One-Shot It`s Too Cold Outside For Angels To Fly escrita por quixoticHeart


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, e por favor, comentem o que acharam. Eu quero muito saber o que as pessoas acharam.



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Uma rajada de vento congelante corta o meu rosto, soprando um floco de neve para o meu nariz. Eu o cubro com a gola do sobretudo. O floco derrete no tecido, mas o casaco falha ao tentar proteger o resto do meu corpo do frio, já que tem um decote que deixa exposto todo o meu colo. As minhas pernas tremem violentamente de frio, e mais uma vez o sobretudo não me ajuda muito. Eu suspiro de frustração e nervosismo. Meu corpo inteiro treme.

Eu olho para o meu lado. A última de minhas colegas de trabalho está entrando num carro. Eu sou a ultima aqui ainda. De novo.

Suspiro.

Eu não aguento mais passar frio. Não aguento mais tremer. Mas o pensamento de que se eu sair daqui, vai ser para entrar no carro de um estranho com os olhos brilhando com tesão não me conforta muito.

Porem, as minhas opções já se esgotaram faz tempo. É isso que eu devo fazer se for preciso para quitar as minhas dívidas. Ainda faltam muitas. De um total de vinte e sete, 18 já foram quitadas graças ao meu “trabalho”, Ainda faltam muitas, e a pior de todas é a do meu irmão. Ah, meu querido irmãozinho... Ele não deve nunca saber o que eu fiz para conseguir o dinheiro.

A grana mal dá para comer. Uma senhora me hospeda com outras meninas, e nos dá roupas. Ela é muito gentil, apesar de cobrar pela hospedagem. A minha casa já foi vendida, junto com o que quer que tivesse lá dentro. O dinheiro que ela me rendeu durou poucos meses. As ruas eram a minha solução”. Engraçado como as piores coisas da vida podem vir de graça para nós.

Eu espio o fim da rua mais uma vez. Meus desejos, oscilando entre “Por favor, que não venha ninguém. Eu não quero mais passar por isso” , e “Por favor, venha logo. Está muito frio e eu quero voltar para casa.” Nenhum dos dois me agrada.

Eu só quero que isso acabe. Quero tirar essa roupa ridicularmente curta. Quero pisar em casa. Quero alguém para me dizer que vai ficar tudo bem. Quero a segurança da minha cama. Não da pensão das prostitutas, mas da minha casa.

Nunca quis tanto sair daqui. Mas eu não posso voltar pra casa sem dinheiro.

É humilhante. Eu não nunca senti vergonha pelo meu busto avantajado, mas agora que sou forçada a expô-lo, desejo como nunca ser pequena como Natalya. Nunca tive vergonha de trabalhar duro para ter meu dinheiro. Mas esse trabalho é do tipo que eu espero nunca ter que passar de novo, por mais que eu saiba que o que eu conseguir esta noite não vai ser o suficiente para voltar pra casa.

– Yaketarina? - eu ouvi alguém me chamar. Virei-me de encontro com a mecha rebelde e cacheada de Mathew.

Mattie era um colega e, ultimamente, bom amigo meu. Era um dos únicos que sabiam do meu trabalho secreto, além de Alfred, quem veio “me ajudar” um dia com o dinheiro e jurou não contar para ninguém, e o idiota do Gilbert. O dia em que Gil descobriu foi um dos piores da minha vida. Ele riu de mim com aquela risada alta e descarada, e eu sabia que nada podia fazer pois quem não iria rir de uma prostituta? Eu podia sentir o veneno em cada lufada de ar que ele expirava, e sabia que eu merecia. Não sei o que faria se Mattie não estivesse lá na hora. Ele pôs Gil de volta nos trilhos, e fez ele prometer nunca contar para ninguém, pondo em risco as gramas que Matthew lhe traficava diariamente. Foi um argumento forte, pois o albino fechou a cara na hora.

– Mat…

– O que faz aqui? - ele perguntou, preocupado. - Katerina, quantas vezes eu tenho que te dizer que você não precisa desta vida? Você é maravilhosa, podia conseguir mais dinheiro de tantas outras formas… Podia até me ajudar se quisesse. - ele disse, me cobrindo com sua própria blusa.- Vamos, está muito frio pra você, meu anjo.

Mattie é o cara mais doce que eu ja conheci. Ele tem me ajudado tanto nesses tempos… Não daquele jeito, é claro. Matt não torce para este time, descobri rapidamente isto.

– Não, Mat. São 3h ainda, só fiz 200 euros. Preciso ficar… - recusei sua blusa.

– Duzentos já é o suficiente para hoje. Pare de se torturar, você vai congelar neste frio. Você deve ser a única que ainda esta na rua a esta hora, vamos para casa. - ele insistiu em por a blusa sobre meus ombros.

– Você não entende! - gritei, empurrando Matthew e sua blusa. - Eu preciso de dinheiro. Preciso pagar meu irmão.

Houve um momento de silêncio entre nós. Cada um medindo suas próprias palavras. Ouvi Matthew suspirando atrás de mim.

– Tudo bem… Mas não se sobrecarregue, por favor.

– Está tudo bem, Mattie.

– Posso ver nos seus olhos o quão exausta você está.
Eu não pude rebater. Nunca soube mentir e esconder a verdade dele nao valia a pena.

Mais suspiros.

– Se precisar, eu trouxe isto pra você. - ele me estendeu um pequeno saquinho contendo algumas gramas da erva. Olhei por alguns segundos para ela.

– Não vou cobrar nada. – ele afirmou, me incentivando a pegar o saquinho.- Vai te fazer sentir melhor.

