ri, nervosa. Não achei que ficaria assim com sua presença.

Impecável como quase sempre estava Aaron, a alguns passos de mim, e eu sem saber o que fazer. Diferente do usual, dessa vez ele não estava usando uma gravata, apenas camisa social e blazer. Mas isso não diminuía em nada a sua elegância. Nenhum dos dois sabia bem o que fazer e ficamos nos olhando, esperando alguém tomar a iniciativa. 

—No bilhete você não disse o que me esperava, mas não imaginei que fosse um banquete. -ele sorriu e apontou a mesa.

—Não é bem um banquete, mas por favor, sente-se. -indiquei a cadeira ao meu lado e ele se aproximou. Eu podia notar em seu tom e nos seus modos que ele estava tentando parecer relaxado, mas não estava conseguindo muito bem. -Bom, você me mostrou um pouco do seu país aquele dia. Pensei em fazer o mesmo. Eu sei que você está imerso no meu país, então só resolvi aprofundar um pouco mais em uma coisa. -Estiquei meu braço para destampar um dos vários pratos cobertos e abri um grande sorriso. -Festival de panquecas!

Nos minutos que se seguiram nós basicamente comemos e conversamos sobre comida. O que, na verdade, pode ser uma ótima premissa de um encontro. Eu havia pedido para os cozinheiros fazerem uma grande variedade de panquecas e caldas, fui explicando a maioria para o alemão enquanto provávamos e discutíamos sobre combinações e sabores. Era uma conversa agradável e confortável, mas não era o motivo de eu tê-lo chamado.

—Me desculpe. -consegui juntar todas as minhas forças para fazer com que aquelas duas palavras saíssem.

—Não se preocupe Celeste, tenho certeza de que alguém vai conseguir tirar essa mancha de calda de amora do meu blazer. -ele riu despreocupado, mas quando olhou para mim sua expressão mudou. -Ah…

—Acho que não sei bem por onde começar. Talvez pedindo desculpas, mais uma vez. Eu não tinha direito de gritar com você e te tratar daquela forma. -não consigo olhar em seus olhos, por isso continuo observando meus dedos se movendo freneticamente em meu colo. -Tudo que eu disse…

—Celeste, não é necessário. -sua voz estava no mesmo tom baixo que a minha e eu percebi que ele também não me olhava diretamente.

—Mas eu quero Aaron. -respirei fundo e olhei em sua direção. -Se você tivesse me tratado mal ou algo assim seria plausível, apesar de essa não ser a forma como eu fui educada. Mas não era esse o caso, muito pelo contrário. Mesmo nas vezes em que nos desentendemos e eu não gostei das suas atitudes você não podia ser mais cavalheiro. Não tenho uma vírgula para reclamar. 

—Se serve de consolo sua educação no geral também é impecável. -ele abriu um pequeno sorriso enquanto falava, mas ainda sem me olhar.

—Um pouco. -eu ri também. -Mas ainda te devo desculpas. Descontei em você uma tonelada de frustrações que não eram sobre você, mas sobre mim. Eu não vou agir assim de novo. 

—Não vou mentir pra você. Suas palavras me machucaram muito. Foi como receber uma surra sem saber bem o motivo. -agora seu olhar intercalava entre mim e os objetos ao redor, parecia estar tentando não parecer tão inseguro. -Mas eu entendo que é tudo muita coisa! Fiquei frustrado um milhão de vezes desde que cheguei aqui, mas nos últimos tempos estou tentando me colocar no seu lugar. Se eu não for capaz de te entender talvez seja melhor ir embora.

—Queria conseguir te explicar mais sobre tudo que se passa comigo. Mas não sou capaz de fazer isso. Ou de te fazer promessas. -nossos olhares finalmente se encontraram. -Não quero que vá embora, Aaron.

—Realizar seu desejo será um prazer Alteza.  

 

***

 

Eu não tinha momentos tão agradáveis a um bom tempo. A companhia de Aaron preencheu aquele fim de tarde e parte da noite. Acabamos comendo tantas panquecas que não fomos jantar, o que na verdade foi muito bom. Nós conversamos longamente, rimos e compartilhamos memórias. Foi bom conversar com ele, eu me sentia a vontade, ele me entendia.

Não voltamos a falar sobre o dia em que eu briguei com ele. Por enquanto eu preferia não saber quem era a inspiração dele para escrever aquela música e agradeci ao meu alemão enferrujado por não me permitir entender tudo. Eu só queria fazer as pazes com aquele príncipe gentil e atencioso, e poder conhecê-lo mais. E foi isso que fizemos.

Depois disso tudo eu dormi como não dormia a tempos. Me permiti ignorar o burburinho da minha própria mente por algumas horas e descansar. Quando eu acordei no outro dia agradeci por não conseguir me lembrar de nenhum sonho. Nos últimos tempos eles estavam sendo bastante perturbadores, cheios de escolhas complicadas que terminavam em mortes malucas. Com rapazes explodindo em chuvas de confete no meio de um jantar de noivado, por exemplo. 

