Entre dois Mundos escrita por Pedro H Zaia


Capítulo 14
Pedido de ajuda


Notas iniciais do capítulo

Oi minha gente, tudo bem com vcs?
Então hoje, dia 24/12 é nosso aniversário! Êeeeee!!!
"Nosso, como assim nosso?", vocês perguntam, e eu gentilmente explico:
Meu e do Dimi, moçada! Sim, eu achei que seria massa dizer que os pais do Dimi acharam ele num barco no mesmo dia que eu nasci. Me julguem :P
Quanto ao nome do capítulo, nunca consigo criar algo legal mesmo.
E esse é o penúltimo capitulo, aproveitem! (ou pode não ser, pq posso bem fazer um epílogo :P )
O próximo vem antes do Ano Novo. O epílogo, não sei, mas até dia 5, se sair.
Enfim, espero que gostem. Esse tá um pouquinho mais longo que o de costume :D
Ah, e desculpem pelo horário. Nas férias, viro um bicho de hábitos noturnos :v



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Merida não tentou falar comigo durante o voo. Sabia o quão mal eu estava... Não conseguia parar de pensar em o quão fácil fora matar alguém. Muito mais fácil que manter alguém vivo, certamente. Quase podia ouvir a voz de minha mãe explicando as questões da ética de um curandeiro, quando eu era pequeno demais para ajudar de alguma forma - lutar pela vida, não desistir de tentar salvar alguém, por mais difícil que fosse... E ali estava eu, um, um... Assassino. Pensando bem, eu nunca pensara que realmente fosse usar alguma coisa que tinha aprendido brincando de luta ou me defendendo das brincadeiras de mau gosto dos garotos da vila.

Um trovão ribombou ao longe, e senti as primeiras gostas de chuva molhando-me o rosto. Uma chuva fria, pesada, assim como Soluço havia descrito. Suspirei ao pensar em meu primo... Não fazia ideia de como faríamos para resgatá-lo, e, naquele momento, estava mentalmente exausto demais para pensar naquilo.

As tochas de Berk agora brilhavam muito próximas de nós, e os dragões começaram sua descida; Banguela com alguma dificuldade, devido à minha inabilidade com o pedal que controlava a metade mecânica de sua cauda.

Só notei a apreensão nos olhos de Merida depois de pousarmos, no meio da vila; vazio, provavelmente por causa da chuva. Pensei em perguntar qual o problema, mas a resposta veio à minha cabeça antes que eu o fizesse...

Sim, ela havia dito que confiava em meu julgamento sobre os vikings; mas estar ali, numa vila cheia deles, depois de ver sua cidade invadida, e depois de quase ser morta por vários daqueles que, querendo ou não, faziam parte do mesmo povo que as pessoas da ilha... Devia ser no mínimo complicado.

– Eles são diferentes... - Garanti - Não vão lhe fazer mal. Não atacariam um visitante... - Como um flash, as imagens da minha desastrosa chegada à Berk passaram pela minha cabeça. Claro que eu havia atacado primeiro. Mesmo assim, pensei que não seria bom Merida saber, por enquanto.

Andamos até o grande salão, que deixava o murmurinho das conversas lá dentro escapar por suas grandes portas entreabertas... Por cima das outras vozes, escutei a voz de Stoico, preocupada.

–... Eu sei, Bocão... Não deveria mais me preocupar tanto com Soluço, ele sabe se virar. Mas ainda assim...

Puxei a pesada porta de madeira, e, com um rangido demasiadamente dramático, ela se abriu, e todos os olhos se voltaram para mim, Merida e os dragões. Bocão disse algo, certamente me confundindo mais uma vez com Soluço, mas Stoico não respondeu. Ele jamais nos confundiria. Parecendo um pouco atônito, ele veio até mim.

– Dmitrei, meu jovem... E senhorita?...

– Merida Dumbroch. Você deve ser Stoico, o Imenso, certo?

Ele assentiu rapidamente antes de continuar; afinal, ele tinha aflições maiores, no momento.