Eu encarei a maconha. Ela era chamativa. Me fazia esquecer esse pesadelo. Mas ao mesmo tempo era uma saída inútil. Na minha cabeça, tive um flashback da minha infância. Eu, Natalya e Ivan estávamos prometendo aos nosso pais nunca usar drogas. Como se isso fosse uma questão de escolha agora. Eu precisava daquela erva. Eu não suportaria essa vida se não tivesse minha dose diária de recompensa.

Estendi timidamente a mão e peguei o saquinho.

– Obrigada.

Matthew me puxou para um abraço, acariciando meu cabelo. Senti-o beijar o topo da minha cabeça e sussurrar no meu ouvido “não fique até muito tarde”.

– Só mais um, e eu prometo que vou pra casa. - disse, sem saber se aquilo na minha voz era uma mentira ou uma esperança.

– Até mais, então. - ele se despediu, acenando com uma mão enquanto se afastava, pondo as mãos no bolso do moletom vermelho para se aquecer.

Retornei a olhar para a estrada. De longe, podia notar uma fraca luz no meio da neblina. Um carro. Finalmente.

Retirei meu sobretudo e observei o carro preto e elegante se aproximar devagar. Era um carro bonito, e parecia ser caro. Talvez, o cara fosse rico. Talvez, eu possa cobrar um pouco mais que a média, e encerrar. Talvez, eu não tenha que fazer da minha promessa uma mentira. Me aproximei com certa animação do carro.
– Oi amor, procurando alguma coisa? - comecei, me apoiando sugestivamente na janela de vidro fume ainda fechada.

Devagar, a janela baixou até os primeiros traços dos cabelos pálidos e familiares serem reconhecíveis. Senti meu coração parar. Ah não. Não, não, não, não, não, não. Meu irmão não!

– I-I-Ivan… - tropecei para trás.

Meu corpo inteiro estava congelado e eu estava inconsciente dos meus atos ou do ambiente a minha volta. Estava inerte. Sem movimentos. Minha cabeça só processava um pensamento, e este era “Por favor, não me odeie. Mas era tarde demais.

Apesar de minha visão estar turva e incoerente por causa do pavor, eu podia ver claramente os olhos violetas do meu irmãozinho demonstrando uma surpresa e uma decepção enorme. Eu não podia lidar com aquilo. Senti as primeiras lagrimas brotarem dos meus olhos.

Eu não ouvia nada, sentia nada. O frio de repente não era nada se comparado a frieza dos olhos do meu irmão em mim. Olhos estes que eram meu único ponto de foco, e começaram a se aproximar e se tornarem mais nítidos. Foi quando eu senti um par de braços fortes envolvendo meus ombros.

– Katerina, por Deus, saia deste frio. Que roupas são essas? Meu Deus, sestra…

– I-I-Ivan, não… o quê você está...-

– Por isso não tenho tido notícias de você? É aqui que esteve? Deus, Katerina, está congelando! - ele disse me empurrando para dentro do carro.

O ambiente la dentro estava ameno, numa temperatura que chegava a arder na minha pele fria. Mas o que realmente queimou foi minhas lágrimas quando rolaram por minhas bochechas. Eu estava chorando. Deus, sou tão boba e estúpida.

– Me perdoe! - solucei, as lagrimas rolando sem parar. - Me desculpe, irmão, mas eu…

– Não, não, não peça desculpas! Eu não sabia que você estava tão mal assim.

– Não esta decepcionado comigo? – solucei, enxugando minhas bochechas, -Com nojo do que me tornei?

– Estou com nojo de mim! Estive tão ocupado com meus próprios afazeres que esqueci da minha própria irmã! Que tipo de irmão sou eu pra deixá-la passar por isso? Não se preocupe, Kathyushka. Eu vou cuidar de você. Nunca mais terá de voltar nesta rua. Eu prometo.

Ivan me abraçou mais uma vez, aproximando minha cabeça de seu peito e apoiando seu queixo nela de forma protetora.

– Eu prometo. – ele repetiu, mais calmo, afagando meus cabelos.

Eu apertei minhas mãos a sua volta, finalmente me sentindo em casa em meses. Seu abraço era familiar e protetor. Eu chorava, mas agora estava aliviada. Confiava que meu grande irmãozinho poderia me ajudar, e eu finalmente tinha a esperança de poder voltar pra casa e viver normalmente.

Ivan apertou meus ombros e eu apertei mais meu abraço a sua cintura. Ficamos assim, abraçados no escuro e no silencio do carro por tanto tempo que acabei pegando no sono em seu colo.

Eu não estava mais preocupada. O frio não podia mais me atingir.


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Notas finais do capítulo

Tan dan! hahahah. Espero que não tenha partido muito o seu coração (por favor não me matem.)
Tai, minha primeira one-shot que ainda por cima é uma sadfic.
Só deixando claro pra finalizar, não, o Ivan não estava procurando uma garota de programa quando ele encontrou a Kat. Ele estava só passando por perto e por uma feliz casualidade do destino, reconheceu a irmã. Eu já assutei algum leitores com esse desentendimento, então não se preocupem, o nosso Ivanito ainda é puro de coração, ok? Tá bom, talvez não seja até eu postar a minha próxima one-shot, protagonizando ele e uma de suas adoráveis irmãs *wink*
Obrigada por ler! Eu adoraria ter seu comentário, suas críticas, sua lágrimas, então por favor, deixe um reviewzinho aqui em baixo pra mim? E fiquem ligados que em breve teremos mais da nossa família soviética preferida :)