Seria cômico se não fosse trágico. 

Depois do café da manhã resolvi passar um tempo no salão das mulheres. Levei alguns documentos que eu estava estudando para aprofundar mais meus conhecimentos sobre as funções exercidas por meus irmão, mas eu também tinha planos direcionados às selecionadas. Quando cheguei elas ainda estavam na aula de etiqueta ministrada pela Silvia, então me sentei em uma mesa perto das janelas com a minha papelada e comecei a ler.

— Vou te contar um segredo, eu acho essa papelada toda e esse lance de governar muito mais interessante do que qualquer pessoa imaginaria que eu acharia. -levantei os olhos e lá estava Vic, linda como sempre e já puxando uma cadeira pra sentar ao meu lado.

— Ainda bem né?! Afinal a senhorita vai ser rainha de Katastoli um dia. -observei que as selecionadas continuavam sentadas perto de Silvia. - A aula acabou ou você só desistiu?

— Nesse momento elas estão aprendendo coisas que eu já sei. -lancei um olhar descrente para ela. - Eu sei que eu estou aqui justamente pra aprender sobre etiqueta Senhorita Bons Modos! Mas agora no final uma das garotas perguntou sobre umas coisas burocráticas e a Silvia resolveu dar uma pequena lição sobre o assunto. Como essas são coisas que eu já sei e muito bem diga-se de passagem eu resolvi vir aqui conversar um pouquinho com a minha melhor amiga. Posso Vossa Alteza?

— Não me chame assim! -nós fizemos caretas uma pra outra e rimos. - Claro que pode, Vic.

— Nós não conversamos a algum tempo né? Mesmo estando na mesma casa. -eu fiz menção de começar a falar mas ela não deixou. - Eu sei que não sou o motivo da sua ausência no geral, mas eu acabei sofrendo as consequências também. Está tudo bem, eu entendo de verdade.

— Tem dias que eu acho que a minha cabeça vai explodir de tanto pensar, e nem é por causa dessas burocracias. -deitei minha cabeça sobre a mesa por um momento. - Na verdade isso tudo aqui tem sido um alívio!

— Você é ótima com essas coisas Celle, não sei por que demorou tanto tempo pra te colocarem nessas funções. Maaaaas apesar de esse assunto ser algo que eu ame não foi pra falar sobre isso que eu vim aqui.

— Jura? Achei que íamos discutir algumas questões sobre importação. - nós duas rimos juntas.

— Eu gostaria de saber como você está. Ver se tem alguma coisa que eu possa fazer por você, algo que você queira conversar. 

— Você fica tão fofa quando está preocupada que se eu não te conhecesse ia duvidar que é você mesma conversando comigo. - nós duas rimos de novo, mas dessa vez ela me deu um tapa forte demais para os “padrões princesa” no braço e eu dei um gritinho. Silvia olhou feio pra nós duas e algumas selecionadas riram, o que fez nós duas cairmos na risada. Era boa a sensação de ter pessoas que nos fazem desligar das coisas, mesmo que por apenas alguns momentos.

— Eu estou falando sério Celeste! - ela ficou mais séria, mas não tanto assim, dava pra sentir a preocupação. - Depois que você me contou mais ou menos o que aconteceu com aqueles dois você não quis mais conversar sobre, e eu respeito isso. Mas você também começou a se esconder de todos e eu não sei se essa é a melhor maneira de lidar com isso.

— Você tem razão, eu sei! Mas eu precisava de um tempo pra tentar absorver tudo e pensar como lidar. - não que eu tenha exatamente feito isso, pensei.

— Eu imagino. Não é todos os dias que você vai de  “completamente inexperiente” para “beijei dois caras super gatos e que tenho sentimentos ocultos num intervalo de menos de 10 minutos”. - foi a minha vez de dar um tapa dela e a vez dela dar um gritinho. - Não é porque eu estou preocupada que eu vou perder a oportunidade de implicar né? 

— Eu sei! Mas eu não quero que o palácio inteiro saiba dessa história!

— Não se preocupe, minha diversão não é fazer fofoca. Eu gosto é de implicar com você em pessoa. - eu fingi emburrar a cara e ela riu. - Olha, você não precisa dizer nada para mim se não quiser. Mas eu gostaria de falar algumas coisas pra você. Nós temos quase a mesma idade, mas sabemos que tenho um pouco mais de experiência no ramo que você. Mesmo assim ainda tem coisas que me fazem perder o sono. Você e seus irmãos não são os únicos que tem pesadelos sobre a escolha certa. 