– Onde você estava? E Soluço? - Sua voz era calma, mas pude ver a inquietação em seus olhos, que passaram rapidamente por Banguela, que fora se deitar num canto mais afastado do salão, parecendo abatido. Suspirei, mas antes de começar a explicar, lembrei de uma coisa. Será que Soluço tinha visto a carta de que eu iria para Dumbroch? Provavelmente. Mas certamente não me seguira desde tão cedo, nem comentara com mais ninguém.

– Hoje de manhã, - Comecei - antes de o sol nascer, decidi voltar um pouquinho para minha casa, avisar que estava tudo bem... Deixei um bilhete para Soluço, avisando que não me seguisse... - Parei, pensando melhor em como falar da rixa de Dumbroch com os vikings. Vendo que eu estava tendo certa dificuldade, Merida prosseguiu.

– O nosso povo não é muito aberto. Temos um preconceito com vikings, devido a uns problemas que tivemos com os Exilados.

– Isso, - Continuei - aí não queria que ele fosse para lá...

Stoico suspirou, massageando as têmporas.

– E, pelo jeito, a curiosidade de Soluço levou a melhor. Ele sumiu perto do fim da tarde.

Assenti, absorvendo aquela informação... Significava que Soluço havia sido apanhado perto da hora em que a frota de Alvim fora avistada, já muito perto de Dumbroch.

– Então... No começo da noite, Alvin tentou invadir Dumbroch, mas sem sucesso. Bom, o importante nisso é que... - A imagem de Soluço caindo com um talho na lateral da cabeça passou rapidamente por meus olhos, e senti meus joelhos fraquejarem.

– Eles o pegaram. Conseguimos resgatar Banguela, mas não ele... Não Soluço... - Falou Merida, a tristeza audível em sua voz.

– Não pode ser... - Falou uma voz próxima. Astrid ouvira tudo - Ah, aquele idiota, como se deixou ser pego?! - Ela falou, com uma mistura de ódio e preocupação.

O semblante de Stoico passou do pálido ao mais absoluto vermelho de raiva em segundos

– Aqueles malditos! Mandarei que preparem os barcos, invadiremos a ilha deles ao amanhecer... Se acham que vão sair dessa ilesos, estão muito enganados!

– Não! - Interrompi, pois vi nos olhos de Stoico que, se ele começasse nada mais o impediria. Ele faria tudo pelo filho, mesmo que fosse uma imensa tolice; como, por exemplo, invadir a Ilha dos Exilados sem o mínimo de cuidado. Certamente muitas pessoas sairiam machucadas, e era um risco a mais para a vida de Soluço.

– Ah, e você quer que eu fique parado, esperando que Alvin liberte meu filho?

– É! Quer dizer, não! - Eu disse, sacudindo a cabeça. Àquela altura, todos já deviam saber o que estava acontecendo. Pelo menos, não seria preciso explicar novamente... - Só que violência não é a resposta... Nunca é. - Naquele momento, a culpa que eu sentia por ter matado o homem voltou com toda a força... Não consegui reprimir a expressão de culpa.

– Você e Soluço não fazem ideia de o quanto são irritantemente parecidos... - Comentou Stoico, cansado.

– Mas você sabe que eles têm razão, não é? - Perguntou Astrid - E, além do mais, um confronto direto colocaria Soluço em perigo maior. Se o pegaram, é por que querem alguma coisa. Eles não vão fazer muito mal a ele enquanto tivermos algo que eles queiram. Podemos usar isso como vantagem pra resgatar Soluço sem muito alarde. - Ela falava com uma clama excepcional para quem parecera tão aflita há alguns segundos... Mas nos olhos dela eu ainda podia ver a preocupação, como uma chama cuidadosamente controlada, mas pronta para explodir a qualquer momento. Ela sacudiu a cabeça.

– Vamos dormir. É tarde... Amanhã pensamos melhor.

Era verdade. Poucas pessoas sobravam no salão, não havia mesmo muito motivo para festas; ainda mais agora, com o filho do líder sequestrado... Assenti com a cabeça, pensando em uma coisa.

