Um segundo se passou e imaginei se ela achara o meu recado. Foi uma ideia estúpida mandar um bilhete para marcar um encontro. Por outro lado era mais constrangedor faze-lo pessoalmente se o único lugar onde eu as via era no salão durante as refeições, com todos aqueles olhos observando cada passo meu. Eu não consegui. Só podia esperar que ela não me achasse um imbecil.

Uma criada abriu a porta timidamente. E quando me notou seus olhos esbugalharam e ela fez uma referência desengonçada. Era engraçado como as criadas me conheciam desde que nasci e ainda assim tinham esse tipo de reação sempre que me viam.

– Majestade – falou alisando o uniforme.

– Senhora – respondi sorrindo.

– A senhorita Kriss estava aguardando – ela informou sorrindo timidamente. Eu ouvira dizer que os criados estavam apostando sobre a futura princesa e obviamente as criadas torciam por suas próprias candidatas. A criada abriu a porta lentamente para que eu pudesse ver Kriss sorrindo timidamente para mim.

– Majestade – ela disse e fez uma reverência graciosa.

– Senhorita – sorri para ela. Ela era realmente bonita. – Pronta? – ofereci meu braço ainda sorrindo.

Kriss sorriu e passou o braço em volta do meu e pude notar que tremia um pouco quando o fez. Que adorável. Começamos a caminhar e ela manteve a cabeça meio baixa, obviamente era tímida.

– Então, querida – ela ergueu os olhos para mim ao ouvir a palavra ‘querida’. Quis rir, ao lembrar que América era a única que se negara a ser chamada assim. – Como tem sido a estadia?

– Adorável Majestade. Não consigo imaginar como poderia ser melhor. – seus olhos castanhos mostravam que ela estava realmente encantada com o tempo que passara no castelo.

– Fico feliz que se sinta confortável. Então, Kriss Amber – disse seu nome devagar tentando lembrar o que vira em sua ficha. – A qual casta pertence?

– Sou uma três – ela disse meio constrangida. E então percebi que ela interpretou mal minha pergunta, como se eu fosse compara-las pelas castas. Oh Céus como eu era péssimo.

– Perguntei a fim de descobrir o que fazia antes de vir para cá, querida.

– Eu passei grande parte da vida até agora lendo e estudando para me tornar professora um dia – ela sorriu levemente. Concordei com a cabeça como se o fato fosse novidade.

– Então creio que te trouxe ao lugar certo – falei abrindo a porta para nossa frente. Que nos deixava na biblioteca.

Como as garotas não tinham permissão de passear pelo castelo imaginei que ela não o teria visto ainda e que seria um bom lugar para começar. Pude ver quando Kriss entrou que eu tinha acertado. Sim! Finalmente. E então me sentia mais confiante. Não seria muito difícil conhece-las. Talvez fosse difícil escolher quais eu me sentiria mais confortável, ou quais tinham um real interesse apenas em mim. Sim, sem dúvidas essa parte seria a mais difícil de descobrir: quem estava sendo verdadeira. Mas eu estava confiante, podia fazer isso.

O resto do encontro se desenrolou bem. Conversamos sobre coisas diferentes, mas na maior parte foram sobre os livros que lemos em comum e sobre como estava sendo para ela ficar no castelo.

Um pouco depois de uma hora não havia mais o que se conversar. Quando o silencio ficou irritante.

– Hã, bem – limpei a garganta – Infelizmente tenho de voltar as minhas atividades. Posso acompanha-la ao quarto.

Ela sorriu e estendi o braço. Andamos em silencio até a porta de seu quarto. Meu pensamento vagando em direção ao meu próximo encontro.

–Bom, obrigada pelo encontro. – ela disse sorrindo.

– Ora, eu que agradeço por me emprestar seu tempo, querida.

Meus olhos se prenderam nos grandes olhos castanhos de Kriss e estava tentando desesperadamente sentir por ela uma pontinha do que senti por América. Nada. Meu coração não batia mais forte, minha respiração era tranquila e eu podia pensar em várias coisas além dela. Não era que Kriss não fosse bonita ou uma verdadeira dama, mas eu não tinha algum tipo de carinho a mais além da afeição que tinha por todas as garotas que se dispuseram a vir me conhecer. Pensar que eu gostava da única que não me queria parecia tão clichê, como uma criança que escolhe o brinquedo que pertence a outra pessoa. Mas não era por ela pertencer a ninguém que eu gostava dela... Era apenas por ela ser... ela.

Então Kriss fez uma reverência e entrou em seu quarto enquanto eu tomava o caminho das escadas para meu segundo encontro.