“Eu também penso que um dia vou precisar escolher alguém para estar ao meu lado e isso me aterroriza. Nem sempre as pessoas pensam em nós como pessoas com corações e desejos. Eles nos dizem para fazer a melhor escolha para o país e como isso pode afetar a vida de um monte de pessoas. Mas nem sempre pensam em como isso pode afetar a nossa vida! Não estou te dizendo quem você deve escolher, mas quero te lembrar de pensar em você! Você não vai ser capaz de governar se estiver infeliz, pessoas infelizes são péssimas para tomar decisões. Isso é tão clichê que eu acho que vou precisar vomitar depois que eu disser, mas você tem que seguir seu coração Celle. Não que você deva fugir pra uma praia deserta nesse exato momento. Mas as decisões que você tomar precisam ter seu coração ali. É você quem vai conviver com elas pro resto da vida. Por experiência própria, não importa o quão complicada sua decisão seja, poucas coisas são mais incríveis do que deitar a cabeça no travesseiro de noite tranquila por aceitar o que você é e quer.”

Assim que ela terminou eu pulei em cima dela de braços abertos e dei um abraço apertado. Ficamos grudadas por um bom tempo até finalmente nos soltarmos. Eu não disse nada, mas pelo que eu via na expressão de Vic ela tinha me entendido. Não sei se ela tinha noção de como as palavras dela tinha sido importantes pra mim. Não que agora eu estivesse menos confusa do que antes, eu ainda tinha muitas dúvidas, mas pelo menos eu sabia melhor como encarar o que viria. Fiquei me perguntando de onde minha amiga tinha tirado tanta sabedoria e se ela estava enfrentando alguma coisa mais específica do que tinha me contado.

Mas não tive tempo para perguntar, nós tivemos que nos despedir logo em seguida. Um dos funcionários que Vic havia trazido de Katastoli veio chamá-la para uma reunião por telefone com a coroa de lá, ou seja, seus pais. Ela tinha um papel muito ativo no governo do seu país e eu me orgulhava dela.

Depois que Victorya saiu eu vi que a aula de etiqueta já havia acabado a algum tempo e as selecionadas já estavam espalhadas pelo salão, concentradas em suas próprias coisas. Me levantei e fui até um ponto mais central, onde fosse mais fácil para todas me ouvirem. 

— Bom dia meninas, espero que estejam todas bem! Eu gostaria de falar um pouquinho com vocês, então se puderem se aproximar. - as selecionadas foram se aproximando, algumas mais animadas que outras. - Obrigada. Eu tive uma idéia recentemente e depois de planejar um pouco melhor resolvi colocá-la em prática, acho que vai ser um momento de interação muito interessante para todos nós. Antes de começar já aviso que conversei com todos os envolvidos e eles estão de acordo. 

“Nos próximos dias vocês trabalharão num projeto para o Jornal Oficial! Não vocês aparecendo em imagens de encontros ou festas, vai ser um projeto com a ‘voz’ de vocês! Explicando melhor, eu pensei em uma forma de promover uma interação maior entre a minha família e vocês. Para isso vocês vão conduzir entrevistas conosco que serão editadas e exibidas em rede nacional. Vocês deverão se dividir em pequenos grupos para isso. Hoje depois do almoço, quando vocês voltarem para esse salão, Silvia vai conduzir um sorteio que vai decidir quem será entrevistado por cada grupo. Os integrantes disponíveis para entrevista seremos eu, Shalom, Julian, a rainha e o rei. Vocês vão ter a tarde de hoje e o dia de amanhã para trabalharem nas perguntas para a entrevista, lembrando que a noite de amanhã está reservada para o príncipe Pierre nos levar em uma pequena imersão em seu país. Eu, a rainha e Silvia estaremos aqui disponíveis para ajudar vocês durante todo esse período, nem sempre todas ao mesmo tempo, mas vocês podem e devem recorrer a nós sempre que precisarem. As entrevistas acontecerão depois de amanhã em horários agendados, mas essas informações mais específicas serão entregues para vocês hoje a tarde. Espero que possamos aproveitar essa oportunidade.”

Depois que almoçamos passei  o começo da tarde me dividindo entre trabalhar e ajudar as selecionadas empolgadas com aquela nova missão. No início foi preciso podar um pouco a ajudá-las a encontrar o caminho para o que elas queriam. Nem todas pareciam tão interessadas quanto eu imaginei que estariam, algumas pareciam com um pouco de medo de nos fazer perguntas. Outras já estavam tão empolgadas que mal conseguiam se sentar e trabalhar. Eu entendia ambos os sentimentos.

No meio da tarde precisei sair e ir para um encontro. Me encontrei com príncipe James, ele havia me convidado durante o almoço para irmos ao cinema do palácio. Tive a impressão de que em alguns momentos ele não estava muito confortável ao meu lado, eu não saberia dizer se era timidez ou outra coisa, apesar de não imaginá-lo como alguém tímido. Mas se me perguntassem pra contar do encontro depois eu diria que não tem muito a ser dito. 

