— Rukia —

Sentia o agradável sol da tarde penetrar em minha pele pálida, aquecendo-me. A brisa fresca somada ao som do cantar dos pássaros completavam a calmaria ambiente.

O livro repousava em meu colo já algum tempo. Não conseguia me concentrar na leitura que fazia diariamente.

Uma inquietação crescia em meu interior desde a noite passada. Diversas questões sem respostas povoavam minha mente, mas entre todo esse emaranhado de sentimentos e duvidas que me confundiam, só havia um nome, ou melhor dizendo, uma pessoa que predominava em meio a tudo. Ele, Byakuya-sama meu "marido".

Não conseguia compreender como um simples toque de mãos poderia me deixar tão confusa. Como um simples gesto poderia fazer-me arrepiar. Seria isso algum resquício de paixão? Ou seriam somente hormônios fazendo seu trabalho de bagunçar a mente de jovens mulheres como eu?

Aquelas reações desconhecidas me fazia temer. Um sentimento que não sabia descifrar dominava-me.

— Yo Rukia. — disse Ichigo de repente fazendo-me arrepiar devido ao grande susto que havia levado.

— Seu... Seu grande idiota. — Grite surpreendendo-o. — Não chegue assim sorrateiramente. Por acaso quer me matar de susto?! — Indaguei respirando profundamente para recuperar a calma.

— Não. Matar de susto não. — Sussurrou deixando algumas ferramentas sujas no chão. — Em todo caso, desculpe-me. — Disse mechando os braços. Parecia querer alongá-los.

— Tudo bem. — Respondi ignorando suas primeiras palavras. — Parece que já terminou suas tarefas de hoje. — Constatei olhando as ferramentas sujas no chão.

— É. Já acabei sim. — Respondeu passando as mãos pelos bonitos fios alaranjados.

— Você é bem eficiente. Ukitake-san tinha razão... — Disse levantando-me da confortável espreguiçadeira, um dos meus lugares favoritos para leitura. O sol já estava para se pôr. — Querer beber algo? — Perguntei vendo o quão suado ele estava.

— Ah... Eu... Bom, não sei se devo. — Respondeu sem jeito ainda esfregando a mão pelos cabelos.

— Se eu estou te convidando é porque não há problema algum. Seu tolo. — Declarei vendo-o acenar concordando.

Andamos em silencio até cozinha. Ele parceia meio acanhado. Normalmente não seria tão sociável com homem nenhum, mas ele tinha algo que me fazia sentir a vontade em sua presença, fazia me sentir bem.

É claro que a primeira coisa que eu havia notado era sua grande semelhança com Kaien-dono. Até mesmo a personalidade era parecida e isso me alegrou, pois sabia que enquanto ele estivesse aqui meus dias não seriam mais tediosos.

Adentramos a grande cozinha aonde havia vários empregados fazendo suas devidas tarefas. Cumprimentei todos, sempre ia ali tomar chá depois de uma tarde inteira de leitura. Já era rotina.

— Venha. — Chamei Ichigo que sentou meio relutante ao meu lado na bancada onde tomava meu chá.

Ficamos em silencio por alguns instantes. Tinha varias perguntas que queria fazer, mas não tinha coragem. Ukitake havia fala bastante a respeito dele e isso atiçava minha curiosidade.

— Então, Ichigo? Você me parece bem jovem. Nunca pensou em fazer algum curso superior? — Perguntei a primeira coisa que me veio a mente.

— O que? — Perguntou surpreso. — Bem... Acho que temos a mesma idade. — Disse tentando mudar de assunto.

Franzi o cenho esperando um resposta.

— Bem... — Começou incerto fechando a cara. — Com todo o respeito, mas acho que isso não é da sua conta. — Finalizou serio.

— Ah tudo bem, seu grosso. — Disse surpresa. — Só estava tentando puxar assunto. — Falei ríspida bebendo meu chá.

Ficamos alguns minutos em silencio somente apreciando o chá.

— Bom, eu queria ser escritora. — Declarei querendo quebrar o silencio.

Surpreso, olhou-me fixamente esperando que continua-se a falar.

— Ficaria feliz se pudesse pelo menos letras... — Continue hesitante, pensando se devia ou não continuar falando sobre mim.

Permanecemos em silencio até terminarmos o chá. Continuava curiosa sobre ele, mas esperaria até ele confiar em mim. Fazia pouco tempo que nos conhecíamos, mas sentia que podíamos ser bons amigos e isso me deixava feliz.

— Ichigo —

Andava pelo jardim observando o quanto ele era ainda mais bonito banho pela luz da majestosa lua. Esta pensativo. Não conseguia tirar Rukia da cabeça. E isso me irritava.

Não entendi o motivo pelo qual meu coração havia acelerado somente por uma simples pergunta que ela havia feito. Não conseguia entender.

Será que ela me achavam tão interessante para se aproximar assim?

Não tinha como negar que isso me alegrava. Finalmente parecia que estava conseguindo ter uma amiga, pois ela havia conversado como se fossemos velhos amigos.

Queria acreditar que finalmente não estaria mais só, mas sabia que estaria sendo precipitado se depositasse todas as minhas esperanças nessa nova amizade. Ela era somente minha patroa e eu estava ali só para cuidar do jardim, mas por que senti uma necessidade grande de revelar todos os meus sonhos para ela? Por que me sentia tão a vontade com ela?

Seriam aqueles olhos gentis ou aquele sorriso bonito que sempre adornavam seus lábios quando nos despedíamos? Talvez fosse tudo isso.

Continue andando pelo jardim. Para mim as flores pareciam mais vivas a luz da lua. Tudo tinha um ar fantasioso como em Sonho de uma noite de verão, um de meus livros favoritos. Sempre gostei de jardins por causa disso, amava observar as flores e arvores pensando na magia realizada pela mãe natureza.

Me sentia feliz sempre que pudia cuidar de uma vida, mesmo ela sendo de uma simples planta já me sentia feliz.

— Byakuya —

Sempre fui um homem metódico, fazia as coisas seguindo sempre a mesma rotina. Com isso sempre acabava fazendo minhas refeições em restaurantes próximos a empresa. Nunca fui de quebrar essa rotina, mas eis que estava eu aqui sentado sozinho na grande sala de jantar de minha residencia.

Esperava poder jantar junto de Rukia, mas a mesma ainda sequer sabia de minha chegada. Soube pelos empregados que havia subido a horas para banhar-se e ainda não tinha decido.

Perguntava o porque dessa mudança repentina. Nunca fui disso, mas então lembrava-me da sensação de estar próximo a ela, de poder observa-la sorrir e poder ver de perto o brilho que aqueles lindos olhos violáceos exibiam quando ela estava feliz.

Já tinha me convencido que somente ela poderia colorir minha vida sem graça, só não sabia se era isso o que eu realmente queria. Seria tão mais fácil fechar o coração para qualquer sentimento, tudo seria mais fácil, pois não haveria dor e consequentemente não haveria amor e alegria.

Sentia uma calmaria tomar conta de mim ao vê-la aproximar-se hesitante da mesa. Ela estava tão linda. Seus olhos davam a esperança que precisava. Olhava a discretamente alegrando-me, havia conseguido uma segunda chance para ser feliz e não desperdiçaria essa chance. Eu definitivamente tentaria alcançar a minha felicidade ao lado dela. E faria de tudo para também vê-la feliz.