Entre dois Mundos escrita por Pedro H Zaia


Capítulo 16
Resgate - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Apenas leiam.
Mais uma vez, espero que estejam gostando :D



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Soluço estava sem camiseta, e evitava tocar as costas no chão; fora isso, parecia ótimo.

Astrid não conseguiu se conter.

– Soluço... - Sussurrou ela, com um misto de preocupação e alegria. - Soluço! - Repetiu um pouco mais alto, saindo das sombras por notar a ausência de guardas.

– Astrid? - Falou Soluço, como se não acreditasse que ela realmente estava ali - Dimi? E... Quem é essa?

– Esta é Merida, Soluço. - Expliquei, me apressando em livrar seus pulsos, que já começavam a se machucar com as correntes. Merida se prontificou para montar guarda, deixando seu arco preparado para qualquer um que aparecesse por ali.

– Está tudo bem? Te machucaram? - Perguntou Astrid, tentando ajudar Soluço a se sentar enquanto eu terminava de soltar as correntes. Quando ela tocou em suas costas, ele arfou de dor.

– Eles te queimaram... - Notei, examinando suas costas. Haviam duas queimaduras descendo na vertical, dos ombros à altura da lombar. - Como as asas de um dragão...– Sussurrei. Os malditos o haviam queimado suas costas como se tivessem queimado por completo um par de asas. As asas do dragão que eu vira em meu sonho.

– Acha que consegue aguentar a dor enquanto eu te levo?

Ele assentiu, deixando que nós o levantássemos. Carregá-lo seria o único jeito de sairmos dali depressa, com Soluço sem a prótese da perna. Seus olhos verdes lacrimejaram, mas ele aguentou bem quando Astrid passou um braço pelos ombros queimados dele.

Eu me adiantei, tirando o arco do ombro enquanto entrava novamente pelo túnel de pedra. Era quase um milagre termos chegado tão longe sem alarde algum.

Mas ainda era cedo demais para comemorar; Assim que saímos da caverna por onde havíamos entrado, um guarda se virou para nós com uma besta em mãos. Sem perder tempo, armei uma flecha, mirando em seu coração.

– Intrusos! - Gritou ele, mas não houve resposta imediata. è claro que, agora, tínhamos poucos segundos para sair dali.

– Acabei de poupar a vida do seu amigo, por favor, não me force a atirar em você. Abaixe isso. - Eu disse, puxando um pouco mais a corda do arco.

– Há! O invasor covarde que não conseguiu matar o Brokk aqui, é? -Perguntou ele, um sorriso revelando seus dentes tortos e amarelados debaixo da barba. - O que foi? Não gostou da sensação de ter matado aquele homem no navio? Ah, sim, por que eu vi... - Disse ele, ao notar minha surpresa. - Ah, tão lindo... O primeiro assassinato de alguém.

Eu queria gritar, dizer a ele que eu não era um assassino, que eu era diferente dele. Onde estava a compaixão dele com o colega que havia morrido pelas minhas mãos, no barco? Ele sequer demonstrara um mínimo de tristeza! Ele era um psicopata. Por isso estava ali. Havia sido expulso de seu vilarejo natal por conta de sua loucura.

Mas não era um tolo. O que ele estava fazendo era ganhar tempo, e eu havia dado exatamente o que ele queria; havia hesitado em lançar a maldita flecha. E agora, nosso tempo havia se esvaído.

– Que coisa mais adorável... - Disse Alvin, aplaudindo lentamente. Ele vinha do túnel, numa calma que não era condizente com a flecha que Merida tinha apontado para ele. - O primo trouxe sua namoradinha e a princesinha do reino pra te salvar, hein, Soluço?

Merida lançou um olhar mortífero para ele, mas não passou disso. Havia mais dois guardas com bestas apontadas para ela; estávamos nas mãos do maldito.

– Entreguem-se, e não mandarei meus homens para afundar aqueles navios de resgate.

Estreitei os olhos. Navios de resgate. Ele não sabia sobre os dragões. Nem que havia apenas um barco pequeno, nos esperando a uma distância segura. No mínimo, presumira que eu não tinha um, ou ainda não havia aprendido a pilotar, e que era loucura três pessoas, uma das quais ferida e com uma perna amputada, voarem num dragão só. Um barulho além dos passos ruidosos de Alvin e dos guardas no túnel de pedra chamou minha atenção. Um assovio. Começou com algo fraco, mas foi ficando cada vez mais alto e mais agudo... Como se estivesse se aproximando.

O guarda que havia nos segurada ali entendeu uma fração de segundo antes de mim.

– Fúria da Noite! - Berrou, se abaixando no momento em que um vulto passou por ele a toda a velocidade, acertando uma bola de fogo dentro do túnel. O vento das poderosas asas de Sombra quase me lançou para longe quando o dragão pousou, ao meu lado.

– Atirem! Não os deixem escapar! - Ouvi Alvin berrar, mas os guardas erraram os tiros. O motivo? Farpas do tamanho de uma espada passaram a centímetros de seus corpos, fazendo-os perder a mira no último segundo; Tempestade se juntara à fuga.

O terceiro guarda, que estava fora da caverna, ainda tentou nos acertar, mas Merida foi mais rápida; antes que ele pudesse mirar, uma flecha apareceu cravada em sua mão, atravessando o braço. Ele gritou de dor, e amaldiçoou Merida com xingamentos que eu nem sabia da existência quando ela acertou outra flecha, em sua coxa.

Ao mesmo tempo, ajudei Astrid a subir Soluço em Sombra, logo antes de eu mesmo subir no dragão.