O filme que ele escolheu não era dos mais interessantes e sinto que ele mesmo também não gostou, era uma comédia bastante sem graça com piadinhas que nos deixaram desconfortáveis. Ele pediu desculpas e disse que foi indicação de um amigo inglês. Eu não o culpava pelo filme, mas até depois, quando ficamos lá conversando sobre outras coisas nada foi muito empolgante. Foi uma boa maneira de passar o tempo, ele era uma companhia agradável. Mas não pude evitar de me lembrar das palavras de Vic depois que me despedi dele. Meu coração não estava ali. O que na verdade era bom, eu não precisava me apaixonar por todos os rapazes que cruzassem o meu caminho.

 

***

 

Na manhã seguinte, após a aula de etiqueta, as selecionadas voltaram a trabalhar nas entrevistas. Elas pareciam um pouco mais tranquilas com essa tarefa depois de toda a agitação que eu havia visto no dia anterior. Acredito que depois que elas começaram efetivamente a trabalhar nisso tudo ficou mais simples. 

Eu havia acabado de escolher um sofá para me sentar e observar o trabalho das meninas quando um grupo no mínimo engraçado se aproximou de mim. Num primeiro momento a escolha das integrantes dos grupos seria livre, mas após um pequeno chilique na tarde anterior Silvia perdeu a paciência e resolveu sortear isso também. Por esse motivo as garotas se aproximando de mim não eram exatamente quem eu imaginava que estariam trabalhando juntas.

Na frente delas estava Lis, que era claramente quem estava no comando ali, com uma expressão um pouco irritada. Alguns passos atrás estava Melanie e ela parecia estar dividida entre chorar ou sair correndo. E caminhando ao lado de Lis, para minha surpresa, estava Charlotte, com o rosto tranquilo e aparentemente cada vez mais acostumada com aquele monte de pessoas juntas.

— Alteza. - Lis falou e todas elas se curvaram levemente quando estavam próximas de mim.

— Não precisamos de tanta formalidade garotas, principalmente aqui dentro. - eu indiquei para que elas se sentassem. - Vocês podem relaxar, nós já estamos convivendo a algum tempo. Em que posso ajudá-las?

— Bom, nós estamos enfrentando algumas questões. - como esperado, Lis era a porta-voz do grupo. - Nós fomos sorteadas para entrevistar o rei. Até ai tudo ótimo, mas o problema são as perguntas. Algumas de nós acham que seria interessante perguntar sobre a experiência de seu pai com as próprias selecionadas dele. Mas, certas pessoas, tem uma opinião diferente e estão com medinho. 

Nesse momento ela lançou um olhar na direção de Melanie e a garota começou a tremer de leve. Meu primeiro instinto era abraçar a garota, mas eu não podia negar que parte de mim queria rir da situação. Olhei para Charlotte sentada ao meu lado e ela parecia muito tranquila enquanto balançava a cabeça, aparentemente concordando.

— Você tem a mesma opinião que ela Char? 

— Eu fiquei curiosa. - a garota respondeu baixinho e ficou um pouco vermelha. Não pude evitar sorrir.

— Eu entendo a curiosidade de vocês meninas, mas acredito que Melanie está certa. - a garota, que antes parecia que ia afundar no sofá, conseguiu se erguer minimamente, sorrir um pouco e me olhou aliviada enquanto sussurrava um “Obrigada” - Pra ser sincera talvez meu pai ficasse até tranquilo, mas não sei se a rainha pensaria da mesma forma. E eu acho que nenhuma de vocês quer ver a rainha emburrada.

— De jeito nenhum! - Lis falou em um tom alarmado e nós todas rimos. - Você e seu pai são bem próximos né? Já vi isso em algumas revistas.

— Com as milhares de coisas que tem acontecido quase não estamos tendo tempo, mas somos sim. Antes da seleção nós sempre reservávamos um tempo da semana para irmos juntos a biblioteca e conversarmos sobre nossas leituras. - falar aquilo em voz alta me fez perceber o quanto eu estava sentindo falta daqueles momentos com meu pai.

— Eu também sou muito próxima do meu pai, ele sempre me apoiou em tudo. Faz muito tempo que não o vejo. - olhei para Lis e ela estava com o semblante um pouco triste e o olhar distante. Quando ela percebeu isso logo recolocou uma expressão tranquila no rosto. - Enfim, obrigada Celeste. Vamos pegar mais leve com o rei dessa vez então. Agora precisamos sistematizar e escrever as perguntas.

— Eu posso escrever, sou muito boa em gramática. - Char esticou a mão para a prancheta que estava com Lis.

— Claro Char, obrigada por cuidar dessa parte pra gente. - o tom de voz que Lis usou com Charlotte me surpreendeu pela delicadeza e cuidado, fiquei feliz de ver que ela estava conseguindo encontrar pessoas que eram gentis como ela merecia. - Vamos trabalhar então. Mais uma vez obrigada princesa!

— Por nada meninas. Podem me procurar sempre que precisarem, e não só em relação às tarefas. - as três se afastaram com um ar bem mais leve do que quando chegaram o que me deixou mais tranquila. 