– Stoico, Merida pode dormir no quarto de Soluço? Não me importo de dormir na sala... - Perguntei, e ele assentiu com a cabeça. Foi quando Melequento e os gêmeos apareceram, seguidos de Perna de Peixe, bocejando em cima do dragão.

– Ou pode dormir na minha casa, belezinha. - Melequento disse, recebendo, em seguida, o chute de uma Merida completamente desaforada.

– Gostei dela... - Comentou Astrid, com um sorriso cansado.

– Quem esse paspalho pensa que é pra tratar alguém desse jeito? - Perguntou Merida. Os gêmeos riam de Melequento, se contorcendo de dor no chão. Perna de Peixe não pareceu se importar, se apressando em pedir desculpas para Merida. Nenhum deles sabia sobre Soluço ainda.

– Por favor, perdoe nosso amigo. Ele é sempre idiota assim...

– Ouvi isso... - Gemeu Melequento, com a voz fina, tentando se levantar.

– Você deve ser a princesa Merida, não? Dmitrei nos falou muito sobre você.

Merida levantou uma sobrancelha e me lançou um olhar significativo. Senti meu rosto corar, e então me repreendi por isto; não era hora nem lugar para aquilo...

– Mas então, estávamos procurando você e Soluço. Pelo jeito, eu estava certo em presumir que ele sabia pra onde você tinha ido. Agora, cadê ele? - Perguntou Perna de Peixe.

Silêncio.

– Huh... Pensei que ele estava aqui, sabe, por causa do banguela, sabe?... Aconteceu alguma coisa?

Foi Merida quem respondeu

– Ele foi apanhado pelos Exilados. Eu e Dimi não conseguimos trazê-lo de volta...

O garoto ficou um tanto atordoado com a informação.

– Mas, o que vamos fazer?

– Invadir lá e quebrar tudo, dã. - Respondeu Cabeça Quente, e o irmão concordou.

– Decidimos planejar pela manhã - Declarou Stoico, abatido - Uma invasão massiva poderia trazer risco à vida de Soluço, e estamos todos muito cansados agora para arquitetar um plano. Devemos descansar, por ora.

Seu tom foi decisivo, e todos se encaminharam para suas respectivas casas, em silêncio - até mesmo Melequento respeitou.

– Merida?... - Chamou Astrid - Acho que posso emprestar algumas roupas, pra passar a noite.

Ela assentiu com a cabeça, ficando para trás de mim e Stoico, enquanto esperava a outra garota pegar algumas mudas de roupa. Entrando na casa logo depois de Stoico, pensei ouvir Merida dizer alguma coisa, mas não identifiquei ao certo o que. Esperei ela entrar para levá-la ao quarto. Banguela havia ficado no grande salão, e Sombra o fez companhia... O quarto era bem menos apertado sem dois dragões dentro.

– Então, boa noite, Merida... - Eu disse, com alguns cobertores e um travesseiro nos braços.

– Durma bem, Dimi. Até amanhã - Ela disse, me dando um beijo no rosto. Aquilo sim era raro; normalmente, sua maneira de demonstrar afeto não passava muito de um soquinho no ombro - a não ser em datas como aniversário ou o Renascer do Ano. Me senti anormalmente leve com aquilo, quase deixando de sentir o peso do assassinato em meus ombros... Como se eu ainda pudesse ser perdoado por meus atos.

Infelizmente, minha alma carregaria o fardo da interrupção de uma vida humana pelo resto de minha ida, ou até para frente... Sacudi a cabeça, arrumando algo mais confortável no chão de madeira com as cobertas que havia pegado. Resolvi ficar perto da lareira, ainda um pouco quente, apesar de não ter sido alimentada há algumas horas.

Me deitei, e, antes que me desse conta, adormeci, ainda pensando em tudo que acontecera naquele dia.

••

Merida estava à minha frente, mas algo estava errado... Ela choraa, pedindo por ajuda, enquanto um homem, um brutamontes, com sorriso sádico, segurava uma adaga em seu pescoço.

Minha adaga.