– Merida, vamos! - Chamou ela, subindo em Tempestade e ajudando a outra garota a subir. Atrás de mim, senti Soluço se segurar com força na cela, enquanto os dragões saíam dali. Uma flecha passou perto demais de nós, e ouvi Soluço gemer.

– Tudo bem? - Gritei, mais alto que o vento, enquanto tomávamos uma distância segura da ilha.

– Só um arranhão. - Respondeu ele, mas fiquei desconfiado. Daria uma boa olhada assim que pousássemos no barco. Acabou não demorando muito; apesar da bruma, para os dragões foi fácil encontrar. Ainda mais com Banguela ali, esperando ansiosamente a chegada de Soluço.

– Filho! - Stoico gritou, ao nos ver chegar.

– Pai... - Soluço respondeu, deixando que Stoico o tirasse da sela de Sombra com a mesma facilidade que tiraria um filhote de cachorro. Stoico abraçou o filho, não conseguindo conter a emoção, mas soltou-o ao ouvir Soluço reclamar.

– Minhas costas...

– Desculpe - Disse ele, ainda ajudando o filho a ficar de pé. - Pensei que te perderia. De novo...

Foi a vez de Soluço se desculpar.

– Sabe, geralmente a culpa é mais das circunstâncias do que minha... - Disse ele, encabulado, e Stoico respondeu com um sorriso e um murmúrio.

– É claro que são...

Banguela fez um barulho de inquietação, e Soluço se aproximou dele com ajuda do pai.

– Oh, amigo... - Disse ele, se deixando apoiar na cabeça do dragão. - Desculpe por te preocupar. - Ele respirou fundo, e, com uma careta de dor, tateou as queimaduras nas costas.

– Deixe eu olhar melhor isso aí... - Eu disse, virando-o de costas. As queimaduras pareciam ter sido feitas com ferro em brasa; muito parecidas com as de ferreiros que minha mãe cuidava, de vez em quando. Fora isso, ele estava ótimo... - Por que fizeram isso com você? - Perguntei, pensando no que eu poderia usar para aliviar sua dor. Geralmente, eu usaria uma mistura de ervas especial de minha mãe para queimaduras.

– Eles pediram para que eu os ensinasse a treinar dragões. Eu disse que bastava eles deixarem de ser os animais que eram, que os dragões iam ser mais cooperativos... Foi uma burrice, eu estava muito nervoso na hora. Aí eles me fizeram isso.

– E assim, - eu disse, coletando um pouco da saliva de Banguela com as mãos. - Eles provaram que, realmente, agem pior que os animais.

– Huh... Dmitrei... - Astrid chamou. - O que exatamente você pretende fazer com essa baba de dragão?

– Ãn, oi? Ah, sim. Qualquer saliva tem uma propriedade anestésica bem forte. Acho que a de dragão deve ser especialmente boa para queimaduras...

– Ah, você acha? - Perguntou Soluço, receoso.

– Acho. - Respondi, simplesmente, enquanto espalhava a saliva nas queimaduras. Soluço arqueou as costas e arfou, mas logo voltou a respirar normalmente.

– Nossa. É bom mesmo. - Ele disse, tocando a ponta da queimadura. - Só um pouco gosmento.

– Criativo. - Comentou Merida. - Sua mãe te ensinou muito bem, mesmo.

Eu sorri com o elogio. Realmente, minha mãe era uma excelente curandeira...

Minha mãe. Durante minha vida toda, soube que não era filho "legítimo" dela. Ela não podia ter filhos... Mesmo sendo a melhor curandeira que aquela parte do mundo conhecia, nunca fora capaz de curar a própria doença, o que quer que fosse que a impedia de gerar uma criança.

Eu quase podia ouvi-la dizendo sobre como eu chegara em casa... "E então, numa noite como outra qualquer, seu pai chegou, com você... Um bebezinho lindo, com pouco mais de um ano, apesar de ser um pouco menor que o normal, para a idade. Você foi como um presente enviado pelos deuses..."

Mesmo assim, eu teimara em querer procurar minha mãe - minha outra mãe. Ou pelo menos alguém como eu, pois me sentia, de certo modo, diferente, incompleto...

Agora, havia achado de onde viera; de fato, eu era diferente. Era um viking. Mas, será que o simples fato de ter sangue deles correndo em minhas veias me fazia parte do que eles eram?

E então, só quando conheci, quando realmente conheci Soluço, eu soube: eu poderia ser o que quisesse. Aquele vazio não habitava mais em mim... Agora, eu só tinha uma decisão a tomar:

Ficaria em Berk ou voltaria para casa?

Bom, acho que com este simples pensamento, ficou claro para onde eu iria a seguir...

– Dimi? Tudo bem com você? - Perguntou Soluço.

– Hum? Ah, estava só... Pensando. - Respondi.

E, sim... Minha sensação era de que, finalmente, tudo estava bem.


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Notas finais do capítulo

Ói, que boitinho, um final feliz :')
Eu queria fazer o Soluço sofrer mais? Bom, querer não é a palavra certa, mas, sim, tem uma cena dessas bem mais dramática em minha cabeça... Talvez eu poste ela como outra fic, one shot, só pra descrever isso >:) (mas só se alguém quiser mto, tbm kkk)
Ainda vai ter o epílogo. Coisa curta, pra servir de "especial de fim de ano" kkkk
Espero mesmo que tenham gostado! Até mais, pessoinhas, saibam q todos q leram, mesmo quem não comentou ou só viu isso tempos depois da fic ter terminado são muito importantes pra mim :D
Obrigado!