Após o almoço todas nós voltamos para o salão para que elas finalizassem os roteiros das entrevistas que seriam revisados por uma parte da equipe do jornal e por Silvia, era mais interessantes que nós que vamos ser entrevistados não soubéssemos das perguntas, mas mesmo assim é preciso que alguém de confiança dê uma última olhada. Acabei passando por alguns outros grupos e dando algumas dicas, no fim das contas todas as garotas pareciam animadas com essa tarefa diferente do habitual e fiquei feliz por estar dando certo. 

Logo logo todas nós teríamos que ir nos arrumar para a noite da França. Parte de mim estava ansiosa por um pouco de diversão, mas eu teria que ver e interagir com muitas pessoas, o que eu estava evitando nos últimos tempos. Além disso havia a grande incógnita que o príncipe francês era para mim, eu me lembrava bem da nossa última conversa e eu não poderia descrever exatamente como amigável.

— Princesa? -fui tirada dos meus pensamentos por Lara, que estava parada a alguns passos de mim e me olhava com curiosidade. Percebi que enquanto pensava acabei me sentando ao piano e dedilhando algumas teclas. - Desculpe se estivermos atrapalhando, é que nós a vimos no piano e ficamos pensando… Desde aquela apresentação que você fez tocando violoncelo… Eu gostaria muito de ouví-la novamente. Nós gostaríamos pra ser mais exata. 

— Sério? -haviam algumas selecionadas ouvindo atentas a nossa conversa, provavelmente Lara era a porta-voz delas, e nesse momento todas elas balançaram a cabeça afirmativamente. - Bom, eu não preparei nada e piano não é meu instrumento principal. Mas sou filha da minha mãe, não posso decepcionar nesse aqui.

Estiquei os dedos enquanto pensava em qual música deveria tocar. Acabei decidindo tocar uma versão no piano de uma música de uma banda conhecida em Ílea e que a maioria das pessoas gostava. Logo que comecei a tocar as primeiras notas as garotas foram se aproximando mais. Eu indiquei com a cabeça o violão que estava perto do piano, minha intenção era que alguém se animasse a me acompanhar. Mas, antes que eu pudesse imaginar, uma voz surgiu de alguém que eu não esperava.

 

“Ooh, ooh, ooh, ooh, ooh, ooh, ooh, ooh, ooh

Ooh, ooh, ooh, ooh, ooh, ooh, ooh, ooh, ooh” 

 

Samanta começou a cantar enquanto se aproximava do piano, sua voz era doce e afinada. Lis veio logo em seguida, pegou o violão e começou a tocar, entrando rapidamente do ritmo da música e mostrando que sabia o que estava fazendo.

 

“When she was just a girl

She expected the world”

 

 Enquanto cantava Sam fez um sinal chamando outra garota, Elissandra, que parecia um pouco envergonhada de cantar mas que aparentemente se sentiu mais a vontade em estar acompanhada de outra pessoa. 

 

“But it flew away from her reach

So she ran away in her sleep”

 

As vozes das duas juntas combinavam muito, a de Elissandra era mais grave, mas igualmente linda. Mas algo que eu definitivamente não poderia esperar aconteceu em seguida. O som do violoncelo começou a entrar em nossa harmonia e quem estava tocando era Charlotte, ela estava extremamente concentrada, provavelmente para não ter que olhar para nenhuma outra pessoa. Ela tocava tão bem!

 

“And dreamed of para-para-paradise

Para-para-paradise

Para-para-paradise

Every time she closed her eyes”

 

Aparentemente inspirada pela coragem de Char, Melanie pegou o outro violão e começou a tocar também. Parte de mim estava concentrada no piano mas mesmo assim vi que agora todas as outras selecionadas haviam parado seus afazeres e se aproximado do nosso pequeno show. Vic também estava entre elas, olhando encantada para as garotas que cantavam. Nós continuamos a música, com alguns errinhos por nunca termos tocado juntas, e no fim fomos aplaudidas. Sorri e agradeci mentalmente por aquele pequeno paraíso.

Depois de algumas músicas Julieta me substituiu no piano junto com Elissandra. Solaria passou a cantar junto com Sam, e sua voz também era linda. Eu fiquei na plateia junto com as outras selecionadas até sentir alguém chegar ao meu lado e envolver meus ombros.

— É muito bonito ver todas elas assim. - minha mãe as observava enquanto sorria e abraçava meus ombros. - Ter essas garotas aqui é ficar melancólica e dar mergulhos nas minhas lembranças diariamente. 

— Isso é bom? - pergunto sinceramente curiosa.

— Sim e não. - ela me solta e sorri com menos intensidade do que antes. - Minha seleção não foi um mar de rosas, você sabe.

— Sei, de algumas coisas só. - eu e meus irmãos sabíamos que havia mais na história dos nossos pais do que o que eles haviam nos contado.