E suja de sangue...

O sangue do homem, notei, ao ver o sangue escorrendo pela lateral do corpo dele.

Era o homem que eu havia matado.

Senti minhas mãos tremendo, e quando olhei para elas, vi que estavam sujas, encharcadas com o sangue do homem, cujo corpo agora jazia aos meus pés.

Senti um desespero tomando conta de mim.

Olhei para Merida, mas ela havia sumido. Agora, quem estava lá era minha mãe, me olhando...

Me olhando com uma expressão que eu nunca achei que veria no rosto bondoso dela.

Desprezo.

– Mãe, eu não queria...

– Quebrou o juramento. O juramento mais importante de todo curandeiro... - Não havia pena ou tristeza em sua voz. Apenas ódio. - Matou.Um assassino nojento. É isso que se tornou. Um assassino.

– Mãe... - Eu disse, não conseguindo conter as lágrimas - Mãe, por favor...

– ASSASSINO!!! - Berrou ela, e o mundo se dissolveu à minha volta.

E então eu estava voando... Contornando as nuvens, solitário. Mas então, mais e mais dragões foram chegando perto, como se vissem que, de repente, não fosse tão ruim voar comigo.

O único dragão negro.

Antes, o excluído. Agora, o líder de algo maior.

Foi então que mais um dragão negro surgiu, voando ao meu lado. Negro não, notei. Azul. Mas de um tom tão escuro que quase parecia preto.

De início, fiquei receoso. Mas então, entendi. Ele também era, de sua forma, diferente dos outros. O único que não conhecia o lugar de onde viera...

Me afeiçoei a ele. Éramos como irmãos, inseparáveis... Mas então, ele sumiu. Eu sabia que não podia segui-lo, mas ainda assim o fiz. Me separei dos outros, partindo para o desconhecido.

E então, senti uma dor aguda em minhas asas; estavam em chamas!

Agora, eu olhava de longe, um animal muito belo, um dragão completamente negro... Um Fúria da Noite. Mas suas asas estavam em chamas. Ele tentava desesperadamente levantar voo, mas não conseguia. O dragão abriu a boca, mas o que saiu não foi um rugido; foi um grito, um grito angustiado, tão real e tão próximo que gritei também, e, de repente, me vi acordado no chão da casa com Stoico sacudindo meus ombros e Merida me olhando preocupada da escada.

Eu estava suado, sentia minha boca seca e meu corpo inteiro tremia... E eu tinha dúvidas se um coração podia bater tão rápido sem entrar em colapso.

– O que aconteceu, jovem? - Perguntou Stoico, parecendo aflito.

– Tinha... Um dragão. Um fúria da noite, mas estava em chamas... - Eu disse, sem conseguir pensar direito em ter uma respiração ofegante e outra - E o grito, céus o grito... - Eu estava angustiado demais para formular pensamentos concretos ou frases que fizessem sentido.

– Sim, eu ouvi... Mas pode ficar calmo... Está tudo bem... - Disse Stoico, me abraçando. Realmente, ele podia ser um pai; ou um tio, no meu caso; muito cuidadoso quando queria. Deixei que a respiração lenta dele me acalmasse, e, aos poucos, voltei a mim. - Agora, me diga. - disse ele, se afastando - por que ficou assim? Qual o motivo do grito?

Eu ainda estava em dúvida antes de colocar em palavras, mas assim que falei, soube que era verdade.

– Soluço. Precisamos resgatá-lo imediatamente.

A voz que eu ouvira gritar pertencia ele. Era voz de Soluço.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :D
E eu gostaria de usar esse espacinho aqui em baixo pra desejar um feliz natal a todos que estiverem lendo :D E, gente, tentem não perder a criança interior de vocês. O mundo anda tão carente disso! As pessoas andam imaginando de menos e raciocinando demais... Bom, não vou me estender nisso. Desejo muita paz e alegria no coração de vocês.
Mais uma vez, feliz natal.
Se quiserem, escutem isso:
https://www.youtube.com/watch?v=DvlTuBnpKpc
Recomendo muito :D