— Sabe o suficiente. - ela percebeu o que eu quis dizer, mas nem tinha como não perceber. Nós infernizávamos os dois a anos querendo mais detalhes. - Mas tem algumas coisas que eu quero te falar. Me escute de coração aberto pode ser?

— Claro mãe, sempre.

— Eu não posso dizer que sei como é crescer num castelo, quase isolada. Seu pai saberia falar mais disso, eu só posso imaginar. O que eu sei é como é fácil sentir solidão aqui dentro, mesmo cercadas pela nossa família que tanto amamos. Sei que todas essas garotas e a movimentação aqui mexem com a gente. - ela pegou minha mão entre as suas com carinho. - Mas sei também que isso acaba um dia.

— Eu sei mãe, sei que não vai ser assim pra sempre. - eu entendia que ela estava sendo gentil e se preocupando comigo, mas senti uma tristeza instantânea com o que ela disse.

— Eu sei que você sabe filha, na teoria. Mas eu sei na prática, eu vivi isso. - ela fez um carinho com seus dedos na minha mão enquanto falava sorrindo, mas eu percebia certa dor em suas palavras. - Eu fiquei verdadeiramente feliz em observar você com as garotas nos últimos tempos, principalmente nessa pequena apresentação. Mas não consigo não me preocupar. Elas ocupam um grande espaço nas nossas vidas por algum tempo, mas aos poucos elas vão embora. Claro que é possível manter as amizades depois, mas não é a mesma coisa. Eu me preocupo com você, não gostaria que você tivesse que sofrer por perder isso também, amigas. Queria poder te dar tudo que você merece Celeste, mas a nossa vida exige alguns sacrifícios. 

— Não sei o que dizer mãe. - falei um pouco mais baixo.

— Não tem nada a dizer meu amor, desculpe por te jogar esse balde de água fria. E nada do que eu disse significa que você não deva ser amiga e conhecer essas garotas maravilhosas. Só quero que você se lembre da realidade. Amo você. - ela me deu um beijo na bochecha e soltou minha mão para bater palmas por mais uma música que acabava. - Esplêndido meninas! Todas vocês merecem muitos parabéns, são muitos talentos nesta sala. Mas agora já é hora de irem se arrumar para o evento da França.

 

***

 

As vezes eu me surpreendia com a capacidade da equipe de decoração do castelo em transformar os lugares. Enquanto eu caminhava observei como o jardim já não parecia muito o nosso jardim e sim um pedaço da França, mas não um pedaço qualquer, um pedaço bem aconchegante. As luzes do lado de fora estavam com intensidade diminuída para que as luzinhas brilhassem mais. E eram muitas delas! Haviam centenas de lâmpadas penduradas em fios sobre nossas cabeças. No chão montes e montes de almofadas gigantes e aparentemente muito confortáveis estavam de frente para um telão. Ao lado desse pequeno cinema ao ar livre havia uma dezena de mesinhas de madeira onde provavelmente o jantar seria servido. Em cima de cada mesa um castiçal pequeno com uma vela e um pequeno vasinho com uma flor.

Ao fundo, depois de tudo, uma miniatura do monumento mais famoso de Paris, a torre Eiffel. Que os outros príncipes não me ouvissem, mas aquela era uma das festividades mais lindas dedicadas a um país. Cada detalhe parecia ter sido pensado com cuidado e eu não mudaria nada!

Agradeci mentalmente Kat e Amanda por serem perfeitas como sempre e por me fazerem sentir que eu me encaixaria bem ali. O que eu vestia não era nada extravagante e eu havia amado! Uma jardineira de saia preta com uma blusa branca de mangas compridas por baixo, nos punhos da blusa havia uma renda delicada também preta. O charme estava na boina vermelha na cabeça e no lenço amarrado no meu pescoço. 

Caminhei até as almofadas, onde algumas selecionadas já estavam, e me sentei. Pela indicação dos funcionários ali seria a primeira atividade da noite. Logo mais pessoas foram chegando, até todas as almofadas estarem ocupadas. Todos estavam lindos com seus trajes inspirados na França, selecionadas e príncipes. Um deles sentou ao meu lado, mas eu percebi com alívio que era Julian.

— Não dá pra negar que o garoto apesar de ser chato sabe organizar um evento bonito. - ele me cutucou de leve e sorriu. - Você está linda a propósito.

— Obrigada, Jules. Você também ficou super bem com essa boina. - ele ficou um pouco vermelho, esses homens por aqui tem dificuldade em ouvir elogios. - Mas tem razão, está tudo lindo!

— Você não discordou da outra parte do que eu disse, existe algum motivo espec...

— Shiu! O filme vai começar. - me virei para a tela que já começava a exibir o título de um clássico francês. Eu sei que havíamos prometido compartilhar quase tudo entre nós, mas eu não queria ver um dos meus irmãos arrumando confusão com Pierre, muito menos hoje.

O filme foi ótimo, todos aparentemente gostaram muito. Ele conseguiu arrancar lágrimas e risadas. Quando acabou Pierre fez um pequeno pequeno comentário sobre o filme e um discurso sobre como estava feliz de poder nos mostrar um pouco do seu país. Outra coisa para acrescentar na lista de qualidades dele, sua oratória é impecável! Pena que os defeitos tem pesado mais.

Assim que ele acabou uma música começou a tocar e todos nos viramos para ver de onde vinha. Num canto, perto das mesas, um cantor estava sentado num banco alto, tocando um violão e cantando. Sua voz estava sendo projetada em algumas caixas de som ao longo do lugar, mas nada muito alto ou exagerado.

A música era suave, algo que parecia pedir uma dança lenta. Na mesma hora observei um casal se aventurando a dançar e todos nós ficamos vidrados nos dois. Meu pai puxava a mão de minha mãe delicadamente, ela parecia receosa no começo, mas depois se entregou a dança. Era tão lindo vê-los ali, rodopiando pela pista de dança, dançando como se não houvesse mais ninguém no mundo, só os dois. Os olhos que se conheciam a tanto tempo, mas que mesmo assim ainda pareciam encantados. Era aquilo que todos nós queríamos. 

A performance dos dois acabou inspirando outras pessoas e quando percebi Lis estava puxando um Julian levemente corado para a pista de dança. Um pouco depois Bea puxou Shay, ele também sem graça. Essas garotas tinham mais atitude que os dois. Por um momento fiquei me perguntando se algum dos dois já havia beijado alguma das selecionadas. Mas isso me fez lembrar da minha própria situação, o que eu não queria fazer. 

Voltei a pensar em outras coisas. Será que alguns dos príncipes esperava que eu tomasse essa atitude? Acho que eu faria isso normalmente, mas hoje não. Não foi preciso pensar muito pois logo surgiu um príncipe na minha frente me convidando pra dançar.

— Essa roupa lhe cai muito bem princesa. - Pierre me levou até a pista e começamos a dançar. - Fico imaginando vê-la pelas ruas de Paris um dia, aposto que vai combinar com a paisagem.

— Obrigada pelos elogios, vou passar para Kat e Amanda. - a dança era mais lenta e mais próxima do que qualquer coisa que eu desejaria dançar com ele, mas suas mãos na minha cintura não estavam apertadas demais e ele não parecia querer forçar nada. Pelo menos não ainda.

— Não precisa se esquivar de mim princesa, ou do que eu digo. - ele sorriu sarcástico. - Vai me dizer que nunca se imaginou na França? Acredito que o povo francês ia gostar de você como rainha.

— Está pensando em levar suas ameaças tão longe a ponto de tentar me chantagear a casar com você por causa de uma visita de um príncipe ao meu quarto? - eu fui firme, apesar dos calafrios internos que aquela conversa me provocava. - Aquilo não significou nada, você não tem como provar nada.

— Ah, você tem toda razão princesa. Aquilo não foi nada. - sua voz estava cada vez mais debochada enquanto sua expressão permanecia na mais pura paz. - Mas o que aconteceu depois… A senhorita gosta de champanhe né?

Nesse momento eu gelei, mas me forcei a continuar dançando e tentei manter a expressão suave. Se ele sabia sobre a última vez que eu bebi champanhe…

— Que pena que a música acabou. Não vou monopolizar sua atenção princesa. - ele me soltou, ainda sorrindo. - Continuamos nossa conversa outro dia.

Caminhei até uma das mesas, ainda atordoada pela conversa, mas a cada passo mais convicta de que precisava conversar com alguém sobre essa situação. Ou melhor, dois alguéns. Mas os dois estavam ocupados, então me sentei em uma das mesas com uma das selecionadas e resolvi esperar a melhor oportunidade para abordar meus irmãos.

— Adorei a boina Celle! - a garota sentada na mesa era Luna e eu escolhi sentar ali justamente por ser com ela. Luna era um doce e eu sentia que havíamos nos aproximado desde a visita à praia. - Combina um pouco com a minha.

— Que a propósito também ficou linda em você! - nós duas sorrimos. - Nós não tivemos a oportunidade de conversar depois daquele passeio. Queria saber como você está.

— Estou bem. Foi horrível ouvir aquelas coisas mas aos poucos e conversando com algumas das meninas eu consegui entender que a imprensa às vezes pode ser muito cruel. - ela me sorriu solidária. - Vocês aguentam muita coisa! Preciso aprender a lidar com isso, mesmo que eu não sejamos a escolhida do seu irmão nossas vidas vão mudar para sempre.

— Você tem razão, eles sabem ser cruéis. Mas com o tempo você tende a dar mais valor pra opinião de quem está mais perto e ver que algumas vezes não adianta muito ficar brigando com eles. É preciso saber escolher suas guerras. - ela concordou com a cabeça e nós voltamos a olhar a pista de dança.

— Não consigo tirar os olhos dos seus pais, eles são tão bonitos juntos. - ela deu um suspiro depois que terminou a frase e eu ri.

— Eu sei! É quase insuportável! - nós rimos juntas.

— Me faz sentir saudades dos meus pais. - seu tom de voz diminuiu um pouco e eu percebi que ela estava um pouco triste. - Eu fiquei no grupo que vai entrevistar a sua mãe e acabei pensando muito na minha, vi vocês juntas hoje a tarde. O que vocês tem é muito especial.

— Você tem razão, é mesmo. Eu sei que posso contar com eles pra tudo, mesmo quando brigamos. - eu estiquei a mão sobre a mesa e apertei de leve a dela. - Mas amigos também são família, e saiba que você tem em mim uma amiga. 

Ela sorriu e vi seus olhos ficarem úmidos enquanto ela apertava minha mão de volta. Percebi, ao mesmo tempo, que mais uma música acabava. Era a oportunidade de falar com meus irmãos. Me despedi dela e saí a procura deles, mas não conseguia encontrá-los. Avisei a alguns funcionários que precisava achar os dois, e pedi que os avisassem disso. Caminhei por entre as pessoas, tentando achar algum dos dois quando senti um impulso de olhar na direção da miniatura da torre.

E ali, distante e alheio a tudo, encontrei um par de olhos me olhando de volta. Um só não. Um pouco mais próximo e dentro do evento outra pessoa me olhava. Daniel e Luca. Tudo que eu estava tentando ignorar a tanto tempo veio a tona com a dor nos olhos deles.  Tudo que eu havia sentido. Tudo que eu causara neles e eles em mim. Me virei e andei rápido na outra direção. Não podia fugir daquilo para sempre, mas aquele não era o momento de enfrentar. 

Andei sem olhar para trás e sem ver muito bem o que estava a minha frente, até que esbarrei em alguém. Antes que eu pudesse cair ele me segurou e eu logo percebi que era Julian. O abracei forte.

— Se eu soubesse que você estava com tanta saudade assim de mim tinha vindo mais rápido. - ele falou e riu enquanto nos abraçávamos.

— O que vocês dois estão querendo pra terem me chamado para essa demonstração de afeto pública? Nós vamos pedir alguma coisa pra rainha? - Shay chegou rindo.

— Não é isso, mas seria uma boa maneira de conseguir algo dela. - eu falei também rindo enquanto me soltava de Julian. - Mas o assunto é mais sério que isso.

— O que aconteceu? - os dois falaram ao mesmo tempo e depois se olharam meio emburrados por isso.

— Primeiro vocês precisam me prometer que não vão bater em ninguém! 

— Você sabe que se está tendo que pedir isso é que existe um motivo pra alguém apanhar. - Shay falou sério e Julian concordou.

— Pelo menos ouçam a história toda antes de fazerem alguma coisa tá? - eles balançaram a cabeça em concordância. Respirei fundo e tomei coragem para revelar meus segredos. - Ouçam com carinho e se lembrem que vocês provavelmente já fizeram coisas bem parecidas com o que eu vou contar, eu só não sei. 

Então contei tudo. Comecei com a visita de Alexander no meu quarto, com detalhes suficientes para eles saberem que não aconteceu nada demais, passei para a ameaça de Pierre sobre isso e também para o encontro com Daniel no meu banheiro que só Julian havia presenciado. Tive que respirar fundo mais uma vez antes de continuar. Contei sobre o encontro com Daniel, o champanhe e o beijo. E depois sobre o beijo com Luca também. Os dois estavam boquiabertos de choque, o que, por enquanto, parecia uma boa reação. Por fim contei sobre a dança com Pierre e sobre as novas ameaças.

— Eu sei que é muita coisa para processar, mas eu precisava de ajuda e só posso recorrer a vocês. 

— Eu vou matar esse francês! Ele vai ver só o que eu vou fazer com a torre Eiffel! - Shay sibilou entre dentes e eu e Julian tentamos segurá-lo, mas nossa atenção foi direcionada a uma outra gritaria. 

Nós três nos viramos para olhar o que estava acontecendo em uma das mesas. Os gritos foram aumentando de volume e estavam sendo ditos em uma língua que eu reconhecia o suficiente para saber qual era, mas não para entender completamente. Nós até tentamos correr para acalmar os ânimos, mas já era tarde demais. Aaron havia acertado o rosto de outro príncipe em cheio, Gabriel, que caíra da cadeira com o nariz sangrando. O alemão aparentemente estava se preparando para bater no brasileiro de novo.

Parece que essa era uma marca registradas das festas da nossa seleção.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam??? Espero que tenham curtido essa Celeste um pouco mais madura nas decisões, mas não em todas kkk
Eu e Cams amamos muito essa história e se pudéssemos tinha capítulo novo toda semana. Mas infelizmente a vida adulta não deixa.
Beijos e até a próxima,
Tamires ♥



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